Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As várias faces de Hipólito da Costa

HIPÓLITO E SEU TEMPO

Jacques A. Wainberg (*)

Mesmo imobilizado numa cadeira de rodas pela doença que o levaria à morte em abril de 1968, Assis Chateaubriand, o controverso e polêmico fundador dos Diários e Emissoras Associadas, ainda teria forças, em 1960, para realizar uma de suas últimas e decisivas empreitadas ? lançar em Brasília, a capital que se inaugurava, o seu mais novo jornal, o Correio Braziliense. [Neste mesmo período inaugura em doze dias três novas emissoras de televisão, a TV Itapoã, a TV Paraná e a TV Ceará. Ver Jacques A. Wainberg, Casa-grande e senzala com antena parabólica (Porto Alegre: Edipucrs, 2001).]

Uma jogada de mestre, há que se admitir! Mesmo ausente dos comes-e-bebes que festejavam o lançamento do periódico, sua marca pessoal não passaria desapercebida aos presentes, entre eles, como sempre, a burguesia local e os poderosos de plantão. Na verdade, o Velho Capitão aproveitava-se da festa brasileira para, em seu happening privado, apropriar-se de verdadeiro patrimônio do imaginário nacional.

Neste ritual de passagem de um Brasil litorâneo a outro, enraizado agora no coração da pátria, o “z” do título do novo periódico tornar-se-ia código emblemático, facilmente discernível por todos a partir de então. O país que emergia novo, tomado pela simbologia do cerrado e pela obra de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, via renascer também o mito sempre acalentado da nação-potência dos trópicos. No nascedouro, tal fantasia viria acompanhada também por esta marca: uma letra mítica que remetia os brasilienses à memória de um exilado que da Europa sonhava com um Brasil livre e vigoroso.

O uso que os vivos fazem dos mortos é o que define, afinal de contas, as singularidades. É assim e por isso os animadores justapõem elementos díspares dos patrimônios culturais. Tal exposição seletiva dos artefatos do passado tem a função social de criar nos contemporâneos sentido e busca dar significado a suas próprias vidas. São esses elementos que definem as identidades. Tal arranjo é uma obra construída com intenção, um cálculo premeditado.

Quando Chatô utiliza-se do Correio Braziliense para designar o mais novo jornal do país faz o que muitos até então e desde então têm feito com a biografia de Hipólito da Costa: utilizam-na para preencher as lacunas dos novos tempos. Nesse sentido, o passado simplesmente contém fatos que aconteceram de ocorrer. A memória os reordena numa ordem lógica que as deficiências do cotidiano demandam.

Em tese, a memória é isto: percepção seletiva de um passado distante mobilizada que é pelos desafios do presente. E que sentido e que significado teria buscado Chatô no Correio Braziliense de Hipólito da Costa?

Tratava-se, sabia ele, de um personagem cuja biografia o país precisava. Sua vida pessoal era plena do simbolismo que os vivos demandavam. Brasília, os brasilienses e os brasileiros seriam conseqüência dos sonhos acalentados no exílio por um homem da fronteira, um gaúcho que viveu sempre distante e que sonhava com a pátria. Naquele momento, e naquela circunstância, não poderia haver melhor figura histórica. Como sempre fizera ao longo de sua vida, Chatô apropriava-se mais uma vez de um mito e o celebrava em rito de passagem.

O argumento que aqui desenvolvemos é este: Hipólito da Costa tem servido a vários fins dos vivos. São estes, que remexendo em sua vida e obra, encontram elementos capazes de suprir de sentido a vida mesma, a vida vivida. Não há demérito, nessa abordagem, ao personagem propriamente dito. Mas é interessante, talvez mais interessante, observar o que dele dizem e falam seus cronistas. Se somos o que nos falta, como afirma Jacques Lacan, certamente a dificuldade de viver tais vazios demanda de nós o preenchimento dos espaços com a exegese de histórias de vida desse tipo.

Em suma, apresenta-se aqui uma tentativa de esboço das diversas categorias
míticas nas quais os autores têm enquadrado a trajetória
de Hipólito da Costa. Elas revelam não só as virtudes do
biografado mas igualmente, e talvez mais, as dificuldades e necessidades dos
intérpretes e seus tempos. Tais categorias são as do fronteiriço,
a do libertário, a do pioneiro e a do jornalista. Cabe ressaltar que
tais formulações passam pelo crivo seletivo deste autor, e como
afirmado, também são construções, e construções
precárias de mais um narrador que olha essas narrativas e procura compreender
além do personagem, os comentaristas. Cabe por fim afirmar o óbvio:
outras formulações, e outras categorias, são possíveis,
evidentemente.

Hipólito da Costa nasceu na fronteira do país e morreu no exílio. Viveu e morreu nas beiradas. Viveu entre mundos e nutriu-se dessa especial circunstância de ser e não ser ao mesmo tempo. Embora neurotizante por natureza, tal condição é rica em potencialidade criativa. Permite um olhar afiado, hipersensível. Os cronistas de sua vida ressaltam essa marca, sempre. Queria retornar aos pagos e nunca realizou o sonho. Era um brasileiro português que, do exílio lisboeta, partiu perseguido pela Inquisição à capital do mundo, onde, em Londres, cumpriu o rito de prometer fidelidade ao rei da nova pátria, o que lhe deu a paz e a segurança que todo analista necessita. Especialmente o analista de uma nação distante, em certa medida ameaçada, e muito imaginada.

Um híbrido, em suma. Um hífen que vagou da Colônia de Sacramento a Pelotas e dali a Porto Alegre de onde partiria a Coimbra. Graduado, viaja à América, recebe as influências libertárias do Novo Mundo, torna-se perigoso e foge, após prisão, com a ajuda da Maçonaria, de Lisboa à capital inglesa. De lá, torna-se cronista do mundo para um público ínfimo, em especial o dos inimigos, que vigiava o andar de sua pena. Seu método é o método usual entre imigrados em geral: a história comparada. Este é sempre o resultado das andanças de quem sai da paróquia e vaga, com algum sobressalto, pelos cantos da Terra. Vive-se, nessas circunstâncias, perigosamente, inquieto. Examina-se as novas paragens com as imagens da antiga, e assim, deslumbra-se com as possibilidades e sofre-se com os atrasos e percalços do seu rincão preferido. Vê o Brasil de longe com especial acuidade, impressionam-se os comentaristas. Causa espanto na Corte portuguesa refugiada no Brasil, dizem eles.

