GOVERNO LULA
“Dinheiro e notícia bem separados”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 2/10/03
“O XIS DA QUESTÃO – Por mais dinheiro que haja para gastar em publicidade oficial, é na confiabilidade da notícia que o governo terá de organizar as suas relações e os seus acordos com a sociedade. Quanto mais distante da notícia ficarem as seduções das verbas publicitárias, mais confiável será a informação jornalística.
1. Coisas diferentes
Apesar dos 150 milhões de reais disponíveis no orçamento de 2004 para a Secom gastar em publicidade (na verdade, essa é a ?coisa? escondida sob o eufêmico rótulo de ?comunicação institucional?), está no lado jornalístico a parte mais importante do trabalho de divulgação do governo, tanto na Secom, sob o comando e as idéias do ministro Luiz Gushiken, quanto na Secretaria de Imprensa da Presidência da República, onde o jornalista Ricardo Kotscho dá as ordens e o tom.
Podemos até admitir que, no enquadramento de uma visão estratégica, as duas vertentes da comunicação governamental se complementem e interajam, em função de objetivos comuns. Mas não acredito que venha a ser assim. São retóricas diferentes, com dinâmicas, ritmos, ciclos, técnicas, normas, lógicas e diversidades temáticas de difícil convergência prática.
Existe, principalmente, uma diferença de essência, fundamental, nas razões negociais sobre as quais assentarão os acordos entre os diversos setores do governo e os meios de comunicação. E convém demarcar isso, para que haja um entendimento lúcido sobre o que estamos falando. Na ?comunicação publicitária?, o objeto do acordo está no valor dos cifrões, que compram espaço e tempo para o governo dizer o que politicamente lhe interessa. Já na comunicação jornalística, o sucesso dos entendimentos se dará em torno do valor noticioso dos fatos, das falas, ou seja, dos conteúdos produzidos pelo governo, no seu agir governativo. Ao contrário do que acontece nos inserções publicitárias pagas – nas quais o governo dirá o que quer, onde quiser – a notícia obedece a critérios determinados pelas razões do jornalismo, que, por definição ideal, são as que convêm à sociedade e por ela compactuadas.
2. Competências e razões
Nas relações com os processos jornalísticos, por causa do direito e do dever de informar, o governo não pode fugir da obrigação de se assumir como a melhor e a mais importante das fontes jornalísticas, devido aos acervos de informação e saberes que detém, e, principalmente, ao poder de agir que a Constituição e a Nação lhe atribuem.
Pois como fonte ativa das redações, o governo precisa criar e otimizar um conjunto de três competências, devidamente adequadas à cultura jornalística:
– Em primeiro lugar, a competência de saber dizer, o que implica o desdobramento no quando, no onde, no como e no a quem dizer. Por ?saber dizer? se pode entender, portanto, o conhecimento e o domínio das técnicas de expressão do jornalismo, bem como dos costumes, rotinas e procedimentos da cultura jornalística. Isso inclui a capacidade e o discernimento de atuar nos processos jornalísticos como pólo produtor e/ou detentor de conteúdos que, interessando à sociedade, interessam ao jornalismo.
– A segunda competência que se exige das boas fontes jornalísticas é a capacidade de saber o que dizer. Ou seja: a capacidade de embutir significados (políticos, econômicos, sociais, culturais, científicos…) nos fatos noticiáveis. Estão no campo da significação os predicados que, tornando noticiáveis os fatos, fazem da notícia ação discursiva. Na perspectiva do jornalismo, os acontecimentos relevantes sempre contêm o recheio discursivo. Não basta, portanto, materializar fatos; é preciso dar-lhe conteúdo significante. E nesta nossa sociedade, que adota e utiliza o jornalismo como espaço público dos embates discursivos, essa é a competência que qualifica, nos sujeitos sociais e políticos, a sua capacidade de intervenção na atualidade.
– Finalmente, a competência de saber socializar o que se diz, para que o dito ganhe força de ação. Em termos práticos, isto significa saber quais são os públicos destinatários, os meios, as linguagens e os tempos adequados para alcançar esses públicos, e os confrontos discursivos que se pretende produzir ou em que se pretende entrar. É sempre bom lembrar que está nos confrontos discursivos o suprimento dos mais importantes ingredientes da democracia e da cultura. Em vez de temer ou inibir os confrontos discursivos, há que os alimentar e acalentar, preferencialmente no ambiente do jornalismo.
Em resumo, a palavra-chave é profissionalismo – competente e ético. Um profissionalismo balizado por cinco linhas de orientação:
1) Educar e consolidar, nas assessorias de comunicação do organismo governamental, uma cultura em que as razões da Notícia, e não as da Propaganda, decidam as ações comunicativas, no relacionamento com a imprensa;
2) Usar o jornalismo apenas naquilo em que o jornalismo é insubstituível: a informação e a análise da atualidade.
3) Organizar e abrir os acervos de informações e saberes, para que possam ser socializados e para que não haja perguntas sem resposta.
4) Informar sempre com clareza e veracidade.
5) Nas relações com a imprensa, repudiar a desonestidade, qualquer que seja o lado em que ela se manifeste.
Repetindo o xis da questão: Por mais dinheiro que haja para gastar em publicidade oficial, é na confiabilidade da notícia que o governo terá de organizar as suas relações e os seus acordos com a sociedade. Quanto mais distante da notícia ficarem as seduções das verbas publicitárias mais confiável será a informação jornalística.”
“Comunicação pública no regime democrático”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 2/10/03
“O presidente da Radiobras, Eugenio Bucci, fez palestra na última segunda-feira (29/09), na Assembléia Legislativa de São Paulo, sobre o tema ?governo, mídia e militância?. O jornalista foi convidado para falar sobre o papel da comunicação pública no regime democrático e começou enfatizando que a imprensa de hoje é fruto da democracia e surge para atender a um direito do cidadão, o direito à informação.
Bucci destacou que a imprensa só existe quando a sociedade acredita que todo poder emana do povo e em seu nome é exercido. ?O cidadão tem o direito de saber porque é ele quem delega o poder. A imprensa deve ser um mediador do espaço público.? O jornalista afirmou que é preciso que fique claro que a comunicação pública não é uma ferramenta de propaganda, já que para cuidar da imagem do governo existem as assessorias de imprensa. Para ele, comunicação pública é uma alternativa para levar o direito à informação a mais pessoas.
Durante a palestra, ele descreveu a existência de ?bolsões de desinformação? no Brasil, lugares onde as pessoas não têm acesso à informação por que as empresas privadas não vêem ali uma oportunidade de mercado e afirmou que é aí que está a função da comunicação pública. ?Assim, mais brasileiros podem ter acesso à informação de qualidade e, dessa forma, podem construir suas opiniões. A comunicação pública vem prestar um serviço que é um direito, conceder informação para dar liberdades às pessoas?. Segundo ele, no governo democrático a adesão vem com o saber, e não com o desconhecimento. As pessoas têm que interferir no governo, mesmo que seja discordando dele. O ?contrário?, o ser ?do contra?, é normal numa democracia e, portanto, no jornalismo. Mas não o é na comercialização, na publicidade.
O presidente da Radiobrás descreveu que hoje muitos jornalistas preferem trabalhar nas redes públicas. Para ele, isso acontece porque a imprensa acredita que ser independente do capital é tão ou mais importante do que ser independente do Estado. Ele ressaltou que a subordinação ao mercado inverteu a natureza da democracia. (*) Jornalista”