Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Charge crucificada

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MONITOR DA IMPRENSA

CENSURA

Organizações judaicas nos EUA estão defendendo um novo princípio civil: a separação entre a igreja e as piadas. Segundo Zev Chafets [Daily News, 16/4/01], o motivo parece ter sido uma charge publicada em mais de 1.000 jornais ? incluindo o Daily News ? em que o símbolo judeu minorah transforma-se gradualmente numa cruz, símbolo cristão. Diversos grupos consideraram o desenho um insulto, e vários jornais o removeram às pressas dos exemplares que restavam para ser impressão.

O autor, Johny Hart, se desculpou, mas disse ter apenas expressado seus sentimentos em relação à Páscoa. Hart é um fundamentalista que acredita ser o Cristianismo a única religião verdadeira. Há dois anos seus cartoons de domingo foram eliminados do Washington Post, depois de várias reclamações de leitores.

Dependendo da interpretação, diz Chafets, várias charges podem ser tomadas como ofensivas por diversos grupos. Para ele, a charge não era anti-semita, e sua mensagem principal ? de que o Cristianismo derivou do Judaísmo ? é um fato histórico. Se o desenho pintava os cristãos como superiores aos judeus não ficou claro. Para um amigo seu israelense, disse o jornalista, a transformação simbolizou a mudança do Judaísmo para algo mais sombrio ? que seria a cruz cristã.

RÚSSIA

Em menos de uma semana, o império midiático de Vladimir Gusinski sofreu três grandes derrotas. No sábado, dia 14, a emissora NTV, de sua companhia, a Media-Most, foi tomada pela estatal de gás russa, a Gazprom. Dois dias depois, um de seus jornais foi extinto, e no dia seguinte os jornalistas da revista semanal Itogi encontraram as portas da redação fechadas: estavam despedidos. Agora parece não restar dúvidas de que o presidente Vladimir Putin está tentando ? e aparentemente conseguindo ? calar a mídia independente russa, disse editorial do New York Times [18/4/01].

A NTV era a única emissora de alcance nacional que não estava sob o controle do Estado. Em protesto contra as mudanças na direção, os jornalistas da rede se demitiram, e no início da semana já estavam dividindo os espaços ocupados pela TNT, também da Media-Most. Logo em seguida, a polícia russa reabriu um processo de evasão fiscal contra o canal. Uma dívida que, segundo um porta-voz da empresa, já foi quitada há tempo. A TNT, que atinge cerca de 75 milhões dos 145 milhões de russos ? menos Moscou ? é mais voltada para programas de entretenimento, mas desde a chegada da antiga equipe da NTV começou a alterar sua programação.

Outro refúgio para os dissidentes foi a TV6, de Boris Berezovski. Embora rival de Gusinski, os dois têm a mesma postura em relação ao governo de Putin, e se auto-exilaram. Berezovski deixou claro que a equipe seria bem-vinda à TV6, mas a oferta não agradou a seus próprios funcionários, e alguns ameaçaram pedir demissão, temendo que a emissora se transforme em um vetor político. "É necessário que os noticiários da emissora sejam fortalecidos, já que a TV6 foi a única estação efetivamente privada que restou", disse Berezovski. Ele garantiu que o canal continuará "absolutamente independente" e voltado para os jovens.

O fim da publicação diária Sevodnya foi conseqüência da falta de fundos e da rixa entre o editor Dmitri Biriukov e Gusinski, somadas às críticas que a Gazprom vem fazendo ao magnata. Os jornalistas demitidos prometeram continuar a veicular na internet suas versões do Sevodnya e da Itogi. "Encontraremos maneiras de continuar com nosso trabalho até se uma rígida ditadura for estabelecida na Rússia", anunciaram na terça-feira.

O setor parece pessimista em relação ao futuro da profissão no país, disse o editorial. O jornal se mostrou preocupado com a democracia na Rússia: a mídia independente têm sido fundamentais na formação de uma sociedade livre. Se a situação atual permanecer, disse o Times, Vladimir Putin poderá retomar o poder da era soviética, que suprimia ou manipulava as notícias de oposição ao governo.

Vladimir Gusinski venceu uma batalha de 10 meses na Espanha. Segundo Sabrina Tavernise [New York Times, 18/4/01], na quarta-feira a Justiça espanhola rejeitou o pedido de Moscou para extradição do magnata. Por dois votos a um, os juízes decidiram que as acusações de fraude do processo não são consideradas crime no país, e, se o governo russo não recorrer, Gusinski poderá sair da prisão domiciliar, em que está desde dezembro.

Gusinski e seu conglomerado, Media-Most ? famosos pelo jornalismo crítico em relação ao governo russo ? vêm sofrendo ataques desde a eleição de Putin, no ano passado. O Kremlin nega qualquer relação com as batalhas legais contra Gusinski, alegando que os promotores estão agindo de forma independente. Nega também qualquer pressão sobre a estatal de gás Gazprom, que tomou o controle da NTV.

"Nós mostramos ao governo o poder dos jornalistas", disse Gusinski. "É por isso que o presidente Putin quer nos controlar." Diante dos últimos ataques sofridos pela Media-Most, o empresário disse que pretende vender o restante de suas ações da NTV e depois processar a emissora para que devolva um empréstimo devido à Media-Most. Ted Turner, que vinha negociando com Gusinski a aquisição do canal, parece ter desistido da idéia, depois que a Gazprom assumiu o controle da emissora. Gusinski pretende reabrir a Itogi, que era associada à americana Newsweek.

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