Revela-se, como se vê, um cosmopolita. Em decorrência, tem a rara virtude de andar pelo globo numa era de incomunicação tecnológica, e assim vê-se posicionado na difícil tarefa de pôr diferentes mundos em contato [tal é a definição de “cosmopolita” segundo as teorias contemporâneas de redes sociais; os demais elementos da rede são os “liaisons” (que ligam duas ou mais cliques entre si sem ser parte de nenhuma delas); “pontes” (quando um membro de uma clique a liga a outra clique) e os “isolados” ( não possuem qualquer contato com qualquer clique); ver Gabriel Weimann, “Social networks and communication”, em Molefi Kete Asante & William B. Gudykunst, Handbook of International and Intercultural Communication (Sage, 1989), p. 186.], o que o faz tornar-se, como ver-se-á, ícone da imprensa brasileira, por demanda dos vivos. Como tal é um “marginal”, alguém que cumpre a função de importador de nova informação, animando e perturbando diferentes sistemas ? em especial, o português e o brasileiro. [A disseminação de informação no grupo é feito por figuras denominadas de “centrais” ou líderes de opinião.]

Encanta os cronistas esta virtude especial. É um brasileiro no exílio, que não esquece a p&aaacute;tria. É um ser que devota sua energia para ilustrar o Novo Mundo com as Luzes da Europa. É influenciado pela Maçonaria, pelo liberalismo, mas é um nacionalista, acima de tudo evoluiu de uma adesão servil à Coroa portuguesa para o sonho da liberdade brasileira. Fustiga a Corte e a Inquisição e volta-se ao desejo do retorno. Por isso mesmo, seu voto de fidelidade ao novo rei inglês confundiu-se com cidadania, e os cronistas instigados pela potencial traição gastam tempo no exame da quase conversão. Como pode o herói da liberdade nacional pensar em ceder a tentação?

Mecenas Dourado [Mecenas Dourado, Hipólito da Costa e o Correio Brasiliense
(Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1957), t. 1, p. 241.]
gasta tinta e energia para desfazer o grave engano: Hipólito não
assumiu a cidadania inglesa como afirmara Carlos Rizzini. [Carlos Rizzini, O
livro, o jornal e a tipografia no Brasil (Rio de Janeiro/São Paulo/Porto
Alegre: Kosmos, 1946), p. 359.] Tornara-se simplesmente um denizen. Ou seja,
prestou juramento de fidelidade ao rei da Inglaterra, de acordo, diz ele, “com
o costume, então, em vigor naquele país”. Passa em decorrência
desse ato a gozar de certas prerrogativas de cidadão, sem perder, alerta
o autor, a nacionalidade de origem. “Foi este fato, mal interpretado pelos
ministros portugueses em Londres, que levou certos escritores a dizerem que
Hipólito se naturalizou inglês.” Assume assim a nova condição,
cumprindo um ritual do medievo na qual o vassalo declara subordinação
ao senhor feudal. Assume o direito de ser eleitor sem ser eleito, sem desfrutar
ainda do privilégio de fundar estabelecimento comercial mas gozando da
proteção de não ser expulso do território inglês.
Seus inimigos do Investigador Portuguez o chamaram de apóstata. O bate-rebate
continuaria por algum tempo chegando aos dias atuais, como salientado. Rizzini
lembra que Hipólito da Costa declara em sua Narrativa da perseguição
ter adotado a sua pátria a Inglaterra. [A afirmativa literal é
como segue: “Se eu for tão feliz que possa conseguir o que me propus:
a lembrança dos horrores que sofri, será para mim o triunfo da
inocência sobre a opressão, e darei gostoso parabéns a esta
nação, que cordialmente adotei por minha, ao mesmo tempo que me
confesso agradecido pelo modo por que tenho sido recebido por muitos de seus
indivíduos…”.] E infere da mesma que tornara-se cidadão
inglês: “o sr. duque de Sussex teve a bondade de o fazer naturalizar
inglês”. E acrescenta com ironia: “Positivamente não
era nada fácil tapar a boca a um inglês na Inglaterra”. [C.
Rizzini, op. cit., p. 360.] Dilema semelhante ocorrerá também
na ampla discussão sobre o preço de sua alma, o valor de sua pena,
como ver-se-á a seguir.

Essa caminhada tinha rumo, afirmam os cronistas: a descoberta da brasilidade. Esse elemento simbólico é encantador a uma nação como esta cujos heróis são, em grande medida, todos, heróis do espaço ? o espaço brasileiro, container da singularidade em formação. Rondon, Santos Dumont, Tiradentes, Landell de Moura, barão de Rio Branco, marechal Osório, os bandeirantes “marcam as fronteiras, conquistam as florestas, domam os índios e expandem as redes de comunicação para o interior”. [J. Wainberg, op. cit., p. 22.] Forjam a região na qual se instala um povo cuja identidade Hipólito da Costa, ele mesmo um fronteiriço, ajudou com sua biografia a criar. Afirma o que contemporâneos combalidos pela baixa auto-estima e pela galopante fobia antiglobalizante desejam ouvir. É um grito de paixão crescente, de descoberta verde-amarela, típica síndrome de home sickness que abate eventualmente a jornada turística fustigada ao excesso pelo que é estranho. A saudade mordaz do lar e do berço torna ainda pior a experiência do exílio: é uma jornada sem retorno. Só assim, com o gosto amargo da nostalgia, pode o olhar tornar-se lupa, em que as frestas, nem elas, escapam.

Na fronteira, e à margem, o grito que saiu de sua pena é lido hoje com indisfarçável emoção. Seus cronistas não cansam de exaltar sua trajetória de rebento vendido ao de cronista libertário, de um nacionalista. Chatô, ele próprio homem do mundo, à moda nordestina, é verdade, não poderia encontrar outro personagem melhor do que este para a sua semelhança gritar, mas em inglês: Brazil First! [Na verdade, este era o slogan de William Randolph Hearst, o maior magnata da imprensa americana durante largo período histórico e desde o fim do século passado, que não cansava de repetir em seus jornais: “America First”.]

Sua trajetória e posicionamento geográfico só poderia
causar o que causou: confusão entre os observadores. Barbosa Lima Sobrinho
o define como “o mais brasileiro dos nossos brasileiros”. Nelson Werneck
Sodré o define como português que escreve com os referenciais da
burguesia inglesa. Hipólito da Costa chegou a figurar como maldito, de
acordo com resolução do VII Congresso Nacional de Jornalistas
de 1957. Lá o denominaram de falso ídolo, venal. A Associação
Rio Grandense de Imprensa o escolhe em 1999 como símbolo da imprensa
nacional. Getúlio Vargas, no seu jogo de corpo com a imprensa, escolhe
frei Tibúrcio José da Rocha como patrono ao apontar o Dia da Imprensa
a data de lançamento da primeira edição da Gazeta (10 de
setembro de 1808). [Ver José Marques de Melo, “Hipólito da
Costa, precursor do jornalismo científico no Brasil”, Anuário
de jornalismo (São Paulo: Ed. Cásper Líbero, 2000), pp.
151-71.] Fernando Henrique Cardoso aprova lei proposta pelo deputado gaúcho
Nelson Marchesan dando tal galardão a Hipólito. Costa Rego recusa
tal mérito ao emigrado pelotense, e a Tibúrcio igualmente. Acusa
Hipólito de ser servil à causa portuguesa, e Tibúrcio,
à Inquisição. Não exerceu, diz ele, além
disso, Hipólito, autonomamente, a prática jornalística.
Como referido por José Marques de Melo, para Costa Rego seria Tavares
Bastos, que militou na imprensa do Segundo Reinado, o ícone da imprensa
brasileira. [J. M. de Melo, op. cit., p. 153.]

