TV / EUA
“Os segundos mais caros da TV americana”, copyright Folha de S. Paulo, 27/09/03
“Começa agora um período de aflição para os fãs dos seriados americanos. É que lá, como se costuma dizer querendo significar os Estados Unidos, começa a temporada 2003/2004, enquanto que aqui ainda se arrasta o final da 2002/2003, com as reprises e a confusão de praxe.
Até novembro, que é quando os canais da TV por assinatura costumam estrear a nova temporada aqui, já aconteceu muita coisa nas séries -inclusive o cancelamento de algumas.
O início da temporada, nos EUA, é um grande acontecimento televisivo, ou melhor, midiático: outdoors anunciando novas séries estão nas ruas, as revistas de entretenimento e guias de TV trazem o assunto na capa, os jornais diários fazem críticas.
Coincide com a entrada do outono no hemisfério Norte; com a chegada de temperaturas baixas e dias mais curtos, sugere-se um certo recolhimento: de uma hora para outra, ficar em casa vendo TV parece convidativo.
É como se várias novelas estreassem no mesmo período, com a diferença que a continuidade de cada série depende dos números de audiência desse início. Pragmáticas, as emissoras às vezes nem esperam o final da temporada para cancelar uma série que não deu certo e suspendem sua exibição depois de alguns episódios. Muitas vezes, seriados já cancelados nos EUA são anunciados com barulho e exibidos aqui sem a menor cerimônia.
As séries, lá, mobilizam quantidades astronômicas de dinheiro de publicidade. Os números são impressionantes: 30 segundos durante um intervalo de ?Friends?, por exemplo, custa em média nada menos que US$ 473.500 (R$ 1,387 milhão, aproximadamente), segundo o site da revista ?Advertising Age?. É o meio minuto mais caro da TV americana, seguido por ?Will & Grace? (US$ 414.500, ou R$ 1,214 milhão) e ?E.R.? (US$ 404.814, ou R$ 1,186 milhão), em terceiro. O quarto colocado é o ?reality show? ?Survivor?, cujo intervalo comercial vale US$ 390.367 (R$ 1,144 milhão).
É curioso que, entre os campeões de publicidade -e de audiência-, estejam séries tão longevas quanto ?Friends? e ?E.R?, ambas iniciando suas décimas temporadas. Sugere que o público de TV prefere o conhecido, o já aprovado, sem surpresas. Mesmo, como no caso de ?E.R.?, que a série já esteja quase descaracterizada de tantos personagens que já a deixaram.
A presença de ?Will & Grace? entre os mais caros também indica a notável capacidade da TV de normatizar comportamentos, ou melhor, de promover a comunhão dos diferentes por meio do consumo. A comédia tem como protagonista um jovem advogado, Will, e sua melhor amiga, a decoradora Grace. Ele é gay, ela uma trintona solteira, seus melhores amigos são o que costumava se chamar de desajustados, mas todos consomem loucamente -e, para os anunciantes, é só isso que importa.”
TV / CONCESSÕES
“Governo dá canal em SP a evangélicos”, copyright Folha de S. Paulo, 29/09/03
“O ministro das Comunicações, Miro Teixeira, concedeu à Fundação Evangélica Boas Novas, da Igreja Assembléia de Deus no Amazonas, três canais retransmissores de televisão: um em São Paulo (a praça mais cobiçada pelos empresários pretendentes a formar redes de TV), um no Rio de Janeiro e outro em Campinas.
As portarias foram publicadas no ?Diário Oficial? da União de quinta. Assim, já somam 13 os canais retransmissores autorizados pelo governo Lula. Os outros dez foram para a Fundação Nazaré, da Arquidiocese de Belém (PA).
A Fundação Boas Novas inicia até o final do ano as retransmissões em São Paulo, no canal 44, dos sinais de sua geradora de Manaus, a Rede Boas Novas, RBN. Criada em 1993, a RBN tem programação totalmente evangélica. Sua cobertura abrange a região Norte e capitais do Nordeste. Agora, chega ao Sudeste.
