Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Carta do Pueri Domus a pais de alunos

VEJINHA E AS ESCOLAS

Senhores Pais. Em janeiro deste ano, fomos procurados pelo Sr. Ariel Kostman, jornalista da Revista Veja SP, informando-nos que durante 2001 seria realizada uma "radiografia" sobre as melhores escolas particulares de São Paulo. Em maio, recebemos a visita de um pesquisador do Instituto Ipsos-Marplan Pesquisas Ltda com o questionário informativo, cujos dados dariam subsídio à matéria da Veja SP.

Para nossa surpresa, o que foi publicado na edição de 30 de setembro de 2001, como resultado dessa pesquisa, na verdade, transformou-se num "curioso e desconhecido" processo de "ranqueamento" de escolas, assemelhado a edições anteriores sobre os melhores restaurantes, bares, etc. Além disso, os dados consignados não refletiram a veracidade do que foi informamos.

Assim sendo, sentimo-nos na obrigação de comunicar aos senhores que:

Ao sentirmos o despreparo do entrevistador acerca de assuntos educacionais, solicitamos o direito de responder, de próprio punho, ao referido questionário, o que nos foi negado.

Solicitamos, então, após a entrevista, a leitura do documento já preenchido, o que nos foi negado também.

Tentamos, ainda, por intermédio de nossa assessoria de imprensa, alertar o responsável pela pesquisa sobre o despreparo do entrevistador e da nossa preocupação com possíveis erros no preenchimento do questionário. Também não obtivemos retorno.

Surpreendidos pela matéria publicada sob o Título "As 50 Melhores Escolas da Cidade", percebemos a distorção na utilização dos dados cedidos.

Nossa perplexidade ante a matéria publicada levou-nos a solicitar, junto a Ipsos-Marplan, o questionário referente ao Pueri Domus na íntegra. Constatamos, então, que 10 (dez) questões foram preenchidas pelo entrevistador de forma errônea e outras duas elaboradas de forma duvidosa, dando margem a interpretações diversas, o que poderia ter sido evitado se tivéssemos sido atendidos na solicitação da leitura da pesquisa preenchida. Ressalta-se, ainda, o fato de, exatamente, as respostas a essas questões serem aquelas elencadas pela Revista Veja SP como as de maior relevância na classificação do "hipotético ranking".

Senhores pais, conhecemos a nossa história e sabemos do trabalho realizado ao longo desses 35 anos. As famílias Pueri Domus são co-autoras da mesma história e, por esta razão, submetemos ao juízo de valores de V.Sas. os esclarecimentos expostos.

Usando, ainda, de transparência e do direito de informação, disponibilizamos a pesquisa elaborada a todos os interessados, que poderão confrontar concretamente os dados reais fornecidos pela escola com aqueles erroneamente assinalados pelo entrevistador. Colocamos a funcionária Verônica Barbosa, à disposição para quaisquer esclarecimentos, no telefone 5182.2155 ramal 257 ? Dept? de Comunicação. Atenciosamente, Marie Elisabeth Kraus Debus, Diretora Geral. São Paulo, 3 de outubro de 2001.

 

José Augusto de Mattos Lourenço (*)

À revista Veja São Paulo

Att. Diretor da Redação

O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo – SIEEESP – vem a público para manifestamente repudiar o ranking publicado no último final de semana, intitulado "As melhores escolas da cidade". Não se trata apenas de recusar os critérios utilizados, mas o SIEEESP considera injusta e nociva a insistente tentativa da imprensa de propor rankings como forma de avaliar um complexo sistema de ensino, com enorme diversidade metodológica e múltiplos objetivos. O SIEEESP reitera que é inviável reduzir uma escola, que é um organismo vivo e multifacetado, a um ranking estático. Tais iniciativas apenas disseminam a insegurança entre as famílias, instauram a desconfiança e desequilibram um sistema de ensino que só traz avanços à Educação brasileira. São Paulo, 3 de outubro de 2001.

