Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Boris Fausto


‘Entre os muitos produtos da crise, ganhou algum destaque a discussão sobre o papel dos intelectuais. Indo direto ao assunto, iniciemos com uma pergunta: quem são os intelectuais?


Se quisermos não propriamente uma definição, mas uma descrição aproximativa, diríamos que os intelectuais constituem um grupo social que se distingue por um nível cultural específico, mais voltado para a formulação de idéias abrangentes e pelo objetivo de definir visões do mundo. Desse modo, diferenciam-se de grupos com conhecimentos especializados de ordem prática, como economistas, advogados, ou dedicados a analisar cenários sociopolíticos de maior imediatidade -caso dos jornalistas. Ressalvemos que o recorte não exclui linhas de aproximação, nem pretende sugerir uma gradação de hierarquia entre ‘sábios pensantes’ e pessoas apenas especializadas.


Embora situados no plano das formulações mais abstratas, em países como o nosso, os intelectuais tendem também a intervir na vida política, em graus variados. Seu alvo preferencial de atenções concentra-se no poder, seja para criticá-lo, muitas vezes com virulência, seja para se agasalhar, confortavelmente, sob suas asas. Houve até um momento na história do Brasil, no período do Estado Novo (1937-1945), que, com as devidas cautelas, alguns intelectuais desempenham concomitantemente esses papéis.


O grupo intelectual, como se sabe, é essencialmente heterogêneo, ocupando diversas posições no espectro político. Nos países marcados por fortes injustiças sociais, tende a situar-se majoritariamente à esquerda, num arco histórico que vai da social-democracia ao comunismo. No Brasil e em outros países, a corrente comunista ganhou maior influência, por ter atrás de si o aparelho internacional montado pela União Soviética e por contar com um discurso como o marxismo, detentor da ‘chave da história’.


Essa opção de muitos intelectuais redundou na crença nas virtudes do partido único, portador da consciência do proletariado, capaz de realizar a tarefa revolucionária de implantação do socialismo. Redundou também na crença de que essa tarefa vinha sendo efetivada, desde 1917, na União Soviética. Mais ainda, redundou na glorificação de Stálin -guia genial dos povos- e na entronização dos líderes nacionais dos partidos comunistas, no altar-mor do stalinismo. O ícone brasileiro, quase não seria preciso dizer, foi Luiz Carlos Prestes.


O culto à personalidade do ‘Cavaleiro da Esperança’ potenciou um traço da nossa cultura, isto é, a crença no herói salvador, capaz de acabar com o sofrimento do povo, encarnando o partido, cuja linha errática estava sempre certa. Dessa e de outras distorções resultaram o abandono da tarefa da construção da cidadania e a descrença nos princípios democráticos. Por muitos anos, um grande número de intelectuais de esquerda acreditou que ‘democracia formal’ não passava de um simples instrumento, a serviço de um radioso futuro revolucionário.


O relatório Kruschev, a queda do Muro de Berlim, a transformação da China do ícone Mao Tse-tung numa versão peculiar de capitalismo autoritário e o advento do regime militar no Brasil, dolorosamente, abriram os olhos da maioria dos intelectuais de esquerda. No processo de democratização do país, nos anos 1980, um grande número desses integrou-se na construção do PT, alguns com uma perspectiva socialista democrática, outros ainda encantados com o autoritarismo revolucionário e outros ainda a partir de raízes católicas, tingidas de messianismo. Foi uma opção respeitável, por um partido que pretendia organizar a classe trabalhadora e estar à frente dos movimentos sociais.


