ANIMAÇÃO / TV
“O laboratório de Genndy”, copyright Época, 23/04/03
“Genndy Tartakovsky conta uma história de sua infância para explicar a origem de O Laboratório de Dexter – um dos desenhos mais divertidos e populares da nova safra de animações, criado por ele. Quando era criança, ele e o irmão mais velho, Alex, não se entendiam. O irmão convidava o caçula para brincar com seus soldadinhos de chumbo, mas estragava a festa porque não o deixava encostar nos brinquedos. ?Eu ficava só olhando?, diz. O pequeno, por outro lado, vivia desenhando e inventando personagens e objetos imaginários. Resultado: anos mais tarde, Tartakovsky virou um craque da animação e criou Dexter, um garoto metido a gênio que tem um laboratório secreto em casa. A irmã do menino, Dee Dee, é uma versão feminina de Alex: chatinha, vive estragando os planos do cientista mirim.
O Laboratório de Dexter está entre os mais vistos do Cartoon Network, canal campeão de audiência na TV paga. A emissora está completando dez anos no Brasil (é vista também em outros 145 países) e lidera o ranking dos canais a cabo desde que o Ibope passou a medir a audiência nesse segmento, em 2001. O desenho de Tartakovsky está bem acompanhado: é exibido na mesma programação em que estão outros sucessos da nova geração – como As Meninas Superpoderosas e A Vaca e o Frango – e clássicos como Tom & Jerry, Patolino e Pernalonga. Mas o desenhista de 33 anos critica o saudosismo típico de muitos pais e defende as criações de seu tempo. ?Clássicos como Os Jetsons eram excelentes, mas não funcionam mais?, afirma. ?A garotada está vendo MTV e absorve uma quantidade de informações muito maior do que eu conseguia quando era criança. A animação precisa acompanhar essa mudança.?
Tartakovsky acompanhou. Ele é pai, além de Dexter, de Samurai Jack, desenho estilizado, cuja estética importa mais que os diálogos. ?É experimental, uma tentativa de criar movimentos diferentes e uma nova fotografia de animação?, explica. Diretor de As Meninas Superpoderosas – O Filme, Tartakovsky é apaixonado por cinema. Seus ídolos são Francis Ford Coppola e Steven Spielberg, e a influência deles foi determinante: ?Faço animação como se fosse longa-metragem?.
Nascido na extinta União Soviética, filho de um dentista e uma dona-de-casa, Tartakovsky imigrou com a família para os Estados Unidos quando tinha 7 anos. Apaixonou-se imediatamente pelos heróis dos quadrinhos da Marvel e pelas animações dos estúdios Hanna Barbera. Nunca foi grande fã do estilo Disney. ?É a mesma fórmula há anos?, diz.
Tartakovsky lembra que é preciso ser original, mas garante que a solução não está na computação gráfica. Em seu estúdio, todos os storyboards e os movimentos dos personagens são feitos à mão, com lápis, à moda antiga. O computador só entra na hora de colorir e sobrepor o desenho contra o fundo. ?Não pode ser mais que isso. Afinal de contas, toda a graça da animação está em desenhar.? Os desenhos de Tartakovsky são mesmo cheios de graça.
?Os pais é que educam?
À semelhança de Dexter, Genndy Tartakovsky também é um geniozinho. Criou o personagem quando tinha apenas 21 anos e ainda era um estudante de arte. Em 1996, o personagem deu origem à primeira série original do Cartoon Network. Ele falou a ÉPOCA por telefone, de seu estúdio em Burbank, na Califórnia.
ÉPOCA – Por que Dexter agrada tanto às crianças?
Genndy Tartakovsky – O principal elemento é a imaginação. Crianças gostam de pensar coisas como: ?Eu queria ter uma máquina que me multiplicasse por dez?. E Dexter faz isso. A animação deve ser um espaço onde acontecem coisas que seriam impossíveis na vida real. Ao mesmo tempo, Dexter vive num universo de elementos conhecidos da garotada. Tem pais que pegam no pé, uma irmã que enche a paciência… E o visual ajuda, com uma edição mais rápida e desenhos estilizados. As crianças de hoje não têm paciência para a animação convencional.
ÉPOCA – Quais são as semelhanças entre os desenhos da mesma geração que o seu, como As Meninas Superpoderosas?
