ITÁLIA
"Murdoch está perto do controle do mercado italiano de TV paga", copyright Cidade Biz, 10/6/02
" A News Corp., do magnata australiano Rupert Murdoch, assinou um acordo de 1,42 bilhão de dólares com a Vivendi Universal para a compra da Telepiu. O negócio, fechado no final de semana, dará ao empresário o controle do mercado italiano de TV por assinatura.
Os investidores da Vivendi Universal comemoraram nesta segunda-feira a iniciativa que deve permitir à companhia sair da Itália, mas a empolgação foi reduzida pela apreensão de que o gigante da mídia ainda tem um longo caminho pela frente para dar conta de suas dívidas.
As ações da Vivendi subiram 4% em Paris depois que o grupo franco-americano acertou a operação, mesmo na dependência de aprovação de autoridades antitrustes. O acordo eliminará também um processo judicial de 1 bilhão de dólares aberto na França pela Vivendi Murdoch de piratear os sinais do Canal + (Canal Plus). A News Corp. fechou ainda os detalhes de outra transação de venda de suas operações no setor de saneamento.
Mas os investidores ainda não se convenceram de que a montanha de dívidas da Vivendi esteja sob controle e observaram que o acordo preliminar da Telepiu poderá fracassar, uma vez que, antes de ser finalizado, a News Corp ainda tem de encontrar parceiros. ?Foi um passo na direção certa, mas apenas o primeiro passo em um longo e desafiador processo de reestruturação?, disse Mark Harrington, analista do JP Morgan em Londres.
Como parte da reestruturação, a Vivendi quer vender de 15% a 20% de sua empresa de água e esgotos, a Vivendi Environnement , até o fim de julho. A medida renderia de 1,7 bilhão a 2,25 bilhões de euros em preços atuais, o que ajudaria a reduzir o débito de 17 bilhões de euros da companhia.
De acordo com o mercado, a Vivendi conseguiu um preço excelente pela Telepiu – 1 bilhão de euros (941 milhões de dólares) – além dos 500 milhões de dólares em reembolsos por direitos de transmissões esportivas e a venda de duas licenças. Entretanto, analistas suspeitam que o preço incluiu alguma forma de acordo para a disputa jurídica que as empresas estão travando."
ROLLING STONE
"Revista ?Rolling Stone? muda perfil", copyright O Estado de S. Paulo, 14/06/02
"Rolling Stone, a revista que marcou o período da contracultura americana, nomeou na quarta-feira um editor-administrativo, um britânico formado no contexto das revistas contemporâneas masculinas inglesas. A indicação sinaliza o fim da história da Rolling Stone como uma publicação de narrativas épicas e de jornalismo literário. Isso, em parte, porque o dono da revista, Jann Wenner, acredita que os leitores jovens têm pouca paciência para longas matérias.
O novo editor, Ed Needham, vem da revista britânica FHM (For Him Magazine), cuja versão americana tem uma tiragem respeitável de mais de um milhão de exemplares.
Wanner decidiu que a sua revista pode ser reconfigurada para um novo tipo de leitor. Num mundo saturado com opções da mídia, muitos editores chegaram à conclusão de que nas revistas as palavras já não vêm mais ao caso.
Algumas publicações de sucesso trazem gráficos divertidos, imagens escandalosas e artigos que cada vez mais são quase do tamanho de legendas de fotos. ?Na época em que a Rolling Stone publicava matérias com sete mil palavras não havia CNN nem internet.? Ele diz que, hoje, textos longos já não são requisito para se ficar bem informado."
A GAFE DE BATTLE
"Sinceridade antes da volúpia", copyright Correio Braziliense, 12/06/02
"Audiência pela audiência. ?O que é bom, a gente fatura; o que é ruim, esconde?, foi o flagrante, em rede nacional, sobre o descuido verbal de Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda, em 1994. O descontraído papo com o repórter Carlos Monforte, da Globo, provocou sua demissão. A bomba foi registrada, traído pelas parabólicas que o colocaram no ar. Era só um papo sem que o contexto da declaração estivesse encadeado. Prevaleceu o impacto, e o julgamento sobre o sempre correto e competente embaixador permanece até hoje.