Mas a ressalva não serve para deixar de lado a grande responsabilidade dos intelectuais de esquerda, por semear muitas ilusões e por colaborar na construção da figura carismática de Lula, em circunstâncias por certo distintas dos tempos do PCB. A trajetória social e as características pessoais do atual presidente, inusitada na história do Brasil, facilitaram essa tarefa. Engendrou-se assim, engatando com as tradições de nossa cultura política, o carisma do herói salvador, por mais que se exaltassem as virtudes da organização partidária. O irmão-gêmeo do carisma foi o desprezo pela bagagem cultural -o pão nosso de cada dia dos intelectuais!-, em nome de uma intuição rara, que fazia do líder carismático ‘o melhor dentre todos nós’. A contrapartida para quem apontasse a inadequação desse caminho ou criticasse as formulações equivocadas sobre a economia e a natureza da sociedade era a rotulação desqualificadora: elitista, preconceituoso, colonizado, neoliberal etc.


Tudo isso acabou como acabou. Hoje, há quem se agarre ao barco que navega num pântano, de quem dele saiu há bom tempo e há quem se entregue a silêncios embaraçados e até a delírios conspiratórios.


Mas essas opções pessoais importam pouco. Importa bem mais a percepção de que os intelectuais podem ter um papel relevante na sua área específica, ou seja, na ampliação de perspectivas, na análise mais abrangente de nossos problemas, na formulação de propostas. Duas condições mínimas para tanto me parecem, porém, indispensáveis: o respeito ao pluralismo democrático e a certeza de que, mesmo para avançar no campo especulativo, é preciso levar em conta o saber técnico e não se desprender da terra, embarcando no mundo dos sonhos.


Boris Fausto, historiador, é presidente do Conselho Acadêmico do Gacint (Grupo de Conjuntura Internacional) da USP. É autor de, entre outras obras, ‘A Revolução de 30’ (Cia. das Letras).’



Kennedy Alencar


‘Lula volta à TV e fala sobre crise em cadeia nacional ‘, copyright Folha de S. Paulo, 7/09/05


‘Em pronunciamento de rádio e TV hoje à noite, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebaterá a crítica da oposição de que o crescimento da economia se deve ao bom cenário internacional e voltará a abordar a crise política.


Por seis minutos, Lula dirá, por exemplo, que resultaram de ações do governo as principais descobertas sobre corrupção da crise e argumentará que fez a sua parte ao pedir investigações rápidas quando apareceram denúncias.


O presidente citará dados do relatório elaborado pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, mostrando as ações do governo em resposta às acusações de corrupção. Citará dados da Polícia Federal, da Receita Federal e da Corregedoria Geral da União. Tratará ainda do trabalho das CPIs no Congresso.


Lula dirá também que é injusto a oposição afirmar que o PIB (Produto Interno Bruto) cresce favorecido pelo cenário internacional e que o ritmo poderia ser mais forte se a política econômica fosse menos ortodoxa. Dirá que foram decisões do governo que garantiram, na sua visão, um crescimento econômico com baixa inflação.


Voltará a dizer que não permitirá que supostas ações da oposição na crise por conta das eleições de 2006 coloquem a economia em risco. E repetirá dados econômicos positivos, como o desempenho da exportações.


Correção


Faz duas semanas que Lula prepara um pronunciamento. A data de 7 de setembro foi vista como uma oportunidade para Lula ‘corrigir’, segundo suas próprias palavras, o discurso de abertura da reunião ministerial no dia 12 de agosto. Naquele dia, Lula olhava para o teto e usou um tom de voz burocrático. Agora, pretende falar de forma mais enfática, disseram auxiliares, e repetir de forma mais articulada o que tem dito em seus discursos de improviso.


Lula chegou a pedir modificações em textos preparados pela equipe do ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral). O pronunciamento ficou aos cuidados do publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, da agência Matisse. Ele fez as campanhas de Lula em 1989 e 1994, além de trabalhos de publicidade no governo.


Será o primeiro pronunciamento oficial gravado por Lula que não será feito pelo publicitário Duda Mendonça, que fez a campanha em 2002. Desde que depôs à CPI dos Correios e admitiu recebido pagamento de Marcos Valério no exterior, Duda deixou de cuidar da imagem do presidente.’



