Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Censura e consenso


CAROS AMIGOS

Estive lendo a Caros Amigos, edição especial de dezembro, com as "grandes entrevistas" da revista. Realmente boas as entrevistas, uma das quais a do economista Aloysio Biondi: em certo ponto ele aborda a mansuetude dos jornalistas, particularmente os de economia. Começa ele dizendo que "o jornalismo econômico nunca esteve tão atrelado ao governo". E a alfinetada vai mais fundo, em que ele diz que até mesmo no tempo da ditadura podia- se falar alguma coisa, "até a hora em que você cresce, inclusive politicamente, começa a incomodar. E aí o patrão é procurado para acordo, (….) pelo governo".

Continua ele dizendo que durante a crise econômica por que passamos (passamos?) as notícias econômicas de grande vulto, aquelas que verdadeiramente indicavam o quanto o Brasil estava mal das pernas, em vez de saírem em destaque vinham no meio do texto, quando não subtraídas, e isso genericamente numa matéria sobre bolsa (de valores), que seria mais uma conseqüência do que propriamente um sintoma de uma dada conjuntura econômica.

Para amarrar a idéia, continuo com as palavras dele: (…) "Aí vêm dizer que é incompetência dos jornalistas. Incompetência uma pinóia, tem jornalista aí de altos conhecimentos técnicos, e você pega a coluna dele de três anos para cá, quantas vezes ele falou de um problema do país, realmente? Colunistas famosos. Não falta conhecimento, não, aquilo é escondido deliberadamente. Porque se sai um estudo dizendo que o aumento do funcionalismo vai provocar um rombo, ou acréscimo de despesa de 1 bilhão, que é uma ninharia, isso vai para a manchete de domingo do jornal. Agora, esse último aumento de juros deles, 49 por cento, segundo os cálculos, só nesses quatro meses são mais 16 bilhões, 4 bilhões por mês. E é isso que tinha de estar na manchete."

Detalhe importante: a entrevista é de outubro de 1998. Realmente, em torno dessa época (diga-se: eleição presidencial), lembro-me muito bem de que o Estadão estampava otimismo com os rumos econômicos tomados pelo Brasil em face da crise econômica mundial. Dava até raiva! Moral da história: por conta da rápida evolução da nossa língua, o vocábulo "censura", tão em voga durante a ditadura, em épocas de neoliberalismo ganhou um novo e inusitado sinônimo: "consenso". Talvez os dicionaristas aprovem (quem sabe o Aurélio, que é mais novidadeiro). E termino com a minha alfinetada: e é a partir de um insignificante embargo judicial sobre a novela global, que de censura ?no meu entender ? não tem nada, que as classes jornalística e artística se levantaram, tornando a discussão uma sessão de abobrinhas!

Rogério Reis

GLOBO & INCÊNDIO

Gostaria de ressaltar que não "suporto mais" esta idolatria pela senhora Maria das Graças. Acho que a Globo e quase todos os meios de comunicação pensam que o povo do nosso país é totalmemte imbecil. Espero que todas as vítimas logo estejam em suas casas recuperadas, mas o que é insuportável é esta mania de pegar qualquer coisa ou matéria jornalística para transformar Xuxa na melhor pessoa do mundo, ou superior a todos nós. Ora, me façam um favor, a quem eles querem "adestrar"? Estou farta disto, temos que conviver com um monte de porcaria e adorar.

Célia Cristina

Concordo plenamente com o que foi escrito no texto "Globo não deixa queimar cifrões". É mais do que óbvio que a Globo está abafando o caso para que não tenha tantos danos de público. Pena que uma minoria perceba isso, todos acham que a Xuxa é uma santa, que ela é uma rainha, mas isso é só fachada, isso é o que a mídia fez dela, e não o que ela realmente é.

Claudia Morato Guimarães

A imprensa fez um estardalhaço por causa do alambrado do Estádio de São Januário. Interditaram, jogaram processos, enfim, condenaram tudo, e agora? Cadê a segurança no Projac e no Rock in Rio? Infelizmente, neste país está tudo errado. 

Idalina

Navegando no site UOL à procura de informações sobre o incêndio no Projac, me deparei com um link para a notícia de uma forma inusitada. Estava no tópico "Diversão e arte", um lugar no mínimo estranho.

Paulo Germano

Sinceramente, não suporto mais a pretensa imparcialidade dos meios de comunicação. É claro que eles se utilizam das massas para auferir maiores lucros de acordo com seus interesses. Este "mundo melhor" poderia ter começado há muito tempo se houvesse vontade da imprensa em divulgar aquilo que fosse para o bem da coletividade, e não apenas de uns poucos.

Humberto Élio

A "operação-abafa" que Luiz Antonio Magalhães citou parece ser apenas o esvaziamento natural que toda notícia sofre com o tempo. Da morte de Senna aos charutos de Ms. Lewinsky, toda grande cobertura começa com quatro páginas, passa a duas e então a uma, até virar rodapé no meio do caderno e sumir… parece natural então o que acontece com o incêndio do Xuxa Park. Quanto à "divinização" de Xuxa, deveria a Globo proceder de forma diferente? Uma vez que efetivamente ela tem visitado e presenteado as vítimas (por quaisquer que sejam seus motivos), deveria a Globo ignorar o fato para manter a imparcialidade? As Organizações Globo, como qualquer outra empresa, não pode ser condenada por propagandear seu "patrimônio" (no caso a própria apresentadora) quando ele faz a coisa certa.

Paulo Dias, analista de sistemas, Rio de Janeiro


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Globo não deixa queimar cifrões ? L. A. M.

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