Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Bernardo Ajzenberg

CRÍTICA DIÁRIA

"Crítica Interna", copyright Folha Online

"26/11/2001 – Rescaldos do caso Soninha, conflitos no Afeganistão e sucessão presidencial foram assuntos que monopolizaram o fim de semana nos jornais e nas revistas. Hoje, porém, só o ?Estado?, dentre os principais diários nacionais, deixou dar dar manchete para o ?clone humano?, optando, ainda, pela ?nova guerra? (?Aliança já tem o domínio total de Kunduz?). Os demais: Folha: ?Empresa clona o 1o embrião humano?; ?Globo?: ?Empresa americana cria o primeiro clone humano?; ?JB?: ?EUA clonam embrião humano?. Para registrar: enquanto o ?Washington Post? destacou o feito em chamada no alto de sua capa, o ?New York Times? parece ter avaliado a notícia de forma reticente, dando o assunto sem destaque na capa.

Edição de sábado, 24 de novembro

Anúncio versus editorial

Tanto sobre a edição de sábado quanto sobre a de domingo -em especial para a primeira–, é alto o número de leitores que reclamam da excessiva quantidade de anúncios em relação às páginas editoriais. Houve, de fato, uma mudança visível nas últimas semanas. O caderno Mundo, por exemplo, sábado, estava grotesco nesse aspecto. É óbvio que a publicidade é necessária, mas a paginação, em vez de somar, está claramente prejudicando o produto editorial (ver carta de hoje, segunda, no Painel do Leitor).

Tendência sem debate

Era quente a pergunta para a página A3 de sábado: a favor ou contra a descriminalização do uso da maconha? O primeiro texto, de Fernando Gabeira, trazia argumentos a favor. Já o segundo, do professor Arthur Guerra de Andrade, não abordou a questão principal, ficando na questão médica e nos entornos do caso Soninha. Faltou, portanto, um artigo de fato contrário à descriminalização. Prato cheio para aqueles que consideram a Folha engajada na mesma linha de Gabeira _e eles não são poucos.

Manual, ora o Manual…

1) O texto de ?outro lado? à página A4, no caso Taniguchi, usa a expressão ?retornar a ligação?, claramente rejeitada pelo ?Manual?;

2) Na página A14, mais uma vez um texto (?Roseana admite disputar a Presidência?) deixa de informar o partido do senador José Sarney. O dado é tão mais importante quando se sabe que ele é do PMDB e que a filha dele é do PFL;

3) Faltou a idade do ex-ditador iugoslavo Slobodan Milosevic em ?Tribunal indicia Milosevic por genocídio? (Mundo, pág. A27).

Racionamento

1) No abre de Dinheiro (?Embratur prepara nova lista de turísticas?), o presidente do instituto afirma que a lista atual tem 604 municípios. Já a retranca ?Cidade turística excluída de lista não terá meta reduzida? (pág. B3) fala em 581, citando a mesma fonte (Embratur). Qual é número certo?

2) No texto ?Grande consumidor diz que é visto como ‘vilão’? (pág. B3) aparece um velho problema na adaptação de texto da Folha Online no jornal impresso. Afirma-se que ?foi anunciada ontem uma redução na meta…?. No impresso o correto seria ?anteontem?;

3) FHC afirma (?FHC apóia meta de 7% para cidades turísticas?, pág. B3) que os críticos da medida desconhecem suas motivações técnicas. Creio que ele tem certa razão. Convincentes ou não, até agora foi pouca a exposição, pela imprensa, dos motivos técnicos que levaram o governo a adotar o relativo abrandamento. Vale recuperar, para esclarecimento do leitor.

Ranking da Fifa

Se até mesmo o colunista José Geraldo Couto afirma (?O mundo de ponta-cabeça?, Esporte, pág. D4) que não consegue ?entender os critérios de classificação?, não seria o caso de o jornal desvendar os cálculos que a Fifa usa para definir o ranking das seleções nacionais, no qual o Brasil pela primeira vez aparece atrás da Argentina?

