Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Camilo Vannuchi, Eliane Lobato e Rita Moraes

TV & INFÂNCIA

“Descontrole remoto”, copyright IstoÉ, 23/04/03

“Nas últimas semanas, imagens vindas do Iraque revelaram às crianças o que é um conflito de verdade. Na quinta-feira 10, a rede Record mostrou às seis horas da tarde cenas chocantes de um policial prestes a se suicidar em frente ao palácio do governo de São Paulo. O noticiário televisivo é recheado de casos de violência, como os frequentes ataques de narcotraficantes no Rio de Janeiro. As inserções e chamadas para fatos como esses pipocam o dia inteiro na tevê, mesmo durante a programação infantil. Nesta enxurrada de violência que invade a sala pela telinha, nem mesmo desenhos e filmes passam ilesos a um exame atento. Muitos deixam os pais de cabelo em pé, preocupados com o estrago que podem fazer nos filhos. Até por isso, o prefeito César Maia, do Rio, resolveu colocar de castigo o pequeno Shin Chan, menino endiabrado de apenas cinco anos que dá nome ao desenho exibido pela Fox Kids. Em fevereiro, baixou um decreto sugerindo que as emissoras evitassem o programa. Na opinião de César Maia, avô de quatro crianças com menos de oito anos, o pestinha – que mostra o traseiro quando contrariado – é um péssimo exemplo para a garotada que fica acordada até as 22h para se divertir com suas atitudes politicamente incorretas. E, segundo pesquisa divulgada recentemente nos Estados Unidos, há, sim, razão para se preocupar.

O estudo, realizado pela Universidade de Michigan, comparou a violência vista pelos pequenos na tevê com a praticada por eles na vida adulta. Entre 1977 e 1979, foram feitas 557 entrevistas com crianças entre seis e dez anos. O objetivo era saber quais os programas preferidos e com que frequência assistiam. Quinze anos depois, os pesquisadores voltaram a 329 delas e, comparando as informações prévias com uma análise de seu comportamento naquele momento, concluíram que meninos e meninas que tiveram maior exposição a cenas de violência tornaram-se mais agressivos. Na época, entre os programas violentos estavam Cyborg, o homem de seis milhões de dólares e Mulher Biônica. O desenho Papa-Léguas era ícone da garotada e os seriados Dirty Harry e Justiça em dobro despertavam o mesmo interesse das novelas de hoje. Para o professor L. Rowell Huesmann, co-autor do estudo, tais programas passam a mensagem de que atos violentos são justificáveis e até apropriados em certas situações. É isso o que acontece quando um herói é recompensado ao vencer o bandido com tiros, socos e pontapés.

Efeitos – Comparados à programação atual da tevê brasileira, os filmes e desenhos dos anos 70 parecem tão inocentes quanto os livros de Monteiro Lobato. Que efeitos provocarão, então, os trejeitos que acompanham músicas como a Eguinha Pocotó, o mau gosto das pegadinhas que povoam as tardes de domingo e a pancadaria dos desenhos de luta japoneses? Some-se ainda o fato de, hoje, os heróis infantis terem quase sempre suas imagens ligadas a dezenas de produtos. Segundo Márcia Giuzi Mareuse, psicóloga do Laboratório de Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação (Lapic), da Universidade de São Paulo, isso intensifica a influência sobre a criança. ?Ela não está envolvida com a história apenas enquanto assiste ao desenho. Os personagens estão nos cadernos e nas mochilas. Seu universo, às vezes violento, invade o dia-a-dia da criança?, diz.

Para proteger os filhos da avalanche de violência, erotismo, consumismo e mediocridade, a saída é formar telespectadores críticos. Segundo especialistas, nada mais eficiente do que diálogo e negociação. ?Personagens são amigos imaginários. A tevê é um outro espaço de relações e de brincadeira para a criança. Os pais têm que explicar por que acham determinada programação inadequada. Proibir torna o programa ainda mais atraente?, afirma Márcia. É o que faz a jornalista Ivany Turíbio, 39 anos, de São Paulo, com a filha Catarina, sete. A menina poucas vezes assiste a desenhos com temas agressivos, até porque não é estimulada para isso. ?Procuro mostrar vários programas alternativos àqueles violentos?, conta Ivany. Mas, quando Catarina insiste em ver algum, a mãe senta ao lado dela e explica por que determinados comportamentos do personagem são inadequados. A tática parece funcionar. ?Catarina em geral prefere assistir a desenhos mais tranquilos, como As trigêmeas. E ela tem hora para ligar a tevê. Assim, não vê programas pouco adequados para a sua idade e tem tempo para outras atividades, como ler histórias e pintar?, diz a mãe.

