TV / VIOLÊNCIA & BAIXARIA
"A encruzilhada da TV", copyright O Estado de S. Paulo, 16/09/02
"Em meu último artigo publicado neste espaço opinativo, critiquei a baixaria que está dominando a programação da TV brasileira. Recebi inúmeras cartas e e-mails de leitores preocupados com os rumos da tela mágica.
Sugerem-me a conveniência de voltar ao assunto. Retomo, por isso, o fio da meada. Serve-me como gancho um fato lamentável, mas paradigmático.
O menor J. A. S., de 15 anos, já comprou gabarito de prova, furtou a calculadora de um vizinho e por quatro vezes saiu de shoppings sem pagar, com produtos escondidos numa mochila. Ele mora numa casa confortável no Morumbi, bairro de classe média alta de São Paulo, e viaja todo ano para os Estados Unidos, onde os pais têm apartamento. Seu pai, um industrial de 47 anos, sabe que o filho comete esses crimes, mas prefere não repreendê-lo para não traumatizá-lo. A delinqüência bem-nascida, flagrada nesse caso real, não é fruto do acaso. Esses trombadinhas de luxo são o resultado dos espancamentos promovidos por uma cultura que valoriza o ter em detrimento do ser e da frivolidade de uma mídia que se empenha em apagar qualquer vestígio de valores.
A televisão brasileira presta excessivo culto à frivolidade. A sociedade desenhada em certas novelas e em inúmeros programas de auditório é um convite à transgressão. A exaltação do sucesso sem balizas éticas, a trivialização da violência e a apresentação de aberrações num clima de normalidade têm transformado adolescentes em aspirantes à contravenção.
Se ?eu tivesse um filho, com a TV que está aí, ficaria apavorado. A meu ver, faltam idéias novas na televisão. Ela mostra aquilo que é mais fácil e tem audiência garantida. Mas acho que essa discussão não leva a nada aqui, no Brasil. Não é a primeira vez que se discutem sexo e violência na TV, e até hoje nada foi feito.? O comentário, publicado há tempos nas páginas amarelas da revista Veja, não é lamento de moralista. Trata-se da crítica de um profissional do ramo. Marco Nanini, ator consagrado e respeitado diretor teatral (foi chamado por Paulo Autran e Glória Menezes para dirigir a famosa peça As Regras do Jogo), engrossa as fileiras dos descontentes com o nível da nossa TV.
Desnecessário é salientar, por óbvio, que às emissoras de TV cabe enorme responsabilidade social. Por isso, é preciso discutir seriamente os valores explícitos e implícitos das mensagens emitidas. Excelência técnica não garante qualidade ética. E sem ética é o vazio. A TV que os brasileiros querem não se limita a detectar as necessidades do consumidor. Sintonizada com as legítimas demandas (o que não significa satisfazer quaisquer demandas), é capaz, ao mesmo tempo, de tornar interessante o que é verdadeiramente importante.
Os meios de comunicação devem mostrar disposição para liderar. O poder requer responsabilidade, e a responsabilidade é base da autêntica liderança.
Uma rede de TV deve estar preparada para assumir uma posição ética e se apegar a ela em face de pressões e críticas. Violência e sexo podem dar alguns pontos no Ibope. A longo prazo, no entanto, um efeito bumerangue poderá decretar a falência da credibilidade.
Uma rede de TV, concessão do serviço público, especialmente num país com as carências educacionais e culturais do nosso, não pode fazer o que bem entender com sua programação. Parafraseando Boris Casoy, é preciso passar a TV a limpo. Impõe-se repensar os caminhos da TV brasileira e, sobretudo, fazer uma revisão profunda das suas balizas éticas. Norma respeitada (e a própria Constituição está sendo varrida pela onda de baixaria que invadiu a telinha) é garantia de prestígio, mas norma descumprida é o itinerário mais curto para a perda do maior capital de um meio de comunicação: a credibilidade.