Edição de domingo, 25 de novembro

Sísifo

Faltou a idade de Luciana Gimenez na Panorâmica ?Apresentadora tem meningite, mas evolui bem?, na pág. A5.

Sucessão presidencial

1) Duas questões que o jornal deveria responder ou explicar no material sobre a pesquisa Datafolha e em geral sobre a sucessão: por que Eduardo Suplicy não aparece em nenhum levantamento, já que é pré-candidato declarado há meses no PT? Por que o ministro Paulo Renato, outro pré-candidato, sumiu das análises?

2) A reportagem ?Candidatura é ‘inevitável’, admite Serra? (Brasil, pág. A17) relativiza indiretamente texto da própria Folha de sexta-feira sobre a tendência dos convencionais do PSDB na definição entre Tasso e Serra. Deveria, no mínimo, fazer menção a ela. Insisto nisso porque, a meu ver, aquela (de sexta) não trazia, como escrevi em crítica interna, sustentação suficiente para as afirmações nela própria contidas. A falta de menção, a meu ver, fragiliza ainda mais, aos olhos do leitor, aquele primeiro texto.

Nova guerra

O texto ?Futebol volta a estádio usado em execuções? (Mundo, pág. A23) afirma que na era do Taleban os ladrões tinham a mão direita cortada, enquanto a punição para os furtos eram de até 50 chibatadas. Quem furta não é ladrão? Ficou, creio, uma redação infeliz.

Sísifo

Faltaram as idades das contadoras Ironete Ribeiro e Nize André em ?Esquema desenterra dinheiro em bancos? (Dinheiro, pág. B5), sobre operações irregulares que elas realizam.

Pela ?nova CLT?

Está sutilmente tendenciosa a reportagem ? ‘Nova CLT’ já existe e vira prática comum? (capa de Dinheiro 2). Dá exemplos (poucos) de ?flexibilização?, como a mostrar que a vida real já preparou o tapete para a aprovação das mudanças na CLT propostas pelo governo. A retranca ?Para economista, ‘nova CLT’ muda pouco? (pág. B4), a meu ver, inverte prioridades. O título deveria ser para o que está no pé do texto, em que o economista Helio Zylberstajn alerta para o fato de que o sindicalismo no Brasil não está preparado para essas mudanças.

Vice não é só tabela

Afirma o sobretítulo da pág. D6 (Esporte) que ?Seleção enfrenta os japoneses hoje, pela Copa dos Campeões, em partida que pode servir apenas para cumprir tabela? (sobre vôlei). Por que ?cumprir tabela?? Tratou-se de partida para a conquista do vice-campeonato. O que não é pouca coisa, a não ser na mentalidade televisiva de que só medalha de ouro vale a pena.

Edição de segunda-feira, 26 de novembro

Clone humano

OK para a opção de manchete, mas faltou no texto da chamada de capa o conteúdo de duas retrancas internas que relativizam o feito, não só no seu alcance mas também em termos científicos.

Sucessão

O jornal e suas análises têm dado pouco importância para um fato evidente lembrado hoje em afirmação de Arthur Virgílio (secretário-geral da Presidência) ao pé da reportagem ?Pefelistas querem atrair PPB para aliança governista?, pág. A5: somando-se os governistas Serra e Roseana, chega-se a um percentual próximo do de Lula nas pesquisas. Embora óbvio, não é um dado irrelevante. Trata-se de percentual semelhante ao daqueles que acham o governo FHC ótimo /bom. Mostra claramente o potencial dos aliados do governo.

Nova guerra

1) Não há informação na reportagem ?Paraguai mostra ligação Foz-Hizbollah? (Mundo, pág. A12) sobre o que deve acontecer agora, processualmente, com o comerciante libanês Barakat, que vive no Brasil. Será pedida sua extradição? Vai ser processado por alguém?

2) O ?Estado? avança bem mais do que a Folha ao dizer que Cunduz já caiu nas mãos da Aliança do Norte. Difícil dizer qual a informação correta. Vamos aguardar hoje para ter quadro mais preciso.

