Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Carla Meneghini

MICROCÂMERAS EM XEQUE

"Diretor da CNN diz que microcâmera fere a ética", copyright Folha de S. Paulo, 7/7/02

"ATÉ que enfim o correspondente e diretor da sucursal do México da CNN, Harris Whitbeck, 37, acompanhou um assunto agradável. Escalado para cobrir os atentados de 11 de setembro, a guerra no Afeganistão e a guerrilha na Colômbia, Whitbeck esteve no Brasil na semana passada para mostrar as comemorações da vitória na Copa.

Em entrevista à Folha, o jornalista falou sobre sua missão no país, o caso Tim Lopes e o uso de microcâmeras na CNN.

Por que a CNN decidiu cobrir com detalhes a reação dos brasileiros ao pentacampeonato?

Este país é tão unicamente apaixonado por futebol que a Copa é uma ótima história para contar ao resto do mundo. Além disso, é a chance de, para variar, falar de coisas boas. Neste ano, estive no Afeganistão, na Colômbia, na Guatemala, cobrindo conflitos violentos. Cobrir uma festa alegre como essa, num país como o Brasil, é um presente para mim.

Faltam notícias boas sobre a América Latina na CNN?

Acho que sim. Sempre que parto para uma cobertura, me pergunto: por que estou sempre dando notícias ruins? Infelizmente, coisas terríveis acontecem na América Latina, e é obrigação da CNN mostrá-las ao mundo. Acaba faltando espaço para as notícias agradáveis.

Você tomou conhecimento do caso Tim Lopes? Como ele repercutiu no exterior?

Claro. Foi uma notícia de grande impacto fora do Brasil, ao menos no meio jornalístico. É muito preocupante.

A CNN permite o uso de microcâmeras escondidas em reportagens?

A CNN costumava usá-las no passado, mas somente se não houvesse outra forma de fazer a reportagem. Hoje, esse uso é ainda mais restrito, para não dizer raro, não só por causa da segurança, mas, principalmente, por motivos éticos. Mostrar a imagem de alguém sem o seu consentimento é contra a política da CNN, sustentada pelo comitê de ética.

Quais são as regras da CNN para o uso das microcâmeras?

Além de esquemas de segurança, os repórteres passam por um treinamento intensivo. Aliás, sempre que partimos para qualquer cobertura que envolva conflito armado, enfrentamos no mínimo uma semana de treinamento, em que aprendemos a operar em áreas de perigo e a enfrentar possíveis interrogatórios.

Você já fez matérias com microcâmeras?

Não, e estou na CNN há 11 anos.

Você faria?

Sim. Sei que a CNN só faria isso se fosse absolutamente necessário e seguro.

O que você acha da tentativa do governo israelense de tirar a CNN do ar no país?

Não posso comentar esse caso porque não respondo pela CNN.

Quais prêmios você recebeu?

Recentemente, recebi dois prêmios ?National Headliner?: um por uma reportagem sobre a atuação do Hizbollah na fronteira entre Brasil e Argentina; outro pela cobertura do atentado de 11 de setembro. O melhor não é ganhar um prêmio, mas testemunhar esses momentos históricos."

 

FONTES

"As fontes populares e as de prestígio", copyright Comunique-se, 5/7/02

"Assessoria de imprensa ou de comunicação? Esse desafio fica muito nítido quando assessorias precisam cobrir organizações complexas. Em geral, a assessoria de imprensa fica muito focada em temas tópicos, algum episódio novo, polêmico, ou algum lançamento. A comunicação das grandes organizações, porém, é mais que isso. Trata-se de garantir um fluxo permanente de informações, especialmente se a organização dispõe de um quadro amplo de executivos e/ou técnicos.

Para tanto, não basta apenas o release. Há que se estabelecer, inicialmente, uma coordenação nos quadros da organização. Saber quem pode falar sobre o que, quem é especialista, em qual matéria, que tipo de assunto do momento pode ser abordado.

