Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Bobos da corte

MONITOR DA IMPRENSA

TABLÓIDES

Desde a morte da princesa Diana, Sophie Wessex, mulher do príncipe Edward, tornou-se o alvo preferido dos tablóides, sempre sob negativas comparações com a realeza. Dona de uma firma de relações públicas, a condessa Wessex ? título formal que adquiriu com o casamento ? continuou tocando seus negócios depois de se unir ao quarto filho da rainha Elisabeth, em 1999, motivo de constantes críticas por parte da imprensa.

Fazendo-se passar por um executivo árabe, um repórter do barão da mídia Rupert Murdoch conseguiu uma reunião com Sophie e gravou toda a conversa. O teor da conversa virou disputa entre a imprensa e o Palácio de Buckingham.

Para impedir o News of the World de publicar os indiscretos comentários que a condessa teria feito a respeito dos integrantes da corte, o palácio propôs ao tablóide uma entrevista exclusiva, com direito a detalhes da vida conjugal com o príncipe. O resultado foi a manchete de capa do domingo, 1? de abril: "Entrevista exclusiva. Sophie: meu Edward NÃO é gay."

No entanto, Murdoch se saiu tão mal quanto a realeza. No mesmo dia, o tablóide rival Mail estampava na primeira página: "Rainha fica escandalizada com insultos de Sophie." Segundo o Washington Post (3/4/01), é evidente que o Mail encontrou algum funcionário que esteve presente na reunião, e revelou o que a condessa teria supostamente dito. A assessoria de imprensa do palácio negou as afirmações.

ELEIÇÕES AMERICANAS

Bush já é presidente, mas a mídia continua na recontagem de votos da disputada e turbulenta eleição americana do ano passado. A última organização a divulgar seus números foi o Miami Herald, no dia 3 de abril, mas os resultados a que chegou pouco alteram a dúvida de quem teria realmente vencido na Flórida, disse Jake Tapper (Salom.com, 4/4/01).

Enquanto a manchete do jornal dizia que a recontagem dava vitória a Bush, a matéria mostrava que, na verdade, dependendo do método de avaliação das cédulas e do número de municípios recontados, o resultado poderia variar entre a vitória de Bush por 1.655 votos, ou de Gore, pela pequena vantagem de 393.

No entanto, os números vindos da mídia, inclusive do New York Yimes, são legalmente insignificantes. O estado da Flórida determinou uma recontagem em cada município, e os resultados das comissões eleitorais são os únicos considerados.

Mas muitos democratas continuam a acreditar que uma análise da mídia que mostre que Gore poderia ter vencido na Flórida por 25 votos ? e portanto, a Presidência ? ainda crie nova turbulência, com a possibilidade de outra revisão oficial. Uma esperança vã, segundo Tapper, pois o grande erro do partido teria sido o de não pedir a recontagem total dos votos quando houve a possibilidade de contestar as eleições. Ingenuamente exigiram a revisão em apenas quatro municípios do estado, todos de maioria democrata. Agora, parece tarde. Quem sabe os deuses ? e não a mídia ? possam mudar alguma coisa.

RECESSÃO NOS EUA

Jornalistas americanos estão em dúvida se, enfim, foi a mídia quem causou a recessão econômica no país. Para Carl Sullivan [Editor & Publisher, 3/4/01], provavelmente não, embora haja certa culpa coletiva entre jornalistas econômicos quanto à atual situação do mercado. Cerca de 50 profissionais se reuniram num hotel de Nova York na semana retrasada para o chamado "Mídia Culpa", painel patrocinado pela Mediabistro.com e pelo Daily Deal. Depois de anos de louvor à Nova Economia, já era tempo de alguma auto-flagelação, na opinião de Sullivan.

Christopher Byron, colunista financeiro veterano que atualmente escreve para a Bloomberg, disse que a última década produziu "péssimas reportagens econômicas" que, no mínimo, aumentaram a bolha da internet. Geoff Lewis, que recentemente perdeu o emprego de editor-chefe da CNBC.com devido à redução da equipe, afirmou que esse jornalismo malfeito é resultado direto dos bons tempos, quando revistas e jornais incharam de anunciantes, e jornalistas pouco experientes foram contratados em massa para preencher os novos espaços.

A audiência no mea culpa coletivo concordou com Byron quando afirmou que a mídia alimentou, mas não criou, a expansão do fim dos anos 90. Malcolm Gladwell, redator da New Yorker, disse que essa vertigem da Nova Economia fez com que investir passasse a ser uma forma de recreação, um jogo que transforma rapidamente pessoas comuns em milionárias.

A colocação estimulou um jornalista a culpar o público pelo desastre do mercado. Outro afirmou que a culpa é de Wall Street, já que analistas e corretores de ações falaram que o melhor negócio seria investir em ações dessas novas companhias. Byron respondeu que jornalistas deveriam ser profissionais que questionam o que suas fontes dizem, não papagaios.

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