EUA EM GUERRA
"Crítica Interna", copyright Folha Online, 5/10/01
08/10/2001 – Em mais um dia histórico, as manchetes dos principais diários brasileiros de circulação nacional:
Folha: ?EUA atacam Afeganistão; Bin Laden lança ameaças?; ?Estado?: ?Começa o ataque aliado ao Taleban?; ?Globo?: ?Bombas e comida sobre o Afeganistão?; ?JB?: ?Bombardeio pode durar 7 dias?; ?Valor?: ?EUA atacam Afeganistão?; ?Gazeta Mercantil?: ?Consequências incertas de um ataque esperado?
Nova guerra
1) Os ataques iniciados ontem contra o Afeganistão inauguram uma nova etapa em termos de cobertura jornalística. Permanece, claro, a necessidade/obrigação de análises/entrevistas de fundo geopolítico. Tende a ganhar mais força, porém, o noticiário da guerra propriamente dita. Isso significa: informações sobre operações militares (inclusive números relativos a vítimas), refugiados, acompanhamento dos embates internos no governo dos EUA (e aliados) e nos países islâmicos, além da movimentação diplomática internacional (manutenção ou não da coalizão estabelecida).
Nessa medida, dadas as dificuldades de obtenção de dados (haverá, como já se disse, censura e restrições), a Folha tende a ficar ?na mão? das agências, ou limitar-se aos seus (poucos) correspondentes próprios. Cresce de importância, aí, o acompanhamento sistemático e reprodução no jornal (sempre que possível) de material da imprensa internacional (especialmente dos EUA, Europa e dos países árabes ou islâmicos). Na edição de hoje do jornal, além dos itens que procurarei expor, senti ausência de material desse tipo (indispensável, creio, nessa ?nova guerra?);
2) Acho inadequado o chapéu ?América contra-ataca?. Não se trata, no fundo, de um contra-ataque. Claro que esse elemento está presente em termos imediatos, mas o que começou foi uma ação prolongada, cujo alcance, ao que tudo indica, vai muito além de um contra-ataque. E certamente não é só uma ação da ?América?. Melhor seria, creio, algo como ?A nova guerra?. É só imaginar que esse chapéu tende a permanecer no jornal meses a fio;
3) Na chamada da Primeira Página, afirma-se que os ataques começaram às 21h27. Outros jornais trazem horário diferentes (a verificar).
4) Na mesma chamada (e isso vale para o caderno especial também), há informação do número de aviões e mísseis utilizados (inclusive uma arte, no caderno), mas não se consegue dar ao leitor a dimensão do que isso significa. Por exemplo: é muito ou pouco comparando com outras investidas em ou de outros países em outros conflitos? Não valeria lembrar, por exemplo, que o Afeganistão tem aproximadamente o tamanho de Minas Gerais?
5) Achei apropriada a mudança de ?Começou? para ?Guerra? entre uma edição e a outra no caderno especial. Registro apenas que, na minha casa, onde recebo dois exemplares ao mesmo tempo, o primeiro veio com um caderno e o segundo, com o outro;
6) No ?lidão?, afirma-se que Bin Laden fez um discurso ?tentando caracterizar o confronto como sendo entre o islã e os ?infiéis?. Por que ?tentando?? O terrorista, claramente, caracterizou o conflito dessa forma;
7) Senti falta de material do correspondente no Paquistão, justamente num dia histórico;
8) Também faltou, na Folha, uma cronologia das diversas intervenções militares dos EUA ao longo do século;
9) É difícil saber ao certo quem tem razão. Mas não vi na Folha a informação (trazida pelo ?Estado?) de que a casa do mulá Omar (líder do Taleban) em Candahar foi atingida. Do mulá, aliás, há um interessante perfil feito pelo ?Daily Telegraph? e reproduzido no ?Globo?;
10) A retranca ?Ação expõe divergências no governo? (pág. A10) informa que, segundo o ?NYT?, o vice-presidente Cheney fez uma espécie de recuo e concordou com a estratégia de coalizão do secretário de Estado Colin Powell. Em texto do jornal americano reproduzido em outros jornais, porém, já uma avaliação que vai em sentido diferente, dando a entender, inclusive, que a chamada ?doutrina Powell? sofreu uma derrota desde o 11 de setembro. A verificar;
11) Observei que o jornal evitou atribuir porcentagem para definir o quanto a Aliança do Norte e o Taleban ocupam, respectivamente, do território afegão. Desapareceram os ?10%? ou ?5%?. Se é proposital, cabe explicar ao leitor quais mudanças teriam ocorrido para justificar essa alteração;
12) Ou muito me engano, ou na bomba que aparece em foto da pág. A13 há as letras ?WTC?, em tamanho maior, além dos dizeres ?Pentagon? e ?USA?, como traz a legenda. Seria um detalhe importante para a riqueza da imagem e dos símbolos do conflito;
13) Nessa retranca, aliás (?Ação visa ?amaciar? terreno afegão?), creio que faltou uma remissão para a arte central, onde há ilustrações e dados sobre as armas mencionadas no texto. Não é uma questão formal, mas sim algo necessário, para facilitar a vida do leitor que não entende nada de materiais bélicos;
14) Deve-se ao leitor uma análise do papel desempenhado por Tony Blair no atual momento. É bem maior do que a Folha parece, pela edição, admitir. Não por acaso, o ?NYT? e o ?Post? incluem os britânicos em suas manchetes de hoje. Certamente, não se trata, apenas, de uma vontade belicista pessoal exacerbada do primeiro-ministro (como dão a entender analistas mencionados na retranca ?Riscos da falta de ação são maiores?, diz Blair?, pág. A16).
