Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

CBS ganha exclusiva

MÍDIA & BUSH

No primeiro aniversário dos atentados de 11 de setembro, o presidente Bush já anunciou que concederá apenas uma entrevista ? a Scott Pelley, apresentador do 60 Minutes II (CBS). Segundo o porta-voz Ari Fleischer, a exclusiva permite um "foco maior sobre o que o presidente quer dizer", e os americanos prestarão mais atenção à mensagem. Além do mais, Bush "quer falar para o país da maneira que uma entrevista séria e profissional, no estilo documentário, torna possível". O governo também concordou em deixar disponíveis para a CBS o vice-presidente, Dick Cheney, e o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld.

A exclusiva é uma vit&oacuoacute;ria e tanto para Pelley, correspondente da Casa Branca na era Clinton, e 60 Minutes II, no ar há apenas três anos e meio ? e atrás do programa original em índices de audiência. Howard Kurtz [The Washington Post, 26/7/02] lembra que a última participação de Bush na TV foi num especial para a NBC, quando passou o dia ao lado do âncora Tom Brokaw. A escolha da CBS, que tanto desapontou seus concorrentes, pode ter envolvido um rodízio diplomático de emissoras.

A "clintonização" de Bush

O fenômeno já foi constatado: assim como seu antecessor, Bush conta com grande apoio popular ? pesquisa do New York Times-CBS diz que ele tem 70% de índice de aprovação ? embora 57% dos entrevistados acreditem que o presidente não está falando a verdade sobre transações suspeitas realizadas quando dirigiu a empresa Harken Energy, em 1989. A diferença é que a mídia não lhe dá mais o benefício da dúvida, observa Kurtz [Washington Post, 29/7]. A verdadeira avalanche de matérias negativas insinua que ele não tem idéia do que fazer com a economia e questiona a ética de suas ações passadas como empresário.

"Mesmo alguns aliados fiéis da Casa Branca começam a temer que o teflon do presidente Bush tenha sido seriamente arranhado", comenta o New York Daily News. Jonathan Alter, jornalista da Newsweek, acha que a cobertura não ficou negativa, apenas "voltou ao normal". "Bush foi tratado muito melhor após o 11 de setembro do que Roosevelt durante a Segunda Guerra Mundial", afirma. Katrina vanden Heuvel, editora do Nation, concorda, dizendo que esta reação demorou a vir. "A torcida por Bush durou tantos meses que impediu um tratamento jornalístico mais crítico."

MÍDIA & IDEOLOGIA

Preocupados com a predominância de jornalistas mais de esquerda ? os chamados "liberais" ? na grande imprensa, os conservadores americanos têm organizado cursos de treinamento para repórteres para aumentar o equilíbrio político das coberturas da imprensa.

Programa oferecido pelo Centro Nacional de Jornalismo, que apareceu nos anos 70, é um dos mais de 10 cursos de orientação direitista dos EUA. Contudo, os conservadores fazem questão de ressaltar que seu objetivo não é infiltrar jornalistas que façam reportagens parciais favoráveis à sua ideologia, mas sim que atuem de forma objetiva, dado que os liberais tenderiam a favorecer idéias mais esquerdistas. Ann Coulter, comentarista e advogada que passou pelo Centro, acha que o treinamento e o recrutamento de conservadores é um bom modo de reduzir a parcialidade da grande imprensa e aumentar a representatividade dos conservadores fora do jornalismo opinativo, onde têm forte presença. Ela é autora do best-seller Slander: liberal lies about the American right (Calúnia: mentiras liberais sobre a direita americana).

O aumento do ativismo político nas faculdades e o êxito da Fox News têm ajudado os programas de treinamento a florescerem. No entanto, segundo Kim Campbell [Christian Science Monitor, 25/7/02], eles freqüentemente se deparam com a dificuldade de que, entre os poucos jovens direitistas que se interessam pela profissão de jornalista, muitos querem escrever somente textos opinativos. "Tenho tentado encorajá-los ao longo dos anos, mas com muito pouco sucesso", lamenta o apresentador da Fox News, Fred Barnes. "Estão mais interessados em política do que em jornalismo." Barnes dirige o Instituto de Jornalismo Político, patrocinado pela Fundação de Estudos Americanos.

De qualquer modo, ainda é nas empresas conservadoras que os jornalistas de direita encontram maior chance de trabalho. Tucker Carlson, apresentador de Crossfire, da CNN, recorda que teve dificuldade de conseguir emprego em veículo da grande imprensa no fim da década de 80. Acabou ingressando no mercado de trabalho em revistas conservadoras.