Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Bernardo Kucinski

CARTAS ÁCIDAS

"Segunda feira, 05 de novembro de 2001

Campanha contra Olívio vai dominar a agenda

Esta vai ser uma semana decisiva na campanha de policiais gaúchos aliados à direita, contra o governador Olívio Dutra. Hoje, estão marcados os depoimentos à CPI da Segurança Pública, do diretor de seguros do Clube de Seguros da Cidadania, Daniel Gonçalves, e do presidente do Clube, Diógenes de Oliveira. A mídia nacional vai destacar nas suas manchetes as acusações, até agora não comprovadas, de que o clube , criado por petistas, recebeu dinheiro do jogo do bicho. As manchetes incriminatórias, e não os fatos, servirão de base pretensamente documental para o noticiário dos âncoras de rádio e do notriciário noturno das TVs. Na terça haverá rescaldos dos depoimentos e na sexta, e mais manchetes incriminatórias.Na sexta, haverá uma grande manifestação política de apoio a Olívio Dutra que a mídia nacional deverá ignorar.No final da semana, as revista semanais poderão dedicar suas capas ao mote ?corrupção no PT.?

Perspectivas da crise

Diógenes de Oliveria deverá assumir toda a culpa por deslizes que possa ter cometido em suas conversas com o delegado Tubino, mas isso não bastará para esvaziar a crise. O objetivo inicial do PT gaúcho é o de proteger a figura de Olívio Dutra. Tem como base de sustentação o fato de que no Rio Grande do Sul ninguém minimamente informado acredita que Olívio possa se envolver em corrupção. Foi esse o enfoque do artigo semanal de Lula, publicado em mais de uma dezena de jornais regionais e mencionado hoje por quase todos os jornais de referência nacional, em que ele presta um tributo à honestidade de Olívio.

Mídia nacional adota o padrão anti-petista da RBS

No Rio Grande do Sul o padrão do noticiário é determinado não pelos fatos ou pela opinião pública, e sim pela hostilidade ao PT do grupo empresarial RBS, que domina os meios de comunicação de massa no Sul e que tem maltratado Olívio Dutra desde o começo de seu governo. É esse o padrão que começa agora a ser adotado pelos jornais de referência nacional, desde este final de semana.

As manchetes incriminatórias em torno das fitas do delegado Tubino podem provocar um grande estrago na candidatura Lula e na imagem do PT, independentemente dos fatos, apenas pela sua repetição ?ad nauseam?. É o que faz o Estadão de hoje, com uma página inteira e a manchete interna: ?Denúncias abalam imagem anticorrupção do PT.? No JB de domingo, o título era: ?As estrelas petistas sob telhado de vidro.? Nos dois casos as matérias eram cozinhadas, o que no jargão jornalistico significa que não tinham nenhuma informação nova.

Objetivo 1: jogar o PT na vala comum da corrupção

Não por caso, a matéria do Estadão generaliza as acusações contra o conjunto dos governadores petistas. O veio explorado pela grande imprensa é o de provar que uma vez no poder o PT é igual aos outros partidos. Tirar do PT o seu diferencial ético; convencer a opinião pública de que o PT é tão corrupto quanto os demais partidos, ao estilo dos comentários de Boris Casoy. Também os políticos governistas começaram a explorar a situação, com frases de efeito, por sua vez reproduzidas pela mídia. Geddel Vieira , o líder do PMDB, classificou de ?farisaico? o discurso ético do PT. Alguns comentaristas foram ao ponto de comparar o presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, com PC Farias. Já começam a jogar na mesma vala comum da corrupção Marta e Maluf.

Malandragens da mídia

No momento, a maior malandragem da mídia ainda é a simples repetição do mote ? O PT e o jogo do bicho gaúcho,? que virou título de um box repetido todos os dias pelos principais jornais. Dessa forma, a suspeita de alguma relação imprópria, torna-se em certeza de uma ligação criminosa. Fizeram o mesmo com Eduardo Jorge e com o Maluf. Não se trata portanto de um viés estritamente anti-petista, mas seu resultado é o nivelamento de todos os partidos na vala comum da corrupção.A direção do PT já identificou que a tática e de jogar o PT nessa vala comum e partiu para uma contra-ofensiva, mas é possível que isso não baste.

Começa a investigação independente

A Folha não está se limitando a cozinhar matérias e repetir motes incriminatórias. No domingo, saiu com sua reportagem própria sobre o empréstimo do Clube de Seguros da Cidadania ao comitê da campanha de Olívio. Hoje, saiu com nova reportagem, ainda pautada pelas acusações da CPI, mas trazendo dados novos que contrariam em parte o que os policiais vem dizendo contra Olívio. A Folha de hoje também traz um ?furo?: a notícia de que Zeca do PT abandonou o orçamento participativo. Não se trata de corrupção, mas é um dado que reforça o processo de mudança de imagem das adminsirações petistas.

O ataque ao PT pode se tornar objeto de uma disputa investigativa entre os grandes veiculos nacionais, especialmente as revistas semanais, que costumam investir mais no jornalismo investigativo.Essas revistas , especialmente a VE JA, adotarão a idéia força da vala comum da corrupção. Seu objetivo central dificilmente será o de explicar as diferença entre o PT e os demais partidos e sim o de provar que são todos farinha do mesmo saco.

Alguns fatos comprometedores

A gravação da conversa de Diógens com o delefado Tubino é ruim para o PT gaúcho. Fica claro que Diógenes queria que Tubino não adotasse uma política geral de repressão ao jogo do bicho. Também uma frase sua dizendo que a campanha eleitoral ?deve ter custado R$ 5,6 milhões?, vai ter que ser bem explicada, pois as contas aprovadas são da ordem de R$ 4,5 milhões. Na matéria do JB de domingo, o cientista político David Flescher, da UnB, sustenta que ?apenas a apuração rigorosa das denúncias vai manter a credibilidade do PT.?

Objetivo 2: livrar a cara do governo

É na reportagem de VEJA desta semana contra Brizola que fica mais clara a amplitude da política editorial de nivelamento da corrupção adotada pela grande imrpensa. Seu objetivo não é apenas o desgaste do PT, é também o de livrar a cara do governo FHC, marcado profundamente e profusamente pela corrupção. Ao lado da reportagem que tenta caracterizar Brizola como corrupto, num texto abertamente difamatório, baseado apenas em ilações, VEJA traz outra reportagem, essa estritamente factual, revelando que Roseana se elegeu graças a uma fraude.E fraude feia. que derrubou seu adversário Cafeteira acusando-o falsamente, na vespéra da eleição de mandar matar uma pessoa.

Não deixe de ler:

Na página A11 da Gazeta Mercantil de hoje a mais completa cobertura do andamento da ?moratória branca? a ser decretada pela Argentina, com ou sem apoio dos bancos credores."

    
    
                     
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