O Reino Unido teme ser alvo de novos atentados. Além disso, tem laços históricos de peso com os EUA (valeria mostrar quais são). Erra o jornal, a meu ver, ao não trazer a íntegra do discurso de Blair;
15) Não vi na Folha a posição assumida pela Líbia, de considerar justificadas as ações dos EUA. Não é um posicionamento qualquer;
16) Há uma retranca (?Ação é terrorismo, diz xeque no Brasil?, pág. A19) que ouve lideranças muçulmanas que endeusam Bin Laden. Por que o jornal também não ouviu lideranças católicas, protestantes ou judaicas?
17) Fica uma pergunta: por que os EUA e aliados escolheram justamente ontem para atacar? Há indicações em reportagem do ?JB? que traz informações sobre uma reunião ocorrida no sábado logo após o retorno do secretário de Defesa de sua turnê pelo Golfo. Há ainda a explicação, parcial, de que a escolha se deveu ao fato de que hoje seria feriado bancário nos EUA, o que cairia bem para evitar pânico ou irregularidades no mercado. Confere? É preciso explicar;
18) Interessante foto no ?Estado? (feita pela ?AP?) mostra as manchetes de jornais europeus registrando os ataques. A Folha não teve acesso a essa foto?
19) Vale chamar a atenção, também, para texto do ?Sunday Times? (igualmente no ?Estado?) mostrando a estratégia de defesa armada pelo Taleban;
20) O texto ?País estava em ruínas mesmo antes do ataque? (pág. A12) trata o Afeganistão como um país com ?mais de 20 milhões de habitantes?. Não está errado, já que, segundo a arte central, há oficialmente 26 milhões de habitantes ali. Mas a diferença de seis milhões é razoável (23% de 26 milhões). Equivaleria a 39 milhões de pessoas se aplicada a proporção, por exemplo, no Brasil. Seria como dizer que em nosso país há mais de 130 milhões de habitantes;
21) Informação curiosa, publicada na ?Gazeta Mercantil? hoje: a rede Habib?s, por razões óbvias, adiou a sua ?estréia? nos EUA.
Outros assuntos (fim de semana)
1) Há que se registrar reportagem da revista ?Isto é? sobre doleiro que fugiu do país levando muito dinheiro do Ministério dos Transportes. É um caso importante;
2) O mesmo vale para reportagem da ?Veja? sobre os ?fundos? da Força Sindical. Este é um caso que a Folha levantou inicialmente, anos atrás, mas que, aparentemente, deixou de lado;
3) Pesquisa do Ibope publicada no ?Valor? hoje indica que Lula pode ganhar no segundo turno. Mesmo sendo um instituto sobre o qual pairam algumas sombras, é evidente que se trata de uma indicação de tendência a ser considerada.
05/10/2001 – Dentre os principais jornais, só o ?Estado? (?Paquistão aceita provas dos EUA contra Bin Laden?) e o ?Globo? (?EUA já sabem quais alvos bombardear no Afeganistão?) dão manchete hoje para a ?nova guerra?. A Folha, a meu ver equivocadamente (ler comentário abaixo), abre com a renúncia de Jader (?Jader renuncia para evitar cassação?), enquanto o ?JB? (?FH veta salário mínimo de R$ 200?) dá manchete em linha crítica contra o Planalto.