Luiz Francisco e Ranier Bragon


‘Empresário nega à Câmara ter pago propina a Severino ‘, copyright Folha de S. Paulo, 6/09/05


‘O empresário Sebastião Augusto Buani, 54, negou ontem, em depoimento que prestou na Câmara dos Deputados, que tenha pago propina ao presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), como forma de obter privilégios em um contrato de exploração de um dos restaurantes do Congresso.


‘Eu não tenho dinheiro nem para pagar minhas contas, quanto mais para pagar propina. Eu não paguei propina a ninguém’, afirmou, após o depoimento. Foi a primeira vez que Buani falou sobre propina.


Conforme a última edição das revistas ‘Veja’ e ‘Época’, Severino teria recebido uma mesada de R$ 10 mil de Buani, ao longo de 2003, para permitir que o empresários renovasse os contratos de arrendamento que mantinha com a Câmara. Buani comanda a rede de restaurantes Fiorela -um deles fica localizado no 10º andar da Casa.


Apesar de negar a existência de propina, Buani e seu advogado, Sebastião Coelho da Silva, foram evasivos em várias respostas e deixaram no ar a possibilidade de comprovação de parte das denúncias.


‘Algum fato ou outro pode ser procedente’, disse o advogado. ‘Vou dar meu depoimento completo, tudo o que tiver de dizer, à Polícia Federal’, afirmou Buani. A pedido de Severino, a PF abriu inquérito para investigar o caso.


Documento


No depoimento de ontem, Buani não negou possuir um documento assinado por Severino concedendo a ele prorrogação do contrato de arrendamento do restaurante do 10º -pelo qual paga R$ 11.580 ao mês- por cinco anos. O documento não consta dos arquivos da Câmara e seria, de acordo com as denúncias publicadas nas revistas, uma das evidências do suposto favorecimento a Buani em troca do pagamento de propina.


‘No momento próprio, vai ser apresentado o que eu tiver’, se limitou a dizer o empresário.


Severino é suspeito de ter cobrado de Buani o ‘mensalinho’ quando era primeiro secretário da Casa. Além disso, teria recebido, juntamente com o deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE), ainda de acordo com as denúncias das revistas, propina de R$ 40 mil do empresário em 2002 também para ajudá-lo a manter o contrato do restaurante. Patriota seria o homem de contato entre Severino e Buani.


Severino nega todas as acusações e diz que foi vítima de uma tentativa de extorsão por parte do empresário. Ontem, a oposição pediu formalmente o seu afastamento até que sejam concluídas as investigações.


Buani prestou depoimento por cerca de três horas a uma comissão de sindicância da Diretoria Geral da Câmara, formada por três assessores jurídicos.


No depoimento, distribuído aos jornalistas, o empresário responsabiliza indiretamente pelas denúncias o ex-funcionário Izeilton Carvalho, que era até a quinta-feira o gerente-executivo do seu restaurante na Câmara. Segundo funcionários, Carvalho saiu do emprego porque teria uma oferta de emprego em Rio Verde (GO).


‘Tomei conhecimento pela imprensa de que quem fez a denúncia teria feito em troca de vantagens financeiras’, afirmou Buani. De acordo com a ‘Época’, Carvalho elaborou um dossiê com as acusações e tentou vendê-lo à revista, que não aceitou.


Buani também negou à comissão de sindicância ter conhecimento do dossiê em que as acusações contra Severino são relatadas -supostamente feito com base em anotações sobre a propina feitas pelo próprio empresário. ‘Raramente anotava as ocorrências havidas com empregados ou de qualquer ordem no curso da execução do contrato com a Câmara. As anotações se restringiam àquelas relativas a movimentação financeira, controle de cheques e eventos’, disse.


O advogado do empresário, entretanto, disse, após o depoimento, que Carvalho era funcionário de confiança e, como tal, pode ter usado ‘um ou outro manuscrito’ de Buani para elaborar o relato. ‘Ele [Buani] fez as anotações rotineiras de trabalho, mas não fez nenhum dossiê’, afirmou.


