EUA
O Freedom Forum, fundação internacional apartidária dedicada à liberdade de imprensa, cancelou a publicação da biografia de seu fundador, o magnata da mídia e fundador do USA Today Allen Neuharth. O motivo, especula-se, é que o livro teria um capítulo sobre a filha que Neuharth teve fora do casamento.
Mike Gartner, ex-presidente da NBC News e jornalista vencedor do Pulitzer, havia sido convidado pela fundação para escrever a biografia, com a condição de trabalhar sem a interferência de Neuharth. Segundo Rosamunda Neuharth-Ozgo, que alega ser a filha ilegítima do magnata, Neuharth foi declarado seu pai em um processo de paternidade de 1964, mas jamais a assumiu e afastou-se de sua vida. Rosamunda e sua mãe foram entrevistadas por Gartner e depois informadas, por outras fontes, que Neuharth teria se encontrado em julho com o jornalista e ameaçado não cooperar com o livro se este aprofundasse o caso. Pouco tempo depois, o Freedom Forum abandonou o projeto alegando somente que seria "desconfortável" ir adiante sem a cooperação do biografado.
Para Keith J. Kelly [New York Post, 29/8/01], a acusação é um grande embaraço para a imagem do ex-presidente da Gannet Corp., reconhecido como um notável defensor dos direitos da mulher e pai adotivo de quatro filhos. Sobre o cancelamento da biografia, Rosamunda comenta: "A ironia disso tudo é que o Freedom Forum é supostamente um defensor da Primeira Emenda [que garante a liberdade de expressão]".
CANADÁ
Quando os patrões da CanWest Global Communications despediram no mês passado o colunista Lawrence Martin por ter criticado o primeiro-ministro Jean Chretien, os jornalistas estremeceram pensando quem seria o próximo.
Cada vez mais, os canadenses têm motivos para se preocupar com a falta de diversidade na mídia nacional. Segundo Randall Palmer [Reuters, 26/8/01], o cenário de equilíbrio existente entre vozes liberais e conservadoras mudou drasticamente: atualmente, os barões de mídia simpáticos aos liberais no poder predominam.
Um fator fundamental para esta transformação foi a venda, pelo magnata conservador Conrad Black, de seu império impresso no Canadá ? a cadeia de jornais Southam e o National Post ? para a CanWest, controlada pelos liberais Asper. Black, presidente da Hollinger International, pretende aliviar suas dívidas com a transação e investir no mercado americano. De acordo com Sinclair Stewart e Barbara Shecter [National Post, 25/8/01], o executivo reafirmou seu interesse em comprar jornais nos EUA, mas apontou uma falta de títulos à venda. Black reconheceu a dificuldade de conciliar sua paixão pelo setor ? freqüentemente se referia ao Post como "meu projeto" ? com as demandas do mercado financeiro.
A venda do National Post surpreendeu o mundo jornalístico. David Asper, que dirige as publicações da CanWest, ordenou em março que os jornais da Southam publicassem um editorial escrito por ele em que condenava a cobertura "injusta" dada aos controversos negócios de Chretien. "Os proprietários de jornais no Canadá e no mundo influenciam e participam do conteúdo de seu jornal. Não há nada de errado com isso, e com orgulho continuaremos esta tradição. Acostumem-se", declarou Asper.
Outro fator de mudança foi a liberação pelo governo canadense da fusão entre jornais e redes de televisão. Graças à imensa concentração de propriedades, os jornalistas têm testemunhado cortes nas equipes e a redução do número de fontes de informação independentes. "Isto significa que opiniões divergentes e dissidentes podem ser mais facilmente ignoradas ou subestimadas", disse Duff Conacher, coordenador do grupo Democracy Watch. "Que a mídia fique mais monocromática do que nunca é conveniente para os liberais", reconheceu Jeffrey Simpson, do Globe and Mail.
MERCADO
Enquanto a queda de faturamento publicitário deixa os jornais mais magros, o preço do papel de jornal ? até agora relativamente imune ao clima econômico ? deve cair, informam analistas do setor. As ações das duas maiores produtoras deste tipo de papel, a americana Bowater Inc. e a canadense Abitibi-Consolidated Inc., caíram respectivamente 10% e 11% desde maio. Bowater e Abitibi controlam juntas 36% do mercado dos EUA.
A queda da economia americana levou a um forte declínio de investimentos publicitários, o que comprometeu a receita dos jornais. O preço do papel de jornal, no entanto, permaneceu acima do nível do ano passado. "Dada a situação atual de oferta e procura, (os preços) estão muito altos neste momento", disse Rich Zannino, da Dow Jones & Co., editora do Wall Street Journal.
As duas empresas têm sido bem-sucedidas em segurar os preços diminuindo a produção, de acordo com a demanda decrescente. A Bowater planeja cortar sua produção em 80 mil toneladas métricas no terceiro trimestre e a Abitibi, a maior produtora de papel de jornal do mundo, teve aumento nos lucros do segundo trimestre ao cortar 191 mil toneladas. "Historicamente, a indústria fazia o produto, quer alguém precisasse dele ou não", diz Stephen Atkinson, analista de BMO Nesbitt Burns. "Agora elas estão atuando como o McDonald?s ? eu só faço meu hambúrguer se alguém quiser comê-lo." As informações são de Nichola Groom [Reuters, 27/8/01].