Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Campanha contra a censura

REPÓRTERES SEM FRONTEIRAS

"Lembramos aos passageiros viajando para Cuba, Tunísia e Turquia que a notícia é censurada nestes países." A advertência, imitando um aviso dos tripulantes de um avião, faz parte da campanha lançada pelo grupo Repórteres sem Fronteiras [24/7/02], um alerta sobre a situação da imprensa nos três destinos mais procurados por turistas em férias.

"O RSF o convida a olhar o outro lado do cartão-postal para ver a face escondida destes países, onde a censura está sempre presente", diz o anúncio. "Você não ouvirá nenhuma entrevista com personalidades da oposição na rádio de Havana. A TV tunisina nunca deixa de louvar os méritos de seu presidente. Na Turquia, você não vai ouvir música curda nas ondas de rádio. Produtos de um sistema bem polido de repressão a vozes dissidentes. Então apertem os cintos e vamos nessa."

A campanha, com anúncios impressos e televisivos, foi criada de graça pela agência Saatchi & Saatchi e tem versões em inglês, francês e espanhol. Na França, já apareceu nos jornais Le Monde, Métro, Courrier International, Marianne e Le Nouvel Observateur, e nas emissoras LCI e Canal +. Além de denunciar a censura estatal e a perseguição e intimidação de jornalistas e veículos independentes, a principal mensagem do grupo é: "Não espere ser privado de notícias para se levantar e lutar por isto".

MÍDIA & ONU

Mantendo princípios éticos e profissionais rígidos, a mídia pode manter independência de governos e empresas, afirmam especialistas do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP, sigla em inglês). O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2002, lançado pela entidade em Manila, na Indonésia, reafirma a importância da imprensa livre na "restauração da confiança pública" em instituições democráticas e mostra preocupação com o domínio governamental sobre os meios de comunicação e também com sua monopolização privada. Segundo Sakiko Fukuda-Parr, autora do estudo, "a resposta à excessiva influência corporativa não pode ser uma volta ao demasiado domínio governamental".

Liberalização econômica, privatizações e novas tecnologias fizeram a mídia cair nas mãos do setor privado. A maioria dos veículos de comunicação são particulares, embora 60% das emissoras de TV do mundo ainda sejam estatais. O relatório apresenta diversos índices do alto grau de monopolização que se verifica na imprensa. Na Grã-Bretanha, quatro grupos têm 85% dos jornais, o que representa dois terços da circulação. Como reporta Gustavo Capdevilla [Inter Press Service, 24/7/02], o magnata Rupert Murdoch controla 60% das publicações diárias na Austrália. O braço americano de seu império, a News Corporation, integra, com outras cinco corporações ? AOL Time Warner, General Electric, Viacom, Disney e Bertelsmann ? o clube dominante nos EUA. Na Itália, é ressaltado o poder de Silvio Berlusconi, dono de emissora de TV e atual primeiro-ministro. No Brasil e no México, a ONU aponta dois dos maiores monopólios de mídia familiares ou individuais ? Globo e Televisa.

Em vários países, o governo ainda é empecilho à comunicação democrática. Nas nações árabes ? com exceção do Líbano ?, mídia é exclusividade do Estado. Na Europa Oriental, leis contra difamação são aplicadas para fim de repressão. Leis de segurança nacional criadas na ditadura de Augusto Pinochet (1973-90) ainda vigoram no Chile.

Mas também há espaço para constatações positivas. "Reformas econômicas e políticas aliviaram as restrições à mídia e fortaleceram garantias constitucionais e legais de liberdade de expressão e informação", dizem os especialistas das Nações Unidas. Entre 1970 e 1996, o número de diários em países em desenvolvimento mais que dobrou, e a circulação per capita também. A maioria das pessoas tem muito mais fontes de informação ? em variedade e quantidade ? do que há 10 anos.