Fim do contrato


Durante o depoimento, o empresário recebeu uma notificação da diretoria da Câmara informando a intenção de rompimento unilateral do contrato de exploração do restaurante, que vence no dia 14.


Buani diz dever à Câmara R$ 105 mil, mas afirma possuir um crédito de aproximadamente R$ 30 mil por eventos que teria realizado. Ele tem cinco dias para contestar a intenção da Câmara.’



Ranier Bragon


‘Documento apócrifo detalha pagamento ‘, copyright Folha de S. Paulo, 6/09/05


‘A Folha teve acesso à cópia do documento intitulado ‘A História de um Mensalinho’, cuja autoria é negada pelo empresário Sebastião Augusto Buani. O documento tem duas páginas e diz que Severino Cavalcanti teria recebido 13 pacotes de dinheiro em 2003, o que totalizaria R$ 84 mil, e que ligava de ‘seis a dez vezes ao dia’ para cobrar do empresário a propina de R$ 10 mil mensais.


O texto está escrito na primeira pessoa e seria um suposto desabafo de Buani. O empresário disse ontem desconhecer a existência do relato, que atribui ao seu ex-gerente-executivo Izeilton Carvalho. A Folha não localizou Carvalho para confirmar se foi ele quem produziu o documento. Segundo a revista ‘Época’, Carvalho tentou vender o dossiê com as informações contra Severino, mas a revista não aceitou.


Segundo o dossiê, outro suposto documento, o que teria sido assinado por Severino concedendo uma prorrogação ilegal do contrato dos restaurantes e lanchonetes de Buani na Câmara, teria sido redigido pelo deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE), aliado de Severino. ‘Tudo começou no ano de 2002 quando solicitei à Primeira Secretaria [então comandada por Severino] a nossa programação de contrato de concessão’, diz o texto. A intenção seria continuar explorando por mais três anos os três restaurantes, inclusive o do 10º andar, o Fiorela, e seis lanchonetes que Buani administrava.


‘Não conseguimos, foi então que ao comentar [com] o Gonzaga Patriota, ouvimos dele a promessa em [sic] nos ajudar’, continua o texto. O relato diz que, dias depois, Buani foi chamado ao gabinete de Severino, que o recebeu ao lado de Patriota. ‘Gonzaga Patriota falou: ‘Temos uma saída’. E foi para o computador e digitou um termo que dizia, de acordo com ao [sic] pagamento tal, artigo tal, autorizo tal prorrogação até janeiro de 2005’. Segundo o texto, Severino ‘prontamente assinou’ o papel redigido por Patriota.


Uma eventual renovação até 2005 da concessão de todos os restaurantes da Câmara comprovaria o beneficiamento de Severino a Buani. Os órgãos técnicos da Câmara orientavam por uma renovação anual. Buani não negou nem confirmou a existência do documento no depoimento que prestou ontem.


Severino admite que pode ter assinado sem saber do conteúdo. Patriota nega ter patrocinado os encontros e diz ser ‘fantasiosa’ a versão: ‘Fiquei atônito. Nunca aconteceu isso. Sou um homem sério, tenho cinco mandatos’.


Ainda no suposto encontro teria havido o primeiro pedido de propina. ‘Estamos em ano de campanha, estamos no maior sufoco e precisamos de ajuda’, teriam dito os dois deputados, segundo o texto. ‘Acabei cedendo, pois não via outra alternativa. Com muita luta consegui reduzir o valor pedido, acertando em R$ 40 mil.’ O dinheiro teria sido entregue aos dois numa agência do Bradesco.


Já em 2003, quando solicitava reajuste nos preços de suas lanchonetes, Buani teria sido achacado em R$ 10 mil mensais: ‘Era cobrado quase que diariamente pelo próprio Severino’. A propina seria entregue a duas funcionárias de Severino, ‘Gabriela’ e ‘Rucélia’. Severino teria pego o dinheiro pessoalmente em duas ocasiões. Um cheque de Buani teria sido descontado por um motorista de Severino para pagar uma fatura de seu cartão de crédito.


