CRÍTICA DIÁRIA
"Crítica Interna", copyright Folha Online (www.folha.com.br)
"DIA 18/02 – A prisão-relâmpago de Jader Barbalho foi o tema mais aquecido do fim de semana, e a Folha teve o mérito de dar a notícia da ordem de prisão ainda no sábado (edição SP). Ponto para o jornal, embora com alguma restrição (veja nota abaixo). Registre-se que a ?Época? também trouxe a informação no sábado. Destaque, ainda, para reportagem na ?Veja? que faz o que a Folha deveria e poderia ter feito antes: a relação, que se investiga, entre a participação de fundos ligados ao Deutsche Bank na Eucatex e o caso Jersey (suposta conta de Paulo Maluf no exterior). Nas edições de hoje, Folha (?Brasil limita concessões à Argentina?) e ?Estado? (?Na Argentina, FHC quer retomada da questão econômica?) enfatizam encontro do Mercosul e a situação do país vizinho, enquanto os diários cariocas enfrentam a questão da dengue (?Globo?: ?Rio tem 2.500 casos suspeitos de dengue no fim de semana?; ?JB?: ?Dengue avança sem controle em sua forma mais grave?).
Edição de sábado, 16 de fevereiro
Jader Barbalho
Só a Folha, dentre os diários, conseguiu dar a notícia da ordem de prisão do ex-senador. Foi um furo. Não há como deixar de registrar, no entanto, a ausência de um ?outro lado? nesse material. Ignoro as circunstâncias práticas de realização da reportagem, mas acredito que, no mínimo, a Redação deveria ter preparado um resumo das argumentações de Jader publicadas antes sobre o caso Sudam. Pior: essa lacuna permaneceu na ediç&atiatilde;o de domingo, na qual se reproduzem os argumentos técnicos e jurídicos da defesa contra a prisão, mas não em relação às acusações de fundo.
Luta política
O texto ?Procuradoria requer indiciamento de Olívio? (Brasil, pág. A5) não informa a que partidos pertencem os deputados estaduais gaúchos que apresentaram a notícia-crime que deu origem ao pedido de indiciamento do governador do RS, destacado no título. É básico para se entender o confronto político em curso naquele Estado.
Sem nome (1)
A Panorâmica ?Transbrasil quer passar controle para fundação? (Dinheiro, pág. B4) noticia que ?a viúva do empresário Omar Fontana? apresentou ao DAC um plano para transferir o controle da companhia. Estranho. Essa pessoa não tem nome?
?Cavalo germânico?
Texto-legenda com esse título mostra o chanceler da Alemanha sentado a uma poltrona atrás da qual se vê a escultura de um cavalo, em hotel de Buenos Aires. Pergunto: quem é o ?cavalo germânico?? Parece brincadeira de mau gosto.
Números
A arte ?Gastos da polícia…? (Cotidiano, pág. C6) informa que se prevêem para 2002 R$ 8 milhões em investimentos na área técnico-científica. Na verdade, são R$ 8 (valor simbólico, como o texto da reportagem explica), certo?
Colunistas
Não discuto a opinião, mas tenho sérias dúvidas quanto à pertinência de se utilizar o espaço de uma coluna para dar esclarecimentos sobre aspectos relativos à atividade profissional/comercial do colunista. É o que acontece no ?P.S.? da coluna de Walter Salles na contracapa da Ilustrada.
Deixando de lado
A Folha tem subestimado o acompanhamento de dois casos interessantes e delicados destacados por concorrentes: o de Glória Trevi (haveria novas revelações sobre sua misteriosa gravidez) e o do Banco Liberal (complica-se a situação de Antonio Carlos Lemgruber). Creio que faria todo sentido recuperar.
Edição de domingo, 17 de fevereiro
Radiografia do MA
Inevitável fazer uma comparação entre os extensos materiais trazidos simultaneamente sobre a penúria do Maranhão pela Folha e pela ?Época?. A primeira parece ter maior precisão no tratamento e cruzamento dos dados estatísticos, no sentido de isolar mais claramente o período de Roseana Sarney no governo. Dessa forma, cumpre função de material mais ?quente? em relação à campanha presidencial da governadora. A segunda, por outro lado, é sem dúvida mais abrangente como reportagem (traz entrevistas, ?cor local?, personagens, pingue-pongue com Roseana etc), numa linha de perfil político, econômico e social daquele Estado. Pode-se dizer que são complementares. O que sobra numa falta na outra e vice-versa.
