ELEIÇÕES 2002
"Baderneiros de aluguel", copyright Jornal do Brasil, 18/07/02
"Militantes do MR-8 ficaram furiosos por terem sido qualificados nesta coluna, recentemente, de baderneiros a serviço do ex-governador paulista Orestes Quércia. O texto tratava das turbulências ocorridas na convenção nacional do PMDB. Por dever de justiça, registrou também a ação dos desordeiros mobilizados pelo governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. Os dois bandos lembram os velhos hooligans ingleses. Só que brigam por times diferentes.
(Roriz, por sinal, acaba de meter-se em outra enrascada por ter sido pilhado na tentativa de mudar a letra de uma música de Tim Maia para usá-la na campanha eleitoral. Não deixa de ser uma variação do crime de violação de cadáveres. Mas esta é outra história, da qual o velho Tim saberia debochar em perfeitos bemóis e sustenidos. Voltemos aos delitos de que estávamos tratando.)
Oficialmente editado pelo MR-8, um jornal chamado Hora do Povo dedicou ao colunista um artigo (com vistosa chamada na primeira página) cuja leitura talvez induzisse minha mãe, apesar da longa convivência com o filho já cinqüentão, casado, pai de duas filhas, a conferir o guarda-roupas para saber se alguma peça está faltando. É o que recomendam algumas expressões aplicadas ao colunista. Entre os mais leves figuram, por exemplo, ?prostituta do jornalismo?, ?vadia em fim de carreira?, ?marafona? e ?meretriz?.
O mesmo texto reitera a fidelidade da sigla ao comandante Orestes Quércia, chefe supremo da revolução socialista programada pelo MR-8 para algum momento deste século, ou do milênio. (Quem tem missão a cumprir deve aprender a ser paciente.) As páginas do jornal não estampam um único anúncio. O total de assinantes é desconhecido, mas certamente não bastaria para eleger um vereador de distrito. Alguns exemplares encalham nas bancas, outros são gratuitamente distribuídos nas Câmaras Municipais. Mas o jornaleco sobrevive. Quem paga a conta? A resposta certa vale 2 reais no Show do Milhão de Silvio Santos.
Como ninguém se encorajou a assumir a autoria do artigo, serão processados judicialmente os velhotes sem programa que se enfileiram no expediente da publicação e a mulher cujo nome aparece como remetente nos envelopes com os jornais. (Não seria nenhum insulto chamá-la de mulher de vida fácil: eis aí um emprego que deve pedir a Deus quem não tem medo do inferno.)
Um deputado federal do PTB, que se julgava impune, já foi encaminhado aos tribunais. A turma do MR-8 também terá de entender-se com a lei. Lugar é o que não falta nos bancos dos réus deste país.
A guarânia continua
Recebi do amigo Nonato Cruz uma carta que faço questão de transcrever na íntegra:
?Tem reflexo de ópera bufa, ao som de guarânia malcontada, a crônica do atual momento paraguaio. O senador González Macchi aboletou-se na Presidência da República, como substituto constitucional, e não convocou eleições em 30 dias, como obrigava a Constituição e prometera na posse. Inovou (!), dois anos depois, convocando eleições exclusivamente para preencher a Vice-Presidência, vacante também! Levou uma surra! Tudo no Paraguai é surpreendente. Agora tem um vice eleito constitucionalmente, em eleições livres e diretas, mas o ex-senador Macchi (que nem mais é presidente do Senado) não lhe entrega a Presidência… O vice é o sucessor do presidente renunciante.
Aprendemos, juntos, com Afonso Arinos, na Faculdade Nacional de Direito, esta lição constitucional.
Pior, contrariando a Carta do Mercosur, este usurpador já até o presidiu. Não seria o caso, agora, de FH – presidindo o Mercosur – impor a transferência da Presidência ao vice constitucional, como reivindica o povo paraguaio?