11 de setembro
1) O melhor que se pôde ler nos jornais de hoje sobre o tema está na Folha. São os relatos das gravações de ligações telefônicas de pessoas desesperadas nos instantes imediatamente posteriores aos choques dos aviões contra as torres. Eis um diferencial de peso;
2) O anúncio, pelo Paquistão, de que admite terem os EUA apresentado provas contra Bin Laden é uma notícia de grande importância política que merecia a manchete do jornal, mais do que a ultraprevisível renúncia de Jader Barbalho. Esta última seria tranquilamente a manchete em tempos ?normais?. Mas não é o caso hoje;
3) Detalhe: a legenda da foto da pág. A16 menciona uma ?… passagem do presidente (Bush) AO Departamento de Estado…?. O certo seria PELO, ou algo assim, não?
4) A retranca ?Relatório deixa Brasil convicto sobre Bin Laden? (pág. A17) afirma que vários membros do governo tiveram já conhecimento das ?provas? contra o terrorista saudita. Mas não fala se FHC teve. O presidente foi informado por seus ministros? Suponho que sim, mas o jornal não informa; 5) No ?Perfil? de Edward Said (contracapa de Mundo), faltou informar que há livros do autor em português, publicados no Brasil;
6) Em seu terceiro parágrafo, a Panorâmica ?Explosão de fábrica que matou 29 pode ter sido…? (pág. A19) afirma que os terroristas suicidas islâmicos usam várias cuecas e camisetas nos atentados ?…para proteger o corpo para sua chegada ao paraíso?. Faltaram aspas aí, ou algo que deixasse claro, como creio ser o caso, que o jornal não banca a idéia de que essas pessoas de fato se encaminham para o ?paraíso?.
Jader
1) Há uma redação confusa no texto ?Documento foi escrito semana passada? (Brasil, pág. A10). Ele afirma que a eleição de Ramez Tebet para a presidência do Senado ?convenceu o senador paraense de que nenhuma manobra regimental de última hora levaria seus adversários a prosseguir com o processo de cassação de seu mandato…?. Se entendi bem, o verbo ?prosseguir?, aqui, está errado, não? O certo seria ?interromper?, ou um sinônimo;
2) No material sobre a renúncia, creio que caberia uma análise mais aprofundada sobre a possível relação entre o conflito Jader-ACM, que culminou com a queda de ambos, e o jogo da sucessão presidencial. É pouco provável que tudo tenha se resumido a uma questão de embate pessoal entre os dois caciques.
Outro lado
A reportagem ?BC afasta diretora e consultor do cargo? (Brasil, pág. A13) traz afirmação do Ministério Público segundo a qual inexistiu base legal na operação de socorro ao banco Marka em janeiro de 99. Faltou a posição do BC sobre isso.
Didatismo
O caderno Dinheiro, a partir da capa, traz extenso material sobre a crise argentina, que parece voltar com toda força. Para o leitor comum, é difícil entender a diferença, de forma e de conteúdo na atual conjuntura, entre dolarização, conversibilidade e desvalorização. Faltou didatismo.
?JB? e ?GM?
1) A venda de parte da ?Gazeta Mercantil? para o ?JB? (Dinheiro, pág. B5) é um lance relevante nas mudanças que têm ocorrido no mercado de jornais nos últimos anos. Ficou, creio, uma dúvida no texto de hoje: de onde, afinal, o ?JB? está tirando dinheiro para fazer essa aquisição? Não estava o jornal carioca até pouco tempo atrás enrolado em dívidas etc? O leitor tem direito a uma explicação;
2) Segundo o ?Valor?, o negócio prevê também compartilhamento de parte do conteúdo editorial. Se confirmado, será outra mudança a merecer acompanhamento.
Título confuso
Tive a impressão de que o título ?Calote e isenções engolirão 42% do IPTU? (Cotidiano, pág. C4) está incorreto e não bate com o texto da reportagem. Ele dá a entender que a arrecadação já está comprometida nesse percentual. Quanto ao calote (inadimplência), ok. Mas quanto às isenções, não. As isenções são dinheiro que a prefeitura deixará de arrecadar. São coisas diferentes. Creio que o título faz uma mistura inadequada e, de certa forma, enganosa.