Depois, um levantamento amplo dos temas recorrentes da imprensa, na área de atuação da empresa. Se for uma faculdade de economia, o levantamento consistirá em saber sobre qual tema econômico cada professor poderá se pronunciar. Se for um hospital, temas referentes à saúde etc. O passo seguinte é tratar de estabelecer a ponte entre os jornalistas setoriais e os especialistas da organização. E assegurar o acesso fácil do jornalista à fonte, disciplinando de lado a lado horários de entrevista ou consulta telefônica.

Tome-se o caso da Tendências Consultoria. Hoje em dia é, de longe, a fonte mais requisitada de análises por parte da imprensa econômica menos especializada. Tudo isso ocorre pelo fato de seus economistas estarem em permanente disponibilidade para falar sobre qualquer tema econômico. Não houve trabalho de assessoria inicial, mas apenas a visão arguta de negócio de seu fundador, Natan Blanche. No caso, criou-se desde cedo a consciência da importância de se manter o fluxo contínuo de contato com a imprensa.

Obviamente não são todas as empresas que ambicionam a vitrine permanente da mídia. O excesso de exposição tem contra-indicações óbvias, a maior dos quais é o comprometimento da imagem junto aos especialistas propriamente ditos, os formadores de opinião. Há inúmeros casos de médicos, advogados e economistas que conquistaram popularidade, mas perderam prestígio.

Em geral recorrem a expedientes de popularidade quem não dispõe de trunfo para ambicionar o prestígio. De qualquer modo, é papel da assessoria identificar a meta do cliente, se ele ambiciona ser um Jorginho Guinle ou um Walther Moreira Salles (socialmente falando), um Maílson da Nóbrega ou um Affonso Celso Pastore, um Pagura ou um Danielli de Riva.

Na hierarquia das redações, haverá ouvidos para os dois tipos. No âmbito das editorias e repórteres, o grupo da popularidade terá mais aceitação. No âmbito dos formadores de opinião e jornalistas mais especializados, o grupo do prestígio. O importante é não misturar as duas fontes. Apresentar uma fonte sofisticada para um jornalista menos experiente resultará em frustração. Em geral, há um receio desse jornalista (que compõe a maioria das redações) em correr riscos, em apresentar o enfoque inovador, pela própria inexperiência para avaliar se o enfoque é correto ou não.

Por outro lado, apresentar a fonte superficial para os formadores de opinião também em nada resultará, além de comprometer o assessor."

 

"EUA: entrevistados agora têm regras", copyright Comunique-se, 5/7/02

"O governo norte-americano instituiu regras para analistas financeiros que forem entrevistados ao vivo e falarem sobre empresas listadas nas bolsas de valores para emissoras de rádio e TV. O caso Enron e outros escândalos envolvendo balanços financeiros são os principais motivos para a decisão. Os americanos acreditam que, dessa forma, vão evitar que investidores possam ser enganados por analistas e, assim, dar maior transparência ao mercado.

O entrevistado será obrigado a declarar responsabilidades. Ele terá que informar o interesse financeiro que possa ter na empresa sobre a qual está falando, se é cliente de banco de investimento da firma e se a empresa do analista detém 1% ou mais em qualquer companhia.

Apesar de existir a alternativa de as informações aparecerem em uma espécie de crédito na TV, quem trabalha com o meio está preocupado. ?Em alguns casos, a declaração de responsabilidade será mais extensa do que a resposta dada pelo analista?, disse Jef Randall, editor de negócios da BBC.

Os bancos de investimentos terão que provar submissão às regras mantendo cópias ou transcrições de todas as transmissões.

Para a emissora CNBC, o maior problema está em coordenar todos os seus escritórios espalhados pelo mundo. ?Estamos preocupados em produzir as diretrizes de forma coerente e lógica. Mas queremos deixar claro que estamos do lado do investidor, ajudando no esforço pela transparência?, comentou o produtor Julian Heyes.

As regras passam a valer a partir da próxima quinta-feira (11/07)."