30 ANOS DE UNB
Luiz Martins (*)
A Universidade de Brasília comemora em 2002 os seus 40 anos. E, apesar de todas as dificuldades políticas e financeiras que enfrentou, hoje é uma das instituições federais de ensino superior mais consolidadas, sobretudo graças ao corpo docente altamente qualificado que conseguiu reunir, apesar das invasões e dos expurgos do passado. Neste momento, em meio aos festejos dos 40 anos da UnB, uma outra comemoração se destaca, os 30 anos de magistério, na UnB, da professora Barbara Freitag, uma das maiores personalidades do mundo acadêmico brasileiro, no qual sobressaiu especialmente pela difusão do pensamento da Escola de Frankfurt e, em especial, de Jürgen Habermas.
Barbara, autora de A teoria crítica: ontem e hoje (Brasiliense, 1986), foi aluna de Adorno e Horkheimer, em Frankfurt. Entretanto, sua ligação intelectual acabou se consolidando muito mais com o grande herdeiro da teoria crítica, que foi Habermas, de quem tem sido notável interlocutora e intérprete no Brasil, mas também partícipe de um esforço de superar a teoria crítica do pessimismo e do desespero típicos dos tempos da fuga do nazismo. Além de livros e artigos sobre o pensamento de Habermas, ela organizou livros comemorativos aos 60 e 70 anos deste que é o único dos frankfurtianos ainda vivo (nasceu em 18 de junho de 1929).
No dia 15/4, no Auditório da Reitoria da UnB, quatro rodadas de debates sobre a obra da homenageada se sucederam sob o título geral de "Itinerários de Barbara Freitag", em analogia a um de seus principais livros ? Itinerários de Antígona ? A questão da moralidade (Papirus), nesse momento em sua terceira edição. A solenidade foi organizada por ex-orientandos e colegas desta professora que é alemã de nascimento e já lecionou e ministrou conferências em várias universidades européias, mas escolheu a UnB como seu principal projeto acadêmico. Dois institutos (ciências sociais e ciências humanas) e quatro departamentos (Sociologia, Filosofia, História e Serviço Social) da UnB se integraram na promoção do evento.
Nessas três décadas, Barbara Freitag tanto foi porta-voz das principais correntes do pensamento filosófico e sociológico alemão ? da Teoria Crítica, da Escola de Frankfurt, à Teoria da Ação Comunicativa, de Habermas ?, quanto divulgou na Alemanha vários autores de renome no pensamento social brasileiro, como Gilberto Freyre, Celso Furtado e Florestan Fernandes. Suas aulas, no entanto, são especialmente caracterizadas pelas conexões entre os vários clássicos que pensaram as questões da moralidade e da eticidade, entre eles Sócrates, Platão, Aristóteles, Rousseau, Kant, Hegel, Marx, Weber, Durkheim, Piaget, Apel, Kohlberg e Habermas. Constrói, portanto, uma interdisciplinaridade entre as áreas de filosofia, sociologia e psicologia.
Autora de numerosas pesquisas, muitas delas relacionadas ao processo educacional (alfabetização, livro didático, psicologia genética e desenvolvimento moral), Barbara tem coordenado os anuários de educação da editora Tempo Brasileiro. Nos últimos anos tem-se dedicado a temas da sociologia urbana (Cidade e literatura, A cidade dos homens), nomeadamente no que se refere aos grandes problemas das megalópoles de todo mundo, assuntos sobre os quais escreve com freqüência no Correio Braziliense.
(*) Professor da Faculdade de Comunicação da UnB, foi orientando de Barbara Freitag e um dos autores participantes da coletânea Jürgen Habermas: 70 anos (Tempo Brasileiro, 1999)