Tartakovsky – Nas décadas de 70 e 80 havia a tendência de criar grupos de heróis inspirados em brinquedos. Hoje voltamos ao que se fazia nos anos 30 e 40, com protagonistas mais fortes: Patolino, Popeye, Pernalonga. Temos Bob Esponja e Johnny Bravo, por exemplo. A diferença é que eles tinham como referência o cinema mudo, e nós somos fãs de Steven Spielberg. Encaramos o desenho animado como um filme, pensamos na fotografia e na iluminação.
ÉPOCA – Alguns desenhos japoneses, como Pokémon e Dragonball Z, são acusados de ser violentos. Qual é sua opinião sobre isso?
Tartakovsky – Popeye era um desenho violento. Não vejo nenhum problema em cenas de luta. Adoro desenhos japoneses, principalmente os de Miyazaki (Hayao Miyazaki, de 62 anos, animou clássicos da literatura como Ali Babá e os Quarenta Ladrões e As Viagens de Gulliver). Eles elevam a animação ao status de arte que ela merece, enquanto para os ocidentais nosso trabalho ainda é considerado apenas diversão infantil.
ÉPOCA – Muitos pais se preocupam porque as crianças de hoje assistem muito à televisão. Pensando nisso, você tenta ser educativo ou quer apenas entreter?
Tartakovsky – Quando eu era criança, via muita televisão. Não acho que isso tenha me prejudicado. Ao contrário: me ajudou a aprender inglês quando cheguei de Moscou. Por isso acho que a TV pode ser educativa. Mas isso não é problema meu. Quero fazer a criança rir, e não dar lições de vida. Tenho uma filha de 1 ano e meio e outro dia ela assistiu a um desenho que a deixou assustada. Fiquei chateado, não com quem fez o desenho, e sim comigo mesmo, por ter deixado que ela o visse. Educar é obrigação dos pais, não da televisão.”
TV GLOBO
“Globo vai montar ?cidade? para PM de SP”, copyright Folha de S. Paulo, 21/04/03
“A TV Globo deverá ceder tecnologia e mão-de-obra especializada para a construção de uma cidade cenográfica, em São Paulo, que será usada para treinamento e reciclagem de policiais militares.
Assim como as cidades cenográficas das novelas da Globo, a da polícia paulista terá casas, prédios, agências bancárias, ruas e becos. Servirão para que o policial treine em ambientes que se aproximem ao máximo da realidade que encontrará em sua atividade profissional.
A iniciativa partiu da própria Globo, que no final do ano passado sugeriu à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo parceria no projeto ?Geração de Paz?, algo como um ?Criança Esperança? para a polícia.
A Secretaria de Segurança Pública, então, desenvolveu o projeto de cidade cenográfica, a ser erguida em terreno no bairro de Pirituba (zona oeste de São Paulo).
Uma equipe do governo estadual irá agora buscar novos parceiros na iniciativa privada, para bancar os custos de matéria-prima e de empreiteira para a construção da cidade cenográfica. Segundo o governo paulista, esses custos devem ficar entre R$ 2 milhões e R$ 4 milhões.
A Secretaria de Segurança Pública também estuda a produção de um programa de televisão sobre a atividade da polícia paulista. O projeto, ainda em fase embrionária, também contaria com o apoio da Globo.
OUTRO CANAL
Debandada 1
O ?Xuxa no Mundo da Imaginação?, que despencou no Ibope, tem hoje um público mais humilde do que na estréia, em outubro. A participação da classe C no perfil da audiência do infantil, que era de 48,5%, caiu para 37,6%. A fatia das classes AB manteve-se em 24% e a das DE, cresceu, de 27,3% para 38,4%.
Debandada 2
O programa de Xuxa Meneghel, no entanto, ganhou maior participação de crianças e adolescentes (41,8% em abril contra 36,8% em novembro). Antes, 52,5% da audiência da atração tinha mais de 25 anos _agora, esse público representa 47,7%.
Sina
Tem o nome de trabalho de ?Heaven and Hell? (céu/paraíso e inferno) o projeto de novo programa, semanal, a ser apresentado por Marcos Mion, na Band, em princípio a partir de junho.
