Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ataques ilimitados

COLEGUINHAS

Jornalistas adoram criticar personalidades públicas, mas na hora de falar de seus colegas costumam ser mais delicados. Na web, no entanto, o caso é diferente. Os integrantes da tribo recebem o mesmo tratamento ? ou às vezes pior ? que os políticos. Nesse novo universo de opinião online, os jornalistas estão sendo massacrados como nunca foram anteriormente, disse Howard Kurtz [Washington Post, 4/6/01].

Um exemplo recente foi o artigo de Rich Lowry, editor da National Review, sobre a matéria de Jonathan Alter que falava da deserção do senador Jim Jeffords do Partido Republicano. "Contrangedor", "puxa-saco", "absolutamente previsível" e "infantil" foram alguns dos termos usados por Lowry para descrever a matéria de Alter. Nessa mesma linha estava o artigo do colunista Jonah Goldberg sobre Joe Conason, do New York Observer. "(…) Ele geralmente parece nervoso, o tipo de cara que senta no escuro e atira garrafas de uísque assistindo reprises durante a madrugada.(…)", escreveu Goldberg.

Mas de onde vêm esses ataques tão pessoais? A falsidade vende, explicou Goldberg, editor da National Review online. "Você não quer apenas dizer que o homem está errado; você quer dizer que ele é estúpido." Para Alter, vítima desse "clima", a crítica ofensiva é uma estratégia de marketing inteligente. "Eles se fazem de durões, e fica mais divertido. Faz parte do jogo." Para Tim Noah, da Slate, apedrejado pelo colunista Andrew Sullivan, é preciso resistir às brigas banais para que a internet se torne um ponto de encontro jornalístico sério.

Muitas vezes as rixas são iniciadas apenas para fazer barulho. E há outra e fundamental razão para a grosseria que corre solta entre os "webcolunistas": pouca ou nenhuma edição. A impressão, como disse Goldberg, tende a ser mais cautelosa.

Não faz muito tempo, John Harris, correspondente do Washington Post na Casa Branca, disse, sobre a cobertura dada ao presidente republicano George W. Bush pela mídia americana: "Esse novo presidente fez coisas, com relativa impunidade, que teriam causado uma baderna se tivessem ocorrido no governo Clinton."

A discussão sobre se jornalistas são progressistas ou não é velha e irrelevante, na opinião de Eric Alterman [The Nation, 18/6/01]. É preciso ser cego, surdo e idiota para acreditar que políticos progressistas recebam cobertura mais generosa. Harris ateve-se à questão estrutural: "Não há pessoas metódicas que começam o dia procurando formas de expor um presidente recém-eleito." O que Harris não diz, na opinião de Alterman, é que na imprensa não há o equivalente progressista de fontes tendenciosas para o lado republicado, como são a Fox News, The Wall Street Journal, The Washington Times, The New York Post, entre outros.

Some-se a isso o declínio das chamadas "notícias confirmáveis" entre as instituições jornalísticas mais respeitadas. Harris disse que seus colegas "podem ter saído de forma no árduo trabalho de examinar, expor e criticar funcionários públicos que tomam decisões que afetam a vida da nação". Alterman julga isso uma tendência natural dos repórteres de escrever para as fontes, não para os leitores. E antes tais fontes eram quase exclusivamente conservadoras e republicanas.

A análise feita por Harris no Post, de 26 parágrafos e com chamada de capa, estava, na opinião de Alterman, repleta de anedotas que colocavam o presidente ao mesmo tempo em débito e confortável com detalhes do governo que não são divulgados. Alterman afirma, ainda, que não havia repórteres do Post em eventos cruciais que noticiaram apressadamente como fato.

Um exemplo claro é a cobertura da mídia ao suposto vandalismo perpetrado por assessores de Clinton antes de sua saída da Casa Branca. O Washington Post foi o primeiro a divulgar o factóide, enquanto assessores de Bush fingiram não ligar para isso, mas pondo lenha na fogueira. O que começou com alguns Ws sumindo dos teclados dos computadores tornaram-se cortes telefônicos, mensagens obscenas e champanhes faltando em jatos oficiais. Aparentemente, nenhum jornalista pensou em perguntar a Bush se havia evidências para tais constatações. E depois falam que a mídia tende a ser liberal…

A repórter Ellen Edwards [The Washington Post, 5/6/01], fez questão de levar seus leitores a uma viagem jornalística pela Casa Branca. Explicou como a equipe do Post trabalha, como conseguem credenciais, como obtêm e descobrem notícias e como acompanham o presidente em viagens para todos os cantos.

Parece até que alguém no Post descobriu sobre o que escreveria Alterman na edição seguinte de The Nation.

    
    
                     

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