Prisão injusta
Fiquei com uma dúvida depois de ler a curiosa reportagem ?Manobrista fica 56 dias na prisão injustamente? (Cotidiano, pág. C5): ele tem, em tese, direito a alguma indenizaç&atiatilde;o?
Mar Morto?
A Panorâmica ?Queda de avião faz Fifa adiar partida decisiva entre israelenses e austríacos? (Esporte, pág. D1) afirma que o avião russo caiu ontem no mar Morto. Ele caiu no mar Negro, certo?
Angra, novamente
Achei equivocada a retirada, na edição SP, da reportagem sobre novo incidente na usina de Angra. Publicada na edição nacional, merecia pelo menos uma Panorâmica na SP.
Politicamente incorreta
Assim me parece a afirmação de que o bate-boca entre Pelé, Eurico Miranda e Edmundo Silva na inauguração da Liga Rio-SP foi ?um espetáculo digno de botequim? (Esporte, pág. D2). O que o jornal tem ?contra? os botequins?
Errei
Ao contrário do que afirmei ontem, a Folha publicou, sim, texto sobre o sequestro de jornalistas por terenas no Mato Grosso. Saiu numa Panorâmica ao pé da pág. A10.
04/10/2001 – A ?nova guerra? continua como manchete. Folha (?Bush pede US$ 75 bi para a economia?) e ?Estado? (?Bush quer mais US$ 75 bi para ativar economia?) optam pelo esforço de recuperação econômica interna dos EUA após o 11 de setembro. Os dois principais jornais do Rio privilegiam a ação nos campos diplomático e militar (?JB?: ?Europa abre espaço para ataque?; ?Globo?: ?EUA e Blair fazem ofensiva diplomática antes do ataque?). A crise econômica da Argentina volta a aparecer com destaque nas capas dos jornais, e tudo indica que veio para ficar pelo menos alguns dias.
11 de setembro
1) Estão hoje equilibradas, entre si, as edições dos diferentes jornais. Poucas diferenças significativas. Não é um bom sinal;
2) O texto ?No Oriente Médio, EUA costuram ação militar? (capa de Mundo/Guerra na América) afirma que os EUA liberaram US$ 100 milhões para a ajuda humanitária ao Afeganistão. Já a reportagem do ?New York Times? reproduzida na pág. A15 (?EUA tinham pistas dos atentados?) afirma que esse total é de US$ 170 milhões. É preciso verificar o valor correto;
3) No caso da Folha, senti falta, hoje, de reportagens com ?cor local?, seja de Nova York, seja de Islamabad;
4) A Rússia continua ausente nos mapas usados no caderno. O noticiário, no entanto, aponta para um envolvimento cada vez maior desse país no teatro de operações.
Manual e Malan
Faltou a idade do deputado João Caldas (AL) no perfil da pág. A4 que o mostra como recordista de transferência entre partidos. Por falar nisso, nenhum jornal consegue ?cravar? qual será o movimento do ministro da Fazenda, Pedro Malan, em termos de filiação partidária? É um dos desafios da semana…
Ética na Câmara
Pela importância histórica, em que pesem as suas limitações, a aprovação final do Código de Ética da Câmara merecia mais do que os dois módulos que recebeu na pág. A5, além de material de apoio (no mínimo uma arte que resumisse os seus itens principais).
Índios e jornalistas
Não vi na Folha a notícia de que um grupo de índios terenas sequestrou equipes de emissoras de TV em Rondonópolis (Mato Grosso) durante protestos por reivindicação de área para reserva.
Petrobrás e a P-36
1) Na retranca ?Petrobrás produz abaixo da meta? (Dinheiro, pág. B3), a direção da empresa atribui o fato à não entrada em operação, por conta do Ibama, de duas plataformas. Nada se fala sobre aquela que explodiu e afundou meses atrás. O jornal deveria, ao menos, explicar ao leitor se o acidente com a P-36 (um dos grandes eventos jornalísticos do ano) acabou pesando ou não para o resultado abaixo do previsto na produção de barris deste ano;
2) O anúncio de página inteira (Dinheiro, pág. B11) publicado hoje pela Petrobrás sob o título ?Pirataria tributária? me parece digno de uma reportagem. Não é assunto novo, mas as informações ali contidas sugerem apuração jornalística.
