QUALIDADE NA TV
GLOBO CORRE ATRÁS
"Popular alternativo", copyright no. (www.no.com.br), 26/10/00
"A atriz Regina Casé, o diretor Guel Arraes e o antropólogo Hermano Vianna estão trabalhando em propostas para produção de programas populares de qualidade na Rede Globo, para criar alternativas ao atual baixo nível na programação da TV brasileira. As idéias do grupo estão sendo reunidas numa espécie de manifesto, que vem sendo burilado há pelo menos dois meses. Regina e Hermano foram atrações do debate ‘50 anos de TV no Brasil: trajetórias e desafios’, realizado na quinta-feira, 26, na 24ª Reunião Anual da Anpocs (Petrópolis, RJ), do qual participaram o sociólogo Sérgio Micelli e as pesquisadoras Esther Hamburguer e Fátima Pacheco Jordão.
O trio Regina/Guel/Hermano acha que a alternativa a ‘ratinização’ (alusão direta às baixarias do Programa do Ratinho, do SBT) é um ‘Programa Popular’, propositalmente batizado assim para ser uma opção ao que hoje leva o nome de popular na televisão. Discutem também alternativas para programação infantil e a produção fora do eixo Rio-São Paulo, além de programas que propositalmente não sejam exibidos no horário nobre, onde a pressão comercial por altos índices de audiência é maior.
As idéias contidas no manifesto foram apresentadas a outros núcleos de criação audiovisual Rio de Janeiro inteiramente apartados da máquina de produção da Globo. O trio (Regina/Guel/Hermano) já levou sua evangelização a Conspiração, prolífica produtora de comerciais, videoclipes e, mais recentemente, de filmes de longa metragem (‘Eu, tu, eles’, de Andrucha Wadington, um dos sócios da Conspiração) e a Videofilmes, do documentarista João Moreira Salles. Também discutiram com o videomaker Marcelo Tas, o cineasta Cacá Diegues (‘Orfeu’, ‘Bye bye Brasil’).
Por trás da movimentação do trio está a queda de audiência que tirou do ar programas como ‘Muvuca’, de Regina Casé. Embora isso não tenha sido dito no debate de ontem, os três combatem a tirania da audiência que conheceu seu esplendor na gestão de Marluce Dias. Não que na era Boni audiência não fosse um quesito importantíssimo. Mas falava mais alto o faturamento de cada horário da grade da programação. Assim, se ‘Muvuca’ perdesse em audiência para um filme do SBT ou da Record mas levasse ampla vantagem em faturamento, a derrota era relevada.
Segmentação
No debate da Anpocs discutiu-se também a segmentação da televisão. Regina Casé bateu firme na segmentação. ‘Sou radicalmente contra a segmentação de público, que gera um apartheid cultural e congelam o público das camadas mais pobres em determinados programas. Os ricos sempre tiveram a oportunidade de visitar os programas dos pobres. Desfilam em escola de samba, por exemplo. Mas os pobres não podem visitar os programas dos ricos. Vocês imaginam um grupo de pobres entrando no Hipoppotamos para ver como é?’, perguntou Regina.
Esta segmentação em busca do público de baixa renda, segundo Fátima Pacheco Jordão, é uma das marcas da TV depois do Plano Real. ‘Há pela primeira vez na TV brasileira uma disputa pelos consumidores de baixa renda, recém-chegados ao mercado. Historicamente, a TV brasileira sempre foi controlada pelas verbas de publicidade, que são donas de 25% do tempo de transmissão (15 minutos de comercial a cada uma hora de programação). Segundo pesquisa realizada por Fátima, há espaço para a realização de idéias como as do grupo de Casé: 45% dos telespectadores não estão estão satisfeitos com a programação e 87% reclamam de excesso de violência e baixaria na TV brasileira.
Fátima fez um retrospecto de como se montou o modelo de TV em vigor: a grade de programação composta de noticiário combinado com novelas dirigidas a públicos distintos tem como objetivo combinar altos índices de audiência com o tipo de segmentação de público necessária para as grandes campanhas publicitárias. Ela lembra que, além de ser a oitava economia do mundo, o Brasil é o quinto mercado consumidor. ‘A grade de programação da TV exibe uma estabilidade constrangedora’, lembrou Fátima, ‘porque o modelo jornal mais telenovela está aí há 30 anos’. Mesmo a modernização dos temas das novelas e miniséries, marca dos anos 80 em programas como Malu Mulher e Dancing Days, serviram de moldura para o lançamento de produtos adequados a este tipo de telespectador.
À crítica da segmentação foi seguida de fortes restrições ao modelo de TV a cabo brasileiro. ‘É uma estética kitsh, com aqueles documentários sobre lhamas, é um tipo de sofisticação besta. Para quem quer sofisticação o melhor mesmo é desligar a televisão e ir ler um bom livro’, disse Casé, rechaçando qualquer possibilidade de trocar a audiência e a popularidade da TV aberta por emissoras fechadas. ‘Sei que o mercado é soberano na definição da programação, mas sempre houve espaço, na TV Globo, para a produção intelectual de esquerda, mesmo nos tempos da ditadura’.
