ELEIÇÕES 2002
"?Minha função é incomodar mesmo?, diz Miriam Leitão", copyright Folha de S. Paulo, 15/09/02
"?Meu estilo é agressivo mesmo?, afirma a jornalista Miriam Leitão, que ganhou fama de brigona depois da rodada de entrevistas com os presidenciáveis que comandou, com Renato Machado, no ?Bom Dia Brasil?, na Globo, de 26 a 29 de agosto.
?Numa entrevista como essa, o jornalista tem de ter frieza e objetividade. O eleitor está apaixonado por seu candidato, e a função do entrevistador é incomodar mesmo, tanto o candidato quanto seu eleitor?, diz ela. Marqueteiros dos candidatos consideraram as séries de entrevistas do ?Bom Dia Brasil? e do ?Jornal da Globo?, comandado por Ana Paula Padrão, as mais agressivas. ?Os candidatos precisaram se impor, porque as interrupções eram constantes e pesadas. Muitas vezes, eles acabam transformando a entrevista num bate-boca sem sentido, que não é produtivo para ninguém?, diz Carlos Rayel, diretor de comunicação da campanha de Anthony Garotinho (PSB). Também para Nelson Biondi, marqueteiro de José Serra (PSDB), as perguntas mais agressivas ou, como ele definiu, ?de tom mais espetado? foram feitas por Miriam Leitão e Ana Paula Padrão. ?Elas não deram colher de chá para nenhum deles, mas acho que o clima só fica tenso se o candidato resolver enfrentá-las à altura?, diz Biondi. Miriam afirma que, após cada entrevista realizada, chegaram centenas de e-mails de telespectadores, uns elogiando, outros criticando. ?Muitos reclamaram do tom agressivo ou das minhas interrupções; confesso que quando assisto às fitas sempre identifico momentos em que realmente não deveria ter me metido, mas a TV não dá uma segunda chance?, diz a jornalista. Seu tom agressivo, segundo ela, foi intencional e planejado. ?Assisto a entrevistas antigas e atuais deles e observo como cada um costuma reagir a ataques; a partir daí, elaboro a forma mais incômoda de fazer cada pergunta.? De acordo com Miriam, o candidato mais tranquilo foi Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que costuma dar respostas ?calmas? aos ataques. ?Já Serra frequentemente responde de forma técnica, esbanjando números; Garotinho nega toda e qualquer acusação; e Ciro Gomes (PPS) parte para o contra-ataque?, conta. ?Considerando esses perfis, tento cutucar todos de forma equilibrada.? Para Miriam, a maior dificuldade foi evitar que eles usassem o espaço como palanque e falassem o que quisessem. ?Sei que isso provoca raiva no telespectador, mas tenho que interromper até o candidato responder, pois o espaço é para cutucar. Eles já têm o horário gratuito para discursar.? Apesar dos ataques a que os candidatos são submetidos nas entrevistas, o marqueteiro de Serra afirma que a sabatina compensa: a curiosidade do eleitor pelo horário político tem sido maior que nas outras eleições, em que não houve tantas entrevistas com presidenciáveis. Na Globo desde 1995, Miriam Leitão não se importa com a fama de brigona. ?Fico muito orgulhosa por poder ampliar o espaço democrático?, diz.
Padrão Globo
Procurada pela reportagem do TV Folha, a jornalista Ana Paula Padrão não foi autorizada pela emissora a falar. A Central Globo de Comunicação enviou, por escrito, comunicado em que afirma: ?A Globo tem certeza de que está prestando um serviço ao eleitor (…). E que está fazendo o trabalho com o equilíbrio necessário?."
"Links enrolam cobertura das eleições", copyright Comunque-se (www.comuniquese.com.br), 16/09/02
"Com esta as emissoras de TV não contavam. A pouco mais de duas semanas das eleições, elas podem ter que mudar todo o planejamento de cobertura do pleito por causa da Embratel. É que a ex-estatal avisou que vai interromper o chamado serviço de TV programada, o link analógico disponível em quase todo o país, no qual se baseia boa parte das entradas ao vivo fora das grandes capitais.