O governo federal, que prometeu novas regras para a concessão de retransmissoras (que não precisam de concorrência pública), nega estar favorecendo entidades religiosas. A assessoria do Ministério das Comunicações afirma que a Boas Novas foi contemplada com os três canais pelo critério de antiquidade (seus pedidos de canais seriam os mais antigos). Diz que os canais são secundários, que podem ser cassados a qualquer momento e que não podem ser negados quando comprovada a viabilidade técnica.
OUTRO CANAL
Fé
A executivos do SBT, Silvio Santos tem afirmado que acredita na versão de Gugu Liberato, de que não sabia do conteúdo da entrevista com falsos integrantes do PCC exibida no ?Domingo Legal?, no dia 7.
Ceticismo
Co-diretor do ?Domingo Legal?, Maurício Nunes, que comandou o programa do dia 7 de setembro, será mantido no cargo, pelo menos por enquanto. Mas não tem futuro no SBT.
Cenário 1
A Globo estuda montar um núcleo de produção em Florianópolis para as gravações da próxima novela das sete, ?Da Cor do Pecado?. A capital de Santa Catarina será locação fixa da trama, mas os custos de gravações fora do Rio de Janeiro, onde ficam os estúdios da Globo, devem frustrar planos mais ousados.
Cenário 2
Diretores da novela estão viajando nesta semana pela Bahia, Sergipe e Maranhão para escolher as locações de gravações dos primeiros 40 capítulos. Na trama, Preta (Thaís Araújo) é uma moça do Nordeste que se apaixona por Paco (Reynaldo Gianecchini), um rapaz do Sul.
Lição
A campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, a exemplo do que fez com Gugu Liberato, vai tirar João Kléber, da Rede TV!, do próximo ranking da baixaria, a ser divulgado no dia 3.”
MULHERES APAIXONADAS
“TV e cinema ?hospedam? Furtados”, copyright Folha de S. Paulo, 28/09/03
“O filho anônimo participou do filme do pai famoso. Pelo papel, foi convidado para um teste. O teste agradou e ele foi parar na novela das oito, ficando quase tão famoso quanto o pai, que também trabalha para a mesma emissora -embora os dois raramente tenham se encontrado ultimamente, justamente por causa do trabalho.
A história é de Pedro Furtado, o Fred de ?Mulheres Apaixonadas?. Ele foi convidado a participar de um teste em Porto Alegre depois de seu papel em ?Houve uma Vez Dois Verões?, dirigido por seu pai, o cineasta Jorge Furtado. ?Achei que era para ficar no banco de atores da Globo, mas mostraram o teste para o Ricardo Waddington [diretor da novela], que mostrou para o Manoel Carlos [o autor], e me chamaram?, conta Pedro.
Com o final de ?Mulheres? se aproximando, o ator tem ganhado destaque com o papel do aluno que tem um caso com a professora que apanha do marido, vivida por Helena Ranaldi.
Enquanto isso, Jorge Furtado se prepara para começar as filmagens de ?Cena Aberta?, série de programas da Globo que vai misturar ficção e documentário ao mostrar o processo de encenação de um texto. Serão mostradas obras de autores como Tolstói e Clarice Lispector, e deve ir ao ar em dezembro.
?Vamos mostrar a escolha do elenco, os testes, a procura de locações, todo o processo para uma produção. E a obra encenada, o resultado, também será exibida?, diz o diretor de ?O Homem que Copiava?. As filmagens devem começar nesta semana, no Rio Grande do Sul.
Furtado, o pai, 44, assinou também o roteiro de dois episódios de ?Cidade dos Homens?, série da produtora O2, que deve ir ao ar em outubro. E ainda acompanha a carreira do filho. ?Quando não consigo ver a novela, gravo?. Ele diz que não teve nada a ver com a ida de Pedro para a Globo. ?A única coisa que fiz foi colocá-lo no meu filme.?
Pedro, 19, que só tinha feito teatro amador até então -além do filme do pai- viu a vida mudar radicalmente após ?Mulheres?. Mudou-se para o Rio, morando sozinho pela primeira vez, e não sai na rua sem ser reconhecido. ?As pessoas me chamam de Fred, dão conselhos como se eu fosse o personagem.?
