CASO JESSICA LYNCH
O New York Times [16/6/03] denunciou, em reportagem sobre a corrida dos veículos de comunicação por uma entrevista exclusiva com a soldado Jessica Lynch ? feita prisioneira por forças iraquianas e atualmente hospitalizada nos EUA ?, que a emissora CBS News teria oferecido "estrelato" à militar caso fechassem contrato de exclusividade. Cópia da carta enviada à família de Jessica, obtida pelo Times, sugeriria que a jovem de 20 anos teria até participações em programas da MTV, uma das subsidiárias da Viacom, também dona da CBS News. Elas incluiriam "um show em Palestine, na Virgínia Ocidental [cidade natal da soldado], com a presença de uma celebridade atual como Ashanti ou talvez Ja Rule."
O Times afirma que esse tipo de oferta ? uma forma indireta de substituir o pagamento direto pela entrevista, aceito apenas entre os tablóides ingleses do mais baixo escalão ? levanta dúvidas quanto à independência de veículos jornalísticos subordinados a grandes conglomerados de entretenimento.
No dia seguinte, como reporta a Variety [17/6], a CBS News respondeu de forma áspera. "Diferentemente dos problemas éticos do New York Times, não há dúvidas sobre a correção e a integridade da CBS News", alfinetou o canal em comunicado oficial, referindo-se ao escândalo envolvendo o repórter Jayson Blair, que plagiou outros jornais e fabricou reportagens. A emissora afirma que o diário nova-iorquino "misteriosamente" deixou de fora de sua reportagem os trechos do documento que deixam claro que a CBS News não tem vínculo com outras empresas da Viacom. Na verdade, o fim do texto do Times menciona isso, além de dar voz a executivos da empresa, que afirmam não haver nada de errado com a proposta feita a Jessica.
Os problemas éticos internos do Times parecem tê-lo animado a criticar a concorrência. O jornalista David Kirkpatrick escreveu em 18/6 artigo sobre o fato de o Washington Post estar revendo a história originalmente heróica da mesma soldado. Em abril, o diário publicara em primeira-mão matéria descrevendo a luta que Jessica teria travado contra seus captores iraquianos. A matéria, reproduzida em diversos veículos, foi importante para a criação de um sentimento patriótico favorável à guerra. No dia 17/6, no entanto, o Post publicou em primeira página que "a história de Jessica é muito mais complexa e diferente dos relatos iniciais". Ela teria tentado atirar nos inimigos, mas a arma teria falhado, o que não fora mencionado inicialmente.