A Embratel afirma que não dá mais para continuar com o sistema analógico porque ele, além de caro, está tão superado tecnicamente que nem peças de reposição para os equipamentos existem mais. A empresa jura que tinha avisado, em 2001, às emissoras que pararia com o serviço, mas que as negociações não evoluíram de lá para cá e agora chegou ao fim da linha.
Mas há uma solução, diz a Embratel, e ela se chama SmartVídeo. O sistema é digital e está presente em 11 capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia, Salvador, Recife e Fortaleza). O problema, como se nota, é que as outras capitais e colégios eleitorais importantes do interior ficariam de fora da cobertura ao vivo. A Embratel, claro, também tem solução para isso: bastaria que as TVs rachassem a extensão do SmartVídeo para as praças de seu interesse.
As emissoras não gostaram nem um pouco da proposta, argumentando que assim estariam financiando a Embratel. Não deixam de ter razão, mas esquecem que o sistema analógico foi bancado pela operadora no tempo em que ela era estatal e havia interesse do governo militar em levar a TV ao interior do país, mesmo que isso significasse subsídio para as empresas de televisão.
Para ver se escapam dessa sinuca de bico, as TVs já pensaram na Telemar, mas além de ela não estar presente em todo o Brasil, ainda tem problemas técnicos que exigiriam também investimentos altos para serem sanados. Há também a opção do aluguel de uplink de satélite, que é igualmente cara e não as livra inteiramente da Embratel, dona das posições orbitais sobre o Brasil através da Star One.
Creio que ainda vai rolar um acordo com as grandes TVs, pelo menos, mas acredito que será algo meio capenga, que vai tirar um bocado de afiliadas das entradas ao vivo. E assim corremos o risco de ver, na primeira eleição do Século XXI, totalmente informatizada (se com ou sem segurança é outro papo), notícias sendo despachadas por avião, ônibus e, quem sabe, até lombo de burro e canoa.
O grande salto para frente do Jotinha – E eu aqui pensando que o J. Hawilla estava só de olho no nicho de Esporte ao comprar as TVs do Império no interior de São Paulo (Bauru, Sorocaba e São José do Rio Preto) por uns R$ 50 milhões (é o que dizem no mercado). Mas o cara é mais esperto do que eu pensava e criou a TV7, produtora que jogará nas onze, do institucional aos programas próprios, indo até a vídeos e DVDs para o consumidor final. E os negócios já começaram: há uma negociação com um consórcio europeu para produções que seriam exibidas em mais de 25 países. Emprego? Bom, sabe como é empresário brasileiro, em especial de mídia: só fala em terceirização, contratação por projeto…Ou seja, ?camelotização high tech?. Mas do jeito que a coisa está, trabalho de camelô da mídia é melhor que trabalho nenhum.
Desrespeito I – Parece praga! Todo mundo desrespeita jornalista, até governo em época de eleição. Como já contei no blog (e reforço aqui), os colegas que ralaram fazendo a assessoria de imprensa daquele encontro preparatório da Rio + 10, realizado aqui na ex-Cidade Maravilhosa há uns três meses, até agora não viram a cor da grana. A culpa seria de uma estranhíssima cadeia de pagamento, que começaria no Ministério das Relações Exteriores, passaria pelo MAM (onde o evento foi sediado), seguiria pela TV Cultura e findaria na Idealizar, empresa de propriedade de Tânia Viegas que contratou os coleguinhas. Pois, até onde se sabe, a grana parou na TV Cultura e lá permanecia até sexta-feira, 13 de setembro.
Desrespeito II – E o Ciro Gomes fazendo um trocadilho infame com o verbo introduzir com a Tereza Cruvinel? E depois o sujeito ainda culpa o Guanaes. O mais triste é que ninguém – Fenaj, sindicato, ABI – se solidarizou publicamente com a coleguinha. Aí fica difícil…
Prova de fogo – E por falar em eleição, agora que Serra tem tudo para ir ao segundo turno é que vamos ver se era pra valer a neutralidade do Império, especialmente da Estrela da Morte. Pelo que já dá pra notar, não era não…
Sobrevôo – Falando em Império, uma ave preta foi vista sobrevoando um prédio da Rua Irineu Marinho, no Centro do Rio. Mais precisamente aquele que fica na esquina, do lado de esquerdo de quem entra pela Marquês de Pombal."
