Ciência, tecnologia e sociedade

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) vem, já há algum tempo, publicando uma revista de divulgação científica ? Fapesp-Pesquisa ? da melhor qualidade e com informações preciosas sobre as atividades da Fundação e de outras instituições de pesquisa em todo o Brasil.

Misto de órgão institucional e de jornalismo científico, a publicação evoluiu de um antigo boletim informativo para a presença encorpada de uma revista, cujo prestígio acabou sendo coroado pela concessão do Prêmio José Reis, outorgado pelo CNPq e entregue à equipe responsável na última reunião da SBPC, em Brasília, em julho deste ano.

Vale a pena ler e conhecer a revista.

O sucesso do projeto Genoma da Xylella fastidiosa, a bactéria da praga do amarelinho que ataca nossos laranjais, levou, como se sabe, a Fapesp a constituir vasto programa na área da Genômica, que hoje inclui vários outros projetos, entre eles o do Genoma do Câncer, o do Genoma da Cana-de-Açúcar e o da criação do Centro de Estudos e Pesquisas do Genoma Humano, recentemente inaugurado na USP.

O artigo dos pesquisadores brasileiros envolvidos no seqüenciamento da Xylella fastidiosa, que foi capa da Nature (13 de julho de 2000), consolidou a importância do projeto e pôs, definitivamente, o país na linha da pesquisa de ponta mundial. O reconhecimento dessa importância pode ser medido pela repercussão que o projeto teve na imprensa internacional e cujo apanhado pode ser lido na revista Fapesp-Pesquisa, n? 55, julho de 2000, no artigo de Mariluce Moura, sua editora-chefe.

Outros desdobramentos internacionais do projeto já se anunciaram na ocasião.

Entre eles, o seqüenciamento da bactéria Clavibacter xyli xyli, causadora do raquitismo da cana-de-açúcar, e o projeto Genoma da variante da Xilella fastidiosa, que ataca as vinhas da Califórnia e do Texas, nos Estados Unidos.

Os dois projetos, hoje já contratados e em desenvolvimento, são importantes, não só pelo que significam para a ciência ? o que já é muito e bastante ?, mas também pelo grau de internacionalização da competência instituída no país nesse setor do conhecimento.

O projeto da variante da Xylella fastidiosa será financiado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, através do serviço de Pesquisa em Agricultura (ARS), pela American Vineyard Foundation e pela Fapesp.

No Brasil, as pesquisas serão coordenadas por Andrew Simpson, do Instituto Ludwig para Pesquisa do Câncer (SP) e, nos Estados Unidos, por Edwin Civerolo, pesquisador do Departamento de Patologia de Plantas da Universidade da Califórnia e da Unidade de Pesquisa em Genética de Produtos Agrícolas e Patologia, do ARS.

A Fapesp investirá 250 mil dólares no projeto, e outro tanto será investido pelas duas instituições americanas.

A parceria, que havia sido anunciada no dia 14 de abril deste ano, já começa a funcionar, contando com a colaboração de cerca de 10 laboratórios do estado de São Paulo, entre os que participaram do Projeto do Genoma da Xylella fastidiosa. A idéia é que, a partir do seqüenciamento da variedade da xylella que afeta as vinhas da Califórnia e do Texas, será possível conhecer os mecanismo funcionais da bactéria, além de permitir a comparação entre os genomas de suas duas linhagens.

O projeto da Clavibacter, que tem como objetivo determinar os mecanismos de atuação dessa bactéria na cana-de-açúcar, será financiado pela Cooperativa de Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar) e por um consórcio internacional de países, entre eles Brasil, Estados Unidos, Austrália e África do Sul.

As pesquisas serão coordenadas por Luís Eduardo Aranha Camargo e Claúdia Barros Monteiro Vitorello, pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (Esalq) de Piracicaba, e o investimento é de US$ 100 mil.

O Instituto Uniemp ? Fórum Permanente das Relações Universidade-Empresa ? participa dos dois projetos como gestor dos recursos a eles destinados pelas instâncias internacionais e pela Copersucar.

Ao lado do crescimento da produção científica no Brasil, que hoje participa em 1,2% da produção mundial, cresce também, entre nós, o interesse da sociedade pelo que aqui se faz de criação, de descoberta, de inovação e de difusão da ciência e da tecnologia.

Os programas de popularização de ciência ganham institucionalidade e vão contribuindo para uma integração cada vez maior entre o trabalho do pesquisador e o entendimento público dos processos e resultados por ele implicados.

Nessa linha, a Ofjor Ciência, do Observatório da Imprensa, a revista ComCiência e o curso de pós-graduação lato sensu oferecido, na Unicamp, pelo Labjor, em parceria com o Departamento de Multimeios do Instituto de Artes e o Departamento de Políticas Científicas e Tecnológicas do Instituto de Geociências, têm desenvolvido atividades que, respaldadas por instituições como a Fapesp, o CNPq e a SBPC, vão contribuindo positivamente para a dinâmica das relações entre ciência e sociedade, essenciais para o pleno desenvolvimento do conhecimento e de seu alcance econômico, político e cultural.