A história tem dois pontos nebulosos: 1) na maior parte de 2003 Severino foi segundo secretário da Câmara, posto que não tem ingerência sobre os contratos administrativos; 2) 2003 foi o ano da edição do Ato da Mesa 18, que determinou o fim do monopólio na exploração dos restaurantes e lanchonetes da Câmara. Não há registro de oposição de Severino.’



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‘‘Veja’ diz não ter pago para obter relato de propina’, copyright Folha de S. Paulo, 6/09/05


‘Procurada ontem pela Folha, a revista ‘Veja’ confirmou o teor da reportagem a respeito da propina que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, teria recebido do empresário Sebastião Buani, e descartou que tenha obtido qualquer informação em troca de pagamento.


Segundo o redator-chefe da ‘Veja’, Mario Sabino, ‘a revista não construiu sua reportagem comprando informação, coisa que jamais fez.’ ‘Temos documentos que comprovam o achaque do Severino e iremos publicá-los em nossa próxima edição’, afirmou Sabino.


Sem citar a ‘Veja’, as revistas ‘Época’ e ‘IstoÉ’ afirmaram neste fim de semana terem sido procuradas por supostos interlocutores de Buani que estariam dispostos a vender informações sobre o ‘mensalinho’ pago pelo empresário a Severino.’



Daniel Castro


‘MTV chama ‘panelaço’ contra corrupção ‘, copyright Folha de S. Paulo, 7/09/05


‘Emissora do Grupo Abril voltada para o público jovem, a MTV vai incentivar hoje, feriado cívico, um ‘panelaço’ contra a corrupção. A emissora interromperá sua programação às 16h55 e, durante dez minutos, exibirá na tela uma tarja com os dizeres ‘Desligue a TV e vá bater panela’. Ao fundo, apenas o barulho de panelas.


A MTV apresenta desde ontem chamadas convocando sua audiência para o ‘panelaço’. Zico Goes, diretor de programação, diz que soube do protesto pela internet e resolveu adotá-lo, adaptando-o à campanha que exibe desde o ano passado, incentivando a leitura _diariamente, entre 14h30 e 16h, uma vinheta de cinco minutos diz: ‘Desligue a TV e vá ler um livro’. É a primeira vez que a MTV se manifesta sobre a crise.


Além disso, a MTV apresenta desde ontem à tarde uma vinheta que funciona como um editorial (opinião da emissora). Durante 45 segundos, a VJ Marina Person lê um ‘texto-desabafo’ em que mostra indignação diante do escândalo do ‘mensalão’. O texto fala em ‘moralistas que estão bancando picaretas e picaretas que estão bancando moralistas’.


‘A coisa não é contra o PT nem contra o governo, é contra a classe política. Isso aí já existe há tempos. É uma campanha de conscientização. A mensagem é para se ligar nessa confusão porque no ano que vem tem eleições. Nossa postura é sempre dizer para [o jovem] ficar atento’, afirma Goes.


OUTRO CANAL


Banquinho A Band ainda não assume, mas Raul Gil já é dela. O contrato foi assinado na semana passada. A emissora ainda não divulga porque o apresentador tem contrato com a Record até 31 de outubro. Na Band, ele deverá ter um programa aos domingos.


Caravana Anteontem, na gravação do ‘Programa Raul Gil’ do próximo sábado, cerca de 20 mulheres que estavam na platéia do teatro da Record exibiam camisetas e uma faixa com a frase ‘Fica, Raul Gil’. A dúvida é se a Record colocará isso no ar.


