IMPRENSA & GOVERNO
Alberto Dines
Acabado o recesso de sensatez, a Folha de S.Paulo volta a atacar de acordo com o velho figurino: joga a bomba na edição de domingo e sai de fininho na segunda-feira.
No alto da primeira página da edição de 12/1, o jornal denunciou: "FleetBoston dá benefício a Meirelles de US$ 750 mil". Na capa do caderno de economia, antecedida pela intriga "Ligação Direta", vem a manchete em oito colunas: "Banco paga US$ 750 mil por ano a Meirelles".
A palavra-chave, aposentadoria, está embutida no antetítulo da matéria. Óbvio, se fosse mencionada com destaque na primeira página, em lugar de benefício, o estardalhaço seria abafado.
A entrevista com o denunciado também ficou em segundo plano na capa do caderno de economia. E na pág. 3 o reco-reco volta a ser acionado ? para sugerir que Meirelles fracassou à frente do FleetBoston.
O ruidoso aparato na edição mais forte da semana indica que não se tratou de improvisação ou sacada de última hora. O jornal certamente estava montado em informações muito seguras para prosseguir na empreitada de derrubar o novo presidente do BC.
Não estava: na edição do dia seguinte (segunda, 13/1), nenhuma palavra sobre a denúncia anterior.
Pior: num acesso de esquizofrenia, o mesmo jornal coloca na mesma primeira página (e ainda com mais destaque) uma declaração de Meirelles sobre suas próximas medidas ? numa evidente tentativa de prestigiá-lo.
E como não pode faltar uma nota pitoresca em qualquer avaliação da nossa mídia, o concorrente da Folha, o Estadão, publicou na segunda-feira a informação que faltou ao concorrente no dia anterior: que o presidente Lula e o Comitê de Ética do governo tinham plena consciência da aposentadoria de Meirelles.
Significa que a Folha gastou toda a munição na tacada dominical esperando que a repercussão enchesse o resto da semana.
O ano mal começou e a Folha já fez a primeira vítima: fuzilou um homem público antes de perguntar "quem vem lá ?". [Texto fechado às 19h55 de 13/1/03]
? A matéria da Folha publicada na terça-feira (14/1), com chamada na primeira página, é uma suíte contraditando a matéria do concorrente Estadão, dada na segunda (13), quando a Folha esteve ausente do assunto.