Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Audiência não é tudo

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MÍDIA ONLINE

Michael Kinsley criou Slate.com há cinco anos, David Talbot lançou Salon.com, Jim Cramer fundou TheStreet.com, todos sites de conteúdo de sucesso. Hoje, os três estão agonizantes. E esses, os pioneiros ainda com fôlego, são os sortudos – na opinião de Howard Kurtz, analista de mídia do Washington Post, em matéria publicada em 21/2. Não se pode dizer o mesmo de APBNews.com, Voter.com, Pseudo.com, Disney’s Go.com e outros que chegaram com estardalhaço ao ciberespaço e naufragaram.

Os críticos prenunciam os últimos ritos para sítios de conteúdo. "Não há prognóstico, o paciente morreu", diz Michael Wolff, colunista da revista New York que viu sua própria companhia de internet afundar. "Virtualmente, todo mundo que captou dinheiro do público está abandonando o negócio ou sendo assimilado para deixar o negócio. O resto é blábláblá."

Milhões de pessoas, porém, ainda clicam nesses sites de notícias; grandes empresas de mídia ainda investem neles e sua agilidade mudou a cultura jornalística. "No início, jornalistas como eu ficariam bilionários da noite para o dia", diz Talbot. "Isso foi inflacionado, assim como a cobertura alarmista que estamos atraindo agora."

A maioria dos artigos sobre o declínio das pontocom aponta para o problema financeiro: ações, cortes, demissões. De fato, não há razão para festejar. A News Corp. de Rupert Murdoch está reduzindo sua unidade de mídia digital, cortando 200 empregos. O New York Times cortou 17% dos empregos no setor, e a Knight Ridder, 16%; CNN cortou 130 vagas; TheStreet.com demitiu 20% dos funcionários, a NBC Internet, 20%, CNBC.com, 25%, a Motley Fool, 33%. Disney teve 790 milhões de dólares de prejuízo ao fechar a Go.com.

Howard Kurtz pergunta se o conceito propriamente dito do jornalismo online perdeu o sentido. Foi tudo uma propaganda enganosa? "Há um sentimento inevitável de frustração sobre todos os milagres de que essa mídia seria capaz", diz Kurt Andersen, co-fundador da Inside.com, o sítio de notícias e entretenimento que fracassou na captura de 30 mil assinaturas online que esperava conseguir. "A histeria e o super-otimismo fizeram as pessoas esquecerem que criar uma marca leva anos", diz ele. "O jeito é voltar a pôr os pés no chão."

O público parece "ponto-entediado": o tempo de navegação na internet caiu de outubro para dezembro de 17,5 horas para 14,9 horas em média, afirmam os pesquisadores da Nielsen/Net Ratings.

Por segurança, a grande mídia está concentrando esforços em grandes sítios, como MSNBC.com (9,8 milhões de visitantes em janeiro), CNN.com (7,7 milhões), NYTimes.com (3,4 milhões), USAToday.com (2,7 milhões) e Washingtonpost.com (2,6 milhões), segundo o Media Metrix. E a maioria destes sítios perde milhões de dólares.

Slate.com, sustentado por Bill Gates, atraiu 2 milhões de visitantes em janeiro; TheStreet.com, 1,6 milhão, e Salon, 1,5 milhão.

Para os especialistas, diz Kurtz, o que realmente bloqueou o desenvolvimento da web foi a pobre contribuição das companhias de telefone e cabo, que demoram a fornecer o serviço de banda larga aos usuários domésticos, o que inviabiliza o uso de recursos como o vídeo.

O outro problema é que o modelo predominante na rede – conteúdo financiado por anúncios – não está funcionando, especialmente porque poucos usuários clicam em propaganda. O resultado é que alguns sítios estão se voltando para a velha mídia, e fazendo parcerias para produzir versões em papel. Inside.com, por exemplo, uniu-se à Industry Standard para lançar Inside, uma revista impressa. Salon inaugurou um programa de rádio, CBS MarketWatch.com tem um programa de TV, TheStreet.com perdeu seu programa na Fox News, mas está montando outro.

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