Pioneiro em quê? Talvez, salientam os cronistas, na disseminação livre da palavra escrita, uma palavra ? ela também ? livre do carimbo oficial. Talvez na ação jornalística militante, mas distante da panfletagem. Talvez ainda na construção de um discurso civilizatório para uma nação ainda difusa, permeado do sabor humanista.

No primeiro caso, é a luta contra a censura que atrai o olhar. Serve de modelo aos alunos de jornalismo que forjam suas identidades nos bancos escolares. E ao lerem as andanças de Hipólito, gritam como crianças o grito que é de crianças em busca de identidade e auto-estima ? We are somebody! [este exercício de gritar em frente ao espelho We are somebody foi utilizado, na verdade, pelo senador negro norte-americano Jesse Jackson com crianças negras visando estimular a auto-estima das mesmas], afinal. Nada de portugueses, de castelhanos, de franceses e de holandeses. Nada de americanos. Um grito sutil, de entrelinha, que se fez ouvir na brincalhona Tupy or not Tupy dos anos 20 que clamava pelo nacional. A exegese poderia ir além, muito além. Poder-se-ia dizer, atrevidamente, que é um grito pela liberdade total, em especial a liberdade tecnológica que liga os homens desde que perderam a intimidade da paróquia e jogados vivem solitariamente nas multidões. Foi este o papel da tipografia banida e vigiada, não só no Brasil português, mas também na América inglesa, e depois na Alemanha liberada e no Japão dominado. Por um breve período de tempo ressurgiu nos anos 40 a imprensa licenciada, com carimbo e tudo, até que, paradoxalmente, se descontaminasse o ambiente dos vícios do totalitarismo. Mas esta é também outra história.

O relevante aqui é salientar o medo histórico do seu tempo, um medo paradigmático, ludita. Temia o rei a tipografia. Cabia domá-la. É o mesmo medo às antenas parabólicas e à Internet e à caça que fazem às novas tecnologias os regimes mais obscuros do planeta. Falar, comunicar-se, cruzar a fronteira são atos ameaçadores e que revelam tais regimes, e nos deixam boquiabertos, em especial nesta era de liberalidades.

O jornalismo militante, por vezes panfletário, e panfletário em excesso, tem sido comum, e ocupou bom período da história nacional até que se consolidasse a disciplina informativa que cultua como utopia a objetividade, a imparcialidade e o balanceamento. E antes que generalizem e acusem jornalismo de estelionato cabe afirmar que tudo é questão de grau, até mesmo a subjetividade inevitável de quem fala como se fotografasse a vida, como é o caso sob análise. Certamente, desde os dias de Hipólito da Costa, muita água rolou, e a disciplina narrativa impôs certo constrangimento ao diz-que-diz de botequim. No caso sob análise, teremos um crítico mordaz, polêmico, como ver-se-á a seguir, mas hostil à mera propaganda.

Por fim, encanta aos vivos o conteúdo de sua fala propriamente dita.
Há nessa passagem certo fascínio do colonizado. Mas esta é
uma intepretação de sabor psicanalítico de inteira responsabilidade
deste autor (como de resto tudo o que aqui foi dito). Suspeito que essa fala
que vem de além-mar trazia em seu bojo o charme de tudo que não
é do lugar. Tal tipo de interpretação tem suas conseqüências:
as falas das cidades globais impactam mais, fluem mais, são mais celebradas,
e se parecem com verdades. Suspeito que uma das virtudes pouco assinaladas de
Hipólito é o seu posicionamento estratégico. Falar do Brasil
desde Londres é um fenômeno que encanta até hoje. Trata-se
do conhecido “poder do estrangeiro”. Ouve-se melhor quando o dito
usualmente é dito por outro que não é do grupo. Veja-se
o culto aos brasilianistas, de sotaque ianque! Examine-se a força liberadora
que tem a fala dos visitantes em nosso meio, os consultores em geral. Geralmente
dizem o que nós já sabemos. Paga-se pelo que se sabe, ou que se
suspeita e que não chega a surpreender, mas que não quer se ouvir.
Assim são, em geral, as análises das almas. Suspeito que essa
função terapêutica foi igualmente exercida por quem fazia
um jornal artesanal, e que era lido por um minoria letrada. Uma ação
que não era maciça e que servia mais aos fins da politicagem da
Corte que os da revolução que, de resto, nosso personagem abominava.

Jornalista é termo forte, considerando os conceitos modernos vigentes. Afirma Hipólito que sua folha não era noticiosa, como primeiro despertador dos fatos. [Este realce foi dado por Alberto Dines, “O patrono e seu modelo”, em Hipólito José da Costa, Correio Braziliense ou Armazem literário (ed. fac-similar. São Paulo/Brasília: Imprensa Oficial do Estado/Correio Braziliense, 2001), vol. 1.]Lhe caberia mais o título de cronista, comentarista talvez, mas cabe ao paladar de quem é fustigado não só em seus brios nacionalistas, mas igualmente no seu furor democrata, e que deseja encontrar a rebeldia em espíritos iluminados. Tais espíritos são capazes de atormentar a autoridade com a exigência da transparência, com o vigor que os fatos da vida relatados em letras de forma têm. E para isso, para exemplificar tais virtudes escassas, essa biografia serve e muito. De certa forma, antecipa com suas notícias comentadas não só a contemporânea função de watchdog da imprensa contemporânea ? tão combalida no país, especialmente nas regiões mais distantes do eixo Rio-São Paulo ? e por isso mesmo necessária, mas também um certo gênero interpretativo, usual hoje em dia nas grandes reportagens de autoria. José Marques de Melo argumenta que o Diário de viagem de Hipólito da Costa não configura “peça autenticamente jornalística pela ausência de difusão coletiva”. [“Reflexões sobre temas de comunicação” (ECA-USP, 1972), apud J. M. de Melo, op. cit., p. 169.] O Correio Braziliense, sob este aspecto também não. Além disso, sua circulação não tem a marca da atualidade que caracteriza as coberturas modernas. O mensário de 1500 exemplares em formato de brochura, de cem páginas em média, chegava de navio após quarenta dias de jornada. Sua edição levava outros trinta dias. Ou seja, havia um gap de três meses entre o dito e o lido. Longe, muito longe, da tradicional “síndrome das 24 horas” que caracteriza a edição dos jornais modernos.