Acabamento

1) Descoordenação: faltaram remissões recíprocas para os materiais de serviço para consumo no Natal publicados hoje em Cotidiano e na Folhainvest;

2) Pastel: o texto ?Sindicalista é morto a tiros em semáforo? (Cotidiano, pág. C8) traz duas vezes a mesma afirmação (4o e 5o parágrafos).

23/11/2001 – O esperado abrandamento das medidas de racionamento é manchete dos principais jornais, que ficaram no factual. Folha: ?Racionamento cai para 7% em SP? na edição SP e ?Governo abranda o racionamento? na edição nacional; ?Globo?: ?Meta de racionamento é reduzida para 7% no Rio?; ?JB?: ?Racionamento cai para 7% no Rio?; ?Estado?: ?Corte no consumo de luz cai para 12% no Sudeste? (edição SP). Só o ?Globo? deixou de dar na capa foto da curiosa concentração de moças aspirantes a modelo em São Paulo (ver nota).

Primeira Página

Caberia uma chamada para a morte de cinco crianças palestinas em explosão mal explicada em campo de refugiados na faixa de Gaza (Mundo, pág. A18).

Placar duvidoso

A reportagem ?Aécio é fiel da balança entre Tasso e Serra? (Brasil, pág. A6) se baseia em ?placar apurado pela Folha? segundo o qual o governador cearense teria maioria (apertada) dos votos dos convencionais do PSDB. Mostram-se números de vários Estados, mas não há nenhuma explicação de como esse levantamento foi feito. Qual é o seu grau de confiabilidade? A fonte é Datafolha? A Folha ouviu um por um dos convencionais? Quem fez esse ?mapa de votos?? Não há qualquer sustentação aparente.

Maluf

O quadro ?Entenda as investigações? (Brasil, pág. A9) afirma que o ex-prefeito ?beneficiou-se de lei que determina a redução pela metade de crimes atribuídos a septuagenários?. A redação está errada. Não dá para entender. É impossível reduzir um crime pela metade. É redução do quê? Da pena? Do período para prescrição?

Nova guerra

O ?Globo?, que tem, de costume, dado mais importância para questões relativas à mídia no conflito, traz hoje interessante reportagem sobre relatório da organização Repórteres sem Fronteira, cujo texto aponta prejuízos causados pelo governo dos EUA à imprensa.

Racionamento

1) A arte da capa de Dinheiro (?Veja as novas regras…?) não informa que as capitais estão entre os chamados municípios turísticos;

2) A nota ?Para a platéia?, no Painel SA, traz afirmação de um economista de que ?a tendência.. é o consumo, agora, cair ainda mais, para algo como 7%?. Como assim? Com o verão, a tendência não é justamente o inverso, como mostra a reportagem na pág. B4 no caso do Rio? A verificar;

3) Há formulação indesejável no texto ?Governo estuda reajuste entre 3% e 4%? (pág. B4) quando ele afirma que a meta de inflação deste ano ?está entre 2% e 6%?. Na verdade, a meta fixada foi de 4%, com margem de dois pontos para cima ou para baixo. Não se trata de um erro, mas de uma imprecisão que pode e deve ser evitada.

Incúria?

Mais uma vez a Folha publica reportagem sobre o UOL sem informar ao leitor que essa empresa tem a participação do grupo Folha (?Internet: Prejuízo do UOL é de R$ 22,5 mi no 3o trimestre?, pág. B4). É por que a notícia pode dar ensejo a interpretações negativas para a imagem do grupo? Tudo bem. Pode ser que o jornal considere que deve omitir essa informação (o que seria um equívoco), que não quer ser transparente, a seu critério. Mas, então, por que não se padroniza alguma fórmula? Por que num dia há a informação e no outro ela desaparece?

Acabamento

1) A reportagem de abre da capa de Cotidiano traz um intertítulo (?Desconto no IPTU?) que não encontra eco no texto. Este menciona IPTU, mas não fala em nenhum desconto;

2) O título ?CPI revela sociedade de empresários? (Cotidiano, pág. C4) é anódino e não reflete a força da notícia de possível aprofundamento de escândalos na área do lixo em São Paulo. Faltou capricho.