?Quem quiser qualidade, que assine a TV a cabo.? O comentário do Ratinho não deixa de ser perigosamente premonitório. A TV aberta está, de fato, numa encruzilhada: melhorar ou morrer. Ainda há tempo para virar o jogo, mas, não duvidemos, o tempo não perdoa os que persistem no erro. (Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo para Editores e professor de Ética Jornalística, é representante da Faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra no Brasil E-mail:difranco@ceu.org.br)"
"Governo deve adiar lei de bloqueador de TV", copyright Folha de S. Paulo, 13/09/02
"O governo federal deverá adiar, por medida provisória, a data de entrada em vigor de lei que obriga os aparelhos de TV comercializados no Brasil a conter dispositivo que permite ao telespectador bloquear cenas de sexo e violência.
A lei, de n? 10.359, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no final de 2001, proíbe a venda de televisores sem o dispositivo a partir de 27 de dezembro de 2002. A medida provisória deve postergar essa data por um ano e meio ou dois.
A informação é de Paulo Saab, presidente da Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletro-Eletrônicos), que participa de grupo de trabalho do governo pela regulamentação da lei. Governo e fabricantes chegaram à conclusão de que é muito curto o prazo estipulado na lei para que a indústria desenvolva e produza o novo sistema. Até a regulamentação da lei, que deveria sair até 27 de junho, está atrasada.
Segundo Saab, os fabricantes também irão tentar desenvolver uma tecnologia nacional, para não ter de pagar royalties a estrangeiros. Numa próxima etapa, a Eletros irá tentar convencer o governo a tornar o bloqueador não-obrigatório a todos os televisores.
Conhecido nos EUA e no Canadá como V-Chip, o dispositivo bloqueia cenas de sexo e violência desde que as emissoras enviem sinal com essa informação sobre o conteúdo de seus programas."
AUDIÊNCIA / RÁDIO
"Audiência cresce no carro e cai em casa", copyright Folha de S. Paulo, 11/09/02
"No início deste ano, 323 mil pessoas escutavam rádio no carro, na Grande SP. Agora, já são mais de 600 mil. Enquanto a audiência nos automóveis cresceu de 10% para 17%, a dos domicílios caiu de 74% para 72%.
Com esses números, do Ibope, fica fácil entender por que as emissoras de televisão querem tanto que a TV digital no Brasil possibilite a transmissão móvel. Isto é: que seja possível ver TV em carros, ônibus ou em celulares.
Seria a única maneira de transformar o trânsito caótico, hoje inimigo da audiência, em aliado.
Mas, como deve demorar uns bons dez anos para isso virar realidade, AMs e FMs têm tempo para aproveitar esse privilégio da vida ?moderna?. Aos 80 anos, o rádio ainda pode comemorar essa vantagem diante da televisão.
A audiência no rádio, o único veículo que pode acompanhar seu consumidor para tudo quanto é lado, vem crescendo. No início do ano, na Grande São Paulo, eram 3,31 milhões de ouvintes em média, por minuto, das 6h às 19h. Hoje são mais de 3,5 milhões.
E como os congestionamentos também não param de crescer, daqui a pouco é bom que o mercado reavalie aquela velha história de que o horário nobre do rádio é durante a manhã. Afinal, não é à toa que a novela das oito já é ?das nove? há um certo tempo…
Por que as rádios comunitárias (e as piratas) têm tanta audiência? Porque a dona Maria pode mandar recado para o seu João, que não volta para casa há uma semana, e a moçada da favela pode ouvir o som novo de uns amigos músicos que moram por ali.
E o único jeito de uma emissora comercial concorrer com elas é tentar o mesmo negócio. Essa é a ?sacada? da rádio Viva Rio, uma parceria do Sistema Globo de Rádio com a ONG Viva Rio, que entrou no ar nesta segunda-feira (AM 1.180 kHz, no Rio, ou www.radiovivario.com.br).
A emissora terá correspondentes comunitários, ao vivo, de uma em uma hora, e vai privilegiar o que faz sucesso nos morros.
?Nação Nordeste?, por exemplo, além de tocar ritmos nordestinos, fará a cobertura das feiras típicas em bairros cariocas.
Há também atrações com samba, hip hop, reggae e funk, com apresentação de moradores das comunidades. Tudo para tentar conquistar a audiência dos morros, onde um terço da população se liga nas rádios comunitárias.