Como assinalado, a biografia de Hipólito, ao ser utilizada pelos vivos, cumpre várias missões. Nesse caso específico, o próprio debate realizado em torno de sua eventual aliança com a Corte ? que lhe teria calado a verve com um cheque mensal, uma assinatura com sabor de escambo comercial ? é revelador dos impasses da relação sempre delicada e geralmente maliciosa entre imprensa e autoridade no Brasil. Seria pecado de origem? Onde achar afinal, seres emblemáticos, puros? Esse ranço peçonhento de servir ao burocrata de plantão, em troca de migalhas do Erário público ? é mal da alma, que não se dissolve nem com o tempo? Quanta tinta e papel gastou-se neste dilema de caráter ? a da imprensa nacional refletida no jogo de cena do seu herói!

No debate participa um Hipólito às avessas. Carlos Chaparro, que vive no Brasil com as imagens de sua velha Portugal na cabeça, afirma com todas as letras: para manter o projeto que custava 1212 libras anuais, Hipólito precisaria de 600 assinaturas regulares. [Carlos Chaparro, Sotaques d’aquém e d’além mar. Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro (Jortejo Edições).] Um número considerado excessivo. Suspeita-se que havia a mãozinha amiga dos ingleses, dos maçons e da Corte portuguesa também. Essa cena é conhecida pelos contemporâneos acostumados às gentilezas dos poderosos de plantão que em troca de fidelidade desovam emissoras de TV nos quatro cantos do país a protegidos. Por isso mesmo o debate é quente. São os vivos que estão em análise, verdadeiramente. Nesse debate intervém Chaparro que relança o debate e recupera Carlos Rizzini e Mecenas Dourado. O primeiro afirma que havia a proposta de compra de 500 exemplares pela Corte em troca do silêncio sobre temas e fatos incômodos. Infere Rizzini que o acordo não aconteceu porque logo depois surgiria em Londres o Investigador Portuguez, patrocinado pela Corte do Rio com 14 mil cruzados por edição, visando assim abalar a influência do Correio Braziliense. [C. Rizzini, op. cit.] O segundo, Mecenas Dourado, diz o oposto. Aconteceu o acordo, efetivamente. A narrativa é longa. Em síntese os passos foram estes: d. João concorda em pagar mil libras por ano, o equivalente a 500 assinaturas, através de um amigo de Hipólito, Heliodoro Jacinto de Araújo Carneiro. A soma teria amaciado o ímpeto e o furor de Hipólito a partir de 1813, data em que esse valor começou a chegar-lhe às mãos. Parece estranho a Dourado que a partir daquele instante o Correio passasse a elogiar Paulo Viana, o intendente da Polícia do Rio ? que servia de testa-de-ferro do príncipe regente nas negociações. Chegou mesmo a seguir suas orientações ao inflar a figura de d. João quando, em fevereiro de 1820, revelou que desejava fazer reformas radicais.

E ainda, que queriam afinal os gaúchos ao descartarem o 10 de setembro como Dia da Imprensa, escolhendo o dia 1o. de junho em seu lugar? Disseram, em 1997, num “manifesto à nação”, que não reconheciam a data da primeira edição do Gazeta do Rio de Janeiro como a data da imprensa brasileira por ser um jornal dos soberanos, “e não um jornal independente e imparcial, comprometido com a verdade”. Sem entrar no mérito do que seja a verdade, já que imparcialidade é o que não existia nos comentários opináticos de Hipólito da Costa, afirmavam os representantes da Associação Rio-Grandense de Imprensa que queriam outro ídolo, o do exílio, o que pregava a independência do Brasil e que publicou em junho “o principal marco do jornalismo impresso genuinamente brasileiro”. Outra vez, sem descrever o que seja genuíno ? irrelevante para os fins didáticos a que se propunha ?, o manifesto esclareceu que os jornalistas queriam na verdade era comemorar a livre expressão do pensamento, e, como afirmado, a verdade ? verdade seja dita! Para isso, certamente o jornal oficial e oficialesco não servia. Não servia, como não serve, o chapa-branca, que confunde jornalismo com publicismo, informação com persuasão. Não servia como não servem os editores transvestidos de departamento comercial. Essa lista de equívocos poderia ser longa, e consta de eventual crônica de valores traídos. E fica para outra oportunidade. O relevante é este fato: os vivos vivazes aplaudiram Hipólito e remeteram com esse ato uma mensagem nada sutil aos contemporâneos.

Seria ainda precursor do jornalismo científico? Sua viagem aos Estados
Unidos serve de inspiração a José Marques de Melo, que
encontra nessa jornada e no seu Diário de minha viagem a Filadélfia
a peça fundante que faltava ao narrador da história da imprensa.
A missão diplomática de Hipólito da Costa a mando da Coroa
nos Estados Unidos para observar a economia agrícola daquele país,
os inventos científicos e as inovações tecnológicas
serve aos seus olhos de prenúncio à “vocação
de repórter que o autor desenvolveria dez anos depois em seu periódico”.
A afirmativa vem acompanhada de evidências levantadas por Ferreira [João
Pedro Rosa Ferreira, O jornalismo na emigração. Ideologia e política
no Correio Braziliense, 1808-1822 (Lisboa: Instituto Nacional de Investigação
Científica, 1992), p. 133, apud J. M. de Melo, op. cit., p. 157.], que
estuda os textos de Hipólito e vê nos mesmos um ranço tecnocrático,
envolvendo temas econômicos, divulgação científica
e tecnologias. Uma preocupação, diríamos nós, aplicada.
Marques de Melo não aceita o termo tecnocrático, carregado hoje
de carga semântica depreciativa. Prefere conceituar sua prática
jornalística de enciclopédica, marcada pelos benefícios
da reforma curricular da Universidade de Coimbra onde foi neutralizado o viés
jurídico-filosófico e adotada uma orientação mais
científica (estudaria, além de direito e de temas humanísticos,
agricultura, zoologia, mineralogia, física, química e mineralogia).
Há nessa formulação um embate não findo ainda sobre
os usos e costumes da própria academia brasileira contemporânea,
especulativos em demasia, escassamente empíricos. Hipólito serve
de canal à disputa dos vivos, como se vê. E seu mérito de
origem realçado para os fins da argumentação crítica
às metodologias em uso nas academias do Brasil.

Busca-se por fim um certo desfecho lógico dessa trilha do personagem e do ziguezague de seus intérpretes. A proposta original é de Alberto Dines que lança a sugestão de que há nessa caminhada ensinamento a ser colhido. [ Ver o site do Observatório da Imprensa (www.observatóriodaimprensa.com.br) edições de 20 e 27/6/2001 (nos. 126 e 127).] Para isso, seleciona as passagens canônicas, interpreta qual um talmudista seus significados e como cabalista do medievo agrega significados ? o que de resto fizeram os exegetas aqui referidos e que o antecederam. Agora, também o autor destas linhas junta-se à tropa, simulando um pilpul pós-moderno, que lembra um toma-lá-dá-cá, entre réplicas e tréplicas. [O termo pilpul remete à técnica exegética talmúdica. Sua raiz remete também a pilpel, ou pimenta. Toda interpretação é e deve ser apimentada para ter gosto e valor, segundo a tradição judaica. Ou seja, a controvérsia é necessária para que emerja a verdade.]