Não é para menos. O personagem, de 17 anos, que começou como um tímido estudante com um amor platônico pela professora, há algumas semanas protagonizou uma cena de sexo com Helena Ranaldi. ?Achei que seria uma cena muito difícil, mas me surpreendi. A equipe me deixou à vontade?, conta Pedro, que não esconde o sotaque gaúcho na novela. ?Manoel Carlos achou bom deixar o sotaque. Para mim é melhor, sai mais natural. Ele manda o texto com ?você? e eu mudo para ?tu?…?”
“Sem medo de denunciar”, copyright O Estado de S. Paulo, 28/09/03
“Desde segunda-feira quando foram ao ar as cenas em que Raquel (Helena Ranaldi) delatou as agressões do marido Marcos (Dan Stulbach), em Mulheres Apaixonadas, a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), unidade do centro do Rio – cuja fachada apareceu na telinha -, constatou aumento de mais de 40% de denúncias. ?A média diária é de 20 casos, na maioria deles ameaças e lesões corporais. Na segunda-feira mesmo, o número subiu para 29 e a maioria das mulheres procurou a delegacia após a exibição da novela?, revela a delegada titular Catarina Noble, que auxiliou o autor Manoel Carlos no episódio.
No Estado do Rio, há 9 delegacias especializadas; em São Paulo, 128 Delegacias de Defesa da Mulher (sendo 9 na capital) – algumas funcionam no mesmo prédio de delegacias policiais. São 24 os delitos atendidos nessas delegacias. ?A tendência é que o número de denúncias aumente ainda mais. A mulher tem de entender que não nasceu para ser vítima da violência. Aqui, nesse espaço, será tratada com dignidade e, se preciso, encaminhada para um grupo de ajuda. O objetivo dessa parceria com o autor da novela, além de sensibilizar as pessoas, é sensibilizar as autoridades para que mudem as punições aos agressores no âmbito judicial?, declara a delegada.
Segundo a pesquisadora Leandra Pires, que trabalha diretamente com Manoel Carlos, os diálogos entre Raquel, a assistente social e a delegada foram ?escritos? pela delegada Catarina. ?Reproduzimos exatamente o que ela diz às mulheres que denunciam seus parceiros?, afirma Leandra, que levou a atriz Helena Ranaldi para conhecer a principal delegacia carioca especializada no assunto e a um Centro Integrado de Apoio à Mulher (Ciam). ?A novela foi fiel à realidade. Desde o exame no IML, porque não se pode fazer o exame de corpo de delito em outro lugar, à punição ao agressor. Hoje não são tão representativas. Vão de trabalhos voluntários a doações de cestas básicas.?
Até a atriz Helena Ranaldi não sabia que a punição para os homens que agridem mulheres, a chamada violência doméstica, é branda. Era cobrada na rua pelos telespectadores da novela para que denunciasse logo o marido.
?Quando me abordavam para falar desse assunto, eu perguntava se essas pessoas sabiam quais eram as punições para os agressores. Grande parte não tinha conhecimento dessa falha na lei. Eu adoraria que os agressores fossem presos. Espero que na novela o Marcos sofra de alguma forma.?
Para construir o personagem, Helena visitou uma Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e foi a um Centro Integrado de Apoio à Mulher.
?Para mim foi essencial. Graças a Deus, a violência doméstica não faz parte da minha vida e, por mais que a gente pense que sabe como é, não temos idéia do que de fato isso representa para uma mulher.?
Helena, que participou de uma dinâmica de grupo como se fosse a personagem Raquel, diz que ?se sente esquisita, como se tivesse um vazio dentro de si? toda vez que grava as cenas de espancamento. Na última, no dia do seu aniversário fictício, as imagens foram fortes. Ela apareceu nua (com imagem fora de foco) e tentou fugir das raquetadas de Marcos correndo para o banheiro. ?Já chorei algumas vezes. Mesmo na ficção é horrível porque sabemos que para muitas mulheres é a real. Espero que a mensagem de que a denúncia tem de ser feita independentemente da punição tenha sido assimilada pelo público.?”