Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Baixaria sem perder a majestade

BIG BROTHER BRASIL

Fernando Torres (*)

Lembra daquele ditado que dizia algo como "rei que é rei nunca perde a majestade"? Pois é. Dona Globo é assim. Num especial de domingo dia 30/7, a distinta senhora promoveu um número especial do Big Barraco Brasil, sem, contudo, perder a graça e a elegância da realeza. Enquanto isso, a concorrente Casa dos Artistas 3 era finalizada com baixarias típicas, numa verdadeira afronta aos bons costumes.

Mediado pelo impagável jornalista Pedro Bial, o "debate" (esse termo soa melhor, não?) foi marcado pelas acusações da casta moçoila Tina. As denúncias giraram em torno da sexualidade do gaúcho Fabrício, do vício de Jeferson e da ternura de Thaís. Picante, Tina chamou a desafeta de "Corrimão". Imagine! Segundo ela, Thaís se esfregava com todos os homens da casa, numa ousada tentativa de conquistar o posto de Anita, falecida ninfeta da minissérie deturpada de Mário Donato. Pobrezinha… Estava carente, será que ninguém entende?

Os pombinhos Manu e Thyrso também tiveram seu momento de "expressar opiniões". Recém-saídos da trama Algemas da paixão, o casal revelou ter algumas pendengas para resolver. O motivo era a possível traição da heroína Manu com o vilão dom Fabrício. O "mané" já estava quase pensando em pedir um exame de DNA. No entanto, as farpas aconteceram com estilo, como manda Dona Globo. Tudo sem perder a majestade.

Em tempo de eleições, deve-se louvar a utilidade do reality show. Afinal, o brasileiro já pode ir treinando como eliminar democraticamente os candidatos picaretas. Tudo bem, comparar "paredão" com urna eleitoral é maldade. Mas, admita: seria hilário ver Lula e Garotinho no confessionário esclarecendo o aumento do salário mínimo sem o rombo de bilhões na Previdência Social. Ou então observar Serra explicando passo a passo as táticas para derrubar Roseana Sarney. Comprovou-se que política e reality show são primos de primeiro grau.

Pura inveja

Também vale ressaltar o "cérebro" das novas celebridades. Indagados sobre a data da Proclamação da República, os gênios do BBB demonstraram sua riquíssima cultura histórica dizendo que ocorreu em 7 de setembro de 1822 ? ou foi em 1500? ? às margens do rio Ipiranga, protagonizada por Dom Pedro I, aquele que teve um romance com a princesa Isabel, autora da Lei do Ventre Livre. "Então, esse dia ficou conhecido como o Dia do Fico", encerra a fogosa Tarciana. Eita intelectual de verdade!

Após o término do programa, o perigo é o fantasma do anonimato. Para fugir dessa assombração, a maioria das celebridades optou por se desnudar diante da câmera de um fotógrafo. "Um trabalho como qualquer outro", apoiaria Hilda Furacão. O caminho lógico é o site Paparazzo, que ? coincidência! ? hospeda-se no portal Globo.com. Não, por favor, não pense em pornografia. Tudo é muito decente, com altas doses de profissionalismo, sem perder a majestade. Nada à mostra. Só que, às vezes, a toalha escorrega e o retratista capta, rapidamente, fartas doses de silicone e vestígios de pêlos pubianos. Acontece…

Infelizmente, a era das "prisões domiciliares" parece ter acabado. Com o fim de BBB, resta ao público se contentar com o substituto global: o instrutivo Acorrentados, com o vivaz apresentador Luciano Huck. Comparações a outros entretenimentos apelativos ? na pessoa dos sádicos Ratinho (SBT), João Kléber (Rede TV!) e Márcia Goldschimidt (Band) ? virão. Pura inveja. O caro receptor, entre os intervalos comerciais, fará breve análise de tudo isso e concluirá que "faz parte". Plim, plim.

(*) Aluno do 2.? ano de Jornalismo do Unasp