Pois vejamos, para apimentar efetivamente o modelo proposto, o que segue:

1) O texto canônico fundante é comovente: afirma o dever de fidelidade do homem para com seus semelhantes; do dever de se agir em benefício da sociedade. Só assim tornar-se-á este ser humano verdadeiramente, sendo o mais distinto entre todos. “As luzes que ele espalha, tiram das trevas, ou da ilusão, aqueles, que a ignorância precipitou no labirinto da apatia, da inépcia, e do engano.” Diz Hipólito que há que se mostrar com evidências ? com evidências, cabe ressaltar ? os acontecimentos do presente [CB, 1: 3-4].

2) Esse texto está embebido de utilidade moral, segundo Dines. O jornalismo deve ser isso, um serviço público dotado de virtude ? uma “serventia com virtude”, em suas palavras.

3) Celebra “o trabalho dos redatores das folhas públicas” que, munidos “de uma crítica sã, e de uma censura adequada, representam os fatos do momento, as reflexões do passado, e as sólidas conjecturas sobre o futuro”.

4) É também uma doutrina do jornalismo como serviço público. Uma visão cultivada e que anima espíritos vários, mas, com freqüência, como ele mesmo explica, “abalada por descaso”.

5) É uma declaração de fé na causa pública, referência doutrinária para certo tipo de jornalismo iluminado que promete não só a informação mas também “a propagação do saber” (artes e ciências).

6) Como exegeta, Alberto Dines agrega: “visto com esta ótica, o seu Armazem Literario é muito mais do que um almanaque com as últimas novidades literárias […] é um projeto de esclarecimento coletivo, verdadeira revolução cultural a ser empreendida por todos aqueles que assumem a responsabilidade de tornar evidentes os acontecimentos”.

7) O modelo do “patrono” inclui ainda: inexistência de censura ? a portuguesa, a inquisitorial, daquele e deste tempo; é um agente civilizador, despertando os fatos (que dormem se não forem excitados); é interpretativo, articulando os fatos da Europa com os da América em busca de sentido e significado, como assinalado; faz obra periódica, colecionável.

Cabe agora, como prometido, tentar um complemento à síntese acima referida:

1) Quanto à forma, trata o mundo em segmentos: Política, Comércio e Artes, Literatura e Ciências e Miscelânea.

a) Na Política, analisa os documentos oficiais. É uma massa de dados que impressiona o observador. Verdadeira ante-sala da editoria internacional dos jornais modernos, mas com um diferencial: preferencialmente, trata de informar documentalmente seus leitores. Infere-se daí sua predileção pela força indiscutível que os papéis oficiais têm. Seu olhar aproxima-se ao do historiador. Aqui e ali o editor intervém na narrativa oficial colocando entre parêntese seus comentários pessoais. [O Correio Braziliense converte-se-á em fonte decisiva para os historiadores. Ver, por exemplo, as inúmeras referências ao mensário em Oliveira Viana, D. João VI no Brasil (3? ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996).] Uma espécie de aposto ou link que editorializa a narrativa desses atores. Por vezes, a temática é de tal importância que anuncia a continuação da cobertura do fato nas edições seguintes. “Continuar-se-há”, afirma. Uma seção do mundo do todo, verdadeiramente, mas em especial do mundo ibérico. Inclui documentação sobre Áustria, França, Rússia e México, entre outros países, dando especial destaque a Portugal e a Espanha, além do “Brazil”, evidentemente. A idéia subajecente é clara: o documento exposto deve servir de fonte para debate. Emerge o conceito de transparência da função pública e o direito de saber do cidadão.

b) Na Miscelânea, faz a resenha noticiosa do mês, agrupando os fatos por países ou regiões. Mescla-se aqui a narração jornalística com o comentário. Diríamos nós, um texto de revista, com autoria implicada. Traz mais documentos e foca sua atenção, por vezes, num tópico principal e não deixa escapar a oportunidade para refletir sobre a documentação apresentada na rubrica anterior, a Política. Atualiza a edição com o Post Scriptum, notas de última hora na qual realiza comentários e apresenta sua visão pessoal dos fatos. Utiliza-se também do Apêndice, uma coletânea adicional de informação que permite a correção de dados publicados, novos documentos encontrados e comentários adicionais sobre os mesmos.

c) Na seção Literatura e Ciências reaparece seu desejo civilizatório. Há que se abrir espaço (e a mente) para o avanço da cultura letrada e o saber científico. Entre os assuntos que aborda, está por exemplo, o surgimento e o desenvolvimento da nova universidade francesa [CB, 1: 120]. Teme ele sua utilização não para os fins do espírito, mas para a sua escravização. Como diz o autor, “sem que se tolere contrariedade de opiniões, é aniquilar todos os meios de oposição a este despotismo científico, mostra uma insolência, e descaramento tal, que não se esperava talvez nem deste árbitro universal da Europa [refere-se à França]”. Face à importância do tópico, tratará deste tema em mais de uma edição [CB, 1: 203]. Este é, de resto, expediente usual. Para não cansar, divide a cobertura, e por vezes seleciona de um longo documento passagens representativas. Não raro, faz crítica, e crítica ácida, a novas publicações. Desmascara em certa oportunidade texto publicado em português como peça propagandística da autoridade francesa. Como método, a contemporânea e conhecida análise do discurso. O fim, revelar como propaganda política o que se disfarçava ora de literatura ora de ciência econômica [CB, 1: 203].

d) Não esquece de acolher as cartas dos leitores, em especial aquelas que o criticam, dando voz à oposição e colocando assim em prática, ele próprio, o que advoga: a liberdade de expressão. É o que ocorre, por exemplo, na edição de novembro de 1808. Diz o texto da correspondência: “Se os homens públicos devem ser, na sua opinião, objeto de louvor e de censura dos jornalistas, estes não devem escapar às correções do público, quando seguirem um partido menos justo. Espero pois que levará a bem que eu faça as minhas observações sobre uma matéria, que lhe tem ocupado algum tempo; e, se tem em vista a imparcialidade, não deixará de fazer pública esta minha carta, só pelo princípio de lhe ser diferente em opinião”. Hipólito da Costa publicou a carta, como era de esperar, e anuncia ao fim: “A resposta no número seguinte”.

2) A simples observação do amplo leque de assuntos e fatos que divulga leva o observador a inferir que tal massa de dados não seria coletado nem publicado com a periodicidade mensal sem que Hipólito da Costa não dispusesse de uma efetiva e ampla rede de colaboradores.