Coffee-shop Manoel Carlos (autor) e Jayme Monjardim (diretor) jantaram anteontem no Rio com Ana Paula Arósio. No ‘menu’, o personagem (central) que a atriz desempenhará em ‘Páginas da Vida’, novela das oito da Globo que substituirá ‘Belíssima’, em 2006. Em outubro, Monjardim e Manoel Carlos devem viajar para Amsterdã em busca de locações internacionais.


Ovação José Hamilton Ribeiro, repórter que cobriu a Guerra do Vietnã, deu uma palestra ontem de manhã para 30 jornalistas de todo o país que freqüentam curso de especialização em telejornalismo promovido pela USP (Universidade de São Paulo) e pela TV Globo. No final, a organização do curso mostrou um vídeo com momentos marcantes da carreira de Ribeiro, que foi aplaudido, de pé, durante mais de cinco minutos.’



O Estado de S. Paulo


‘Severino, como era de se esperar ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 6/09/05


‘A eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara dos Deputados significou um verdadeiro marco. Marco da insensibilidade e da incompetência articulatória tanto do governo Lula quanto do PT. Participando da disputa dois candidatos petistas, um aceito apenas pela ala majoritária do partido – mas indigesto para a grande maioria dos deputados federais – e outro repudiado pelo Planalto (ao qual fora fiel) por motivos não muito claros, venceu o chamado ‘rei do baixo clero’ – graças aos ‘votos no Cacareco’ dos que não aceitaram a imposição do candidato petista. Já bem conhecido por suas posições despudoradamente fisiológicas, por seu exacerbado corporativismo – que sempre o levou a defender aumentos de ganho e de vantagens para sua ‘classe’ parlamentar – e sobretudo por seu primarismo, Severino Cavalcanti, guindado ao comando de uma das Casas do Legislativo, constituiu, por si, uma aberração. E de lá para cá ele apenas confirmou a ausência de qualificações intelectuais e éticas para permanecer em tão importante função pública.


Se Severino representa algum grupo político – e mais certo seria dizer que não representa nenhum -, este seria, exclusivamente, o próprio ‘baixo clero’. E esse agrupamento, felizmente não majoritário na Câmara, não é assim chamado por formar um bloco de tímidos e modestos – e muitos deles nem o são -, mas sim por caracterizar certas carreiras políticas regionais, mais interessadas em obter prebendas, cargos públicos para parentes e amigos, além de vantagens pessoais. E claro está que tais motivações se situam bem distantes do que possa ser considerado interesse público. Se o ‘baixo clero’ é formado por políticos pouco notórios, Severino Cavalcanti adquiriu notoriedade justamente por sintetizar suas características na participação continuada que tem tido na Mesa da Câmara.


Depois de ter proferido muitas inconveniências – para dizer o menos – como presidente da Câmara, o deputado Severino chegou ao auge da quebra de decoro ao pleitear ‘pena branda’ para os parlamentares que praticaram crimes como a oferta, distribuição ou recebimento de ‘mensalão’, o uso de caixa 2 em campanhas eleitorais e delitos correlatos. Neste sentido a reação do deputado Fernando Gabeira, em uma das cenas mais agressivas já vistas no Parlamento nos últimos tempos, significou um verdadeiro desabafo de uma grande maioria de parlamentares, que vê na figura do deputado Severino um fator de permanente desmoralização da Casa. Por tudo isso nem teria sido necessário o novo escândalo do ‘mensalinho’, para que deputados de vários partidos se mobilizassem, com o objetivo de destituir o presidente da Câmara.


É pesada e exige investigação a acusação do empresário Sebastião Augusto Buani, proprietário do restaurante Fiorella, instalado no 10º andar do prédio anexo à Câmara dos Deputados. Segundo o empresário – que ontem, em depoimento à Comissão de Sindicância da Câmara, negou o que dissera à revista Veja -, o deputado Severino Cavalcanti, na condição de primeiro-secretário da Mesa Diretora, teria cobrado propina (um ‘mensalinho’ de R$ 10 mil) de março a novembro de 2003, para que seu restaurante continuasse funcionando naquele local, depois de vencido o respectivo contrato de locação. Além de ter anotado em pormenores os pagamentos, o empresário mostrou um documento, obviamente sem valor jurídico, em que Severino ‘prorrogava’ aquela locação, desconsiderando a exigência legal de licitação. Se comprovado, além de quebra de decoro o caso poderia implicar concussão – a extorsão praticada por servidor público.


