NORMAS DO CONAR
Eusébio Mattoso (*)
Às vezes acho que tudo é fruto da minha imaginação! Eu trabalhava na Souza Cruz, como gerente de Produtos de Baixos Teores, na época em que foi "criado" o Conar. Era a hora de se iniciarem os processos de auto-regulamentação para evitar decisões unilaterais que afetassem o livre uso da propaganda de cigarro na mídia, principalmente a televisão (a Souza Cruz era um dos maiores anunciantes e beneficiários do livre uso da propaganda).
Lembro-me, então, de que foi feito um "acordo de cavalheiros", entre as empresas de cigarros e bebidas (alcoólicas) e a mídia eletrônica, pelo qual estas empresas se comprometiam a veicular a propaganda de seus produtos apenas no período de 21h às 6h. Só haveria uma exceção: quando estas empresas patrocinassem eventos que fossem transmitidos "ao vivo" em horários fora daquele período, poderiam usar seus comerciais, inclusive "chamadas patrocinadas".
Bom, só a propaganda de cigarro continuou nesse acordo e, algum tempo depois, acho que em 1981 ou 1982, foi completamente banida da mídia eletrônica, e de toda mídia, como até hoje.
Calado não!
Quanto às bebidas alcoólicas, acho que o lobby foi mais forte, e hoje "bebemos" comerciais de cerveja e outra bebidas de maior gradação alcoólica a qualquer hora e com grande freqüência, sem que tenha visto ou lido qualquer comentário ou crítica a isso. A não ser agora, quando novamente se anuncia "acordo", sugerido e patrocinado pelo Conar e suas empresas associadas, para regular a propaganda de bebidas!? como se já não houvesse UM acordo, feito há muito tempo, e ao que eu saiba não-revogado!
Será que eu imaginei tudo isso?
É claro que não! Eu não estou contando uma história de que ouvi falar. Eu estava lá! Eu não tenho mais "saco" nem condições de ficar revolvendo o passado atrás dos dados daquele tempo, mas eu estava lá, como observador privilegiado. Talvez outros lembrem desse fato e possam, nos arquivos, achar matérias sobre esse assunto.
O que é que está errado nisso tudo? Quando vão parar de ficar enganando o povo e o consumidor, como fez "seu" Gugu recentemente? Quando vamos ter uma imprensa com memória, sem ser do tipo "veja o que aconteceu há 100 anos no dia 22 de setembro de 1903"?
Posso ser um cidadão desrespeitado e enganado, mas não calado!
(*) Ombudsman do sítio Meu Brasil <http://www.meubrasil.inf.br>