3) Quanto à forma apresenta ainda discreta sensibilidade para a diversidade gráfica: alguns mapas desenhados a bico de pena; um índece ordenador da leitura; certo contraste entre a tipologias claras e escuras, entre o corpo em destaque e outro, em miniatura; paginação que lembra a estruturação livresca então em voga com a difusão da tipografia [tal prática foi desenvolvida por Aldo Manuzio, considerado o primeiro grande editor; nascido em Bassiano, Itália, em 1449, desenvolveria o hábito de numerar as páginas; isso foi feito em Cornucopia, um in-fólio de 700 páginas.], e títulos introdutórios que remetem aos lides e cartolas do moderno jornalismo. &EacuEacute; o caso, entre muitos, do Apêndice da edição de outubro de 1808: “Das intrigas e maquinações, que conduziram para a usurpação da Coroa de Espanha; e dos meios empregados pelo imperador dos franceses, para a pôr em execução. Publicada por d. Pedro Cevaltes, primeiro secretário de Estado e do despacho de S. M. católica Fernando VII”.

4) É um polemista, gênero pouco estudado entre nós, e que se constitui paradoxalmente em tradição nacional. Tal constatação difere de outra, freqüente em nossa história, de tornar o jornalismo panfletagem servil, o que Hipólito da Costa não desejava e não praticou. Seus textos lembram o ensaísmo típico do colunismo político e do articulismo contemporâneo, que se preocupam em avaliar o cotidiano tirando-lhe o significado último. Trata-se, efetivamente, como muitos afirmaram, de um personagem com excepcional visão, articulado e sintonizado com o mundo de seu tempo. Seu texto é denso, crítico, posicionado, disposto a dividir a torcida, rompendo com o senso comum e o trivial. Diz Mecenas Dourado que redigia em estilo oral, “simples, espontâneo, à altura da compreensão sintática e vocabular do povo ou da média da população luso-brasileira”. Sua fluência coloquial é portuguesa, não brasileira. “Foi como deveria ser, porque o jornalismo exigia essa simpleza de estilo correntio”. [M. Dourado, op. cit., p. 593.] Não faz concessões e advoga pontos de vista que se revelam insistentes. Lhe falta a agressividade típica dos debatedores contemporâneos que rompe com freqüência a fronteira da civilidade, beirando a agressividade, e que torna o embate num choque de gladiadores, num confronto pessoal, eivado de rótulos e ódio. Um diálogo de surdos em que vale o grito e a ironia. Seu texto, ao contrário, é límpido, de estadista que mede as palavras. Ao condenar o absolutismo, por exemplo, o faz em tom de aconselhamento, para que se aproveitem as lições. Adverte que as grandes reformas deveriam ser logo realizadas. “Quando se opõem obstáculos e entraves ao progresso e à propagação das ciências, devem ficar tão raros os homens sábios que quando o governo precisa deles, de repente, não os acha e vê-se obrigado ou a lançar mão de um homem instruído, mas sem boa moral, ou de um homem bom, mas estúpido ou ignorante, e, quanto menor é o número de gente instruída, menos probabilidade há de que o Estado seja servido por homens virtuosos e sábios.” Ao saudar a tipografia afirma, com cuidado: “Tarde, desgraçadamente tarde, mas enfim aparecem tipos no Brasil; e eu de todo o meu coração dou os parabéns aos meus compatriotas brazilienses. Por ora nada mais digo, mas esta matéria é de suma importância para que eu deixe de tornar a falar sobre ela, logo que tenha lugar” [CB, 1: 393-94]. Noutra passagem, critica com indisfarçável irritação a notícia que seu Correio publicava sobre a ida de deputados portugueses à Corte francesa. Diz ele: “Primeiramente, perguntara eu, porque se chama de deputados aqueles portugueses que foram a Bayona? E se são deputados, quem os deputou, que os mandou lá? Os portugueses não […]” [CB, 1: 131].

5) Exerce função de watchdog que se contrapõe à de guardian dog, de seu competidor, a Gazeta do Rio de Janeiro. Prefere a vigilância da autoridade, protegido que se sentia pela distância, o Império britânico, a Maçonaria e o iluminismo inglês. É o que faz, criticamente, quando se instala a Família Real em terras brasileiras:

Chega a Corte no Rio de Janeiro, e entram a deitar fora de suas casas os proprietários, para acomodar aqueles que lá vão buscar um asilo, e estende-se isto até para a acomodação de negociantes estrangeiros, que lá vão somente para buscar seus lucros. Estabelece-se uma complicadíssima administração de finanças; nomeiam-se, para muitos ofícios, criados de novo, pessoas odiosas à nação. Continuam a empregar-se, no governo das capitanias, uns poucos de militares, quase todos de patentes baixas e de tais qualidades que a alguns deles em Portugal, não se confiaria o governo da menor aldeia. É este o meio de adquirir a afeição dos povos ao seu governo.

6) Na sua fala se insinua não só a doutrina do jornalismo como serviço público mas igualmente também uma espécie de teoria do holofote, ou da agenda: dá realce ao que é relevante e sua fala pauta o temário para o debate da opinião pública brasileira e portuguesa. É verdade que seria exagero falar em opinião pública naquele Brasil colonial, ou ainda na Portugal ocupada pelas forças francesas, onde seu jornal era retido nos portos, perseguido pela polícia e lido, em grande medida, pelos inimigos. De qualquer forma, no nascedouro é disso que se trata: é um laboratório comovente, de forças e idéias em contramão. Ao iluminar certos fatos deixando outros às escuras revela-se o verdadeiro poder do jornalismo: é o poder de pauta que está em jogo. Sua força maior é menos a de dizer às pessoas o que pensar e mais, muito mais, sobre o que pensar. Isso, naquela época, o Correio já fazia. “É triste coisa, para um jornalista que deseja o bem de sua pátria, ser obrigado a revelar ao mundo verdades tão humilhantes para sua nação; mas, uma vez que todos os meios empregados, para remediar o mal sem escândalo, não produziram efeito, é óbvio que esta apelação ao público vem a ser um dever sagrado” [CB, 3]. [Apud Francisco Riopardense de Macedo, Hipólito da Costa e o universo da liberdade (Porto Alegre: Sulina/ARI, 1975), p. 62.] Como afirma Riopardense de Macedo, “considera, assim, estar o dever do jornalista relacionado com a felicidade da nação; não para elogiar os atos do governo, mas para divulgar os desacertos, a fim de que as providências sejam tomadas a tempo”. Muitas vezes, ao iniciar uma crítica, declara que omitirá certas reflexões, porque espera que o governo português aproveite “a lição que os tempos nos oferecem e que esta lhe abra os olhos”, pois “só a prosperidade do povo é que faz a prosperidade dos governos”.

