GOVERNO REQUIÃO
"Entrevista publicada na Folha gera polêmica", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/07/03
"A edição de uma entrevista do governador do Paraná, Roberto Requião, ao jornal Folha de S. Paulo, gerou polêmica na imprensa local. No dia seguinte à publicação da reportagem (26/06), que falava da ocupação das praças de pedágio pelo MST, a agência de notícias do governo (www.pr.gov.br/agencia) colocou no ar uma matéria sobre o tema. ?O governador Roberto Requião encaminhou, nesta quinta-feira (26), ao jornal Folha de São Paulo, uma correspondência afirmando que uma entrevista concedida por ele e publicada nesta data, na página A 6 do Caderno Brasil, acabou sendo distorcida?, dizia a matéria da agência.
Uma carta do governador, enviada ao jornal, foi publicada na íntegra na edição do último domingo (29/06) da Folha, na seção de cartas do leitor. O jornal paulista publicou também uma resposta à carta, onde endossa a matéria da correspondente da Agência Folha em Curitiba, Mari Tortato.
Notas em colunas políticas e sites jornalísticos do Paraná repercutiram a atitude do governador. Jornalistas como Ruth Bolognese e Pedro Ribeiro questionaram a postura desafiadora de Requião e saíram em defesa de Mari Tortato, responsável pela entrevista com o governador. Em seu website, Ribeiro lembrou que, recentemente, Requião foi tema de pelo menos três matérias na imprensa nacional – uma delas, da revista Época desta semana, o rotula como ?Itamar do Paraná?. As outras duas são um editorial do jornal O Estado de S. Paulo e uma reportagem do Valor.
Ainda de acordo com Pedro Ribeiro, um jornalista do Estadão está no Paraná esta semana, para levantar um perfil do governador.
O assessor de imprensa de Requião, Benedito Pires, disse ao Comunique-se que foi procurado pelo editor da seção ?Erramos? da Folha e pela secretária de Otávio Frias Filho. ?Eles queriam saber se deveriam publicar uma correção no Erramos, admitindo que na edição da entrevista a segunda resposta do governador ficou truncada?, contou. ?Mas preferimos que a carta fosse publicada. A carta é auto-explicativa. Nós não reclamamos do fato de a entrevista – que tinha muitas perguntas e respostas e foi feita por email – não ter sido publicada na íntegra. Sabemos que há toda uma questão de concisão e espaço jornalístico. O problema é que uma das respostas publicada – a segunda – não corresponde ao que o Requião disse e, do jeito que saiu, ficou uma coisa enigmática, sem sentido?.
Pires disse que Mari Tortato acrescentou à entrevista publicada falas do governador, ditas em um encontro anterior no Hotel Bourbon, em Curitiba. ?Aquilo foi dito em outro contexto, fora da entrevista?, afirmou o assessor do governador.
Mari confirmou que entrevistou o governador durante um evento público. ?Eu tinha pedido a entrevista e o Benedito combinou que seria por email. Não satisfeita, sabendo que ele estava no encontro com o Tarso Genro, fui atrás do Requião e o entrevistei. Não fui só eu, tinham outros jornalistas lá?, relembrou. ?Tudo que o governador disse está gravado. E o assessor dele sabia que eu o tinha entrevistado pessoalmente também, além do pingue-pongue por email?.
A nota da redação publicada pela Folha de S. Paulo, junto com a carta do governador, reafirma que as expressões reproduzidas na matéria publicada foram realmente empregadas por Roberto Requião.
Para Benedito Pires, o episódio não deve afetar o relacionamento do governo com a Folha de S. Paulo. ?A repercussão disso tudo não muda a nossa postura em relação à imprensa, nem especialmente à Folha, um jornal que sempre manteve sua postura?, declarou.
Mari Tortato, que está em férias desde o início desta semana, diz que também deu o episódio por encerrado a partir da publicação da carta e da resposta da Folha. ?Eu nem sabia que colegas tinham saído em minha defesa. O fato é que essa atitude do governador não surpreende. Ele é conhecido por rebater jornalistas com agressividade quando não gosta das perguntas?, concluiu.