Burocrático

Não poderia ter sido mais burocrática a cobertura dada pela Folha à tumultuada reunião de milhares de moças candidatas a modelo ontem em São Paulo (pág. C3). Foi um caso extraordinário, que deveria ter sido explorado, no mínimo, com mais fotos. Caso típico em que uma reportagem poderia ?fazer a festa?. A Folha perdeu ótima oportunidade de produzir algo diferenciado, saboroso. Ficou no registro seco e frio.

Pena…

Pena que o jornal não consiga trazer com mais regularidade reportagens como a do caso Pelé-Unicef, que prossegue hoje (Esporte, pág. D4). Creio que se trata de um material ?redondo?, exemplar. Registre-se que tal elogio cabe também à reportagem sobre o caso Taniguchi-PFL, de dias atrás. Será que o jornal tem fôlego para manter o nível?

Sísifo

1) Faltou o outro lado do Planalto em ?Em ato na Bovespa, Paulinho critica FHC? (Dinheiro, pág. B9);

2) Faltou o perfil (idade, cidade de origem etc) do artista plástico em ?Ausência de cor simplifica obras de Carioba? (Ilustrada, pág. E11). Trata-se da primeira mostra individual. Isso quer dizer, obrigatoriamente, que se trata de um jovem? Não sei."

22/11/2001 – Par a par, os jornais paulistas saem hoje com a ?nova guerra? (Folha: ?Taleban diz que perdeu contato com Bin Laden?; ?Estado?: ?Taleban se rende no norte e pressão aumenta no sul?) enquanto os do Rio privilegiam um mesmo acontecimento regional (embora de assunto nacional): ?Globo?: ?UFRJ aprova o fim da greve e comando vê sinal de fraqueza?, ?JB?: ?Greve divide professores da UFRJ?. O garotinho afegão da foto na capa da Folha é realmente digno de destaque.

Greve nas federais

A Folha destaca corretamente o embate entre Executivo e Judiciário no caso da greve nas federais (material de hoje na pág. A4, Brasil), mas não tem conseguido mostrar o que ocorre dentro do Executivo no tratamento dado ao impasse da mobilização. O ?Estado? traz hoje informação de que o ministro Paulo Renato teria solicitado a FHC que libere a verba para pagamento dos grevistas. Há, com certeza, um imbroglio e um mal-estar dentro do próprio Executivo com a situação a partir do decreto presidencial que transfere ao Planejamento e ao Planalto a responsabilidade por essa liberação. Por que, afinal, o governo, que conseguiu pôr fim ao movimento no INSS, não consegue desfazer o nó? É para desgastar Paulo Renato?

Olívio em SP

Detalhe: há, aparentemente, um pastel no último parágrafo do texto ?Governo gaúcho muda comando da polícia? (Brasil, pág. A5). Diz ele; ?Olívio estará hoje em São Paulo. Dará uma entrevista e pelo menos outras três, para programas de TV com repercussão nacional?. São quatro entrevistas, ou o quê? Não dá para entender.

Mito

Está sendo criado um mito duvidoso em torno da greve e das negociações entre metalúrgicos e direção da Volks segundo o qual os metalúrgicos, capitaneados pelo presidente de seu sindicato, impuseram uma derrota à empresa. Ora, a proposta inicial da Volks, antes de fazer as 3 mil demissões e, portanto, da greve, era de redução de salários e de jornadas de trabalho. Como o sindicato não aceitou, houve as demissões. Com a greve, a empresa recuou em relação às demissões (parcialmente), mas o acordo enfim aprovado mantém a redução de salário e de jornada (?Trabalhador aprova cortar salário e jornada?, Dinheiro, pág. B4). Afora sofrer um desgaste político (este sim, real), o que a empresa perdeu em relação a seu plano inicial? Aparentemente nada. Uma declaração de um professor de direito do trabalho em outra retranca, sobre CLT, na pág. B5 de Dinheiro, deixa claro: ?Se nem um sindicato poderoso como o dos metalúrgicos do ABC conseguiu reverter uma situação desfavorável aos trabalhadores, imagine o que vai acontecer com os [sindicatos] mais fracos?. Creio que a Folha deveria reconstituir o histórico desse caso, para mostrar o que, afinal, aconteceu, e não entrar na onda de que o sindicalismo do ABC impôs uma derrota histórica à montadora.

