GLOBO CABO
"Globo Cabo renegocia dívida com BNDES", copyright Folha de S. Paulo, 21/12/01
"A Globo Cabo, empresa de TV por assinatura controlada pelas Organizações Globo, está finalizando a renegociação de sua dívida de curto prazo com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O valor da dívida no balanço da empresa de 30 de setembro era de R$ 70,6 milhões. A dívida total com o BNDES era R$ 157,8 milhões.
Nenhuma das duas partes quis falar formalmente da operação. O BNDES alegou sigilo bancário e a Globo Cabo informou que, como empresa de capital aberto, sujeita às normas da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), não pode falar sobre operações que não estejam fechadas.
Segundo informações do mercado, a renegociação com o BNDES é parte de um esforço maior da Globo Cabo para alongar ao máximo a sua dívida de curto prazo, que somava, em 30 de setembro, R$ 633,17 milhões.
A dívida líquida (dívida menos dinheiro em caixa) total da empresa era de R$ 1,63 milhão no fechamento do terceiro trimestre.
Outra operação que a Globo Cabo está realizando com o objetivo de reduzir a pressão da dívida de curto prazo sobre o seu caixa é a securitização de contas a receber no futuro. A empresa não nega, mas não fala em números.
A Globo Cabo acumulou nos nove primeiros meses deste ano um prejuízo de R$ 659,5 milhões. Segundo a empresa, a principal razão do prejuízo do período de julho a setembro foi também a desvalorização cambial. No período, a base de assinantes da empresa caiu 2,6%."
PESQUISAS ELEITORAIS
"A política das pesquisas", copyright O Estado de S. Paulo, 19/12/01
"Dá vontade de dizer, logo de saída – apenas para chamar a atenção do eventual leitor sobre o tipo de problema de que se tratará a seguir -, que a lei deveria proibir a divulgação de pesquisas eleitorais não na reta final da campanha, mas antes de que tenha começado para valer, com os candidatos todos escolhidos e o horário gratuito de propaganda no ar. Para prevenir mal-entendidos, este jornalista quer deixar claro que defende, a sério, a publicação irrestrita das sondagens, em qualquer época, até no dia do pleito.
É também mais do que justo o direito dos partidos, previsto em lei – embora eles tirem disso menos proveito do que poderiam -, de acesso aos dados que os institutos devem encaminhar à Justiça Eleitoral antes da divulgação dos resultados (quem contratou e pagou as pesquisas, quanto custaram, quando, onde e com quem foram feitas, com que metodologia e checagem, além da íntegra dos questionários e dos números apurados). A igualdade de oportunidades eleitorais, nesse particular, está bastante bem servida no Brasil.
O diabo é a distorção do jogo eleitoral e, eventualmente, do seu desfecho, provocada pela alquimia de transformar uma realidade virtual em realidade política efetiva. Realidade virtual é a das pesquisas distantes um ano ou mais do seu objeto, quando metade do eleitorado, no mínimo, não demonstra interesse algum pela movimentação dos partidos e de seus presidenciáveis, quando nem sequer se sabe quais legendas ficarão juntas e quem, afinal, aparecerá com nome e foto na cédula eletrônica.
Políticos, pesquisadores, acadêmicos, marqueteiros, até jornalistas do ramo conhecem o valor oculto dessas sondagens ?experimentais?. Elas são tremendamente importantes para o governo e a oposição, por registrarem o clima de opinião prevalecente a cada momento na sociedade, por indicarem como as pessoas reagem ao vaivém de fatos e personagens, por revelarem as queixas e demandas dos eleitores na situação em que vivem e as suas expectativas sobre o perfil ideal do próximo presidente (governador, ou prefeito).
Os especialistas sabem mais. Sabem que, nas pesquisas, antes de a disputa chegar à televisão, o que condiciona a intenção do eleitor é o que ele guarda do passado e o que enfrenta no presente, ao passo que, na hora de votar, é a antevisão do futuro que orienta a sua escolha. Simplificando um pouco, pode-se dizer que, nas pesquisas, o eleitor vota mais com o fígado e, na urna, mais com a cabeça. Só que esse mesmo eleitor pouco sabe das manobras dos políticos interessados no que as pesquisas têm a lhes proporcionar.
Os resultados chegam até ele de um modo que exibe quase tudo, mas esconde o essencial, como se dizia do biquíni. Esconde o que os patrocinadores dos levantamentos podem ter pretendido com o desenho do questionário, com a ordem e a forma das perguntas, com o timing do ?campo? e da apresentação dos números. Lembrando uma vez mais o desabafo de Bismarck sobre a reação do povo se soubesse como se fazem as leis e as salsichas, é o caso de parafrasear: ?Ah, se o eleitor soubesse como se fazem as pesquisas e as notícias.?
Um problema, aponta a colunista Dora Kramer, está na informação de que, ?se a eleição fosse hoje, fulano ganharia de beltrano?. O problema ?é justamente o fato de a eleição não ser ?hoje?, diz ela. De seu lado, a pesquisadora Fátima Jordão observa que os resultados poderiam ser mais fidedignos se, em vez de se perguntar ?se a eleição fosse hoje, em qual destes candidatos o (a) senhor (a) votaria??, o entrevistador dissesse: ?Haverá eleições para presidente em outubro de 2002. Se forem estes os candidatos, em quem o (a) senhor (a) votará??