Sem nome (2)
Na Panorâmica ?Muro cai e mata criança em Perdizes? (Cotidiano, pág. A9), não se informa qual é o nome da escola a que pertencia esse muro. Por quê?
Outro lado
Faltou o ?outro lado? do ex-liquidante Flávio de Souza Siqueira em ?BC investiga venda de terreno do Crefisul? (Dinheiro, pág. B5). O texto insinua que ele teria compactuado com operação supostamente irregular.
Dois pesos…
Em certas circunstâncias, qualquer pequena promessa ou proposta sobre a Argentina ganha abre de página ou a capa do caderno, para não dizer manchete do jornal. Agora que há uma notícia relevante (?Contas públicas da Argentina saem do vermelho pela 1a vez em sete meses?), tal informação fica ?escondida? numa Panorâmica (Dinheiro, pág. B6). Creio que houve desequilíbrio na edição.
Edição de segunda-feira, 18 de fevereiro
EJ
Pensei que a Folha fosse recuperar o assunto na edição de hoje, mas não encontrei nada a respeito. A ?Veja?, tratando da extinção do DNER, trouxe o que seria uma nova irregularidade envolvendo, supostamente, entre outros, o ex-secretário da Presidência da República. Não vale verificar?
Crematório macabro
Não vi na Folha reportagem trazida pelo ?NYT? e reproduzida no ?Estado? e no ?Globo? sobre o interessante caso de um crematório americano no qual os corpos, na verdade, não eram cremados. Vale recuperar.
Pastel?
O texto ?Brasil nega concessão agrícola à Argentina? (Dinheiro, pág. B6) afirma que ?…o Mercosul deve ganhar (sic) o Instituto Monetário do Mercosul para cuidar…?. É criar, instituir, ou algo assim, certo?
Didatismo
A fim de incrementar a retranca ?Para gravadoras, preço do CD não é desculpa? (Folhateen, pág. 8), o suplemento edita uma arte mostrando a composição do preço de um CD. Fica, porém, uma dúvida: qual é a diferença entre ?royalties?, que entram com 16%, e ?direitos autorais?, que entram com 10% do preço total? Faltou esclarecimento, ainda mais para público jovem. De resto, creio que ficou bastante interessante a reportagem sobre pirataria de CDs.
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DIA 14/02/2002 – A vitória com placar apertado da Mangueira no Carnaval do Rio é a manchete dos dois principais jornais cariocas: ?Globo?: ?Vitória do samba?; ?JB?: ?Mangueira é campeã por 1 décimo?. O ?Estado? mantém sua predileção pela macroeconomia (?Calma no câmbio argentino derruba o dólar no Brasil?) enquanto a Folha investe em material, ao que parece, exclusivo: ?Violência cresce com pobreza em São Paulo?.
Arafat versus Rajoub
1) É infeliz o título da chamada ?Arafat puxa arma para o chefe de sua segurança?, na Primeira Página. Dá a entender que o alvo do líder palestino foi o encarregado de cuidar de sua segurança pessoal, quando, na verdade, trata-se do chefe de segurança da Cisjordânia. Mais adequado seria algo na linha ?Arafat puxa arma para o seu chefe de segurança?. A diferença é sutil, mas existe;
2) No material interno (?Arafat aponta arma para chefe palestino?, Mundo, pág. A8), falta um perfil de Jibril Rajoub, o homem com quem Arafat se desentendeu publicamente. Também faltou informar a idade do presidente da ANP, dado importante no caso, já que, conforme relata o texto, ele, trêmulo, deixou cair o revólver no chão, segundo testemunhas.
Inversão
A Panorâmica ?Secretária de Hitler morre após contar memórias? (Mundo, pág. A9) exigia uma foto de sua protagonista. Vi a imagem, por exemplo, no ?JB? (de autoria da ?AFP?). Muito mais interessante do que a de Bush com o presidente do Paquistão, trazida na mesma seção pela Folha.
Didatismo
1) A reportagem ?Atacada, Venezuela também solta o câmbio? (Dinheiro, pág. B4) menciona os termos ?ataque especulativo? e ?fuga de capitais? sem explicar o que significam;
2) Para os leigos, fica ininteligível o texto ?Entenda o problema? na arte ?Saiba mais sobre os recalls? dentro da reportagem ?Empresa de freio pode ter multa de R$ 3,2 mi? (Dinheiro, pág. B8). Uma ilustração certamente ajudaria a explicar melhor, afinal, o problema que provocou o recall de várias montadoras.