Números
O texto ?Compra leva Itaú para o 2o lugar em administração de recursos? (Dinheiro, pág. B16) diz no segundo parágrafo que com a aquisição das áreas de asset management e de private banking da Lloyds TSB o Itaú passa a administrar R$ 51 bilhões em recursos. O último parágrafo, porém, dá a entender que esse montante se refere apenas ao asset management. Faltou clareza.
Outros lados
1) A reportagem ?Ato contra o MEC tem 7 presos e 6 feridos? (capa de Cotidiano) atribui a membros da UNE a iniciativa (ao atirarem cocos, latas e pedras nos policiais) nos choques entre manifestantes e policiais ontem na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Foi isso mesmo? Não teria sido o caso de ouvir a UNE/estudantes sobre isso especificamente (o presidente da entidade está ouvido no texto, mas não sobre esse importante aspecto)?
2) Na subretranca ?Negociação teve momento de tensão? (Cotidiano, pág. C6), sobre o sequestro de ônibus por dois assaltantes na região de Ribeirão Preto, um capitão da Polícia Militar acusa policiais civis de terem atirado indevidamente no veículo durante a perseguição. Faltou ouvir a Polícia Civil.
03/10/2001 – A atuação política sintonizada do ?mundo ocidental? que conta se reflete nas manchetes de hoje. De um lado, a Otan, de outro, Blair, como se atuassem em combinação. Na mesma linha do ?New York Times?, a Folha (?Evidências contra Bin Laden são ?conclusivas?, afirma Otan?) e o ?Globo? (?Otan reconhece provas contra Bin Laden e apóia a guerra?) destacam a declaração da aliança militar. ?Estado? (?Blair ao Taleban: entregue Bin Laden ou o poder?) e o ?JB? (?Blair exige do Talibã Bin Laden ou o poder?) optam pelo novo ultimato do primeiro-ministro britânico.
11 de setembro
1) Cada vez mais aparecem como provas ou indícios de participação nos atentados do dia 11 documentos que se referem aos atentados ao WTC em 93, às embaixadas dos EUA em 98 ou ao destróier USS Cole em 2000, relacionando uma coisa com a outra. Isso ressurge hoje em ?Otan aceita provas e adota cláusula de defesa mútua? (capa de Mundo/Guerra na América). Fica uma pergunta: quais foram as ?provas? apresentadas na definição da autoria daqueles atentados anteriores? Eram mais consistentes do que as exibidas (ou não) até o momento sobre o 11 de setembro? Essa informação, creio, falta ao leitor para que se possa estabelecer alguma conexão;
2) A Primeira Página dá manchete para a Otan, mencionando Blair no texto da chamada. Já o caderno interno abre com Blair, editando a Otan embaixo, ao pé da página? Por que a falta de harmonia?
3) Faltou incluir a Rússia no mapa da arte ?Os preparativos para o ataque? (pág. A14). Como mostra a retranca ?Secretário dos EUA é enviado ao Oriente Médio? (mesma página), forças russas teriam entrado no Afeganistão pela fronteira do Tadjiquistão. Além do peso geopolítico, a Rússia tem a presença física na região;
4) O título ?Afeganistão retoma plantio de papoula? (pág. A15) força um pouco o bastão. No texto, afirma-se que, embora haja consumo, o Taleban praticamente acabou com as plantações de papoula (que são usadas para produzir drogas) e agora AMEAÇA permitir o cultivo se os EUA atacarem. É diferente.;
5) Não vi na Folha duas informações importantes, trazidas por concorrentes: segundo jornal paquistanês, Laden estaria escondido numa antiga base nuclear russa no noroeste do Afeganistão, no meio de montanhas enormes; o Paquistão fechou dois aeroportos próximos à fronteira afegã, para receber aviões norte-americanos;
6) O ?Globo? publica hoje interessante reportagem sobre as regras que Bush procura impôr à imprensa. A Folha continua a subestimar a questão da mídia em sua cobertura;
7) Registro, também, para entrevista do enviado especial com um mulá paquistanês pró-Taleban publicada no ?Estado?;
8) Reportagem à pág. A16 (?Governos disputam doações em NY?) considera que os US$ 15 bi de ajuda definidos pelos EUA à aviação estão incluídos no total de US$ 40 bi liberados até o momento pelo governo. Já o texto ?EUA admitem recessão, mercado pede ajuda? (capa de Dinheiro) informa que os US$ 40 bi seriam apenas para ?reconstrução da infra-estrutura danificada pelos atentados?; os US$ 15 bi fariam parte de um pacote maior, de US$ 100 bi. É preciso esclarecer e padronizar a informação.