Horários – Segundo indicação do Ministério da Justiça, a programação é livre até as 20h. Das 20h às 21h, deve ser indicada para maiores de 12 anos; das 21h às 22h horas, para maiores de 14; das 22h às 23h, para maiores de 16. Só quem é maior de 18 deve continuar em frente à tevê após as 23h. Não é o que acontece em muitos lares. Uma pesquisa realizada pelo Ibope na Grande São Paulo mostra como é inócuo o estabelecimento de horários impróprios. Entre os dia 1? e 20 de fevereiro, o instituto registrou que o programa erótico Noite afora (Rede Tevê!) foi assistido por 6.490 crianças entre quatro e 11 anos e o Eu vi na TV, da mesma emissora, que é recheado de pegadinhas, foi visto por quase 50 mil telespectadores na mesma faixa etária.

A curiosidade por assuntos como sexo, paixão, violência e morte fazem parte da natureza humana. O problema é como são tratados. ?Esses impulsos são latentes entre nós. Os programas mexem com isso, mas não o fazem de forma construtiva, com contexto e discussão?, explica a psicanalista infantil Ana Olmos. Membro da organização não-governamental TVer (www.tver.org.br) – um observatório da qualidade da programação -, Ana propõe a ampliação da responsabilidade para além do núcleo familiar. Afinal, controlar o que os filhos assistem na tevê não é tarefa fácil, principalmente quando não há opções interessantes. ?Queremos sensibilizar os executivos. Será que eles indicariam a própria programação para seus filhos??, indaga ela.

Não é apenas a violência praticada por seres reais que traz influências negativas. As falas e os gestos agressivos executados por seres fantásticos também contagiam o público mirim. Toda vez que uma batalha é travada em Yu-Gi-Oh, é difícil manter Giovanni Marques Vieira, sete anos, sentado no sofá. Inspirado nos card-games – baralhos que exibem monstros com diferentes poderes -, o desenho narra as aventuras do garoto Yugi, que se torna o mais experiente jogador de Duelo de Monstros. Cada vez que ele e o adversário lançam suas cartas sobre a mesa, as respectivas criaturas ganham vida e se aniquilam na tela da tevê. ?Às vezes, vou à casa do vizinho jogar Duelo de Monstros. A gente mesmo desenha as cartas?, conta ele. Sua mãe, a costureira Maria de Lurdes Barbosa, 42 anos, percebe alterações no comportamento do garoto. ?Giovanni passa o dia no sofá, do desenho para o videogame, do videogame para a novela, e fica muito agitado?, conta ela. ?Falo para ele não repetir as coisas que escuta nos programas. Mas, se não deixo a tevê ligada, não consigo trabalhar?, confessa.

Valores – Na casa de Giovanni, os irmãos Samuel, Sarah e Mateus engrossam a platéia. Sarah, 14 anos, é tão fanática por Três espiãs demais que chega a desenhar os modelitos das personagens para a mãe costurar. ?Elas são garotas normais, que vão à escola e adoram ir ao shopping depois de solucionar um caso. Fico com vontade de ser uma delas?, resume. Os motivos de preocupação com a tevê não se restringem à violência, mas também a valores e comportamentos inadequados. Não por acaso, a psicanalista Ana Olmos faz uma proposta à Globo, líder de audiência e retransmissora da NET, que, por dois meses, a rede disponibilize na televisão aberta os canais transmitidos em sinal fechado. ?Depois de conhecer o biscoito fino, ter acesso à Discovery Channel, People&Arts e Animal Planet, ninguém vai querer voltar atrás?, aposta. Para a psicanalista, as crianças assistem a programas como Cidade Alerta, da Record, por pura falta de opção. Se o pai muda de canal, encontra a mesmice. Nem Malhação, da Globo, passa. ?No seriado, ninguém é gordo nem faz supletivo. A maioria dos programas destinados aos jovens passa a mensagem de que, para ser amada, a pessoa precisa ser sarada e bonita.?

