DUPLA RECAÍDA
Alberto Dines
O grupo Bolha volta a atacar: O Globo ? Folha de S.Paulo estão anunciando nova promoção, colecionável: uma biblioteca com 30 romances, "marcos da literatura contemporânea". O primeiro volume será oferecido de graça aos leitores, os demais vendidos a R$ 11,50.
Como chamariz, irresistível, o Lolita, de Vladimir Nabokov, que não chega a ser considerado um "marco" literário mas é certamente uma oportunidade para levar a audiência aos píncaros, sobretudo porque será gratuito.
Taradinhos e taradões despenderão apenas os R$ 3,50 do preço de capa dos jornais em troca de alguns momentos indizíveis, mas ninguém garante que nos domingos seguintes estarão dispostos a investir na biblioteca. Não importa, os parceiros querem badalar o feito de vender juntos um milhão de lolitas. Jornalismo de qualidade é isso: jornais no lixo e a inesquecível mulher-criança na mesa de cabeceira.
Qual a vantagem do investimento? Levar as tiragens novamente acima do meio milhão de exemplares? No primeiro domingo chegam lá, é capaz de faltar jornal na banca. Depois é que são elas.
Os anunciantes não estão atrás de circulação, estão atrás de recursos para garantir sua sobrevivência. Em São Paulo, os maiores anunciantes estão no ramo imobiliário e os lançamentos que justificam anúncios de página inteira ou de duplas dirigem-se à classe média ou média-alta que não deixou de comprar jornais. Supermercados e lojas de eletrodomésticos sabem que os consumidores só voltarão quando a situação econômica desapertar.
Dinheiro jogado pela janela numa hora em que as empresas jornalísticas contam os tostões e demitem seus melhores quadros.
A promoção-bomba dos velhos-novos parceiros coincide com outra degola na redação de Valor Econômico, o carro-chefe do grupo Bolha.