A seguir, a matéria que foi ao ar pela agência do governo (que reproduziu a entrevista do governador à Agência Folha na íntegra) e a entrevista editada, publicada pela Folha:
?O governador Roberto Requião encaminhou, nesta quinta-feira, 26/06, ao jornal ?Folha de São Paulo?, uma correspondência afirmando que uma entrevista concedida por ele e publicada nesta data, na página A 6 do
Caderno Brasil, acabou sendo distorcida.
A pedido de Requião, as perguntas foram encaminhadas por escrito pelo jornal e, da mesmo forma, respondidas, justamente para evitar equívocos. No entanto, a edição da matéria não só distorceu as respostas, como atribuiu ao governador palavras que sequer constavam nas respostas enviadas. Expressões como ?pressão da extrema direita? e ?pressão de uma imprensa equivocada? apareceram numa resposta que ele dava sobre a reintegração de posses no Paraná, sem que ele houvesse dito tais palavras.
Segundo Requião, ?a edição tirou a essência das respostas e não reproduziu, por exemplo, as fortes razões para encampar o pedágio no Paraná. Quanto às invasões de terra no Estado, também a posição do governador viu-se incompleta e distorcida, à medida que as respostas foram editadas e restaram inconclusas?, afirmou.
O governador cita, por exemplo, a última frase de uma resposta que ele deu ao jornal, que editada, tornou-se incompreensível. ?Restou uma frase sem sentido, como não há sentido em se pedir a opinião do governador sobre dois assuntos relevantes e não reproduzir suas respostas?, afirmou.
A longa entrevista de Requião à Folha, respondendo nove questões, acabou sendo reduzida a duas perguntas e respostas, assim mesmo, editadas. Quase que toda resposta à segunda pergunta, publicada pelo jornal, contém palavras não pronunciadas por Requião.
A seguir, a íntegra da entrevista:
Perguntas ao governador Requião para Folha de S. Paulo
1- A ocupação das praças de pedágio pelo MST não caracteriza uma situação de desordem pública?
Requião – Sem a menor sombra de dúvida. Caracteriza a situação de conturbação social e de ameaça ao patrimônio. É por isso que eu tomei a decisão de intervir no pedágio. É preciso que se entenda que há descontentamento profundo dos paranaenses com o pedágio. As pesquisas de opinião nos mostram que 94% da população quer uma redução radical da tarifa ou a supressão definitiva da cobrança. O pedágio do Paraná é cinco vezes mais caro do que o pedágio da Argentina e a cada fim de semana nós temos manifestações de diferentes grupos da sociedade: comerciantes, estudantes, pequenos agricultores que não toleram mais o pagamento. O pessoal que mora nas vizinhanças das praças e que é obrigado a pagar pedágio em cada saída de casa para ir num botequim de esquina fazer uma compra. O pedágio no Brasil não deu certo. Ele foi mau feito. Na minha opinião se nós tivéssemos um pedágio público, ou seja, que seus recursos fossem arrecadados pelo poder público, até através de terceirização, e se fizéssemos licitações para manutenção das estradas, para pintura, para o corte de mato, a coisa seria razoável. Mas hoje os concessionários estabelecem os seus próprios custos e um quilômetro de recuperação pode custar mil reais ou dez mil reais. E no caso do Paraná sequer o número de veículos que utilizam a estrada é considerado, são preços fixos, portanto sem cláusula econômica. Os contratos de pedágio no Paraná são nulos e cá entre nós, contratos nulos, ilegais e que contrariam a sociedade inteira também caracterizam uma situação de desordem pública.
2- O sr. teve informação antecipada das ocupações de ontem? Foi informado por relatórios da P2 – o serviço de inteligência da PM?
Requião – Não. O que eu sei é que as ocupações de praças de pedágio há muito tempo se sucedem no Paraná. Mas a respeito dessa atitude do MST eu não tive nenhuma informação antecipada, mesmo porque acreditava que a radicalização diminuísse, já que o governo estava conduzindo o processo via lei de encampação, em discussão na Assembléia.
3- Como o sr. classifica os atos desencadeados pelo MST? Houve casos de depredação de equipamentos e praças de pedágio. Isso é tolerável?
Requião – Não. Não é tolerável. Porque é patrimônio. É patrimônio privado. É patrimônio público. E a intervenção vai imediatamente levantar as conseqüências e o custo dessa depredação.
