MÍDIA ESPORTIVA
Antonio Carlos Teixeira (*)
A precoce eliminação do Corinthians da Copa Libertadores, no dia 14, no Morumbi, diante de 66 mil pessoas, foi marcante também pelos episódios do dia seguinte. Que o torcedor corintiano tenha tido sua maior decepção dos últimos anos, todos sabem. A Libertadores é um título que ainda falta na galeria de troféus da equipe paulista, onde há espaço de sobra para conquistas internacionais. O que poucos viram ? e notaram ? foi a cara de ressaca de grande parte da mídia esportiva paulistana. Os programas de rádio e TV esportivos, na quinta-feira (15) foram marcados por um clima azedo e apático, quase de velório. A mídia sentiu muito a desclassificação do Corinthians. O encalhe de jornais, certamente, foi maior naquela quinta macabra, embora torcedores de outras equipes tenham-se deliciado com o fracasso do adversário.
Na quarta-feira, dia do jogo, o Estado de S.Paulo dedicou página inteira para contar lances da partida que ocorreria à noite. A Folha de S.Paulo deu igual destaque ao jogo. O mais corintiano sítio de notícias em tempo real, o Gazeta Esportiva, até inovou ao lançar leiaute ousado para destacar a manchete sobre a disputa da vaga entre Corinthians e River Plate, o algoz argentino. Não se soube se jornais como Folha e Estadão seguraram a impressão da edição de quinta-feira. Se o "Timão" vencesse, é provável que teríamos outra página inteira sobre a partida, exaltando a classificação e antevendo a conquista do inédito título. Dos quatro clubes considerados grandes em São Paulo, só o Corinthians não venceu a Libertadores. Paciência. Para atingir tal feito é preciso muito mais do que torcida. Sem elenco de qualidade não se ganha essa competição.
A equipe do técnico Geninho foi impiedosamente derrotada em casa. Não pelo placar mínimo (2 a 1), mas da forma como ocorreu a "tragédia" que a mídia se recusou a antever. Diante de tantos bons exemplos de como não se deve fazer as coisas no jornalismo, peguei matéria do Estadão da sexta-feira, dia 16, assinada pelo repórter Wagner Vilaron. Em meia página, o repórter procurou encontrar respostas para a eliminação do time do Parque São Jorge. Até aí, tudo bem. O torcedor precisa conhecer os bastidores de seu clube e até participar indiretamente do clima após uma vitória ou uma derrota. Os jornais, principalmente, conseguem transmitir isso.
Lugar de torcedor
Mas o repórter do Estadão exagerou, extrapolou nos adjetivos e nas cobranças. Irritado, fechou sua matéria dando a impressão de tratar-se de corintiano apaixonado. Depois de aspear uma série de declarações do treinador Geninho, Wagner Vilaron concluiu sua reportagem bem ao estilo de um apaixonado: "Diante disso, fica a pergunta: então fazem o que num clube como o Corinthians". Ele questionava a declaração do treinador segundo a qual os jogadores teriam se assustado com o grande público presente ao estádio. O puxão-de-orelha pareceu-me coisa de torcedor.
O corintiano Gazeta Esportiva bateu recorde de sarcasmo e falta de respeito com os torcedores das outras equipes. Além da coluna diária de um certo Chico Lang, especializado em provocar as torcidas adversárias do Corinthians, o sítio publicou uma opinião disfarçada de matéria. No texto, o signatário (cujo nome foge-me à memória) dizia que, "embora derrotado, o ?Todo-Poderoso? era fenômeno". Nada a ver. Além do que, todo-poderoso só existe um. O colunista explicava que, naquele dia, o sítio da Gazeta Esportiva tinha batido todos os recordes de acesso e de mensagens recebidas pelo "fale conosco". Não explicou, contudo, o que diziam, em síntese, as cartas recebidas. Na certa eram palmeirenses, santistas e são-paulinos gozando a equipe do sítio, com perguntas do tipo "e agora, cadê o todo-poderoso?" A Gazeta Esportiva não esconde sua preferência pelas bandas do Parque São Jorge.
Enfim, a mídia paulistana chorou ? e ainda chora ? a eliminação do Corinthians. Arrisco a dizer que muitos jornalistas sentiram muito mais a derrota corintiana do que boa parte dos torcedores de arquibancada. É a dupla face da nossa combalida e sempre parcial mídia esportiva. Fazer o que, né? Eles também são brasileiros e, como tal, s&aatilde;o apaixonados por futebol. O que não se pode aceitar, em hipótese alguma, é que suas paixões sejam mascaradas por comentários irônicos e textos maldosos contra torcidas e equipes adversárias. Enquanto estiver nas redações a serviço de um veículo de comunicação, o profissional do jornalismo deve levar informação ao público em geral. Se quiser torcer, deixar extravasar seu amor por algum time de futebol, que compre ingresso e vá para a arquibancada, onde é o lugar de todo torcedor.
(*) Jornalista em Brasília