Aos 50 anos, o ator de Malhação Kadu Moliterno também rende homenagens aos canais pagos. Os filhos Kauai, dez anos, Lanai, nove, e Kanui, cinco, descartaram a tevê aberta. ?Evito que meus filhos tenham contato com elementos que não fazem parte do universo infantil. Eles não conheceram personagens como Tiazinha e Feiticeira?, conta. Em casa, assistem aos canais Animal Planet e Cartoon Network. ?Fora isso, temos um trato de evitar tevê sempre que houver sol e onda?, ensina. Os filhos de Kadu não estão sozinhos na predileção pelo Cartoon. O canal é campeão de audiência na tevê a cabo, líder nos períodos matutino e vespertino. No entanto, mesmo a tevê por assinatura exige cuidados. O próprio Shin Cham, que tanto incomoda o prefeito César Maia, faz parte da grade da NET. E a eles se somam outros desenhos que assustam pelos conceitos de justiça e educação que regem as relações entre os personagens. Na casa da professora de biologia Sílvia Helena Mattei de Arruda Campos, 43 anos, e do administrador de empresas Laércio de Holanda Cardoso Jr., 43, todos gostam da tevê a cabo. Mas eles ficam atentos aos desenhos que os filhos Francisco, 12 anos, Antônio, oito, e João, de apenas um, assistem. ?Fico junto e procuro comentar o que não concordo. A Vaca e o Frango, por exemplo, é agressivo e sarcástico. E tento incentivar os de que gosto mais, como o Arnold, que é cuidadoso com os amigos?, conta ela.

Até algumas escolas despertaram para a proposta de criar telespectadores críticos. No Rio, o Colégio Santo Inácio realiza o projeto TV no Recreio, para alunos de cinco a sete anos. Durante 30 minutos, as crianças assistem a um desenho ou filme de qualidade. ?Discutimos e as crianças conseguem ver outra solução para o impasse que não seja a violência. Claro que depende do ambiente em que vivem, mas aos poucos elas criarão seus próprios filtros?, diz o comunicador Eduardo Monteiro, responsável pelo projeto. As crianças curtem. ?Aprendo a ter mais educação, a ajudar os outros e a evitar a violência. E ainda me divirto?, diz Renan Rodrigues da Cunha Gouveia, oito anos. A amiga Camila Colen Forster, também de oito anos, concorda: ?Em casa, comparo e tento achar o lado legal dos programas.?

Denúncias – Também sobram apelos para que o governo entre na luta contra a busca de audiência a qualquer preço. ?O Estado tem que assumir seu pedaço de responsabilidade?, destaca a psicóloga Graça Coelho, fundadora da Escola de Pais, núcleo de orientação para a infância e a adolescência no Rio de Janeiro. Um passo foi dado. Para sensibilizar emissoras e anunciantes, foi lançada em novembro do ano passado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal a campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania. Qualquer um pode fazer denúncias contra programas apelativos (www.eticanateve.org.br e tel. 0800-619-619) e seus anunciantes terão seus nomes divulgados. ?No primeiro mês, foram registradas 300 denúncias genéricas e 62 sobre programas específicos?, contabiliza o deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos.

Os alvos mais frequentes foram os programas dos apresentadores Ratinho, João Kleber e Sérgio Malandro, por exploração de conflitos pessoais, preconceito em relação à orientação sexual e pornografia. Os programas do Faustão e do Gugu foram o quarto e o quinto citados. Com representantes da sociedade civil foi criada a Comissão de Acompanhamento da Mídia para a análise dos programas mais votados. O sociólogo Laurindo Lalo Leal Filho, da Escola de Comunicações e Artes da USP, analisa o programa do Ratinho e acha que ele infringe os direitos humanos ao discutir a paternidade de crianças diante das câmeras: ?Os envolvidos são estimulados a se atracar no ar, sugerindo que a violência é meio para a solução.? Para ele, o antídoto para esse cenário é partir para uma ação política. ?Temos que ampliar a discussão. Os pais precisam sair da angústia pessoal para a socialização do problema?, aconselha. Enquanto a sociedade civil e o Estado não convencem as redes de televisão de sua responsabilidade, resta aos pais driblar as inconveniências do cardápio televisivo e preparar seus filhos para que eles não engulam o lixo eletrônico com a desculpa de que é apenas entretenimento. Afinal, é brincando que as crianças aprendem.”

