internet em crise?
"Chega de mau humor pontocom", copyright Valor Econômico, 7/02/01
"Todos os que observam o que vem acontecendo com o mundo pontocom, tanto nos Estados Unidos quanto por aqui, em terras tupiniquins, sabem que os tempos estão difíceis.
Vivemos tempos de cortes e ajustes, tempos de vacas magras no faturamento e tempos de projetos minguados. Tudo isso é verdade.
Investidores andam meio sumidos e empreendedores meio ressabiados? Também é verdade.
Verbas publicitárias de sete dígitos são coisas do passado e stock-options deixando funcionários milionários também? Sim, mais uma verdade.
O momento exige cuidado, muito trabalho e perspicácia? Sim, absolutamente.
Se, por um lado, existem dificuldades no horizonte, somar a tudo isso uma birra e um mau humor constantes, parece-me um certo exagero. E, pior, parece-me uma péssima prática.
Só enxergar nuvens negras no horizonte e pintar o quadro cada vez mais preto, penso, é coisa da turma do ‘quanto pior, melhor’ de volta à ativa.
As coisas estão difíceis, claro, mas é preciso lembrar alguns fatos importantes:
1 – Do ponto de vista dos usuários, todos os sinais são muitos positivos, ou você ouviu alguém dizendo que deixou o Internet Banking e voltou para a agência bancária para fazer seus pagamentos?
2 – Os tais milionários.com nunca existiram. Se hoje existe uma onda de sangue no ar (também falsa), na época via-se uma onda de sucesso no ar. Falsa. Quem se lembra da edição Milionários.com da Veja há uns 2 anos? O personagem da capa nunca ficou milionário nem levantou dinheiro para seu projeto, por exemplo. Mas foi capa.
3 – Montar um negócio, com ou sem ponto, sempre – SEMPRE – foi difícil, duro e arriscado. Ou não foi?
4 – Negócios são feitos para dar lucro, tanto para o empreendedor que dedicou seu tempo, energia e intelecto ao projeto, quanto para o investidor, que entrou com o dinheiro. A fórmula de abrir o capital e ficar rico foi uma ilusão passageira. Quantas empresas foram capaz disso na América Latina, por exemplo? Hum?
5 – A web apresenta desafios imensos do ponto de vista de negócios, pois tudo é gratuito e criamos uma arma que às vezes dispara em nosso próprio pé. Verdade. Por outro lado, a correção que o mercado está fazendo acabará por corrigir isso também. Conveniência sempre custou mais caro, não é? Por que na web é diferente? Penso que deixará de ser, em breve.
6 – Para surpresa de muitos, as próprias dificuldades estão criando um novo ser www: empresas que dão lucro! Isso mesmo, aposto em mais em mais empresas anunciando break-evens e depois lucros, e deixando muitos de boca aberta. Afinal, sempre pensamos que na web era só investir, investir, investir? Olhem bem à sua volta e observem empresas inteligentes se movimentando, criando essa nova onda, bem quietinhas!
Por essas e por outras é que penso que o mau humor.com é, no mínimo, um péssimo hábito.
Não sou inocente a ponto de achar que tudo são rosas e que o mundo é maravilhoso, mas, por outro lado, esse sangue todo também não dá!
Que me perdoem os pessimistas, mas chega dessa chatice! (Bob Wollheim é
presidente da Ideia.com)"
"Empresas pontocom vão anunciar menos neste ano", copyright Folha de S. Paulo, 11/02/01
"Saem as empresas virtuais, entram as reais. Os anunciantes pontocom, como os provedores de acesso à Internet, vão investir 20% menos em publicidade neste ano em relação a 2000.
Devem perder espaço na tela da TV e nos jornais para as empresas ‘de verdade’, principalmente das áreas de alimento e energia.
