BALANÇO DA COBERTURA
Chico Bruno (*)
Terminou o primeiro ato. Fecharam-se as cortinas. O intervalo acabou e se reabrem as cortinas para o derradeiro ato desta eleição presidencial. A mídia, no desenrolar do primeiro ato, atuou além do esperado.
Os dossiês, o denuncismo e o baixo nível foram totalmente descartados. Em seu lugar o que se viu foram entrevistas e debates nas emissoras de rádio e televisão. Encontros e entrevistas com os candidatos a presidente nos principais jornais do país e em vários sítios de notícias da internet.
As pesquisas, uma após outra, em determinados momentos chegaram ao absurdo do exagero mas, pior que isso, foi a falta de uma analise mais detalhada do que elas queriam dizer, principalmente porque tanto as emissoras de televisão, de rádio e os jornais não dispunham de espaço para analisá-las com a devida atenção. Uma prova disso foi a avalanche de esclarecimentos do Ibope aos analistas políticos que se equivocavam com os números divulgados.
Talvez um equivoco da mídia tenha sido dar atenção muito grande a atores coadjuvantes desta eleição. Neste particular se encaixam os publicitários, principalmente os que trabalharam e ainda trabalham para os dois candidatos que vão protagonizar o segundo ato desta campanha. Em determinados momentos, a exposição destes profissionais foi igual à dada aos candidatos.
Precedentes perigosos
Mas o que mais incomodou a mídia, neste período, foram as liminares e os direitos de resposta. Quem abriu a temporada de censura foi o candidato Garotinho, com auxílio da Justiça fluminense. A moda pegou e a partir daí muitos se valeram deste artifício. Os casos mais recentes foram protagonizados pelo governador e candidato à reeleição no Distrito Federal, Joaquim Roriz, contra o jornal Correio Braziliense, censurado por liminar da Justiça, e pelo PT do Amapá contra o jornal Folha do Amapá, impedido de circular no dia 6 de outubro pela suposição de que a edição poderia trazer acusações infundadas à candidata petista. A solicitação do PT foi prontamente atendida pela Justiça Eleitoral, que nem ao menos se deu ao trabalho de querer ver o material que estava sendo publicado. Um ato autoritário que nos remete aos duros dias da ditadura militar.
Além disso, a Justiça Eleitoral concedeu a torto e a direito famigerados direitos de resposta que inundaram os espaços da mídia em todo o país. Exemplo marcante aconteceu com a colunista Arlete Salvador, do Correio Braziliense, que por ter escrito que em determinados pronunciamentos e ações a candidatura de Garotinho prestava um desserviço ao país, foi advertida por um dirigente partidário de forma autoritária e pressionada a publicar um direito de resposta, em espaço cinco vezes maior do que o de sua coluna.
Este incomodo causado por liminares e direitos de resposta são um prenúncio de que muita gente neste país não se conforma com analises jornalísticas e gostaria de ver a censura exercida em sua plenitude. Estes precedentes precisam ser avaliados pelas entidades de classe, pois é a partir de pequenos detalhes que passam despercebidos que se vão construindo obstáculos ao livre exercício da liberdade de imprensa.
O mal precisa ser cortado pela raiz.
(*) Jornalista