Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Campbell deixa Downing Street

Edição: Beatriz Singer (com Dennis Barbosa)

CASO DAVID KELLY

A renúncia de Alastair Campbell, diretor de comunicação do premiê britânico Tony Blair, causou furor na mídia do mundo todo. Campbell, personagem central na história do dossiê sobre armas de destruição em massa ? o qual, segundo a BBC, havia sido "exagerado" pelo diretor de comunicação ?, disse que agora vai voltar ao jornalismo. Ao deixar a Downing Street, Campbell planeja escrever e falar sobre uma "porção de coisas diferentes", incluindo política e esporte.

O ex-jornalista do Mirror disse que quer voltar à profissão como free-lancer. "A essa altura, não quero assumir um grande emprego, mas sim, por enquanto, fazer diversas coisas diferentes, como escrever, apresentar programas, fazer discursos sobre assuntos que me interessam e me preocupam, e sobre os quais tenha algo a dizer", disse Campbell. "Sou capaz de escrever sobre outros assuntos além de política, como esporte."

Julia Day [The Guardian, 29/8/03] afirma que a habilidade de Campbell de expressar sua opinião sobre os mais diferentes assuntos ocasionará uma guerra entre emissoras e jornais por um contrato com o futuro colunista e comentarista.

O ex-diretor de comunicação disse que também quer dedicar mais tempo à caridade e garantiu que a política não ficará fora de sua vida. "Política é uma paixão… Continuarei olhando-a de perto e ajudando em causas nas quais creio poder ajudar."

Campbell disse ter decidido deixar a Downing Street em julho de 2002, mas foi dissuadido pelo primeiro-ministro para ajudar na questão do Iraque. Em 7/4 deste ano, comunicou a Tony Blair que sairia no verão (o inverno do hemisfério sul).

Gavyn Davies, presidente da BBC, disse no dia 28/8 ao inquérito Hutton que ficou estarrecido com um e-mail no qual Andrew Gilligan parecia dar o nome de David Kelly como fonte de uma matéria do programa Newsnight sobre o dossiê do governo sobre armas de destruição em massa no Iraque, adicionando que é errado a um jornalista divulgar a fonte de um colega.

Gilligan, correspondente da Defesa do programa Today, da Radio 4, emissora da BBC, enviou um e-mail a dois membros do comitê de relações internacionais ? os parlamentares David Chidgey, liberal democrata, e John Ottaway, conservador ? sugerindo que eles perguntaram a Kelly sobre seu contato com a editora de ciência do Newsnight, Susan Watts.

Davies afirmou ao inquérito Hutton que não havia como Gilligan saber naquela época que Kelly era fonte de Susan. "Acredito pessoalmente que é errado a qualquer jornalista divulgar a fonte da reportagem de outro jornalista. Não sei como Gilligan pôde fazer isso se não sabia da fonte de Susan Watts. Isso me constrangeu. Talvez houve um mal entendido aqui", disse Davies.

A BBC planeja uma investigação aos e-mails de Gilligan uma vez que o inquérito Hutton concluiu que os comentários de Davies representam a primeira crítica aberta da corporação ao repórter.

Watts deixou claro, no começo de agosto, que a reportagem gerada por sua conversa com Kelly difere em pontos cruciais da de Gilligan. Segundo Ciar Byrne [The Guardian, 28/8],
Richard Sambrook, diretor de notícias, perguntou a Watts se ela pretendia dizer qual foi sua fonte, mas, quando ela se recusou, enviou um e-mail dizendo que entende plenamente sua posição.

"É impossível verificar a reportagem de Gilligan"

Gavyn Davies admitiu ao inquérito Hutton que não é possível aos diretores da BBC afirmar com certeza se a polêmica reportagem de Andrew Gilligan era verdadeira.

De acordo com Julia Day [The Guardian, 28/8], Davies falou, perante o inquérito, que "ouvindo as deliberações de todos os diretores [da BBC] nesta semana, seria maravilhoso poder conduzir uma investigação que mostrasse com certeza se a reportagem é ou não verdadeira". "Mas nunca me ocorreu que isso poderia de fato ser feito", adicionou.

Davies disse que os diretores gastaram "muito tempo" estabelecendo a natureza da fonte durante a reunião em 6/7. "Eu achei que a fonte fosse confiável. Não houve nada dito na reunião que inferisse que a fonte fosse um funcionário sênior da inteligência", afirmou Davies ao inquérito.