O último linguarudo incauto a cair nas malhas da mídia foi o presidente uruguaio Jorge Batlle que desancou políticos argentinos como ladrões, em conversa com um repórter do canal de negócios da Bloomberg. Batlle alegou que a ?entrevista já havia terminado?. Câmaras registraram o destempero, e a emissora colocou no ar, sem aviso prévio.
Ricupero e Batlle não estavam sob a respeitosa relação entre fonte e jornalista no ritual de uma entrevista. Eram comentários soltos fora de contexto. Até que ponto seriam menos ?hipócritas? quando falavam sério e mais ?verdadeiros? quando imprudentes, ninguém pode julgar consciências. Porém o direito às próprias imagens e palavras é inalienável. Prevaleceu a fúria do mercado competitivo em que a sensação é mais importante que a informação. E foram para o ar. E para o espaço do constrangimento devastador.
Se a informação vem da fonte para o jornalista ou é descoberta pelo repórter, cabe à empresa usar sua cultura ética para decidir a veiculação: distinguir o que é de interesse público, relevante, e o que é interesse do público pode fazer a diferença entre uma empresa jornalística digna desse título, ou não. O que pode interessar ao público é amplo. Vai desde a simples curiosidade do entretenimento até o circo de horrores, mórbido, com cenas até grotescas. Isso interessa ao público.
Já interesse público é uma definição mais política e cultural, onde os valores da moralidade no trato das finanças de Estado, a decência de um mandato ou a legitimidade de uma gestão precisam estar sob olhar crítico sem reservas. Até nesse exercício digno de investigação os meios para se obter informação devem estar sob controle. Se aceitamos um crime (como ?causa justa?) para chegar ao criminoso – grampos e fitas, por exemplo – quase endossaremos a tortura que também obtém ?informações úteis, rápidas, valiosas e sem escrúpulos?.
Como o sistema de edição é arbitrário, e leitores e espectadores não participam do processo, o risco maior é o jornalista assumir ares messiânicos de paladino da verdade acima do bem e do mal. Vira o profeta definidor da ?causa justa?. O Código de Ética do Correio é claro na exigência de o repórter se identificar como tal para obter a informação. Isso exclui grampo ou câmara oculta. Mesmo se a informação chega por esse meio, ela será apurada com mais rigor e nunca veiculada em estado bruto, como objeto único de argumentação do fato. Se o repórter não é incentivado ao grampo também o que chega como grampo não deve ser publicado sem checagem.
Fitas já pegaram Antônio Rogério Magri e Antonio Carlos Magalhães. O ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações) foi acusado de ter favorecido um consórcio na venda da Telebrás. O ex-ministro da Saúde, Alceni Guerra, foi acusado da compra de 23,5 mil bicicletas a preços superfaturados, em 1991, e nada foi provado. O grampo foi usado no tal ?dossiê Cayman? pelo topa-tudo por audiência. Mas chantagem, no Código Penal, está no art. 158: é extorsão. Grampo telefônico é proibido pela Constituição Federal no inciso 12 do artigo 5?. E a imprensa legitima tais crimes.
Temos hoje, pelas ?vítimas da mídia?, organizações como a SOS Imprensa, da UnB, ou o consagrado Observatório. O critério central de acompanhamento da mídia verifica o que deve ser informação fundamental para a formação da opinião pública. Fofoca é outra laia, ou praia.
A insegurança no lidar com fitas e furos visuais, obtidos por métodos ilícitos, é saber quais os reais interesses na divulgação precipitada, sem rigorosa checagem, mesmo sendo ?material quente?. Inconfessáveis objetivos escondem interesses de grupos ou pessoas na oferta de ?material explosivo?.
O olho no olho pela sinceridade é mais digno que o olho por olho da competitividade. É difícil frear a volúpia sobre a aparência e o espetáculo da notícia quando a verdade não é tão sedutora."