(*) Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo – SIEEESP

 

Grupo ? Associação de Escolas Particulares

Veja São Paulo misturou conceitos, valores, práticas pedagógicas, salários de professores, armários, piercing, piscinas, música, filosofia, judô. E pôs tudo isso no liquidificador. O resultado foi o ranking das "50 melhores escolas de São Paulo". O respeito que o Grupo deve às escolas citadas e às instituições que ficaram de fora dessa lista exige uma postura firme de repúdio contra essa absurda tentativa de banalizar a educação e o ensino em nosso país.

O ranking das "50 melhores escolas da cidade", presente na Veja São Paulo de 3 outubro, merece firme repúdio por parte de todos aqueles que têm a responsabilidade de educar e formar crianças e adolescentes. A revista cometeu erros do princípio ao fim. E o resultado não poderia ter sido outro ? uma mixórdia superficial, disfarçada por um verniz neutro e técnico.

Atribuindo-se um papel que ninguém lhe concedeu, Veja São Paulo apresenta uma classificação arbitrária e inconsistente, que seria motivo de chacota caso não causasse, como causou, prejuízos a milhares de instituições de ensino, e produzisse, como produziu e vem produzindo, enorme confusão entre as famílias, os alunos e a sociedade paulistana.

Por conta de suas graves implicações, a ?pesquisa? de Veja São Paulo não pode passar sem um exame sério por parte da sociedade. A revista e os autores desse trabalho, que atribuíram a si próprios o papel de juízes da escola particular em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, estarão, eles próprios, a partir de agora, sob o crivo da opinião pública.

Desvio ético

Funda-se a "pesquisa" num desvio ético, num pecado original que desqualifica de partida o seu resultado. As escolas, todas elas, foram logradas. Nenhuma delas foi informada do verdadeiro objetivo do trabalho. A maioria absoluta das instituições teria de pronto se recusado a participar de um "ranking", de uma "lista das melhores".

Vital para estabelecer uma relação transparente e ética entre pesquisadores e pesquisados, esta informação foi omitida por Veja São Paulo. Bastaria esse erro de origem para desqualificar o trabalho. Pois é impossível crer numa pesquisa, especialmente quando versa sobre educação, fundada em um desvio ético.

Mixórdia

A lista de erros não pára aqui. A pesquisa mistura escolas laicas e religiosas, católicas e israelitas, "modernas" e "tradicionais", "construtivistas" e "antroposóficas", fundações, escolas de pequeno, médio e grande porte.

Os valores e os conceitos que embasam as propostas e práticas pedagógicas de cada uma destas instituições são, naturalmente, muito diferentes entre si. E é bom que assim o sejam, porque isso reflete a diversidade cultural, religiosa e social de nosso país.

Para criar um ranking é preciso passar por cima de tudo isso. Veja São Paulo misturou conceitos, valores, práticas pedagógicas, salários de professores, armários, piercing, piscinas, música, filosofia, judô. E pôs tudo isso no liquidificador. O resultado foi o ranking das "50 melhores escolas de São Paulo", que apresentou a incrível precisão de uma casa decimal depois da vírgula.

Repúdio à lista

A publicação da ?pesquisa? acabou por ter um mérito, ainda que involuntário. As escolas particulares de São Paulo, não importa se presentes ou ausentes do ?ranking?, estão cada vez mais unidas contra a banalização do ensino e contra os ataques ao prestígio e à boa imagem das instituições.

Com o seu ranking, a revista prestou um desserviço a São Paulo e a outras duas capitais, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O Grupo de Escolas vem a público manifestar o seu repúdio a essa ?pesquisa? e expressar sua confiança no trabalho desenvolvido por milhares de instituições privadas de ensino em prol da democratização e da melhoria da qualidade do ensino em nosso país.

Para os nossos alunos e suas famílias, deixamos um alerta: que não transfiram a ninguém o direito inalienável que cada um tem de escolher a melhor escola para si e para seus filhos. São Paulo, 04 de outubro de 2001

    
    
                     

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