Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Cala a boca já morreu

DOMINGO ILEGAL

Sílvia Sibalde (*)

A falsa reportagem veiculada pelo programa Domingo Legal, de Gugu Liberato, no dia 7, em que supostos integrantes da facção criminosa PCC ameaçavam apresentadores de TV, políticos e o padre Marcelo, é a prova cabal de que precisamos urgentemente de uma reformulação da lei que rege os meios eletrônicos no Brasil.

Ao contrário do setor das comunicações, que sofreu profundas transformações, o código que o regulamenta data de 1962. Resultado de nosso atraso e reflexo da política de coronelato ainda vigente no país, criou-se aqui uma cultura de que os concessionários de canais de rádio e televisão são donos do meio que receberam para prestação de serviços.

De braços cruzados

Bem como a falta de debate público para concessão e renovação do uso desse serviço, não há também uma fiscalização séria por parte do Ministério Público quanto à qualidade dos programas veiculados pelos concessionários. O que se vê, então, é a barbárie espetacularizada nas telas de TV. A exploração da tragédia, a humilhação e a ridicularização são justificadas pela disputa dos índices de audiência.

Por se tratar, portanto, de uma concessão pública, o proprietário da liberdade de imprensa nada mais é do que o povo. Sendo assim, deveria se exigido que a sociedade criasse meios pelos quais pudesse se expressar e vigiar a liberdade de empresa para garantir a liberdade de imprensa. Não pela ótica das empresas, mas da própria sociedade civil.

Como se não bastasse a mentira, apresentadores de TV ameaçados de morte na "entrevista" incorporam o papel de vítima. Esbravejam e clamam por justiça em seus programas, esquecendo-se de que o produto que oferecem diariamente ao público não tem a qualidade pela qual tantos clamam.

A sociedade é a única vítima nessa história toda, e não pode nem deve ficar de braços cruzados diante do desrespeito a seus direitos. Ficar quieto é abdicar da própria cidadania.

(*) Estudante de Jornalismo