Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Caras e a ilusão da intimidade

MONOGRAFIA

"Na nossa sociedade, o sujeito só poderá "existir" na medida em que sua individualidade esteja completamente absorvida pelo Todo. A indústria cultural elege e mantém no "topo" de seus inúmeros instrumentos de divulgação, os modelos estereotipados a serem consumidos pela massa como ideais de realização e de conquista da felicidade, através de técnicas e apelos sedutores que induzem a pseudo-identificação."

Este é um dos pressupostos do estudo crítico "Revista Caras: a encenação da intimidade", de Marcio Roberto Santim da Silva e Luciano Rodrigues do Prado, apresentado no Estágio Supervisionado de Psicologia Social da Universidade Metodista de Piracicaba. O foco da observação dos autores sobre Caras está em demonstrar, à luz da escola frankfurtiana, como uma publicação aparentemente fútil, descompromissada, ingênua até, "pode funcionar como legitimador da desconstrução da autonomia e da singularidade do indivíduo". Seu objetivo é mostrar a influência de Caras nos mecanismos psíquicos denominados falsa-projeção e falsa-mímesis.

Escrevem os autores:

"Temos como hipótese inicial que a falsa-projeção e a falsa-mímesis são mantidas pela revista através da construção e veiculação de modelos estereotipados de sucesso e felicidade, prontos para serem alvo da projeção dos ideais de perfeição da massa, que vê na onipotência do modelo a fuga da sua própria impotência."

Clique aqui para ter a íntegra do texto – disponível em arquivo Word ( 231 KB )

ASPAS

"Jornalista relembra relação da imprensa com o poder – e a censura – nos anos 60 e 70", copyright ABI <www.abi.org>

"O jornalista João Baptista de Abreu Jr. tem 46 anos e está no mercado desde 1972, justamente período em que a imprensa estava mais na mira dos censores. Estas experiências viraram, inicialmente tese de mestrado e, posteriormente, o livro As manobras da informação, que chega às livrarias numa parceria entre a EdUFF (Editora da Universidade Federal Fluminense) e a Mauad – e com prefácio de Antônio Fausto Neto, igualmente jornalista e professor orientador da tese original. Livro analisa a cobertura jornalística da luta armada no Brasil, nos anos 60/70.

O sítio da ABI conversou com João Baptista, na entrevista que transcrevemos a seguir:

Há quanto tempo surgiu a idéia do livro?

João Baptista de Abreu – A idéia do livro surgiu durante a defesa da dissertação, em janeiro de 1998 na ECO (Escola de Comunicação) da UFRJ. Os professores da banca elogiaram o texto e a pesquisa e sugeriram que eu procurasse uma editora.

Entrei em contato com a Eduff (Editora da Universidade Federal Fluminense, onde dou aulas há 20 anos na Faculdade de Comunicação), mas o problema é que havia uma fila enorme de teses aprovadas pela comissão editorial à espera de verba para publicação. Eram 38 livros. Daí surgiu a idéia de tentar uma co-edição. Procurei a Mauad, que se interessou e o livro acabou nascendo em agosto. Foi um parto de elefante. Durou 16 meses entre os primeiros contatos e a impressão. Mas, no fim, acho que valeu a pena. O livro está bonito e percebi que todas as pessoas envolvidas na sua produção sentiram-se gratificadas com o resultado.

Foi objeto de alguma monografia de mestrado? Assim, mesmo: do jeito que está? Ou foi trabalhado?

JBA – Para tornar a leitura mais agradável, retirei uma parte estritamente teórica e conceitual, que é exigida numa dissertação ou tese. Reduzi também o número de citações. Há professores universitários que não conseguem entender a diferença entre uma tese e um livro e não admitem reduções. Eu, por dever de ofício como jornalista, tenho obrigação de saber a diferença. Tive também que selecionar os anexos, o que foi uma pena porque havia um vasto material sobre a guerrilha, baseado em recortes de jornais.

Qual é a sua estrada?

JBA – Comecei a trabalhar aos 18 anos como estagiário do falecido Diário de Notícias, na reportagem policial. O jornal ficava ali na Rua do Riachuelo, onde hoje funciona a Folha Dirigida. Estava no segundo período da faculdade de Jornalismo e não sabia nem o que era lide. Quem me ensinou foi um estagiário com um mês a mais de jornal do que eu. Ele estudava Economia e chamava-se Jenner Menezes. Depois fiz estágio de um ano na reportagem geral do Jornal do Brasil, de 1973 a 74. Foi lá que aprendi a ser jornalista.