7) Por faltar à frágil mentalidade brasileira contemporânea certos hábitos fundantes da democracia, surpreende a visão de Hipólito de que a liberdade de imprensa é também uma salvaguarda do soberano contra articulações dos ministros e bajuladores. “Mas qual é o meio que teria o soberano de saber de tudo o que se passava, não obstante a ignorância ou a traição do seu ministro? Um bem simples, o mesmo, que fez com que, aqui em Inglaterra, todos, até o mais baixo servente de cozinhas, soubessem, o que as mais altas personagens do governo português ignoravam. Este meio é a liberdade de imprensa. Esta grande defensora dos soberanos, que os põe ao abrigo dos seus mais cruéis inimigos, que são os seus aduladores validos” [CB, 1: 519]. De resto, descrevia tais personagens com desprezo, “insignificantes figurinhas”. Ao advogar ainda a Monarquia constitucional dizia, em tom ácido, que “a limitação, portanto, do poder da Coroa, que indicamos, é a que se acha nas antigas leis, a Constituição da Monarquia portuguesa, limitação que não sirva para restringir o poder do monarca, mas sim para impedir que os seus ministros não obrem injustiças, que fiquem impunes, por serem feitas em nome do soberano”. [F. R. de Macedo, op. cit., p. 65.] Com boa vontade poder-se-á dizer que está embutido ai uma certa visão funcionalista. À imprensa cabe vigiar o ambiente e assim evitar a degradação social. Ao mediar os conflitos anima o corpo social. “As publicações periódicas, ainda que não sejam das obras literárias as que obtenham mais permanente fama, são contudo de grande utilidade momentânea; e os males, que produzem, quando são mal redigidas, são mui insignificantes, comparados aos bens que resultam da instrução pública, que por tais obras se difunde.” A perseguição que lhe fazem as “figurinhas insignificantes” não era lógica, afirma ele, referindo-se com desprezo à burocracia estatal da Corte. Deveriam reconhecer os erros, argumenta Hipólito, em vez de fazer esforços na destruição da imprensa livre. Denomina este como “o sistema de rolhas na boca”. Pergunta ele: “Não seria melhor que o governo do Brasil cuidasse em ir, ele mesmo, sacando fora estas rolhas, pouco a pouco, do que esperar até que elas saltem fora, de per si, com alguma explosão?” [Id., ibid.] É a existência da censura prévia, e o perigo a que ficavam expostos os redatores, “falando livremente das ações de homens poderosos”, o fator que obriga a publicação de tais obras ? em especial as periódicas ? no estrangeiro. Barbosa Lima Sobrinho destaca este fator ao afirmar que Hipólito da Costa “comenta com vigor os desvarios das Cortes de Lisboa. Leva ao rídiculo as suas ameaças e os seus preparativos guerreiros. Secunda com entusiasmo a atitude da representação brasileira nas Cortes de Lisboa. Aplaude sem qualquer restrição, a atitude do Príncipe Regente, ficando no Brasil e definindo, assim, a sua primeira rebeldia em face das Cortes de Portugal”. [Barbosa Lima Sobrinho, Antologia do Correio Braziliense (Rio de Janeiro: Ed. Cátedra/MEC, 1977).] Afirma por fim, o que se sabe: o jornalismo como prática civilizatória é fator decisivo à democracia. “O estar eu habituado a ver em Inglaterra discutir publicamente as medidas do governo, e conhecer os bens que daí resultam à nação, me faz receber de muito mau grado este princípio, que aqui se insinua, de extrema submissão às opiniões do governo. […] Se se admite o princípio de que é contra o decoro civil haver oposição ainda de pareceres às medidas do governo, qual virá a ser o estado na nação onde o conselheiro for ignorante ou malicioso?” [CB, 2: 475].

8) Hipólito da Costa é, como afirmado anteriormente, um inovador, ou melhor, um early inovator, como denomina a contemporânea teoria difusionista esses personagens que se apossam do novo e o distribuem no corpo social. O oxigênio que aspira é a do seu tempo e circunstância: o liberalismo inglês, o iluminismo, a difusão da imprensa, a circulação do correio, e a excepcional oportunidade que o Brasil tem para progredir ao tornar-se sede do Império. Surgem, por decorrência, as medidas que Hipólito, e nós mesmos, comemoramos como o alvorecer da modernidade no país, entre elas, a abertura dos portos e a introdução (com evidente temor, é verdade) da imprensa régia em território nacional, no Palácio da Barca, em maio de 1808. Este fato, o de ser um líder de opinião, serve talvez de elemento adicional ao modelo que aqui se propõe. À imprensa cabe um papel de liderança. Cabe a ela a função de arejar o sistema com a novidade, rompendo por vezes, e com alguma coragem, o consenso ? especialmente quando este consenso se esconde no silêncio sufocado pelo medo e pela falta de coragem do debate público. É o que faz nosso personagem.

9) Nesta obra de um homem só, na qual produz 175 edições, utiliza a comparação como método. Faz sociologia comparada, economia comparada, direito comparado, história comparada. Vive num certo mundo, e analisa com o espírito desse ambiente liberal, crescentemente emancipado, a escravidão do Brasil, a necessidade da imigração européia, o trabalho assalariado e tantos outros assuntos. É função dos marginais insuflarem os sistemas de ar oxigenado, perturbador. Foi seu mérito ser profeta diabolizado a seu tempo, para agora ser reverenciado como ser fora de seu tempo, visionário. Ao comemorar, por exemplo, o primeiro livro publicado no Brasil, em maio de 1808, de autoria de José da Silva Lisboa ? Observações sobre o comércio franco no Brasil ?, debate os argumentos da obra comparando-os com sua vivência londrina: “O estar eu habituado a ver em Inglaterra discutir publicamente as medidas do governo, e conhecer os bens que daí resultam à nação, me faz receber de muito mau grado este princípio, que aqui se insinua, de extrema submissão às opiniões do governo”. Fica-se a pensar sobre os méritos de tal metodologia. Afinal, o que é a imprensa senão instrumento do pensamento, articulador das partes da sociedade, rede ? na linguagem pós-moderna. De que nos serve uma imprensa amedrontada, servil, como ente extracórporeo da burocracia estatal, que por vício, pretende-se eterna e torna-se malignamente corporativa e anti-social. Se mérito há nessa forma de articular o pensamento é que, afinal, vive-se na sociedade em interação. E nela os vasos comunicantes dos mass media impedem a atrofia da mente e o malogro do interesse público. Há, por isso, um indiscutível pioneirismo histórico do Correio Braziliense: seu criador pretendia abalar os costumes. Ele mesmo diz que, aberto o canal da liberdade de expressão para o Brasil, mas não no Brasil, seguiu-se o hábito, com o surgimento de “uma turba de escritos periódicos em Lisboa, e em Londres, uns para o refutar [ao Correio Braziliense], outros para o imitar”. Variava o estilo da imprensa daquela época com estes propósitos: do jocoso ao sério, “uns com argumentos, outros como meros caturras literários”. Faz um alerta histórico à sobrevivência do jornalismo em geral: escritos podem ser insignificantes. E no jornalismo o que vale é o princípio da relevância.