Outro aspecto importante lembrado por Fátima como estímulo aos programas populares é a concorrência que a TV tem enfrentando de outras mídias, como as revistas populares, que tiveram aumento de circulação de 70%. ‘Hoje, a TV disputa espaço, e o público tem uma avaliação crítica da programação’, diz ela."
MÍDIA JOVEM
"Pesquisa: falta de tempo é queixa comum aos jovens", copyright O Globo, 27/10/00
"A MTV divulgou anteontem o resultado de uma pesquisa feita com 1.980 jovens brasileiros, de 12 a 30 anos, que visa identificar como eles se relacionam atualmente com as mídias. A principal conclusão do estudo é a de que a velocidade e a fragmentação de informações foram incorporadas ao cotidiano dessa geração, o que não significa, porém, que o jovem esteja adquirindo conhecimento.
Segundo o estudo, os jovens entrevistados têm a sensação de falta de tempo e mantêm intensa relação com as mídias: 99% deles vêem TV; 99% falam ao telefone; 98% ouvem rádio; 85% lêem revistas; 80% lêem jornais; 80% vão ao cinema e 34% acessam a Internet.
A pesquisa também revela que para 73% dos jovens é comum o ato de mudar de canal a todo momento. O resultado do estudo foi apresentado para cerca de mil publicitários. Segundo o presidente da MTV no Brasil, André Mantovani, a idéia é iniciar uma discussão na sociedade sobre o jovem.
– O que mais me impressiona é a solidão dos jovens. Eles não conversam dentro de casa, por isso vão para a Internet se comunicar – diz, lembrando que, com base nos dados, a emissora aumentará a participação dos jovens na programação a partir de 2001. Alguns programas serão criados com esse objetivo, e outros, adaptados."
SILVIO SANTOS
"Silvio Santos ganha biografia chapa-branca", copyright Folha de S. Paulo, 28/10/00
"A história da segunda maior rede de TV do Brasil seria diferente se não fosse a ajuda do homem que construiu o maior conglomerado de comunicações do país.
Essa é, talvez, a revelação mais intrigante do livro ‘A Fantástica História de Silvio Santos’ (Editora do Brasil, 298 págs., R$ 23,90), que chega às livrarias na próxima semana (quarta ou quinta-feira).
Escrito pelo jornalista Arlindo Silva, 73, que durante 24 anos foi assessor de imprensa, primeiro diretor de jornalismo do SBT e porta-voz de Silvio Santos, o livro é uma biografia chapa-branquíssima do ‘patrão’. Não traz nenhum relato que comprometa a imagem do personagem/empresário, tratado como mito, mas é uma obra fundamental para quem quer conhecer os bastidores da construção do SBT e a personalidade de um dos ‘gênios’ da TV brasileira, que completa 70 anos em 12 de dezembro.
Silva conta que, se não fosse Roberto Marinho, Senor Abravanel (o verdadeiro nome de Silvio Santos) não teria renovado contrato com a Globo em 1971, onde apresentava o ‘Programa Silvio Santos’, líder absoluto aos domingos.
‘Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) e Walter Clark -executivos da Globo- queriam elitizar o programa. Se Silvio não tivesse renovado, ele iria para a Tupi, que já fraquejava na época, e a história poderia ser outra. Mas o dr. Roberto (Marinho) fez questão de renovar com Silvio e estendeu a mão a ele mais duas outras vezes’, disse Silva à Folha.
A renovação do contrato, relata o jornalista, aconteceu justamente quando Senor Abravanel acabara de perder uma disputa pela compra de 50% da TV Record para o grupo Gerdau. Anos depois, Silvio Santos, ‘obsessivo por uma rede de TV’, viria a controlar a Record.
O dono da TV Globo ajudaria o principal concorrente de novo, em 1988, ‘devolvendo’ ao SBT Gugu Liberato, que acabara de contratar, num momento em que Silvio Santos temia abandonar os auditórios por causa de um edema na garganta.
‘A Fantástica História…’ relata com franqueza e riqueza de detalhes os bastidores da aproximação de Silvio Santos com o regime militar, o trabalho de ‘relações públicas’ para livrar o ‘moderno empresário’ da imagem de ex-camelô e folclórico animador de auditório.
Mas fica devendo informações sobre a vida particular do ‘ídolo’ que, no livro, não namora, nunca passeia. O empresário é heróico até quando explora a jogatina, tumultua a política nacional ou mente para jornalistas.
A reportagem de Arlindo Silva é despretensiosa e fluída. Foi feita para vender – deverá ter uma tiragem de 100 mil exemplares."
BRIGA DE FOICE
"Rogério Gallo abre cruzada contra Rede TV!", copyright Folha de S. Paulo, 28/10/00
"Demitido há um mês da Rede TV!, o ex-superintendente artístico da emissora, Rogério Gallo, resolveu abrir uma cruzada contra a emissora. Ele desmente que tenha traído os ex-patrões, escondendo que sua namorada, a apresentadora Adriane Galisteu, estava negociando sua transferência da Rede TV! para a Rede Record. Gallo, que recebia R$ 91 mil mensais, quer indenização de R$ 2 milhões.
