PROVÃO
Ana Maria Straube (*)
No domingo, 8 de junho, formandos de Jornalismo e outros cursos de graduação farão o Exame Nacional de Cursos, conhecido como Provão, em todo o Brasil.
Apesar da mudança de governo, ainda não é desta vez que os estudantes poderão participar de um modelo justo de avaliação. Pelo contrário, farão uma prova que pretende verificar o aprendizado de pelo menos quatro anos de curso universitário num tempo estimado de quatro horas.
Mais uma vez, o boicote ? que significa apenas assinar a lista de presença e não escrever absolutamente nada na prova, sob pena de ser avaliado ? aparece com uma das únicas possibilidades de protesto frente ao autoritarismo imposto pela política educacional de FHC.
Boicotar o Provão significa perceber que a suposta avaliação não leva em conta ? pelo menos no que diz respeito ao curso de Jornalismo ? as diferenças essenciais entre os tipos de cursos existentes no ensino superior. Há aqueles que prezam claramente a formação tecnicista do jornalista, em detrimento do aspecto humanista da profissão. Já outros fazem o contrário, procurando despertar o espírito crítico em seus alunos.
Outra questão ignorada é a disparidade regional. Como aplicar a mesma prova a alunos de Jornalismo do Amazonas ao Rio Grande de Sul? Com certeza, os cursos nos 27 estados brasileiros não são iguais e não podem ser avaliados da mesma maneira. Além disso, a chamada Avaliação Institucional não foi sequer debatida com a comunidade acadêmica, além de se apresentar, muitas vezes, tendenciosa.
Abertura ao diálogo
Assim, o Provão serve apenas para montar um ranking dos cursos de graduação, no qual os que ocuparem os primeiros lugares são merecedores de verbas do Ministério da Educação. Já os piores são punidos. Cursos com três notas "E" consecutivas sofrem ameaças de fechamento, uma promessa nunca cumprida pelo então ministro Paulo Renato Souza. Com duas notas "D" ou "E" consecutivas, por exemplo, o curso não pode ter alunos beneficiados pelo programa de financiamento estudantil, o Fies.
Já o aluno que boicota o Provão não sofre qualquer prejuízo pessoal. Recebe sua nota individual em casa e raramente seus resultados são pedidos para fins de contratação ou análise de currículo. Conta ainda com a opção de colar na prova um adesivo com os dizeres: "Colei no Provão por um novo modelo de avaliação". O adesivo é uma forma de promover a campanha da entidade mais comprometida com a articulação do boicote entre os alunos de Jornalismo, a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos).
Em 1995, a partir de discussões sobre a avaliação institucional, a entidade desenvolveu um modelo de exame denominado "Avaliação pra Valer". O novo modelo proposto pela Enecos contesta vários aspectos da atual forma de avaliação e propõe mudanças significativas no processo. O documento foi entregue ao ministro da Educação, Cristovam Buarque, no início deste ano.
A nós, alunos de Jornalismo, resta refletir se vale ou não a pena compactuar com uma forma de avaliação que não cumpre absolutamente com as suas pretensões. Uma prova com modelos únicos de respostas a perguntas nada isentas. Cabe lembrar que as avaliações passadas podem ser encontradas no sítio do MEC no endereço
Enfim, a nós resta esperar que o governo Lula esteja realmente aberto ao diálogo e disposto a rever posições e promover uma avaliação consistente, construída de forma democrática e que seja efetivamente transformadora do conceito de universidade no Brasil.
(*) Estudante de Jornalismo da PUC-SP
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