Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Autópsia polêmica

GRÃ-BRETANHA

Muita polêmica foi gerada pela autópsia pública que o médico alemão Gunther von Hagens fez numa cervejaria desativada de Londres com transmissão pela televisão [leia também o artigo "Fantástico show da morte", na rubrica Qualidade na TV, nesta edição]. O corpo era de um executivo de 72 anos que morreu em março e havia declarado que poderia ser utilizado para a dissecação. A platéia de 400 pessoas que pagaram US$ 19 cada para ver o espetáculo teve reações das mais diversas. Espectadores tapavam os olhos, arfavam nervosos, abandonavam a apresentação no meio, e, em dado momento, aplaudiam, enquanto Hagens, com um inglês carregado de sotaque, explicava seus procedimentos.

Havia 170 anos que os britânicos não tinham oportunidade de assistir a uma autópsia pública. A prática foi proibida em 1832 porque a grande demanda por corpos fez com que por vezes se recorresse ao assassinato para consegui-los. Autoridades alertaram Hagens de que a lei ainda é válida e a possibilidade de ele ser processado está em estudo. Dois agentes da Scotland Yard acompanharam o evento.

As opiniões sobre a autópsia ficaram divididas, como reporta Alan Cowell, do New York Times [22/11/02]. Michael Wilkes, presidente da comissão de ética da Associação Médica Britânica disse que "o valor de entretenimento foi bem alto para algumas pessoas, com, possivelmente, algum valor educacional também". Em coluna de um jornal, o médico Robert Baker opinou de forma oposta, classificando a apresentação de Hagens de "uma paródia da ciência médica". "O que será desmistificado vendo a autópsia que não poderia ser atingido olhando uma enciclopédia médica ou num passeio ao açougue?", pergunta.