ARMAZÉM LITERÁRIO
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ENTREVISTA
Entrevista de Fernando Correia da Silva a Luiz Egypto
Tudo está a acontecer. Em outubro de 1998, o jornalista português Fernando Correia da Silva reuniu um grupo de escritores e jornalistas para constituir o website Vidas Lusófonas <http://www.vidaslusofonas.pt>, cujo objetivo é funcionar com "ancoradouro" de "um sem-fim de vidas lusófonas que marcaram uma atividade, um país, uma época".
De lá para cá, o sítio acumulou 52 histórias de personagens lusófonos e tem engatilhadas mais 4, em fase final de produção. Dezenas de outras, não necessariamente de personalidades identificadas diretamente com a lusofonia, estão reunidas na rubrica "Varanda" ? a qual lança um olhar "sobre o tempo e o vasto mundo".
Correia da Silva concedeu ao Observatório, por e-mail, a entrevista a seguir. Na seqüência, vêm reproduzidos as "Normas Estilísticas" do sítio e, a este propósito, a carta do administrador do website a um leitor brasileiro (publicada no OI em novembro de 1999).
Como nasceu Vidas Lusófonas, quando e por quê?
Fernando Correia da Silva ? Em 1997 concebi, fiz a proposta e coordenei para o jornal diário Público a obra em fascículos semanais intitulada "80 vidas que a morte não apaga". A obra fez sucesso, incentivou as vendas do Público aos domingos. Este foi o ponto de partida para congeminar Vidas Lusófonas e em outubro de 98 o site foi para a internet. Também fez e faz sucesso: desde a sua instalação até dezembro de 2000 já alcançou mais de 201 mil visitas.
Qual o critério para escolha dos "moradores" do sítio?
F. C. S. ? Figuras que marcaram um país, uma época, uma atividade.
Sobre os textos que publica, o que dizer da manutenção da ação no presente e não no passado, como se esperaria de "vidas passadas"?
F. C. S. ? Para sacudir o pó e o bolor que deixamos acumular sobre o Passado, nada melhor do que transferir a ação para o presente. Tudo fica mais envolvente porque tudo está a acontecer, cada vida / cada conto.
As "Normas Estilísticas" do Vidas Lusófonas recomendam textos concisos. A concisão é uma arte?
F. C. S. ? A concisão é a arma que nos defende do barroco tardio, esse blá-blá-blá que atrapalha a nossa caminhada pela vida.
Fale sobre seus livros.
F. C. S. ? Tenho quatro romances editados. A cor dos homens, se uma peste transformasse pretos e brancos em homens lilases, o que seria do racismo? Mata-cães, o herói pícaro a desembarcar em pleno abril de 74. Querença, o contador de histórias e estas a reinventarem a sua vida, despojamento. Lianor, como fugir ou enfrentar o Mostrengo renascido, se o Labirinto já coincide com toda a geografia do planeta? E um romance na gaveta, Maresia: se a espécie humana fosse sujeita a períodos anuais de cio, o que aconteceria às relações entre homens e mulheres? António José Saraiva, o grande historiador da Literatura Portuguesa, pouco antes de morrer disse-me: "Fernando, a sua prosa não é rotulável. E os críticos portugueses, por comodismo, do que mais gostam é de rótulos".
Que lembranças guarda do tempo que você viveu no Brasil?
F. C. S. ? O que mais me seduziu no Brasil foi a florescência tropical da língua portugando quando, na proa da Europa, os acadêmicos tentavam reduzi-la a galego do sul. Fascinou-me ainda a capacidade que o brasileiro tem de, com uma piada, tentar exorcizar a má sorte.
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