Manual?
Sabe-se que, infelizmente, o jornal mantém o péssimo hábito de desrespeitar certos princípios elementares e nada complexos de seu próprio ?Manual?. Mas há casos realmente incompreensíveis. Um deles é a Panorâmica ?Atriz Sharon Stone diz ter tido muita sorte? (Pág. A17), sobre aneurisma por ela sofrido, que não traz a idade da estrela de cinema.
E ACM?
A reportagem ?Renúncia deve desencadear novas ações contra Jader? (Brasil, pág. A4) afirma que, com a provável perda de imunidade, o senador paraense terá novas dores de cabeça. Faz lembrar afirmações semelhantes feitas pela imprensa por ocasião da renúncia de ACM, no primeiro semestre. Não valeria a pena verificar o que ocorreu em relação a isso no caso do político baiano? Houve, de fato, novas acusações/processos formais contra ele após a sua renúncia?
Buritis
1) faltou mapa localizando a fazenda (Brasil, pág. A9) supostamente ameaçada de invasão;
2) a Folha deve uma definição mais precisa a respeito da propriedade do imóvel. Escreve-se ora ?fazenda de FHC?, ora ?lugar onde os filhos do presidente possuem uma propriedade?, ora ?fazenda de propriedade dos filhos do presidente?, ora ?fazenda da família FHC?. Não se trata de filigrana, mas sim de uma definição que implica apreciações eventualmente divergentes quanto à pertinência de uso de tropas federais na proteção ao imóvel.
Garotinho e Mauá
A Folha, a meu ver, precisa entrar no caso que opõe a Assembléia Legislativa ao governador Garotinho, no Rio. Há impeachment em discussão. Naturalmente os jornais do Rio estão em cima. Outro caso que exige retomada: as substâncias tóxicas de Mauá. Não há novidades?
Outro lado
Faltou o ?outro lado? da CBF e seus dirigentes na reportagem ?Inquérito da Polícia Federal investiga cúpula da CBF? (Esporte, pág. D1).
Resposta
Registro resposta enviada, via SR, pelo editor de Ciência, Marcelo Leite, à nota ?Indícios versus evidências?, da crítica interna de ontem:
?1. O que o ombudsman disse:
Indícios versus evidências
Ciência traz o título ?Novos indícios apontam o local do Dilúvio? (pág. A8). Na sobrelinha e no texto, porém, usa-se a palavra ?evidências?. Esta última é bem mais contundente (sugere uma certeza) do que a usada no título (só em termos jurídicos indício significa prova circunstancial), o qual, digamos, atenua o impacto da própria notícia. Tudo pode não passar de uma questão mais simples: ?indícios? ocupa menos espaço, em título, do que ?evidências?. Mas, de todo modo, são sentidos diferentes.
2. Resposta de Ciência:
Com efeito, as palavras ?evidência?, ?prova? e ?indício? tendem a ser usadas no jornal, inclusive por Ciência, como sinônimos, o que não são. Embora pertinente no atacado, a observação do ombudsman não se aplica à reportagem em questão.
A palavra mais forte, ?evidência? foi usada na linha para qualificar o fato de a área submersa ter sido habitada. Já a mais fraca, ?indício?, foi empregada no título, propositalmente, para estabelecer a conexão –bem mais frágil– do fato objetivo com o local do Dilúvio.
Por fim, no lide, ?evidência? comparece numa construção também cuidadosa, como convém a um texto responsável de Ciência: ?… evidências que parecem apoiar a teoria de que uma enchente catastrófica atingiu a região do mar Negro (…) possivelmente inspirando as lendas mesopotâmica e bíblica do Dilúvio?.
Contraste-se com o título do jornal concorrente: ?Dilúvio do Mar Negro não é lenda, diz estudo?.
02/10/2001 – A iminência de um ataque norte-americano ao Afeganistão é o tema das manchetes da Folha (?Ataque parece próximo, diz Paquistão?), ?Estado? (?Para o Paquistão, dias do Taleban estão contados?) e do ?JB? (?Regime talibã entra em agonia?). Na mesma linha do ?New York Times?, o ?Globo? opta por privilegiar a notícia de um acordo provisório no Congresso dos EUA quanto à legislação antiterror (?Acordo entre partidos amplia a vigilância policial nos EUA?).