 

MERCADO DE TRABALHO

“A esperança de uma (tênue) recuperação”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 16/04/03

“Em conversa preliminar, pouco antes da conferência de abertura do 6? Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas, o presidente do Grupo Meio & Mensagem, José Carlos Gomes de Salles Neto, disse acreditar que maio representará o início da recuperação do mercado publicitário e, consequentemente, da mídia. Não uma recuperação estrondosa, como todos desejaríamos, mas sim uma ligeira recuperação, com tendência de melhorar no segundo semestre.

Sua crença está no fato de que a reação do mercado da publicidade sempre ocorre com alguns meses de diferença em relação à evolução da economia. E como esta já vem dando sinais claros de recuperação, com a estabilização da moeda, a crença do mercado no novo governo etc, as empresas estão começando a se animar novamente, fazendo os investimentos que estavam até então engavetados, à espera de um cenário mais promissor.

Uma das coisas que a atual crise mais explicitou é que o modelo de jornalismo adotado no mundo ocidental – e no Brasil não é diferente – é muito dependente da publicidade, em que pese toda a ojeriza e a urticária que isso causa em nós jornalistas. Mas não é, obviamente – ao menos por enquanto -, uma dependência fisiológica, de relação causal e carnal, e sim uma dependência comercial.

Logo, havendo recuperação da publicidade, certamente virá, em seguida, a recuperação dos veículos e, esperamos, a das redações.

Temos, ainda, alguns focos de ?desestabilização? em andamento e o que mais preocupa é o do Grupo SA O Estado de S.Paulo, que está iniciando um profundo processo de reorganização, com todas as conseqüências que isso traz em termos de incertezas e de ansiedades. Fala-se na venda da Rádio Eldorado, na venda ou mesmo fechamento do Jornal da Tarde e muitas outras coisas não muito boas. Qualquer delas, se realmente acontecer, pode representar novos cortes de pessoal e não se sabe exatamente de qual tamanho.

Outro foco de incertezas vem ainda da Gazeta Mercantil, que mesmo tendo já fechado mais de 400 vagas de jornalistas, ainda tem outras 250 ativas, cuja manutenção é hoje vital para o mercado. Com um porém, como diz um dos ex-editores do jornal: emprego só é vital quanto tem a contrapartida dos salários e demais benefícios pagos em dia. Fora disso, ter emprego para não receber é melhor não ter.

Havendo recuperação da publicidade, ainda que pequena, certamente o movimento cirúrgico de demissões nos veículos de comunicação será prontamente estancado, devendo sucedê-lo um outro, na direção contrária, ou seja, das contratações.

Se os veículos virem uma luz no final do túnel, que não seja a de um trem, vão recuperar o fôlego e certamente ficarão de olho em novas oportunidades editoriais, com o objetivo de elevar o faturamento. Estamos, pois, falando de vagas, de empregos, de frilas ou seja lá o regime que se adote, para ampliar a força de trabalho.

As condições parecem efetivamente propícias, já que internamente o novo governo vai vencendo uma a uma as desconfianças dos agentes econômicos, e no plano externo a guerra no Iraque dá mostras cabais de já ter acabado, ao menos no que diz respeito aos movimentos espetaculares de ataque e da invasão.

Neste cenário, o Brasil mostra-se neste momento atraente para novos investimentos, sobretudo por parte dos conglomerados multinacionais que aqui já estão, de olho na ampliação de seus negócios, de sua participação no mercado e mesmo de sua lucratividade. E se isso ocorrer, a publicidade e outros investimentos em comunicação também serão beneficiados.

É o que esperamos e é o que o mercado deseja.”

 

MEMÓRIA / JAIR BORIN

“Morre professor titular da ECA-USP, aos 61 anos, Jair Borin”, copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br), 22/04/03

“Morreu nesta segunda-feira, aos 61 anos, o professor titular de Jornalismo Sindical e ex-diretor do Departamento de Jornalismo da Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP). O professor estava internado no Hospital 9 de Julho. O hospital ainda não deu mais detalhes sobre a morte. Borin teria câncer.