4- Há quem diga (na oposição e entre pessoas envolvidas com o MST) que as ocupações das praças de pedágio seriam um ato de retribuição do MST a declarações suas do dia anterior de que não liberaria força policial para despejar sem-terra e cumprir reintegrações de posse. O que os sr. diz a respeito?
Requião – Essa declaração não houve. Eu jamais disse que não faria reintegrações de posse. Eu disse apenas que nós queremos negociar à exaustão. Eu disse que um mandato de governador não vale a vida de um agricultor. Eu disse que não quero ver o Paraná transformado num Carandiru do campo. Eu acho que esta minha posição tem sido acompanhada pela unanimidade dos governadores do Brasil. Agora, determinação judicial é para ser cumprida. Eu tenho certeza que o Judiciário do Paraná está entendendo a minha posição. Nós vamos fazer as reintegrações e mais acredito que esta pressão social do MST cessará tão logo o governo federal coloque a sua proposta de reforma agrária a público.
5- Como o interventor nomeado pelo sr. vai operacionalizar a administração das praças de pedágio sem tumulto e desordem se não há conhecimento e controle do serviço?
Requião – Essa pergunta não tem cabimento. Uma praça de pedágio é uma catraca que arrecada recursos. Nós vamos manter os funcionários da arrecadação e não tem problema de conhecimento e controle para uma coisa comezinha e singela como a cobrança de pedágio numa estrada.
6- O sr. já deixou claro que pretende evitar qualquer confronto da PM com o MST. Já disse ter simpatia pelo movimento… É possível afirmar que o sr. está tomando partido dos sem-terra em relação aos proprietários rurais?
Requião – Minha posição é pública, é conhecida, ela não é uma posição tomada ontem, é uma posição antiga. O MST organiza os sem-terra sem salários, com fome. Hoje, o movimento Sem-Terra é muito mais um movimento de despossuídos, um movimento que se assemelha com o movimento paulista de décadas atrás de combate à carestia do que qualquer outra coisa. Eu acho muito mais fácil para um governo conversar com um movimento organizado do que enfrentar uma multiplicidade de movimentos sem direção e sem possibilidade de interlocução. Do ponto de vista da racionalidade, o MST é mais fácil de lidar do que o caos estabelecido pela fome desorientada. Por outro lado, sou simpático à reforma agrária. Não sou simpático à baderna, não sou simpático à invasão de propriedade. Mas como um administrador público eleito pelo povo do Paraná eu lido com essa questão com a devida sensibilidade social.
Com relação à segunda parte da pergunta – Não, porque os proprietários rurais do Paraná na sua grande maioria são produtivos, são inteligentes e é para eles que eu governo o Estado. Nós somos um Estado agro-industrial. Todo o programa do meu governo se dirige à produção rural e não só a propriedade familiar rural, mas a todas as propriedades, de empreendedores maravilhosos que transformam o Paraná no maior exportador de grãos do Brasil.
7- Que medidas o governo do Paraná pretende tomar para reduzir a tensão nos acampamentos e evitar confrontos armados entre MST e donos de áreas?
Requião – O governo do Paraná acha que quando o governo federal colocar publicamente a sua proposta de reforma agrária a tensão se diluirá. Mas a primeira medida que nós já tomamos é o desarmamento tanto de proprietários rurais quanto de sem-terra. Nós queremos uma solução pacífica para o problema social de proporções enormes.
8- O governo Lula está demorando para adotar medidas que permitam cumprir as promessas de campanha de ?uma reforma agrária pacífica??
Requião – Eu acho que o governo Lula está se preparando para anunciar as medidas. E eu espero que essas medidas surjam a tempo de evitar que conflitos se estabeleçam e inutilmente pessoas venham a morrer em conflitos de terra.
9- O sr. diria que as lideranças do MST têm razão ao recrudescer nos atos de pressão para apressar a reforma? Requião – Eu acho que não. Eu acho que o governo Lula mereceria um voto de confiança. Mas eu não sou tão tolo a ponto de imaginar que as lideranças do MST controlam um movimento que surge em cima da marginalização e da fome de agricultores e de brasileiros de um modo geral. Eu diria que a liderança do MST não tem o controle total do movimento e que estas ocupações muitas vezes eclodem sem o conhecimento da liderança, sem a autorização, sem a condução da liderança do movimento. E no mais eu acrescentaria que a questão da invasão de terra é maximizada pela mídia. Nós temos no Paraná 369.875 propriedades rurais e apenas 27 propriedades ocupadas. Veja bem, 369 mil versus 27 não representam a dimensão que o fato assume na grande mídia brasileira?.