11 de setembro
1) A legenda da foto principal da Primeira Página não informa onde ocorreu o acontecimento a que se refere (atentado suicida). Dá a entender, inclusive, que foi no Paquistão, quando, na verdade, conforme a chamada abaixo da dobra, foi na Índia;
2) A retranca ?48% das vítimas são estrangeiras? (pág. A12) informa que, do total, 450 ?desaparecidos? são da Índia e do Paquistão. Não seria o caso de o jornal ouvir parentes dessas vítimas em seu país de origem, principalmente no Paquistão?
3) Registro para a interessante reportagem ?Falta de sobreviventes ?estressa? cães? (pág. A12), sobre a divisão K-9. Creio ser um bom exemplo de reportagem ?in loco?;
4) Não vi na Folha a informação, divulgada pela NBC e reproduzida no ?Globo? e no ?Estado?, de que Bin Laden teria telefonado à mãe dois dias antes dos atentados, avisando-a de que algo extraordinário iria acontecer e que ele sumiria ?por um bom tempo?;
5) Senti falta também, na imprensa de modo geral, da notícia, trazida pelo jornal ?Haaretz?, de que a jornalista britânica detida pelo Taleban seria não só mulher de um agente do Mossad mas também, ela própria, agente da inteligência britânica. Informação interessante, ainda mais tendo sido veiculada por um jornal israelense.
Jader
A retranca ?STF nega segunda liminar a Jader? (Brasil, pág. A4) afirma que Fernando de Castro Ribeiro é o ?terceiro suplente? do senador paraense. Ele é, na verdade, o segundo suplente, certo? Não há três suplentes por vaga no Senado.
A saúde de Dirceu
Menciona-se em ?Dirceu critica Serviço Secreto dos EUA no país? (Brasil, pág. A5) que o deputado do PT se recupera de ?problemas cardíacos?. Faltaram detalhes. Que problemas? E, nesse caso, o registro da idade do presidente do PT era necessário.
Indícios versus evidências
Ciência traz o título ?Novos indícios apontam o local do Dilúvio? (pág. A8). Na sobrelinha e no texto, porém, usa-se a palavra ?evidências?. Esta última é bem mais contundente (sugere uma certeza) do que a usada no título (só em termos jurídicos indício significa prova circunstancial), o qual, digamos, atenua o impacto da própria notícia. Tudo pode não passar de uma questão mais simples: ?indícios? ocupa menos espaço, em título, do que ?evidências?. Mas, de todo modo, são sentidos diferentes.
Balança comercial
1) O quadro ?O acumulado neste ano?, dentro da arte sobre balança comercial na capa de Dinheiro, traz duas barras cuja diferença de tamanhos certamente não reflete a dos números que deveriam representar (44,374 versus 43,121). A barra de importação está bem menor do que deveria estar;
2) A Panorâmica ?BC aponta que mercado espera juros estáveis? (Dinheiro, pág. B2) afirma que a previsão da balança comercial para o ano agora é de saldo zero. Posso estar enganado, mas a própria reportagem de capa do caderno indica com clareza que o saldo será bem superior a isso, estando o acumulado do ano em US$ 1,25 bi. A verificar.
Embraer
1) Com exceção da foto e de um único depoimento ao pé do texto, o tratamento dado pelo jornal às 1.800 demissões na Embraer (Dinheiro, pág. B4) é frio, não-condizente com o drama que o fato significa –não só para os demitidos e seus familiares mas também para a cidade de São José dos Campos. Não creio que a edição SP devesse fazer como a Folha Vale, que, corretamente, deu capa e vários depoimentos, mas houve excessiva redução de material;
2) O texto (?Frustrada tentativa de parar Embraer; ação cai 8%?) afirma que as demissões foram reflexo da crise na aviação provocada pelo terrorismo nos EUA. Pode ser, mas é precipitado o jornal assumir essa versão sem aspas ou sem, pelo menos, atribuí-la à empresa;
3) Por falar em aviação, há interessante reportagem no ?Valor? a respeito de investigação que a Polícia Federal deverá fazer sobre suposto suborno envolvendo a Vasp.
Outro lado
Falta a versão do governo federal na reportagem ?Regulamentação de liga em decreto gera decepção em clubes? (Esporte, pág. D2). Um dirigente do Gama afirma que o governo não teve uma ?postura séria? e que só quis ?fazer política?."