E a iniciativa é justo da Globo, que investe pesado na formação de uma rede nacional. Paradoxo? Não. Questão de sobrevivência."
AUDIÊNCIA / TV
"Record compra briga com o Ibope", copyright O Estado de S. Paulo, 13/09/02
"A confusão entre a Record e o Ibope continua. A emissora deve contratar, nos próximos dias, uma nova empresa para auditar os dados do instituto. A Record passou a questionar os números recentemente, quando constatou que alguns de seus programas ganharam mais repercussão, mas não subiram nos índices aferidos pelo instituto. A emissora continua ensaiando a formação de uma aliança com o SBT para criar um novo medidor de audiência, o Adviser. As redes agendaram uma reunião para esta semana sobre o tema. O SBT, por meio de sua assessoria, diz desconhecer a negociação com a Record."
"Por ibope, Gugu vai realizar casamento na TV", copyright Folha de S. Paulo, 12/09/02
"O SBT lança neste domingo, no ?Domingo Legal?, o ?reality show? ?Quer Casar Comigo??. Na atração, nova arma de Gugu Liberato na guerra pela audiência dominical, o brasileiro naturalizado norte-americano Washington Azzi Jr., 35, de classe média, vai tentar encontrar uma noiva.
A idéia, segundo Roberto Manzoni, diretor-geral do programa, partiu do próprio Azzi Jr., que mora em Las Vegas e comercializa shows internacionais, como os do Cirque du Soleil exibidos pelo ?Domingo Legal?. É inspirada em ?reality shows? da TV dos EUA, como o ?Who Wants to Marry a Millionaire??. Há cerca de um ano e meio, o ?Domingo Legal? lançou um quadro semelhante, recebeu milhares de cartas, mas não encontrou um ?milionário?.
No programa de domingo, será mostrado um vídeo sobre Azzi Jr., que está no Brasil. As interessadas, com mais de 21 anos, mandarão cartas. O próprio Azzi Jr. irá fazer a seleção e poderá passar fins de semana com grupos de candidatas. A idéia do SBT é exibir todas as etapas, até a cerimônia de casamento, que poderá ser ao vivo. ?Ele vai pessoalmente conhecer as candidatas e suas famílias. Tudo isso a gente vai mostrar?, diz Manzoni.
Após um período de vitória do ?Domingo Legal? sobre o ?Domingão do Faustão?, a disputa entre os programas ficou estável neste ano. Até agosto, em São Paulo, empatavam em 24 pontos."
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"Por ?Chaves?, Globo suspende jornal de SP", copyright Folha de S. Paulo, 14/09/02
"A edição paulista do ?Globo Esporte? está suspensa desde a última segunda. No horário, a Globo está exibindo a edição nacional, produzida no Rio de Janeiro.
A suspensão, a princípio, é um teste e deve durar até o final da semana que vem, mas pode ser definitiva. A emissora avalia que a edição carioca tem mais apelo junto ao público infanto-juvenil, que tem forte participação no perfil da audiência do horário (12h10), por ter ?games? e reportagens sobre esportes radicais.
Desde que passou a competir diretamente com o eternamente reprisado ?Chaves?, do SBT, em 20 de agosto, a edição paulista do telejornal esportivo perdeu todas no Ibope de segunda a sexta (ganhou aos sábados, quando não há o seriado mexicano no horário).
A edição carioca já conseguiu melhorar um pouco a performance. Nesta semana, perdeu na segunda, na terça e na quarta, mas venceu o SBT anteontem, por 12 pontos a 11, quando o ?Globo Esporte? do Rio passou a dar mais espaço para os clubes paulistas.
Devido ao horário eleitoral, o ?Globo Esporte? está entrando no ar mais cedo, batendo de frente com ?Chaves?. Antes, só disputava com o seriado durante alguns minutos. O esportivo sofre ?efeito cascata?, porque entra no ar com audiência baixa. Desde o início do horário eleitoral, a Globo vem perdendo ou empatando com o SBT, em São Paulo, durante quase toda a manhã (a partir das 8h)."