O trecho da entrevista publicado pela Folha:
?Agência Folha – Há um clima de aparente desordem pública no Paraná. Essa imagem é real?
Roberto Requião – As invasões no Paraná são em volume menor do que as de outros Estados, e no Paraná tem governo, não é um governo frouxo. A ordem vai ser mantida, e dentro de um conceito muito claro, o de que uma vida vale muito mais do que um mandato de governador.
Agência Folha – O sr. reafirma disposição de não despejar sem-terra de áreas com reintegração de posse expedida pela Justiça?
Requião – Não é por pressão da extrema direita e por pressão de uma imprensa equivocada que eu vou utilizar a violência, pondo em risco a vida de policiais e de agricultores desesperados. O direito ao trabalho, à vida, à educação e à saúde é tão ou mais importante do que o direito à propriedade. O meu limite em relação à violência e à morte é muito grande?."
PT EM CRISE
"Urtigas no próprio jardim", copyright Jornal do Brasil, 1/07/03
"Pimenta nos olhos dos outros é refresco (ditado popular).
O Brasil envergonhou o mundo civilizado no período pós-64, proibindo centenas de autores e livros. A lista da censura tinha o propósito de humilhar os espíritos independentes, não apenas os discordantes. O índex completo, com 508 nomes, trazia o empresário Kurt Mirow e o jornalista José Louzeiro, que havia publicado um romance-reportagem para driblar a censura. Não conseguiu. E dois nomes que eram referências da atuação de intelectuais na política: Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Seus nomes e os títulos dos livros apareciam, por estranhas coincidências da ordem alfabética, ao lado de obras pornográficas.
A censura, sempre um desastre e sempre um tiro pela culatra, costuma resultar em bagunça. Por isso, o ordenamento da vida social é tão indispensável que um estadista do porte de Charles de Gaulle bradou em maio de 1968: ?A reforma, sim; a bagunça, não!?
Os ?bolsões sinceros, mas radicais?, segundo definição do general-presidente que comandava a ?distensão, lenta, segura e gradual?, estavam incrustados também na cultura e não apenas nos quartéis e no Congresso. E uma longa noite desceu sobre quem discordava, principalmente sobre autores e livros.
Pois agora o tema da censura está voltando por ínvios caminhos. Nas universidades, ou muito me engano ou a polêmica é evitada como se não fosse de bom tom discutir. Mas espíritos polêmicos, com a ousadia que lhes é própria, oxigenam nossa vida cultural. Para os leitores, menos importante do que julgar quem tem razão, é desfrutar das riquezas do embate das idéias.
Em passado recente, como recente é nosso passado censório, um silêncio obsequioso atingiu o catarinauta Frei Leonardo Boff, meu conterrâneo e desde há alguns meses colega aqui no Jornal do Brasil. Ele recebeu de poderosa instância da Santa Sé ordem de calar a boca. E Roma locuta, causa finita (Roma falou, a causa acabou). Este célebre bordão foi retirado de um sermão de Santo Agostinho, que travara polêmica vulcânica com um heresiarca chamado Pelágio, que negava a graça e o pecado original. Agostinho, Doutor da Igreja, é denominado justamente ?doutor da graça?. Os dois polemistas viveram entre a segunda metade do século IV e a primeira do século V. Na verdade, Roma fechou a polêmica, mas Santo Agostinho não usou a primeira parte da frase, Roma falou. Disse apenas que a causa tinha terminado.
Assim como a guerra é assunto muito importante para ser discutido apenas por militares, também os assuntos religiosos são por demais candentes, principalmente no Brasil, e não podem ensejar limitações aos leigos. O mesmo se pode dizer das lutas partidárias. Ninguém precisa ser especializado em religião ou nos mecanismos burocráticos da Santa Sé e de qualquer partido político para discernir o óbvio: Frei Leonardo Boff foi punido por delito de opinião. E a espada que agora ameaça os radicais do PT é feita do mesmo aço vil que o decapitou.