Os redatores daqueles papéis, por falta de talentos e conhecimentos políticos, para escreverem sobre as importantes matérias do Estado, de que se propunham tratar, limitaram-se quase unicamente a referir alguma anedota deste ou daquele indivíduo, empregado público. Isto agradou a um ou outro leitor, que se divertia em ouvir esta espécie de praguentos; porém acabou-se a coleção de anedotas, faltou a matéria para continuar os dictérios individuais e os tais periódicos acabaram de existir, antes mesmo que tivessem entrado em circulação no Brasil. [CB, 22: 315-19]

O boom jornalístico referido incluiu publicações como Argus, Microscopio, O Macaco Brasileiro, D. Periquito da Serra dos Órgãos, Mercantil, A Malagueta, Reclamação do Brasil e vários jornais maçônicos. Há neste particular uma interessante e paradoxal constatação geral que percorre a história: a opressão estimula a criatividade, e o Brasil, em diferentes momentos de sua história submetido à censura, viu igualmente florescer não só o jornalismo aguerrido mas igualmente uma ampla indústria cultural. É como se o corpo social buscasse no livre pensar a produção de anticorpos capazes de evitar a morte e assegurar sobrevida a valores humanos decisivos.

10) Tem, como afirma Sergio Goes de Paula, “capacidade de tramar cenários
futuros e de escrever de modo a influenciá-los no sentido que ele achava
o mais desejável” ? senhor do tempo, na medida em que tinha o poder
de reunir informações de um passado relativamente distante e com
elas elaborar um conhecimento do que iria conhecer no futuro. [Sergio Goes de
Paula (org.), Hipólito da Costa (São Paulo: Editora 34, 2001).]
A afirmativa remete ao fascínio histórico que a palavra escrita
adquire a partir daquela época, em especial na Europa e Estados Unidos,
quando então o jornal, como primeiro veículo da nova era de massas,
torna-se verdadeiro educador das multidões. É o que acontece com
levas de imigrantes europeus que no Novo Mundo tornam-se leitores de jornais
por necessidade de sobrevivência, e na Europa, igualmente, onde em meio
a tablóides sensacionalistas se desenvolve um padrão de crescente
austeridade ética e jornalismo disciplinado. Ambos os modelos se refletirão
no Brasil, que, com algum atraso, em especial no final do século, começa
igualmente o que aqui denomino padrão New York Times e Hearst de jornalismo,
um em oposição ao outro. Como diz Antonio Candido de Mello e Souza,
“os homens que os faziam [estes jornais] acreditavam nas virtudes mágicas
do saber e confiavam na educação como alavanca principal de transformação
da sociedade. Para Hipolito da Costa, a instrução seria a chave
de uma conduta racional e asseguraria o bom funcionamento dos governos. Difundir
as luzes era criar condições para uma política justa e
eficiente”. [Antonio Candido de Mello e Souza, Formação da
literatura brasileira (2? ed., 1962), p. 258.]

O retorno dos restos mortais de Hipólito da Costa ao Brasil não poderia faltar, portanto, neste que é um longo namoro do país com o personagem. Trata-se de um epílogo de cinema à celebração de sua memória. E cabe nesta narrativa de fronteiriço perdido além-mar. É uma cena dramática que dá sopro de vida à lenda criada e agora reanimada. O termo lenda aqui utilizado não é pejorativo. É compatível com o argumento desenvolvido de que as lendas existem realmente. É verdade que há lenda forjada. Mas no caso, Hipólito da Costa não necessitou de qualquer tipo de cirurgia plástica. Seus comentaristas trataram simplesmente de espremê-lo, como uma bergamota (mexerica). E de cada gota criaram uma obra exegética. A lenda supera a vida, torna o enredo mágico e visa encantar os tempos que correm. O retorno de Hipólito ao Brasil é, de certa forma, o encontro do país consigo mesmo. [Seus restos mortais trazidos da Inglaterra foram depositados no jardim do Arquivo Nacional, em Brasília.] Perdido, deslocado, híbrido, encontram-se, finalmente, Hipólito e o país, a nação e o solo. É aqui, afinal, neste terreno sagrado que seu legado vive, diria a narrativa. E é aqui que ajuda os vivos a viverem a vida com o sentido de seu legado, acrescentariam seus intérpretes.

É verdade que tal desenlace romântico teria efeito cinemascópico se o último retiro fosse o Rio Grande, em Capão do Leão, município de Pelotas, onde passou a infância, conforme a imprensa gaúcha reivindicava em maio de 2001 com o clamor de “pela volta de Hipólito”. [Fabricio Cardoso, “Pela volta de Hipólito”, Zero Hora, Porto Alegre, 19/5/2001.] Neste grito pelo retorno aos pagos, recuperar-se-ia os primeiros passos, a peça fundante do mito. Foi ali, diz esta crônica, que aprendeu latim. Foi ali que seu pai, o alferes Félix da Costa, veterano de guerra na Colônia de Sacramento, a Gibraltar da América [Raul Quevedo, Colônia de Sacramento, Gibraltar da América, em Grandes Nomes da Comunicação (Porto Alegre: Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, 1997)], ganhou em 1777 uma sesmaria como reconhecimento real pelos serviços militares. Foi ali que… essa narrativa continua, tem sido relatada e repetida à exaustão, num exercício de construção de um edifício que não se vê e que é sólido e que se pretende eterno, qual uma cantiga, passando de geração a geração.

Portanto, o “paradigma Hipólito” resulta dessa confluência de vertentes. Como fronteiriço, vislumbrou mundos. Como libertário, imaginou cenários. Como pioneiro, provocou os espíritos. Como jornalista, difundiu a palavra escrita numa narrativa pessoal, por vezes subjetiva dos fatos correntes. No detalhe, constrói uma teoria brasileira do jornalismo ? embora fortemente marcada pelo contexto e o tempo em que viveu. Seus elementos incluem a crença na função pública da missão jornalística, seu dever de propagar o saber, num ambiente livre e sem censura, visando civilizar as pessoas (educá-las aos valores da liberdade, tolerância e democracia). Para isso deve polemizar, vigiar a autoridade, estabelecendo uma agenda pública de temas relevantes para debate. Anima assim os espíritos através de uma relação não fóbica com a realidade que permite a comparação de cenários variados.

Em dezembro de 1822, Hipólito da Costa anuncia a chegada do fim. Resenha sua missão: o Correio Braziliense tinha sido um periódico dedicado ao Brasil. Mas a liberdade obtida em 1822 tornara a palavra exilada agora desnecessária. Chegara a liberdade da imprensa “e as muitas gazetas, que se publicam nas suas principais cidades, escusam este trabalho d?antes tão necessário”.

(*) Professor de jornalismo e comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e pesquisador do CNPq.

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