Folha – Você ficou um ano na Rede TV! e agora deixa a emissora prometendo até ir à Justiça contra os ex-patrões. Como a situação se deteriorou?
Rogério Gallo – Em 99, eu estava trabalhando com publicidade quando fui chamado pelos donos da Rede TV! -o Amílcare Dallevo e o Marcelo de Carvalho. A idéia era fazer uma TV de qualidade que seria, segundo eles, enxuta, digital, superequipada. Sem baixaria e apelação. Eu então assumi as superintendências artística e de programação. Comprei o peixe. Quando comecei a trabalhar, encontrei o caos.
Folha – Como assim?
Gallo – A emissora não tinha espaço físico nem equipamento próprio. Era tudo alugado. A gente tentou passar pelas dificuldades, mas o caos foi tomando conta. Chegamos ao desespero. As pessoas não recebiam salários e a gente vivia situações dramáticas.
Folha – Por exemplo?
Gallo – Os fornecedores que não recebiam dinheiro tiravam o equipamento do estúdio. Teve um dia em que estávamos gravando o ‘SuperPop’ com a Adriane (Galisteu), com uma platéia de 300 pessoas, e o Barão Vermelho pronto para tocar. Ao vivo. Os donos do videowall simplesmente falaram que não iam ligar o equipamento se não recebessem um pagamento atrasado. Às vezes trabalhávamos a 45C no estúdio, porque o fornecedor levava o ar-condicionado embora. A Fernanda Lima, apresentadora do ‘Interligado’, chegou a ter quase um desmaio. A Adriane pingava.
Folha – Tudo isso não é natural na construção de uma TV?
Gallo – Para dar um padrão de qualidade, você tem de fazer cobranças rigorosas. E é muito complicado cobrar de pessoas que não receberam o salário.
Folha – Atrasavam?
Gallo – Chegavam a atrasar quase 30 dias.
Folha – Houve uma tentativa anterior de ajuste, com demissões.
Gallo – No final de 99, houve um corte brutal. De 150 funcionários, ficaram 80. Aliás, não pagaram essas pessoas. Isso é público. Basta verificar nos cartórios o passivo trabalhista da Rede TV!. Existem hoje mais de 200 ações.
Folha – Depois desse corte, a situação melhorou?
Gallo – As coisas só melhoraram depois que o Banco Rural entrou na jogada (em agosto de 2000, a Rede TV! renegociou uma dívida de R$ 40 milhões com o Banco Rural e conseguiu novo empréstimo, de R$ 12 milhões). Quando chegou a um ponto de ruptura, o Dallevo e o Marcelo de Carvalho comunicaram que o banco ia participar da TV.
Folha – Participando?
Gallo – A informação que eu recebi dos acionistas é que o Banco Rural adquiriu 9,99% da rede.
Folha – Comprou?
Gallo – É, teria comprado. O volume de dinheiro que eles têm investido é maior até do que os acionistas colocaram.
Folha – Como você sabe?
Gallo – É visível. Basta ver o que eles bancam mês a mês. A televisão fatura só R$ 3 milhões e gasta R$ 7 milhões.
Folha – Mas o investimento não está sendo feito pelos acionistas Dallevo e Carvalho?
Gallo – Não. Justamente porque, quando estava dependendo dos acionistas, as coisas não eram pagas. Só depois que o Banco Rural entrou e nomeou um superintendente financeiro, o Luciano Curvello, as coisas melhoraram.
Folha – Ele passou a mandar na emissora?
Gallo – Nunca interferiu na área artística. Mas o Rural controla o fluxo do dinheiro ali dentro e cobra os acionistas. Isso me foi dito pelo José Dumont, vice-presidente do banco.
Folha – E sobre um parceiro estrangeiro, o que você sabe?
Gallo – Eu sei o que já foi publicado: que o banco Lehman Brothers buscou parceiros estrangeiros para a TV. Mas, se o negócio existisse, não faltava papel higiênico.
Folha – Como vocês acompanharam a aprovação, pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, da renovação da concessão da TV?
Gallo – Passou lá sem que nenhum deputado pedisse para estudar melhor a situação. Foi uma coisa surpreendente, muito festejada dentro da Rede TV!. Eles não esperavam que passasse com tanta facilidade.
Folha – O governo socorria a TV com publicidade?
Gallo – De jeito nenhum. Não mesmo. Eu acho que existe até uma traição ao governo e aos profissionais, que comeram o pão que o diabo amassou em nome de um projeto que está sendo totalmente alterado.
Folha – De que forma?
Gallo – Há uma pressão, principalmente do acionista minoritário, o Marcelo, para que a programação caia para o popularesco. E eu fui demitido a pretexto de uma questão pessoal, mas, na verdade, eles me tiraram porque eu era um empecilho. Eu não permitia a traição ao projeto original.
Folha – A Rede TV! alega que você sabia que a Adriane Galisteu, sua namorada, negociava com a TV Record e não os avisou, numa traição à confiança deles.
Gallo – Eu sabia de tudo e fui o primeiro a avisá-los. Tenho testemunhas disso. Os bispos da Record são testemunhas."
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