Por iniciativa de um grupo de partidos – PFL, PSDB, PPS e PV, além da ala esquerda do PT – que deve ser engrossado por outros e por importantes lideranças da Casa, haverá a tentativa inicial de convencer Severino Cavalcanti a se licenciar do cargo de presidente da Câmara, até que sejam apuradas as graves denúncias que lhe são imputadas. Caso ele não concorde com esse afastamento – e já é conhecida sua teimosia -, o grupo tentará obter o apoio de todas as bancadas partidárias nesse pedido de afastamento. Também não funcionando essa solicitação reforçada, os partidos que apóiam a destituição de Severino entrarão com uma representação contra o deputado, no Conselho de Ética da Câmara, por quebra de decoro. De qualquer forma, ‘mensalinho’ à parte, esta é uma oportunidade de se agir em benefício da boa imagem da Câmara dos Deputados e dos Poderes de Estado do Brasil, por extensão.’



DECORO & IMPRENSA


Carlos Heitor Cony


‘Trajes menores ‘, copyright Folha de S. Paulo, 7/09/05


‘Na primeira legislatura do Congresso Nacional após a ditadura do Estado Novo, o primeiro deputado cassado por falta de decoro parlamentar foi Barreto Pinto. Não tenho certeza se havia ‘mensalão’ naquela época, talvez houvesse, mas sem dar tanto na vista. O que deu na vista é que o deputado, que vivia com uma milionária num palacete na avenida Oswaldo Cruz, foi fotografado de cueca.


Não consta que houvesse dinheiro na jogada. Uma cueca é uma cueca, serve para outra coisa, embora possa servir para guardar dinheiro.


A história é conhecida, pelo menos o foi na época. Figura extravagante, Barreto Pinto gabava-se de viver como milionário, conquistara uma famosa cantora lírica, dona do palácio Martinelli. Plebeu de origem, gostava de aparecer como um ‘grand seigneur’. O fotógrafo Jean Manzon, de ‘O Cruzeiro’, foi fazer uma entrevista com o deputado. Pediu uma foto em que ele, de casaca, estivesse bebendo champanha, no esplendor de seus domínios.


Combinaram que Barreto Pinto vestiria apenas a casaca, a camisa e a gravata, a foto seria tirada da cintura para cima -com a boa vida que levava, o deputado havia engordado e seria difícil espremê-lo dentro da calça adequada. A revista publicou a foto inteira, a casaca, a cueca e, dentro delas, o deputado.


A sociedade (a mesma que hoje está estupefata com outra cueca) ficou pasma, digo mais, ficou repugnada diante de um representante do povo que se apresentava à face da nação em trajes menores (naquele tempo, cueca era palavra que não se publicava na imprensa, o politicamente correto adotado pelos jornais era a expressão ‘trajes menores’).


Não sei por que estou falando em cueca no dia de hoje, em que a pátria comemora o 183º aniversário de sua independência. Os primeiros portugueses que aqui chegaram estranharam as ‘vergonhas’ dos nossos índios. Melhoramos muito com nossos trajes menores.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘De morte! ‘, copyright Folha de S. Paulo, 7/09/05


‘A ‘prova’ foi recebida com cautela nos sites, canais de notícias, depois os telejornais. Para o ‘Jornal Nacional’, ‘pode ser a prova’.


Era a manchete no site da ‘Veja’, em pleno fim de tarde de terça, ‘Documento ilegal prova benefício a empresário’, mais a foto de Severino.


