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"Empresas virtuais vivem 2º ato de sua trama", copyright O Estado de S. Paulo, 28/01/01
"A exuberância da economia americana, da metade dos anos 90 até meados do ano passado, e a excessiva liquidez de capital no principal mercado financeiro mundial fizeram com que investidores aplicassem alto na reluzente nova economia. A Nasdaq, a bolsa de valores das empresas de alta tecnologia de Nova York, foi aos píncaros, muito além de um K2 ou do Himalaia. Empresas virtuais passaram a valer mais do que poderosas indústrias, como a Chrysler.
Um ambiente fértil marcado pela proliferação de portais, sites, provedores de acesso e toda uma gama de prestadores de serviços da rede mundial de computadores.
Uma febre que se espalhou pelo mundo, e no Brasil em particular. Todos querendo pegar carona nas maravilhas da nova economia. Este foi o primeiro ato de uma tragédia anunciada, na opinião de um dos mais respeitados e privilegiados analistas de Internet, o engenheiro Marc Andreessen, aquele que aos 22 anos, em abril de 1994, provocou uma revolução nas bolsas e no novo ambiente de negócio, a Internet, ao apresentar o Netscape. Um instrumento que abria as porta da Internet para uma comunicação mais palatável e saborosa do que aquela marcada pelas inúmeras páginas acadêmicas e a troca de idéias, teses e livros entre universidades.
O comércio eletrônico ganhou fôlego, nem tanto quanto as projeções e expectativas, porque foram necessários pesados investimentos em logística, e muitos, assinala Andreessen numa intrigante entrevista na última edição da Fast Company, uma revista voltada para o segmento, não foram suficientes para manter todos os projetos de pé.
Esse analista, que ajudou a construir um império e deu gás para que, usando a imagem do cibernético Guerra nas Estrelas, pequenas naves abandonassem a nave-mãe à procura de novas constelações, garante que muitas foram e não voltaram, se perderam. Investimentos recrudesceram e uma expressão legitimamente anglicana, o break even, ganhou o sentido exato de que despesas têm de ter equilíbrio com receitas. Investidores começaram a pressionar mais as empresas por resultados e executivos da velha economia adentraram num gramado povoado por jovens.
Segundo ato – Para Andreessen, agora vivemos o segundo ato da trama, após a queda da Nasdaq e a elevada mortalidade, em 2000, de empresas criadas entre 1998 e 1999. E uma agravante: a desaceleração da economia americana nesse primeiro trimestre. Nessa etapa, tanto nos Estados Unidos como no Brasil, sobreviverão apenas aquelas mais fortes, que prestam um serviço na Internet e conseguem, de fato, serem ferramentas eficazes nas mãos dos usuários. Esse analista privilegiado, com a Netscape no currículo, tem hoje a mesma convicção que a grande maioria dos analistas de bancos de investimentos, a exemplo dos da Merrill Lynch, Goldman Sachs e Citibank: o segundo ato marca a seleção natural das espécies.
Tanto isso é verdade que, mesmo sem se inscrever oficialmente nas competições promovidas pelo iBest, a empresa que promove um concurso anual sobre os melhores produtos da Internet, no Brasil, Espanha e México – com o público e júri especializado -, portais como o Estadao.com são citados, em quatro categorias, pelo público.
O mesmo ocorre com bancos que oferecem serviços a seus clientes e têm ferramentas que facilitam a navegação dos clientes. Além do prêmio iBest, o grupo Abril lançou o ranking Infoexame, que também pretende avaliar o grau de interação dos usuários com os vários produtos da Internet à disposição no mercado. Da mesma forma que a StarMidia prepara premiação semelhante, entre os critérios, os números de quantos internautas entram nas páginas do site ou portal e quantos estão catalogados.