O corpo do professor será velado no Cemitério do Araçá e cremado nesta terça-feira, às 11h no Crematório da Vila Alpina.”

“Morre Jair Borin, jornalista e professor da USP”, copyright Agência Estado (www.agestado.com.br), 22/04/03

“Morreu hoje pela manhã, aos 61 anos, Jair Borin, jornalista e professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Ele estava internado no Hospital 9 de Julho havia mais de uma semana em virtude de um câncer no estômago. Borin, que trabalhou no jornal ?O Estado de S. Paulo? e na ?Folha de S. Paulo?, ficou conhecido como redator de assuntos econômicos e tinha predileção pela área de agronegócios.

Além de suas passagens pela grande imprensa, foi por seis anos chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, onde também lecionava desde 1971. Lá, conquistou amigos e admiradores, entre professores e alunos. Era um dos docentes mais procurados para orientar dissertações e teses, principalmente pelo seu companheirismo, competência e dedicação. Gostava de indicar os melhores alunos para os veículos da grande imprensa.

Nas últimas eleições à reitoria da USP, em 2001, Borin foi o candidato mais votado entre a comunidade (alunos, professores e funcionários). A sucessão, no entanto, é decidida pelo Conselho Universitário, que indicou o nome do então vice-reitor, Adolpho Melfi. ?Ele sempre foi muito autêntico, nunca escondeu seus sentimentos nem sua ideologia?, diz o atual chefe do Departamento de Jornalismo da ECA, José Coelho Sobrinho.

Durante o regime militar, Borin participou de movimentos de esquerda e chegou a ser preso e torturado. Aos amigos contava sempre uma história em que teve de cavar sua própria cova, a mando de policiais em Pernambuco. Já deitado dentro do buraco cavado, segundo contava, os policiais acabaram desistindo de matá-lo. Por causa de sessões de tortura, Borin acabou perdendo parte da audição.

Em outubro do ano passado, foi submetido a cirurgia para retirar um tumor no estômago. No começo deste ano os médicos detectaram que o câncer havia se espalhado para o intestino. Borin estava internado na Unidade de Terapia Intensiva.

O jornalista foi ainda presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp) de 1997 a 1999 e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. Sua marca era o compromisso social, com disposição de sobra em lutar por isso. ?Borin foi uma personalidade marcante e sua morte é uma perda para a USP?, completa Marcos Magalhães, do Departamento de Estatística do Instituto de Matemática e Estatística da USP. Como vice-presidente da Adusp entre 1997 a 1999, Magalhães trabalhou ao lado de Borin na entidade. ?Ele sempre estava disposto a ouvir as pessoas e a acreditar no País. Era solidário participante e otimista.?

Quem o conheceu lembra que Borin gostava de conversar e era um verdadeiro contador de casos. Tinha ótima memória e falava com desenvoltura sobre a história do jornalismo brasileiro e mundial. Foi também o primeiro jornalista que conseguiu penetrar, no anos 70, no então proibido império do bilionário americano Daniel Ludwig, no Amapá, mais conhecido como o Projeto Jari, que provocou polêmica entre empresários, economistas e militares.

Como jornalista, ganhou vários prêmios, publicou ainda livros e 200 artigos acadêmicos. Nas horas vagas, cuidava de uma fazenda de café que mantinha em sociedade com um irmão, em Minas Gerais.

O corpo de Borin foi velado hoje no Cemitério do Araçá,
na zona oeste, e será cremado no Crematório da Vila Alpina amanhã,
às 9 horas. O jornalista nasceu em 15 de fevereiro de 1942 e deixa a
mulher, Sílvia, e os filhos Paula e Ivan.”

“Morre Jair Borin, professor de Comunicação da USP”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 22/04/03

“O professor Jair Borin, de 61 anos, ex-chefe do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, morreu nesta terça-feira (22/04), no Hospital Nove de Julho, onde estava internado desde o dia 29/03. Ele se tratava de câncer e seu estado de saúde era crítico.

De acordo com informações passadas pelos familiares de Borin ao site da USP, o corpo do professor será velado a partir das 17h desta terça no Cemitério do Araçá, em São Paulo. A partir das 10h desta quarta (23/04), ele será levado para o Crematório da Vila Alpina.”