Números

O texto ?CEF volta a financiar casa para classe média? (Dinheiro, pág. B6) afirma que ?o valor do financiamento não poderá ultrapassar 60% do valor total do imóvel?. Já a arte ?Novos financiamentos…? traz que o limite é de R$ 180 mil.

Ora, o limite só será esse para imóveis de R$ 300 mil (teto do valor do imóvel). Mas para um imóvel de R$ 200 mil, por exemplo, o limite é R$120 mil (60%), certo?

Está mal redigido (induzindo a erro) o texto na arte, que dá a entender que os R$ 180 mil são o limite para todos os imóveis, independentemente de seu valor total.

Caso Soninha

1) O jornal deve a seus leitores explicação do motivo pelo qual decidiu manter a colunista em seus quadros –como fez, formalmente, a ESPN. É uma satisfação que a Folha deve e que o editorial de hoje, genérico, não dá. O jornal (que destaca texto de Soninha na capa de hoje, em sinal ostensivo de sua manutenção) não deveria se fingir de morto ou achar que o leitor entenderá sempre as suas indiretas;

2) Em relação direta com esse caso, leio no ?Globo? de hoje que a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou ontem projeto que prevê penas mais brandas para viciados;

3) O texto de hoje (?’Caso Soninha’ vira debate político?, Cotidiano, pág. C4) omite que ela é colunista da Folha e não traz a idade da jornalista.

Ranking da Fifa

Pela primeira vez a Argentina ultrapassa o Brasil no ranking oficial da Fifa, conforme registra reportagem na pág. D3 (Esporte). Estava aí uma oportunidade para o jornal mostrar como é composto esse ranking misterioso, polêmico, tão criticado. Quais são os critérios? Ainda há tempo…

Gerações?

O texto ?Gerações diversificadas agitam circuito das artes? (Ilustrada, pág. Especial 4) apresenta exposições que envolvem 12 artistas, mas não traz as suas idades nem mostra a quais gerações cada um (ou grupo) pertence. O título, assim, fica sem sentido, a não ser, mais uma vez, para os iniciados. De que gerações se está falando?

Sísifo

1) Faltou a idade do consultor José Augusto Torres em ?Consultor que apura caso APS foi sócio do lobista?, Brasil, pág. A6);

2) Faltou a idade do professor Michal Gartenkraut em ?Roseana tem aulas particulares para aprender economia? (Brasil, pág. A11);

3) No mesmo texto, aliás, não se informa a que partido pertence o senador José Sarney (PMDB, certo?);

4) Não se explica o que vem a ser a ?guerra fiscal?, em ?’Interior’ rouba investimento do Sudeste? (capa de Dinheiro). Neste caso, acrescento, o verbo roubar também deveria estar entre aspas;

5) Faltou didatismo também na retranca ?Copom mantém juros em 19% ao ano? (Dinheiro, pág. B2), que não explica qual é a relação de causa e efeito entre a administração dos juros e a taxa de inflação, cuja alta foi decisiva para a manutenção dos 19%;

6) Faltou o ?outro lado? na Panorâmica ?Justiça multa Johnson & Johnson por maquiagem em embalagens de fraldas? (Dinheiro, pág. B6);

7) Inexiste contextualização na reportagem ?Promotoria pede reinício de investigação? (Cotidiano, pág. C5), sobre o caso do assassinato do prefeito de Campinas. Nem mesmo consta a data do crime;

8) Faltou a idade do escritor Edmund White em ?A alma das ruas parisienses? (Ilustrada, pág. E7).