A cautela contrastou com o descontrole dos blogs, que saíram proclamando a queda. Claudio Weber Abramo foi o mais contido:


– Taí. Severino de fato prorrogou indevidamente o contrato de concessão.


Cesar Maia partiu logo para as exclamações:


– Veja Online ataca Severino! De morte!


Jorge Bastos Moreno:


– Acabou-se o que era doce.


E Ricardo Noblat:


– Severino está ferrado.


Desde a manhã os blogueiros vinham em suspense, esperando ‘a qualquer momento’ a prova que deixaria Severino no ‘beco sem saída’.


Para registro, Severino ganhou seu quinhão de defensores, alguns inusitados.


O amigo Ciro Nogueira falou desde a manhã para Band, Band News, rádio Bandeirantes, os telejornais todos.


Mais curioso foi ler, no site da Agência Estado, antes de aparecer a prova, que Aécio Neves se declarou ‘contra o afastamento de Severino’. Naquele momento, a manchete no site do PSDB dizia que ‘o pepista deveria se afastar do cargo’.


Na escalada do ‘JN’, PSDB, PFL e simpatizantes foram um passo adiante:


– Oposição se organiza para pedir a cassação.


Já na primeira manchete do ‘SBT Brasil’:


– A importância do caso Severino vai além do personagem. Trata-se da disputa política pela terceira cadeira na linha da Presidência da República, o que explica muita coisa.


É o que os blogs do Globo Online vêm dizendo desde anteontem:


– A nova eleição na Câmara seria um espetáculo dramático. A oposição radicalizaria ao máximo para botar um dos seus -que, uma vez eleito, daria seguimento a um pedido de impeachment contra o presidente da República.


Na Agência Nordeste, o pefelista ACM Neto respondia que é ‘piada de mau gosto a hipótese de que a oposição’ busca, ao tirar Severino, ‘abrir caminho ao impeachment’.


Mas Roberto Freire nem esconde. Disse à CBN que ‘o processo de impeachment de Lula só não foi deflagrado até o momento por falta de mobilização da sociedade’.


Que prossegue, pelo que se viu ontem em São Paulo. Os números eram os mais variados, ainda que quase sempre ‘segundo a Polícia Militar’.


Na Folha Online, ‘cerca de mil’. No Globo Online, ‘cerca de dois mil’. No site da Agência Estado, ‘cerca de seis mil’. Na rádio Jovem Pan, ‘cerca de dois a três mil’. Na CBN, ‘três mil’. No ‘Jornal da Record’, ‘cinco mil’. No ‘JN’ e ‘Jornal da Band’, ‘três mil’.


O Blog do Cesar Maia ironizou, afirmando que a meta era ‘para levar 30 mil no mínimo’ mas o que apareceu foi ‘pífio’. O título da nota:


– Aqui entre nós: o ato fracassou!


NO AR


Roberto Jefferson, em comercial, diz estar ‘sujeito até à cassação, mas de cabeça erguida’: – Desmontei o maior esquema de corrupção da história do Brasil. Mostrei ao Brasil, mostrei a sua gente o que é o governo do presidente Lula.


OTIMISMO E MEDO


William Bonner e Boris Casoy só destacaram, nas manchetes de Globo e Record, que aumentou ‘a estimativa de crescimento para este ano’. Na escalada do SBT, Ana Paula Padrão fez o contraste:


– Otimismo: previsões indicam que a economia deve crescer mais do que se esperava. Pessimismo: Brasília reforça a segurança do Sete de Setembro com medo de manifestações.


É o Grito dos Excluídos que faz a capital cercar seus prédios. Vai ecoar de Aparecida do Norte a São Paulo e Brasília e questionar precisamente a economia. Com os sem-terra na dianteira, quer um ‘novo modelo econômico’, segundo a manchete do site Carta Maior, próximo dos movimentos sociais.


Mas Lula insiste. ‘Convocou rede’, destacou a Record, e vai celebrar o crescimento.’