Superficial
?Schröeder quer estreitar relações com o Brasil? (Dinheiro, pág. B8) registra de modo bastante superficial a visita do chanceler alemão, a começar pelo título óbvio. Há muitas declarações e poucos dados (a não ser sobre a Volks, graças provavelmente à assessoria de imprensa) sobre o quanto a Alemanha pretende investir no Brasil, onde, quais são os grupos econômicos representados na ampla comitiva do premiê etc. Ainda há tempo para recuperar.
Pobreza e violência
1) Na retranca ?Dados devem orientar projetos, diz Pochmann? (Cotidiano, pág. C3), o número de chefes de família pobres em São Paulo é 589,1 mil. No texto da capa do caderno, ele é 598,1 mil. Erro de digitação?
2) Na mesma retranca há um declaração do secretário municipal do Trabalho que não guarda coerência. Ele diz: ?A ampliação da escolaridade e o desenvolvimento econômico são funções que apenas a prefeitura pode cumprir.
Ela depende do apoio dos governos estadual e federal?. Parece óbvio que há um erro na primeira frase, não? O que ele quer dizer é justamente o contrário do que está escrito: a prefeitura não pode cumprir sozinha aquelas funções.
Três mãos?
?O comerciante Alexandre Ribeiro Pereira (…) quase teve as duas mãos decepadas por dois assaltantes…? (lide de ?Comerciante quase perde mãos em assalto?, Cotidiano, pág. C4). O ?duas?, aqui, é evidentemente dispensável, certo?
Identificação
O assunto é polêmico e já apareceu outras vezes. Na retranca ?Decretada prisão de 5 no caso Daniel? (Cotidiano, pág. C4), o jornal identifica como Kiti um menor (de 17 anos de idade). Não há o nome, apenas o apelido. Mesmo assim, em respeito à norma de que menores não devem ser identificados em situações delicadas etc, creio que não teria sido o caso de publicar nem mesmo apenas o apelido, que é uma forma de identificação bem mais explícita do que, por exemplo, o uso de iniciais. Se não há informação das iniciais, creio ser melhor não publicar nada a não ser que se trata de um menor, de 17 anos.
Foto desperdiçada
O ?Agora? e o ?Diário de S.Paulo? trazem nas respectivas capas foto muito interessante (de autoria da Folha) de vários automóveis ?empilhados? por causa das chuvas de ontem. A Folha, na página interna (C6), preferiu repetir a mesma imagem de alagamento da Primeira Página e deu, bem menor, foto nada expressiva do tal empilhamento. Mau aproveitamento.
Pólo forçado
No texto ?Zona oeste terá centro empresarial e cultural? (Cotidiano, pág. C7), o engenheiro dessa nova obra afirma que o Teatro Alfa e o Credicard Hall são ?próximos? desse novo empreendimento, objetivando, com isso, dar uma idéia de que se constituirá um ?pólo cultural?. Para quem não conhece, basta ver no mapa que os dois casos mencionados não são tão próximos assim do local designado para a construç&atatilde;o desse novo centro (Vila Leopoldina). Creio que o jornal não deveria simplesmente reproduzir, sem ressalva alguma, uma afirmação objetivamente, na minha opinião, insustentável, para não dizer enganosa.
Carnaval
A Folha não deixou claro ao leitor que a Mangueira não teve patrocinadores oficiais, ao contrário de muitas outras escolas. Esse aspecto, polêmico, deveria ter sido ressaltado, como o foi por outros veículos. Ele confere à vitória da escola um ?sabor? especial.
Esquisito
Certamente não se trata de algo grave, mas, de todo modo, ficou estranho ler na Folha Equilíbrio uma nota indicando a melhor forma de encarar uma lombada para que a suspensão do carro não seja afetada. (pág. 3). Caberia melhor como dica em Veículos.
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DIA 13/02 – As imagens das capas dos principais jornais são dos desfiles de Carnaval, mas só os do Rio deram manchete para o assunto (?JB?: ?Mangueira e Beija-Flor no páreo?; ?Globo?: ?Estandarte é verde-e-rosa?). Folha (?Falta de pagamento se alastra na economia?) e ?Estado? (?Argentina inicia negociação ?tensa? com FMI e EUA?) optam por assuntos ?mais sérios?. A diferença de ênfase pode ser explicada pelo peso social e cultural bem menor que o Carnaval possui na capital paulista, fenômeno que, por outro lado, não justifica uma cobertura tão anódina como a que a Folha produziu sobre o tema (ver nota).