Aprendia com os repórteres mais velhos, que liam e comentavam as matérias dos estagiários. Era uma grande família. Pena que hoje as redações não tenham mais esta troca. Os jornalistas mais velhos ocupam cargos de chefia ou foram para assessorias de imprensa. Ou, ainda, criaram suas próprias empresas. Entre o JB e a Rádio JB fiquei lá sete anos, de 73 até 1980. Depois trabalhei na TV Educativa, Revista da Bolsa, Globo, TV Globo, Jornal do Commercio e outros menos votados.

Por que o tema?

JBA – O tema sempre me interessou, desde quando comecei a estudar Jornalismo na UFF. Sempre gostei de estudar o significado das palavras, o efeito que elas provocam no receptor. No caso do jornalista, trata-se de uma questão de sobrevivência. Jornalista que não presta atenção nas palavras está condenado a virar papagaio de fonte, principalmente de fonte oficial. Minha geração nasceu e cresceu durante a Guerra Fria, quando a guerra psicológica utilizava com maestria o vocabulário para disseminar ideologia. A expressão ‘cortina de ferro’ é um bom exemplo desta guerra semântica. No plano interno, tínhamos a censura. Então a gente não podia escrever ‘tortura’, escrevia ‘maus tratos’. Não podia falar em ‘ditadura’, mas ‘regime de exceção’ eles aceitavam, às vezes. Dependendo do jornal, nem isso. Trabalhei três anos na Rádio Jornal do Brasil, em que uma equipe inteira praticava esta esgrima. A chefe era a Ana Maria Machado, hoje escritora, que era muito ciosa do uso das palavras. Aprendi muito com aquela equipe.

Como foi a pesquisa propriamente dita, já que os jornais entraram nela como fontes secundárias ?

JBA – A expressão ‘fonte secundária’ vem da Academia. Significa que há um intermediário entre o autor do relato e o pesquisador. Se, em tempos ditos democráticos, você costuma ter uma intervenção forte do discurso jornalístico, que como sabemos nunca é neutro, imagine então durante a ditadura, quando não se distinguia com clareza: o que era censura, o que era censura interna e a própria autocensura do jornalista.

Como está sendo a receptividade desse livro na imprensa, já que o senhor desmascara alguns mitos de que a imprensa foi vítima da ditadura de 64 (como citado no livro ‘Golpe de 64: A Imprensa disse não’, de, se não me engano, Teresa Alvim)?

JBA – Acho que a receptividade tem sido boa. Afinal de contas, este livro não é de denúncia. Fugi disso o quanto pude. Não quis fazer um livro para denunciar o comportamento deste ou daquele jornal, deste ou daquele editor.

Tanto que há pouquíssimos nomes citados, quase todos como fonte. Meu objetivo é oferecer uma reflexão sobre o comportamento da imprensa durante o regime militar para que as pessoas leiam e tirem suas próprias conclusões

Se puderem aprender para evitar a repetição dos erros cometidos… Não os da empresa jornalística, porque estes não foram erros – representaram uma tomada consciente de partido – mas os dos jornalistas, condenados a ficar entre o mar e o rochedo nesta tempestade ideológica.

Agora, uma coisa é bom lembrar: nosso país não tem memória. A produção editorial é pequena, o hábito de ler está cada vez menos difundido e, ainda por cima, sofremos a massificação de um único grupo de comunicação dominar 70% do mercado, o que não existe em lugar nenhum do Ocidente. Então é fácil reconstruir a história, de acordo com o interesse dos vencedores. Aliás, a história é sempre escrita pelos vencedores. Digamos que este livro desempenha o papel de guerrilheiro da história dos vencidos. Pode ser meio quixotesco, mas é como eu o vejo.

O senhor tem outros projetos nessa linha? Ou já teve?

JBA – No momento, faço doutorado na Escola de Comunicação da UFRJ. Estou pesquisando a estratégia norte-americana de formação de mentalidades através do rádio, durante a Guerra Fria. Parece nome de samba-enredo. Na realidade, quero investigar como os Estados Unidos, através de órgãos como o Office of Inter-American Affairs, conseguiram impor seu predomínio, não apenas econômico, mas também ideológico na América Latina. O rádio e o cinema desempenharam um papel importante nesta estratégia.

Aproveito aqui e faço o meu jabá, dando algumas dicas de livrarias onde se pode encontrar As Manobras da Informação: Livraria Ler (Rua Senador Dantas), Livraria da Travessa, Livraria do Museu (Museu da República, no Catete), Marcabru (Rua Marquês de São Vicente), Malazartes (Shopping da Gávea, Marquês de São Vicente), Espaço Unibanco (Rua Voluntários da Pátria), Livraria da UFF (Rua Miguel de Frias, 9, em Icaraí, Niterói). Por R$ 29."

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