Companhias do setor de Internet devem investir R$ 800 milhões em mídia neste ano, sendo que em 2000 o valor atingiu R$ 1 bilhão, pelas contas da ABAP (Associação Brasileira das Agências de Publicidade).
A queda de 20% gerará uma perda de mais de três pontos percentuais na participação do segmento no bolo publicitário do país.
Com o investimento de R$ 800 milhões, o segmento terá 6,7% do total gasto por todos os anunciantes do país neste ano -valor que chegará a R$ 12 bilhões.
Em 2000, porém, o montante total foi menor (R$ 10 bilhões), mas o setor investiu R$ 1 bilhão. Ou seja, a Internet contribuiu com 10%.
O primo pobre
Se as empresas pontocom investissem menos e outros setores também puxassem o freio -por causa de um desaquecimento econômico, por exemplo- não haveria mudanças no ranking.
Todos estariam no mesmo barco. O problema é que acontece exatamente o oposto.
A economia vai bem, e há dinheiro em caixa para a velha economia aplicar em mídia.
Os grandes anunciantes do país -como Volkswagen, Telefônica e Nestlé- já estão colocando novas campanhas na rua.
Em outras palavras: o mercado cresce, mas os anunciantes virtuais não devem tirar a mão do bolso e perdem participação no mercado.
Essa perda deve acontecer para setores que nunca ou pouco anunciaram no passado.
A Bandeirante, distribuidora de energia elétrica, que ganhou no processo de privatização o direito de explorar o serviço no interior do Estado, fechou parceria com a Talent, sua agência de publicidade há um ano, ‘e deve investir bem mais em sua imagem agora para tentar se tornar uma empresa menos regional e mais nacional’, diz José Francisco Eustáchio, sócio-diretor da Talent.
Estréia na propaganda
A CSN, que nunca fez campanha para o consumidor final, veiculará até este mês propagandas sobre embalagens de aço.
Quer reforçar sua imagem no mercado e por isso aplicou R$ 4 milhões nessa propaganda.
‘Devemos continuar com uma campanha neste ano, em parceria com alguma companhia para quem fornecemos’, conta Adriana Stecca, diretora de marketing da CSN.
O grupo fornece embalagens para Nestlé, Cica, Parmalat.
A Chapecó, empresa de alimentos, estava com seu projeto de comunicação parado desde sua reestruturação no ano passado e voltará a anunciar agora.
‘Eles voltam com tudo neste ano’, afirma Luiz Lara, presidente da Lew Lara, agência dona da conta.
Esses dois exemplos retratam bem a situação atual, caracterizada pela forte entrada no mercado das campanhas de grupos de energia elétrica, saneamento e alimentos.
Esses serão os setores que darão as cartas no terreno na publicidade em 2001.
Ao lado, evidentemente, dos eternos ‘primos ricos’, que são telefonia e indústria automobilística.
‘Alimentos irá retomar o nível de investimentos dos anos 80, época dourada das empresas’, afirma Ivan Marques, gerente geral da F/ Nazca, que aposta numa taxa de crescimento de 40% em sua receita em 2001.
‘Internet perde as primeiras colocações e vai ter que conviver com o sexto ou sétimo lugar entre os maiores anunciantes do Brasil’, afirma Jens Olensen, presidente da McCain Erickson, a maior agência do país.
‘Voltamos ao mundo real e teremos um crescimento mais sustentado’, afirma Alexandre Gama, da agência Neogama.
A previsão das companhias para 2001 é bem otimista. Fala-se até em expansão na receita de 40%, no caso da F/Nazca -que faz as propagandas da Toyota e Telemar- e da Neogama, dona da conta da BCP.
Os números não são exagerados, dizem as empresas. Janeiro, por exemplo, um mês historicamente fraco para as empresas, fez com que os publicitários adiassem as férias.
‘Tivemos que colocar uma nova campanha no ar, da BCP, no dia 2 de janeiro.
Foi uma correria’, afirma Gama, da agência Neogama."
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