Intriga 1
Autor de ?Mulheres Apaixonadas?, Manoel Carlos suspeitava, há um mês, que uma ex-colaboradora estava enviando sucessivos e-mails a jornalistas apontando falhas na novela. Os e- mails traziam endereços verdadeiros, mas eram assinados por pessoas desconhecidas nesses lugares.
Intriga 2
O fato é que as cartas eletrônicas contra a novela das oito da Globo cessaram depois que o jornal ?Extra?, do Rio, publicou texto sobre a teoria conspiratória de Manoel Carlos.”
NOVELAS EM CRISE
“O que é que eles têm que elas não têm”, copyright Folha de S. Paulo, 20/04/03
“OS SINAIS estão por toda parte e são inequívocos, mas talvez ainda seja cedo para saber onde vai dar a crise das novelas. Que há uma, há: enquanto o SBT lança mão da neomexicanização, com algum sucesso, a Rede Globo se debate reciclando as fórmulas que ela mesma inventou, mas que por algumas razões não dão mais tão certo.
O interessante, entretanto, é observar que talvez seja apenas o formato, e não o conteúdo, que apresenta sintomas de algum tipo de doença, ou seja, é a ficção seriada do tipo telenovela que já não é mais tão atraente, mas não a ficção em geral. É só dar uma olhada nas listas de programas de maior audiência por canal da TV aberta -nos primeiros lugares, lá está uma novela ou uma série, o que indica que a TV como contadora de histórias ainda está valendo.
Talvez o que seja urgente descobrir é que tipo de histórias fazem sentido hoje em dia e como contá-las. A TV já soube disso, por exemplo, nos anos 70 e 80, quando a Globo chegou à sofisticação de ter mais de um formato bem-sucedido de telenovela. A grade -a ?educativa? novela das 18h, as comédias às 19h, os dramões às 20h e até a novela para a classe média intelectualizada às 22h- dava conta das necessidades ficcionais de boa parte dos espectadores de TV. (E, se não desse, o monopólio encarregava-se de fazer dar).
Há uma série de motivos que podem explicar a crise das novelas, mas um deles é o crucial -a novela talvez ainda seja o mais importante, mas não é mais o único jeito de contar histórias na TV. Com a ampliação da concorrência -profissionalização de outras emissoras e a vinda da TV paga-, outros formatos de ficção passaram a dividir a atenção dos telespectadores. Tanto os derivados da novela, como as minisséries, em tudo semelhantes, mas mais curtas e com foco mais acertado, quanto os ?importados?, direta ou indiretamente, como as sitcoms norte-americanas e mesmo as tentativas brasileiras de produzir histórias mais enxutas, em episódios em vez de capítulos, têm abalado o longo reinado das novelas.
Embora estejam virtualmente ausentes da TV aberta -o SBT, por exemplo, é detentor dos direitos de vários títulos, alguns deles considerados os melhores, como ?Plantão Médico? (?ER?), ?Oz?, ?Alias?, mas costuma exibi-los em horários esdrúxulos ou sem respeito à sequência original-, os seriados são um dos grandes atrativos da TV paga. E talvez tenham duas ou três coisas a ensinar às novelas.
Mesmo que os canais que os exibem torturem o telespectador com reprises à exaustão e horários eternamente tomados pelo mesmo título -os canais Warner, com ?La Femme Nikita?; Sony, com ?Seinfled?/?Newsradio?/?Saturday Night Live?; e Fox, com ?Arquivo X?-, há uma agilidade incomparável no seriado. A estratégia de contar a história dos personagens principais em dois planos -um apresentado e desenvolvido a cada episódio e outro que se estende ao longo de vários episódios-, por exemplo, nunca dá a sensação de enrolação, que é tão comum às novelas. Um seriado pode soar repetitivo, mas sempre acontece alguma coisa.
Em segundo lugar, outro elemento importante dos seriados é o fato de eles procurarem alguma espécie de ?realismo? antropológico. Em vez da pasteurização e, em alguns casos mais graves, da franca caricatura preconceituosa que sofrem nas novelas brasileiras os personagens que pretendem representar grupos jovens e estilos de vida alternativos, os seriados norte-americanos vão no sentido oposto.
E, por fim, mas não menos importante, há (quase) sempre lugar para o humor, mesmo nos seriados dramáticos. As novelas, via de regra, lembram-se até das boas causas, mas, com exceção daquelas que já são anunciadas como cômicas, tendem a se levar muito a sério.”