Esclarecimento

Recebo de Regionais, via SR, o seguinte esclarecimento sobre a nota

?Emergência?, da crítica interna de ontem: ?Em relação a dúvida sobre os termos pouso forçado e pouso de emergência, o DAC (Departamento de Aviação Civil) informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não existe diferença entre pouso de emergência e pouso forçado. Segundo o DAC, o termo técnico usado é pouso de emergência, mas pouso forçado é forma usual?.

21/11/01 – Deu unanimidade na escolha de imagens para as capas dos principais jornais hoje: FHC trocando um ?hongi? com representante maori da Nova Zelândia e os rostos descobertos de mulheres afegãs durante manifestação em Cabul. Nas manchetes, ao contrário, cada jornal foi para um lado. Folha: ?FHC beneficia Serra, afirma Tasso? (opção fraca –ver nota); ?Globo?: ?Acordo põe fim à greve de 105 dias na Previdência?; ?JB?: ?Lucro de bancos dobra na era FH?, sem dúvida a mais interessante do dia (ver nota); ?Estado?: ?Taleban tem três dias para se render em reduto do norte?.

Confrontação

É interessante fazer uma confrontação de manchetes nas edições de hoje. A Folha saiu com mais um lance retórico na disputa Tasso-Serra pela candidatura tucana à Presidência. O jornal não consegue esconder sua ansiedade no assunto. É notícia, faz parte do jogo, mas nem de longe merecia ser manchete. Aliás, o fato de não haver um ?outro lado? de FHC reflete, a meu ver, que nem mesmo a Folha considera verdadeiramente relevantes –a ponto de valer manchete– as declarações tassistas.

O ?Globo? ficou no factual, mas um factual a meu ver importante (a greve do INSS), que a Folha jogou para um pé de página (A6), coerente, diga-se, com o desprezo que dedicou à cobertura desse movimento.

O ?Estado expõe uma recaída pró-americana, numa manchete frágil, quase anódina.

Ganha hoje o ?JB?, que, com base em levantamento exclusivo, mostra uma realidade que muita gente intuía mas que não fora, até o momento, claramente demonstrada: os bancos foram fartamente presenteados na era FHC.

Paulo Renato x FHC/Matus

O ministro da Educação diz que não pode obedecer a decisão da Justiça de pagar salários a professores por causa de decreto presidencial que passa ao Planejamento e a FHC a liberação de verba para tanto. Logo, os dois últimos, deduz-se do raciocínio de Paulo Renato, seriam os responsáveis pela crise Judiciário-governo nesse caso. A julgar pela visão do STJ (exposta pelo jornal), FHC e/ou Matus Tavares, na visão de Paulo Renato, estariam, portanto, cometendo improbidade passível de punição. Faltou o jornal explorar esse curto-circuito no texto ?Ministro diz que salário não depende dele? (Brasil, pág. A6).

Emergência

Até onde sei, tecnicamente pouso de emergência é uma coisa, pouso forçado é outra. O texto ?Jato de Garotinho faz pouso forçado? (Brasil, pág. A8) utiliza as duas fórmulas indiscriminadamente. A verificar.

Nova guerra

1) Ao mostrar a reativação de uma sala de cinema na capital afegã, a interessante reportagem ?Mulheres fazem manifestação em Cabul? (Mundo, pág. A12) afirma, a certa altura, que o filme exibido (?Elan?) tem ?enredo confuso?. Logo a seguir, diz que a Folha (o repórter) assistiu apenas a um pedaço da fita. Ora, como julgar o filme se só se viu um pedaço? Justamente por esse fato é que, talvez, a impressão tenha sido de um ?enredo confuso?. Ficou confuso;

2) Não vi na Folha informação, trazida na capa de hoje do ?New York Times? e em parte reproduzida no ?Globo?, de que o número de mortos e desaparecidos no WTC caiu mais uma vez, ficando em torno dos 3.700, podendo cair ainda mais. Diferença significativa em relação aos mais de 6 mil estimados inicialmente.