E como procederam os notáveis do PT na época? Em gestos admiráveis, solidarizaram-se com Frei Leonardo Boff, denunciando o excessivo rigor da Santa Sé.
Ah, mas o poder é cheio de sutis complexidades. Hereges, dissidentes, discordantes, críticos e espíritos independentes de qualquer estrutura encontram extraordinária receptividade quando praticam sua independência no jardim dos outros. Cadê a generosidade e o acolhimento quando, porém, a independência é praticada intramuros? A expressão nasceu da geografia das cidades medievais, então cercadas de muros. Naqueles limites, todos deveriam ser unidos.
Parlamentares como a senadora Heloisa Helena, a deputada Luciana Genro e os deputados João Batista Araújo, o Babá, e Lindenberg Farias, têm, sim, o direito de divergir. O mesmo direito que foi surripiado de Leonardo Boff pela Santa Sé.
A solidariedade tem ainda mais eficácia quando não concordamos com o que dizem aqueles a quem queremos beneficiários do direito de divergir. Do contrário, quando concordarmos, que valor terá nossa opinião?"
CASO BANESTADO
"Modelo de jornalismo dos anos 90 será repetido em CPI", copyright Folha de S. Paulo, 2/07/03
"A possibilidade de o caso Banestado dar em alguma condenação é quase nula. Vai haver tiro para todo lado, misturando inocentes e culpados, alhos e bugalhos, comprometendo reputações e salvando culpados, para no final do processo não sair nenhum condenado e os suspeitos se dividirem em dois grupos: os inocentes, que serão condenados a ver seus nomes misturados aos dos culpados; e os culpados, que terão o atenuante de se misturar aos inocentes.
Vamos a uma análise simples do que está ocorrendo. Uma revista semanal publicou na capa desta semana o retrato do ex-senador José Serra, como correntista das contas CC-5 do Banestado. A provável fonte é o delegado José Francisco Castilho Neto, que iniciou as investigações das contas. Internamente, informa-se que ?é possível? que o José Serra mencionado seja um homônimo do senador. Mas muita gente comprou homônimo por lebre.
Na reportagem há a relação de vários nomes de uma mesma família Serra. O único nome que consta na lista e existe na família do senador é Antonio -no caso, seu neto, de alguns meses de idade.
A reportagem é mais elucidativa pelo que sugere do que pelo informa. Há a tal família Serra, há um S. Motta, e sabe-se lá quem são, se inocentes, culpados, se doleiros ou cidadãos corretos. Há menção a remessas de valores insignificantes (em se tratando de suspeita de operação criminosa).
No início das investigações, anos atrás, apareceu o nome de um comentarista de televisão -que, constatou-se depois, mandava dinheiro licitamente para Nova York. Recentemente apareceu o nome da apresentadora Valéria Monteiro, que participou da campanha de Serra. A moça tem apartamento em Nova York e mandava dinheiro mensalmente para lá por meio de uma casa de câmbio de Campinas, a fim de cobrir despesas de condomínio e outros gastos. Sua participação na campanha de Serra foi paga em reais, com recibo assinado e tudo.
Relevem-se os problemas de informação da reportagem e passemos ao essencial: de onde surgiram tantos nomes? E aí se verá o tamanho da encrenca.
Quando as investigações começaram, anos atrás, esse delegado Castilho conseguiu de um juiz de Foz do Iguaçu a quebra do sigilo bancário de todas as contas do Banestado em Nova York, sem separar inocentes de culpados, algo inacreditável e inconstitucional.
Quando percebeu o tamanho da encrenca, o Tribunal Regional Federal da 4? Região decretou o sigilo das investigações -inclusive da decisão do juiz, claramente inconstitucional. Ou seja, manteve a decisão do juiz, criando um vício de origem no processo, mas tornou a decisão segredo de Justiça. Muito provavelmente, quando se chegar ao final das investigações, o processo será nulo, porque começou com uma ilegalidade. Agora, o delegado está com uma lista nas mãos. E alguém está publicando essa lista a torto e a direito.
Com a CPI, vai piorar o quadro, repetindo pela enésima vez o modelo de jornalismo dos anos 90: muita fumaça, muito tiro atingindo inocente, muita munição para vendeta política e chantagem. E todos os culpados nadando de braçada."