"Democracia, pesquisas e conspiração", copyright O Globo, 17/09/02
"A pesquisa eleitoral é, nas democracias contemporâneas, um dos mecanismos usados pelo eleitor na ocasião em que é chamado a decidir os rumos da vida política de seu país, estado ou cidade. Tanto quanto a mídia, partidos, parentes e amigos, a consulta às tendências predominantes na sociedade nos momentos que antecedem o voto é fator determinante da escolha eleitoral. De posse da informação advinda das pesquisas, os eleitores coordenam suas decisões, seja para ajudar os candidatos pelos quais nutrem simpatia, seja para evitar resultados considerados desastrosos. Não é por outro motivo que esse tema assume contornos tão dramáticos quando o assunto é campanha. A manipulação de resultados e estatísticas, o viés da amostra, a indução feita no questionário podem alterar de forma decisiva as condições do pleito, maculando a autenticidade do processo democrático.
A democracia brasileira tem, nesse sentido, valioso instrumento de defesa contra possíveis tentativas de manipulação: a competição. São vários os institutos a disputar aqueles que são os bens mais importantes nesse verdadeiro mercado da opinião, a saber, credibilidade e confiabilidade. Quanto maior o número de empresas a competir pela oferta do produto de melhor qualidade, nesse caso números que sejam de fato representativos da real tendência da opinião pública, maior é o incentivo para que cada instituto, em particular, fortaleça seus critérios de aferição, descartando ex ante o impulso ideológico ou o acordo financeiro que o levaria a sutis desvios de rota. Tal fenômeno, o da competição entre os institutos, parece prevalecer na atual campanha e sua manifestação empírica não é outra senão a notável uniformidade no que concerne aos resultados das enquetes eleitorais. Todos os institutos divulgam semanalmente números muito semelhantes a respeito da disputa presidencial. E, o que é mais impressionante, as mesmas idas e vindas, seguindo mais ou menos o mesmo timing.
Assim como em tantas outras dimensões da vida política, o processo eleitoral vem se aperfeiçoando com o tempo. Entre os componentes do processo, a participação das pesquisas parece caminhar na mesma direção sem que para tanto tenha sido preciso alguma ?reforma política? ou reconfiguração institucional de larga escala. Como em tantos outros aspectos da vida social, a experiência, a tentativa e erro, os aprendizados individual e coletivo acabam por ajustar comportamentos e expectativas. Por óbvio, é sempre possível melhorar o ambiente legal em que se dá a disputa, procurando definir condições mais justas para a veiculação de propostas e divulgação das chances de cada contendor. Isso não significa, todavia, que o que temos assistido é fruto de manipulação dos números. Todos os institutos têm divulgado o mesmo resultado: alto grau de volatilidade na faixa de eleitores que não apóiam Lula no primeiro turno, com Serra se consolidando em segundo lugar desde o início do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Além disso, observa-se, também de forma consensual entre os institutos, que o candidato do PT, assim como Garotinho, vêm aumentando seu apoio à medida que Ciro Gomes deixa de ser a primeira opção de grande parte dos eleitores que desejam a alternância no poder.
A democracia brasileira não é, certamente, uma ?democracia de araque?. Trata-se de democracia cada vez mais madura, sendo as alterações nas tendências de voto expressão da grande atenção devotada pelo cidadão ao pleito de outubro próximo. Os candidatos fazem campanha, o eleitor a ela reage e os institutos captam essa reação. Sempre haverá os que duvidam dos resultados, os que percebem em cada palavra e gesto dos competidores uma conspiração nacional e internacional para impedir a eleição de um verdadeiro governo popular. No que concerne à participação dos institutos de pesquisas de opinião nessa conspiração, teríamos um estranho conluio de empresas competidoras, todas a divulgar números que mostram a possibilidade de um ex-torneiro mecânico, líder de partido de esquerda e candidato por ele, alcançar a vitória ainda no primeiro turno. (FABIANO SANTOS é professor e pesquisador do Iuperj/Ucam)"