Criado há seis meses, o portal Estadao.com.br abre as páginas para internautas terem informações atualizadas e seguras, acompanhando a feitura diária de um jornal completo, que conta com uma poderosa rede de profissionais, sucursais e correspondentes. Para os que querem informação setorial, com notícias veiculadas em tempo real, a Agência Estado, a empresa do grupo responsável pela formatação do portal, oferece produtos como a Broadcast, para o mercado financeiro, com acompanhamento de bolsas, câmbio e todas as informações que possam afetar os negócios financeiros, da mesma forma que o Agrocast oferece informação especializada sobre o setor agropecuário. Ainda dentro dessa segmentação, com o intuito de oferecer informações específicas, figuram os serviços de Companhias Abertas.
Por dispor de infra-estrutura e coleta de dados 24 horas por dia, o portal também é alimentado com reportagens especiais. O que permite a internautas encontrar, além das edições diárias dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, uma gama de informações que podem influenciar nas decisões tomadas ao longo do dia, de horóscopos a bolsas.
Hoje, a grande diferença dos portais é exatamente o conteúdo. É a capacidade de oferecer informações precisas e claras, o que prende o internauta, e o torna um ativo importante para o négocio. É isso que justifica as pesadas somas que instituições financeiras, como o Santander, têm aplicado em portais de negócios, com conteúdo exclusivo, como o Patagon.com.
Na outra ponta, as operadoras de telefonia, além do aumento de pulsos provocado pelos provedores da Internet, têm procurado acordos com geradores de conteúdo para abastecer, por exemplo, celulares com serviços de informação.
O segundo ato da Internet, para usar a expressão criada por Andreessen, também revela um novo alinhamento de provedores gratuitos que se foram importante para propagar a Internet não encontraram equilíbrio financeiro em suas contas. Todos, para sobreviver, criaram serviços de acesso para os quais possam cobrar tarifa. O BOL, que diz ter 6 milhões de usuários cadastrados – e não apenas dois milhões conforme informações de mercado – aderiu ao sistema, ao se tornar provedor cobrando mensalidade de R$ 19,90 na última semana. Caminho similar ao do iG, que lançou um serviço novo, o iG3, com o compromisso de ser três vezes mais veloz.
Para analistas de grandes bancos de investimentos, esse segundo movimento da Internet, depois da queda vertiginosa da Nasdaq, da altura de um k2 para as profundezas de Grand Canyon, levou as empresas a buscarem formas mais precisas de equilíbrio entre receitas e despesas. O iG, por exemplo, correu atrás das operadoras de telefonia, especialmente Brasil Telecom (BrT) e Telemar, para se manter em operação. Segue, assim, o modelo do inglês FreeServ, que já havia encontrado no repasse de parte da tarifa telefônica a mais, decorrente do uso da Internet, uma participação importante na sua receita. Tudo enquanto o e-commerce não floresce de forma exuberante.
Quem leva a melhor são os usuários, aqueles que nas páginas do site do iBest (é só acrescentar .com.br para navegar) estão votando naquelas ferramentas que contam, apesar de os critérios do júri, embora especializado, levarem em contra outros fatores, inclusive o potencial de investimento publicitário daqueles que são listados."
"Banda larga, pipoca e o futuro da TV", copyright Valor Econômico, 24/01/01
"Você liga o computador do seu home-theatre, põe as pipocas no microondas, entra no seu site predileto de filmes ‘on demand’, escolhe um e pronto: relaxa assistindo ao que pediu, com idêntica qualidade digital ao que assiste hoje na sua TV por Assinatura.
Ops! Você esqueceu das pipocas! Mas tudo bem, seu computador já se entende bem com o microondas e você pode comandar o processo virtualmente, sentadão. Elas não vão queimar. Trazer o pacote até você é outra história. Logo, logo, quem sabe, um I-bo. Ou seja, um robozinho estilo Jetsons, que vai resolver o problema.
Realidade distante? Claro que você, leitor, um cara bem informado, respondeu que não. Que tudo isso já é, praticamente, realidade e que cinema com qualidade digital na Web é algo para logo mais. Infelizmente, não é bem assim.
Muita água irá rolar ainda embaixo da ponte da distribuição de imagens digitais ao consumidor final, via Internet, antes que a situação descrita acima tenha você como protagonista.
Não. Não é uma questão tecnológica. É econômica.