Os institutos, mas não o público, sabem a diferença que faz a maneira de perguntar. Um exemplo atual está na pesquisa New York Times/CBS sobre as polêmicas medidas antiterroristas do governo Bush. Perguntados se achavam ?uma boa idéia? a polícia entrevistar 5 mil estrangeiros, escolhidos ?conforme a idade e o país de origem?, 61% dos americanos responderam sim.
Mas, perguntados se o governo deveria mandar interrogar jovens imigrantes do Oriente Médio, mesmo insuspeitos de crimes, o apoio caiu para 42%.
Quando essas sutilezas são mantidas na sombra, o que fica – e conta – é a numeralha divulgada, favorecendo a construção de um quadro político forçado, com a argamassa porosa de uma situação postiça. É o que o PFL parece estar fazendo a partir do desempenho da governadora maranhense Roseana Sarney nos levantamentos de opinião, depois de ser mostrada deliberadamente como estrela exclusiva do que deveria ter sido um programa institucional do partido e acabou sendo um programa de propaganda eleitoral antes da hora autorizada em lei.
Esse ?factóide montado pela cúpula do PFL, que ganhou vida própria?, como diz o cientista político Sérgio Abranches, está sendo inflado pela divulgação de pesquisas com o provável intuito de provar que a telegênica, articulada e assertiva governadora é o melhor anti-Lula que o governo poderia querer. O resultado é uma variante do efeito Tostines: a marca vende porque o produto apareceu bem nas gôndolas, impressionou o consumidor e passou a vender mais ainda graças ao carnaval que se armou. É a pesquisa servindo de termômetro não para medir, mas para melhorar a saúde do paciente.
Tanto assim que o que a imprensa chamou ?fenômeno Roseana? não acabou propriamente de irromper no cenário nacional com a força de um big-bang. Em novembro de 2000, lembra Fátima Jordão, o Instituto Sensus, que faz pesquisas para a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), deu à governadora 13,6%. Em agosto último, ela se manteve no mesmo patamar, com 14,1%. Por que o PFL não fez, então, a festa que faz agora?
Porque o seu presidenciável – se o partido fosse correr em faixa própria no primeiro turno, como os seus caciques falam agora – era o ainda poderoso senador Antonio Carlos Magalhães. Ou seja, em outro contexto e diante de outra relação de forças internas, o PFL deixou Roseana quietinha no seu canto, quando poderia ter passado a investir na sua figura, tendo em conta ainda que o Sensus incluiu na pesquisa o ministro José Serra, o que leva a crer que a governadora se teria saído ainda melhor se fosse o único nome governista da relação.
É de prever que a cotação de Roseana nas pesquisas ganhará novo impulso quando ela se declarar presidenciável de uma vez por todas (o que também vale para o tucano Serra), porque, à parte quaisquer outros fatores, o potencial de votos dos políticos que entram nas sondagens aumenta quando os entrevistados os identificam como candidatos de verdade – e não franco-atiradores eleitorais. Mas a operação esperta com pesquisas feitas em situações abstratas e fluidas já terá produzido o círculo vicioso – ou virtuoso, para quem o criou – capaz de mudar artificialmente o panorama da campanha na vida real. (Luiz Weis é jornalista E-mail: luizweis@uol.com.br Site: www.werbo.com.br)"
VIOLÊNCIA
"Violência mata 100 jornalistas em 2001", copyright O Estado de S. Paulo, 18/12/01
"Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) informou que o número de trabalhadores da mídia mortos no mundo em 2001 pode chegar a cem, o total mais alto em seis anos. Por causa dos atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos lideraram nessas mortes. O relatório anual da FIJ relacionou quatro jornalistas e oito trabalhadores na mídia mortos nos EUA. Entre eles, William Biggart, um fotógrafo da agência Impact Visual que correu para o World Trade Center para cobrir o ataque, e Robert Stevens, o editor de fotografia morto por uma carta infectada com antraz na Flórida. Também constam da lista seis engenheiros de radiodifusão que estavam trabalhando na Torre Um do World Trade Center e Thomas Pecorelli, um operador de câmera free-lance que viajava no avião da American Airlines que colidiu com a torre.
Mais uma vez, a Colômbia lidera a lista de jornalistas diretamente visados para serem assassinados, com quatro casos confirmados e seis sob investigação. ?A lista das baixas da mídia é um lembrete trágico do preço que pagamos pela liberdade de imprensa e democracia?, disse Aidan White, secretário-geral da FIJ, que representa 500 mil profissionais de mídia de 106 países.
Segundo ele, as 77 mortes confirmadas de profissionais da mídia noticiosa no exercício do seu trabalho e mais 23 que estão sendo investigadas, é uma ?estimativa modesta? que tenderá a crescer. Ele disse ainda que mais de mil já foram mortos nos últimos dez anos."