Carnaval sem gás
Não se fazia necessário um caderno de 18 páginas, como fez o ?Globo?, nem mesmo um de oito páginas, como fez o ?Agora?. Não é tradição do jornal uma cobertura extensiva do Carnaval. Mas a Folha bem poderia ter apresentado ao leitor uma cobertura menos insossa e menos burocrática do que a apresentada na edição de hoje. Não há sides diferenciados, nenhum enfoque próprio, exclusivo, nem mesmo um tratamento gráfico mais atraente. A cobertura fica na mesmice, como se tivesse sido feita apenas ?para constar?. Questão de qualidade, não de quantidade.
Na chamada da Primeira Página, não dá para entender por que a única nota 9,5 da Gaviões da Fiel foi descartada. O que significa ?por força do regulamento?? O leitor é obrigado a ir ?lá dentro? para entender. Não é um bom exemplo de texto de chamada de capa.
Faltou remissão, em ?Carnaval?, para o material publicado na coluna Mônica Bergamo (Ilustrada).
Maia e factóides
Sem dúvida o prefeito do Rio, Cesar Maia, é exímio criador de factóides. Mas a declaração destacada hoje (?Maia provoca tucanos ao prever desistência de Serra?, Brasil, pág. A4) não me parece fazer parte desse tipo de pirotecnia, ao contrário do que a edição dá a entender, em particular com o box ?Prefeito ficou marcado por seus factóides?. Maia é articulador da campanha de Roseana Sarney. Nada mais natural que faça declarações anti-Serra, as quais, aliás, não se diferenciam muito daquilo que Tasso Jereissati já disse de forma mais velada. Classificar a fala de provocação, como faz o texto, ainda pode ser. Mas factóide soa, no caso, inadequado.
Ainda nesse assunto, há um ?outro lado? de Serra ao pé do abre da página seguinte (?PSDB traça ida de Serra à ?toca? de Roseana?) que merecia estar editado com o texto específico sobre as afirmações de Maia.
Milosevic ao vivo
A Folha inaugura bem a cobertura do julgamento do ex-ditador em Haia, com enviado especial que conseguiu produzir material diferenciado, detalhado, sobre o ?clima? do evento. Trata-se de um caso histórico que não deve ser subestimado, mesmo sob difíceis condições econômico-logísticas de cobertura.
Duas observações menores: 1) em nenhum momento, salvo engano, se informa onde fica Haia; 2) faltou uma retranca (ou arte) mostrando, com dados detalhados (números, mapas etc), quais foram as atrocidades cometidas sob o comando de Milosevic.
E daí?
A retranca ?Moradores enfrentam filas para conseguir senha para as consultas? (Cotidiano, pág. C3) termina com a seguinte frase: ?Grande parte dos militantes do movimento popular de saúde são ligados a partidos de esquerda?. Não dá para entender o que o jornal quer dizer com isso nem que relação esse fato guarda com o restante do material publicado.
Sísifo
Faltaram as idades de Ron Howard e de Gabriel Villela nas respectivas entrevistas publicadas na Ilustrada (págs. E4 e E8). A informação interessa em particular no caso do cineasta norte-americano, apresentado como o ?garoto prodígio de Holywood?. Mas é útil também para entender algumas afirmações do diretor teatral brasileiro, que fala em ?nossa geração (anos 80)?.
Erramos errado?
Um caso referente às edições de sexta-feira (8/2) e de sábado (9/2) do jornal me parece particularmente grave, e, mesmo não tendo feito a crítica do fim de semana, não faria sentido o ombudsman deixar de comentá-lo. A segunda nota do ?Erramos? aponta um erro de tradução cometido pelo jornal de documento do FMI, mencionado em reportagem sobre o Fundo e o Brasil publicada na sexta-feira. Texto na página B-3 do mesmo sábado, no entanto, sob o título ?Texto do FMI sobre juro gera atrito com Malan?, sustenta a versão do documento publicada pela Folha. Ficou totalmente contraditório. Até agora não se voltou ao assunto. Vai ficar por isso mesmo? Não será dada nenhuma satisfação para o leitor?"