Mas antes de entrar nela, eu pergunto: porque assistir filme através da Internet se eu posso assisti-los hoje, com boa qualidade, pela TV via cabo ou satélite? Bom, claro que sempre será uma questão de preferência.
Mas o fato é que a Internet, além de uma quantidade infinitamente maior de opções, lhe possibilita interatividade. Você poderá, por exemplo, parar o filme quando quiser e colocar outro saco de pipocas no microondas.
Poderá mais. Poderá ter acesso a um infindável banco de dados sobre a película, seu diretor, atores, etc. Mais: poderá ter várias telas abertas no monitor, para ficar ligado em outras atrações. Mais ainda: enquanto a trama se desenrola, você pode participar de um show do milhão paralelo, que dispara perguntas sobre o filme, e concorrer exatamente a … um milhão.
Mas espera aí! Você leu em algum lugar que isso é a TV interativa, a convergência da TV com o PC. Que tudo isso vai acontecer sim, só que na televisão, não na tela do computador.
Pois chegou a hora da questão econômica. No momento, ninguém sabe ao certo qual vai ser o cenário definitivo dessa pequena maravilha do conforto do novo milênio. Muitos garantem que o futuro da TV (e de Hollywood) pertence à Internet. Outros, que as grandes teles e companhias de cabo e satélite dominarão o mundo da distribuição do entretenimento ‘on demand’.
Há os que acreditam que a base instalada dessas empresas vai servir como infra para a distribuição da primeira. E há os que entendem que a Internet caminhará sozinha, já que muitas corporações estão investindo pesado na criação da sua própria base física de distribuição, instalando poderosos servidores que levarão, via fibras óticas mais sofisticadas do que as que temos agora, a programação até a nossa casa.
Não podemos esquecer também que a competição entre teles e emissoras de TVs é antiga. Ambos os segmentos disputam cada palmo do campo de batalha, hoje dominado pelas TVs. Nessa luta, a Internet é grande aliada das operadoras de telefonia, que vêem nela a porta de entrada desse atraente negócio.
Os distribuidores de programação via cabo dos EUA, por sua vez, estão apostando (milhões, literalmente) em novas tecnologias para ganhar essa guerra, oferecendo qualidade de imagem de satélite sem a necessidade do usuário ter uma parabólica no peitoral da varanda.
Já alguns jogadores do setor de Internet têm procurado as grandes distribuidoras de TV a cabo e satélite para uma operação conjunta no campo do vídeo streaming (distribuição de imagens via banda larga na Web), mas estas, em geral, alegam que não têm interesse em criar um negócio paralelo que pode vir a ser um concorrente e não um aliado.
E assim, lado a lado, todas essas tecnologias e plataformas estão convivendo, o que, aparentemente, não contribui para acelerar a definição sobre prováveis vencedores.
Estudos da Merril Lynch sobre investimentos em novas tecnologias prevêem que, em 2005, haverá nos EUA 39 milhões de assinantes de serviços de cabo digital (o tal, sem parabólica), enquanto os usuários de Internet em banda larga serão 24 milhões. Isso indica um convívio pacífico nos próximos anos, mas os investidores preferem apostar em tecnologias vencedoras e, na dúvida, muitos estão repensando suas estratégias.
Suas projeções têm que levar em conta cálculos complexos como o custo necessário para melhorar a recepção na casa do usuário do cabo (aprimoramento das caixinhas que temos sobre a TV, os set-top-boxes), retorno por assinante, custo no incremento da rede para Internet, retorno do investimento, crescimento de cada um dos modelos e até, por exemplo, o que W. George Bush fará na Casa Branca. Não é uma conta fácil.
A boa notícia é que, aos poucos, estaremos recebendo em casa cada um desses avanços. A banda larga já nos permite assistir a alguma coisa parecida com imagens em movimento no computador. Vai melhorar e, um dia, chegaremos à mesma qualidade digital que temos no áudio. Assim, iremos nos divertindo. Com as pipocas e com o futuro. (Pyr Marcondes é Ex-Diretor Geral da StarMedia e diretor de conteúdo e marketing da TV1.com – E-mail pyrmarcondes@hotmail.com)"
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