TELEJORNALISMO
Vera Silva (*)
O título Bom Dia, Brasil merece uma interrogação, pois sua edição, longe de nos desejar um bom dia, faz-nos ficar de mau humor. Digo isto a propósito do que assisti [em 14/11/01] no telejornal matinal da Rede Globo sobre o pacote regulamentador das greves no serviço público.
A notícia começou com breve introdução sobre o assunto, ressaltando-se os inconvenientes das greves para a população, uma breve fala de um representante dos grevistas, esportivamente vestido, nada "produzido", indignado com o pacotaço, e, corte para o Ministro da Educação, elegantíssimo em seu terno bem cortado, com aquele ar de bem-nascido e bem "produzido", sentado elegantemente no estúdio, sendo entrevistado por longos minutos por três jornalistas.
Os jornalistas, talvez pela hora matinal, ou pelo curto tempo para ler o pacotaço, pareciam não conhecer o conteúdo dos projetos e foram literalmente engolidos pelo ministro, que desfez todos os questionamentos e conduziu a entrevista para onde quis.
Falou da necessidade da regulamentação e não foi questionado nem pelos exageros, nem pela não oportunidade do mesmo. O argumento da necessidade foi ressaltado (o que é correto), e descartadas a oportunidade (é correto agora?) e os artifícios (é correto ignorar o STJ?) e a ação governamental (quando o patrão é o Estado, quem deve ser o conciliador?).
Outro aspecto terrível da notícia(?): o prejuízo dos estudantes e dos pobres que dependem do INSS, que o ministro esgrimiu como argumento para o pacote. Os jornalistas não se lembraram de entrevistar as representações estudantis e de usuários da previdência para conhecer as suas opiniões. Consideraram que o Ministro poderia falar por eles.
O pior dos piores, uma das jornalistas deu ao ministro a oportunidade de fazer propaganda de sua pré-candidatura à presidência da república, mesmo estando ele vestido de ministro e fora do período eleitoral. Preciso falar mais?
O que me deixa zangada de fato é que este episódio não é um fato isolado na TV. No mesmo dia, vendo aquele 2 a zero do Brasil na Venezuela, tive de ouvir o Luciano do Vale cumprimentar a "grande" governadora Roseana pelo belo espetáculo que o Maranhão oferecia ao Brasil. "O Nordeste é a bola da vez!", dizia ele. Vez de quê? De arranjar mais um fenômeno tipo Collor para o Brasil?
Já está mais do que na hora de os jornalistas da TV entenderem que, no exercício de suas locuções, as suas opiniões pessoais não podem ser expressas como se estivessem à mesa com amigos.
Não há bom dia que funcione desse jeito. Além de tudo, com o racionamento, para ver uma notícia tão mal editada, gastei as pilhas da minha mini-TV, que custam muito mais caro do que a energia elétrica privatizada.
Uma sugestão à Imprensa escrita, falada e televisionada: que tal explicar aos brasileiros os vários tribunais de que é composto o Judiciário e como funcionam? Sem isso vai ser difícil entender os argumentos contrários ao pacotaço das greves.
(*)Psicóloga