Quanto ao general Lino Cesar Oviedo, ele é que é o mocinho da guarânia mal-escrita. O resto é tudo bandido. Inocentado pela Justiça comum, foi condenado a 10 anos por um tribunal militar, só convocável em tempo de guerra (art. 127 da Constituição paraguaia). Não era o caso. A Corte Suprema acabou com o Estado de Direito no Paraguai, quando, simplesmente, cassou o indulto que lhe foi dado pelo então presidente Raul Cubas (!!!). Outra má lição de violação da norma constitucional de harmonia, mas independência, entre os poderes…
Não seja injusto com o general!
Abraços do admirador e confrade
Nonato Cruz.?
Interessantes informações. Mas não creio que Lino Oviedo mereça entrar no filme como o herói dessa história. A julgar pelo enredo resumido por Nonato Cruz, só há bandidos no saloon. O mocinho pode estar do lado de cá da fronteira. Fernando Henrique Cardoso tem grande chance de botar a mão no coldre e encarnar o papel."
"Arnaldo Jabor é multado por críticas a Maluf", copyright O Estado de S. Paulo, 19/07/02
"A rádio CBN e o comentarista Arnaldo Jabor foram multados pela Justiça Eleitoral em R$ 70 mil cada um por emitir juízo de valor sobre Paulo Maluf, candidato do PPB ao governo de São Paulo. Desde 1.? de julho, pela legislação eleitoral, as emissoras de rádio e TV estão proibidas de ?veicular propaganda política ou difundir opinião favorável ou contrária a candidato, partido, coligação, a seus órgãos ou representantes?. Em 9 de julho, Jabor disse, em seu programa na CBN, ter ?inveja do Paulo Maluf, porque ele é imortal.? E completou: ?O povão vota no Maluf, de qualquer jeito, mesmo que pegassem ele, no mó crime continuariam votando nele. (…) É extraordinária a resistência desse homem.? O Sistema Globo de Rádio afirmou que recorrerá da decisão."
"Pesquisas e Mercado", editorial copyright Folha de S. Paulo, 16/07/02
"Os Estados Unidos dão ao mundo exemplar (embora dramática) demonstração da importância das regras convencionais para o funcionamento do mercado acionário. Quando elas se quebram, atingem também o elemento essencial que move o poupador a adquirir participações em empresas: a confiança.
No Brasil, a prioridade para o mercado de capitais é a de estancar a sangria que o deixou anêmico. A discussão acerca das regras desse mercado também tem surgido, mas muito mais atrelada a uma questão conjuntural: a polêmica utilização de resultados de pesquisas eleitorais por instituições com interesse direto na oscilação dos preços das ações.
Um banco, por exemplo, está livre para contratar pesquisas eleitorais. Para que a enquete possa ser feita, no entanto, é preciso registrá-la no Tribunal Superior Eleitoral. A informação de que há uma pesquisa em curso é pública, mas a empresa que a encomendou não fica obrigada a divulgar seus resultados.
Esse mecanismo gera distorções. A partir dos dados que a pesquisa fornece, o banco pode, por exemplo, realizar seus movimentos de compra ou venda de ações num dia e divulgar a pesquisa no dia seguinte, já prevendo qual será a reação do mercado. Pode, também, atuar na Bolsa de Valores de acordo com a informação exclusiva que detém sem jamais divulgar a pesquisa, incentivando boatos que levem o mercado a comportar-se numa dada direção.
Através do controle privilegiado de informação eleitoral, portanto, há brechas que permitem manipulação de mercados. Para que a confiança do público na Bolsa se mantenha (e se fortaleça), é desejável que as autoridades punam práticas como essa.
Em entrevista à Folha, o novo presidente da Comissão de Valores Mobiliários, Luís Cantidiano, manifestou a intenção de estabelecer sanções para essas manipulações. Há notória dificuldade em provar desvios naturalmente furtivos como esses. Mas cumpre ao menos tentar coibi-los."