Números

1) O texto ?Argentina diz que está longe do déficit zero? (capa de Dinheiro) afirma que se espera para dezembro um desembolso de US$ 1,3 bi do FMI para o país vizinho. Esse mesmo desembolso é registrado como sendo US$ 1,2 bi (diferença de US$ 100 milhões) na retranca ?De la Rúa interfere para FMI enviar nova missão? (mesma página). Qual é o certo?

2) Pelo quadro ?Consumidor vai às compras? (Dinheiro, pág. B8), 93,4% dos pesquisados vão comprar produtos eletrônicos a prazo neste fim de ano. Já o texto da reportagem (?Consumidor quer arrumar a casa no Natal?) fala em 66,7%, porcentagem que parece bater mais com os dados. Outras duas porcentagens globais que aparecem no quadro sobre móveis e material de construção também parecem equivocadas. No primeiro caso, por exemplo, 49,4% dizem que comprarão utilizando mais de uma forma de pagamento (o que, pressupõe-se, inclui pagamentos à vista). Como é possível que 96,3% estejam afirmando que vão parcelar seus pagamentos?

3) Continua no quadro fixo à pág. B2 (Dinheiro) a informação de que os juros básicos nos EUA são 2,22%, quando, de acordo com o que a Folha vem publicando em reportagens, ele seria 2%. Por que a diferença?

Desagravo?

A reportagem ?ONGs pedem demissão de secretário? e seu ?outro lado? (Cotidiano, pág. C6) usam três vezes a expressão ?moção de desagravo? como se fosse algo negativo, acusatório em relação a seu alvo –no caso, o secretário Tripoli (Meio Ambiente). Pelo dicionário, desagravo (um ato de desagravo, por exemplo) é justamente o contrário. É ação de homenagem, que busca desagravar, retrucar uma afronta etc. Não é assim?

Acabamento

1) O texto ?Chuva mata nove pessoas no ES? (Cotidiano, pág. C6, edição SP) abre intertítulo para ?Ribeirão?, sem especificar de que cidade se trata, em qual Estado fica. Supõe-se que seja Ribeirão Preto (SP), claro. Mas nenhum leitor é obrigado a sabê-lo;

2) Ao pé da reportagem de capa de Cotidiano há uma remissão para a pág. C4, sendo que, nesta, nada sobre o assunto anterior está presente;

3) Não há qualquer histórico ou contextualização sobre o caso Abravanel na reportagem ?Alckmin e Petrelluzzi depõem? (Cotidiano, pág. C7). Ele se torna ininteligível para qualquer pessoa que não acompanhou o caso;

4) O texto-legenda ?Abraço? (pág. D4, Esporte), no qual Rivaldo comemora um gol, não diz qual é o time dele. Fala apenas que ?a equipe espanhola venceu (o Liverpool) por 3 a 1?. Que equipe espanhola é essa?

Anúncio

Pelo segundo dia consecutivo sai anúncio de página inteira da Federação Paulista de Futebol em apoio à gestão Farah (Cotidiano, pág. C10). Não vale reportagem? O que está havendo?

Denúncia

O texto ?Personalidades evitam citar ‘astro’ em NY? (Esporte, pág. D1) afirma que a Folha fez uma denúncia (caso Pelé-Unicef). Na verdade, o jornal não faz denúncia. Ele fez, sim, reportagem investigativa, com base em documentos. Certo?

Gloria Trevi

Li no ?Globo? que a cantora mexicana admite em carta ao STF que foi estuprada na cadeia. Não é uma informação qualquer. A Folha continua a dar mal este caso.

Sísifo

1) Faltou o perfil político-partidário, idade e cidade de nascimento do novo secretário dos direitos humanos, em ?Paulo Sérgio Pinheiro assume secretaria? (Brasil, pág. A7);

2) Faltou a idade do juiz aposentado em ?STJ nega prisão domiciliar a juiz Nicolau? (Brasil, pág. A7);

3) Faltou a idade do quadrinista Lourenço Mutarelli, em entrevista na contracapa da Ilustrada."