MÍDIA E CORRUPÇÃO
Chico Bruno (*)
Já tratamos da convivência do poder e do lobby [remissão abaixo] neste Observatório. Demonstramos que a imprensa trata o assunto com demasiada cautela. Agora, o tema vai ser obrigatoriamente divulgado pela mídia, pois a CPI das Obras Inacabadas foi pega com a mão na botija e vai ser investigada por outra CPI. Esse episódio parece um samba do crioulo doido, mas não é.
O caso é o seguinte: foi instalada uma CPI para descobrir por quais ralos escoou o dinheiro de milhares de obras federais inacabadas ou suspeitas de superfaturamento. Entre as inacabadas estão o Açude Castanhão, no Ceará, e o TRT paulista, obras que se arrastam há mais de 20 anos. Entre as suspeitas, o Rodoanel paulista e ampliação do aeroporto de Salvador.
Todas estão sob investigação do Tribunal de Contas da União há muito tempo, inclusive com um alerta para que o governo federal não mais libere novos recursos. Infelizmente, a grande imprensa nunca deu a devida atenção a está explosiva pauta. Agora, felizmente, ela vai ter que correr atrás, porque existem fatos curiosos e escabrosos.
Deputados da oposição acusam o presidente da CPI de estar extorquindo as empreiteiras responsáveis por obras inacabadas e suspeitas, a partir de denúncias de diretores dessas empresas, que infelizmente se escondem no anonimato. O presidente da CPI, deputado Damião Feliciano, do PMDB paraibano, rebate as acusações. Afirma que os líderes dos partidos acabaram com a CPI partindo dessa premissa, mas que em verdade usaram esse argumento para não expor à opinião pública as feridas da promiscuidade entre o Legislativo e os lobistas das empreiteiras, que pululam nos gabinetes do Congresso Nacional, principalmente quando o executivo envia sua proposta de orçamento para análise dos congressistas.
Essa situação é do conhecimento de todo mundo. Por uma razão ou outra, todos os poderes públicos brasileiros, inclusive os jornalistas que cobrem a vida política brasileira, convivem com isso. Todos conhecem as verbas carimbadas. Todos sabem que as empreiteiras é que fazem as propostas de emenda da grande maioria dos municípios e estados brasileiros.
Agora se apresenta a oportunidade de a imprensa se redimir do silêncio nessa questão. Estamos diante da grande chance de, enfim, passar o país a limpo. Nesse processo, a imprensa terá papel importante, se agir com a mesma independência, agilidade e competência que teve no afastamento de Collor e na violação do painel do Senado.
O noticiário do fim de semana dos quatro grandes jornais brasileiros indica que isso vai acontecer, pois todos, sem exceção, trataram do assunto. Aliás, a política e seus personagens vêm sendo tratados pelos autores da novela Porto dos Milagres sem nenhum medo ou pudor, e com muito mais severidade do que a nossa imprensa.
(*) Jornalista