QUALIDADE NA TV
ASPAS
JORNALISMO "FEMININO"
"Programa ?Mulheres? tem jornalismo deslumbrado", copyright Folha de S. Paulo, 29/04/01
"?Olha que suíte linda. Maravilhosa. Olha o detalhe na parede. Olha aqui a TV, o cobertor. Olha a lareira, gente. Olha esse banheiro. Grande, viu? Olha o box, gente, é espaçoso mesmo.? A ?narração? acima -com uma música de fundo em que uma mulher geme-, descrevendo um quarto de um motel de São Paulo, é, na verdade, uma reportagem exibida pelo programa ?Mulheres?, da TV Gazeta.
A repórter? Luiza Ambiel, ex-?Domingo Legal?, do SBT. A ex-garota da banheira do Gugu há algum tempo pode ser vista nas tardes da Gazeta em banheiras de motéis, enquanto faz comentários do tipo: ?Maravilhoso. A água está na temperatura certa. E olha o contraste da luminária com a parede, gente?.
Especialista nesse tipo de ?reportagem?, Luiza tem como colega de programa Denise Tacto, dançarina que ficou mais conhecida como a ex-mulher do ator Gerson Brenner e que também enveredou para o mundo do ?jornalismo?.
As duas fazem parte da equipe de reportagem do ?Mulheres?, que resolveu apostar em sua ?fama? para levantar o ibope. Mas ambas fazem questão de frisar que não são repórteres.
?De jeito nenhum. Fui convidada para colaborar com o programa, fazendo algumas matérias, mas não sou repórter, nem poderia?, diz Luiza Ambiel. ?E é ignorância dizer que eu sou especialista em motéis. Uma vez por semana visito uma casa beneficente de crianças. Vou também a restaurantes, bares etc. Fazemos matérias sobre curiosidades.?
De fato, Luiza não visita só motéis. Vai a casas de massagem, a padarias, a noites de autógrafos de capas de revistas masculinas, ?flagra? a dupla Rick & Renner em sessão de bronzeamento artificial -e pergunta: ?O que vocês estão sentindo nesse aparelho??.
Denise a acompanha nas ?curiosidades? e no jeito de conduzi-las. Há alguns dias, por exemplo, visitou um trailer para uma reportagem intitulada ?Tem gente que mora no carro ou anda de casa??. ?Olha só a geladeira. Hum, uma cervejinha básica. E o microondas, gente, é de verdade mesmo. Olha só esse sofá, vira cama. E aqui está uma delícia, tem ar condicionado?, dizia, enquanto ?explorava? o veículo.
Segundo a dançarina, que agora cursa radialismo e locução no Senac, o fato de ter ficado conhecida especialmente por sua separação de Brenner foi fundamental para que descobrissem sua ?vocação? como repórter.
?Eu estava sempre sendo entrevistada na Gazeta, e eles gostaram do meu jeito intuitivo de falar, da minha personalidade forte, por isso me chamaram para o programa. Não tenho dificuldade na frente das câmeras, sempre trabalhei com público, no meio artístico. Dei aula de dança para a Cláudia Ohana, por exemplo, dançava com o Netinho, com o Alexandre Pires?, conta. ?E eu não quero ser associada à minha história com o Gerson Brenner. É passado.?
Luiza Ambiel conta que foi convidada pelo mesmo motivo que Denise, sua ?experiência? com as câmeras.
?Eu tenho experiência com a TV, com o público, com as câmeras, microfones. Trabalhei durante cinco anos no programa do Gugu. Além disso, fiz teatro.?
A direção do ?Mulheres? não quis falar com a Folha sobre as repórteres, alegando que é provável que as duas saiam do programa. Mas elas, pelo visto, não pensam em parar. ?Eu levo jeito para a coisa?, diz Denise."
***
"Joana Prado, a Feiticeira, foi a precursora", copyright Folha de S. Paulo, 29/04/01
"Aventurar-se como repórter acabou se tornando uma das especialidades de Joana Prado, a Feiticeira. Cansada de apenas mostrar seus dotes físicos -naturais ou não- no programa ?Superpositivo?, da Bandeirantes, Joana passou a atuar também em reportagens.
A incursão deu ibope, e a loira ganhou um quadro, extinto há cerca de um mês, no ?Show do Esporte?, em que entrevistava atletas.
?Comecei a fazer reportagens e deu supercerto, porque eu posso fazê-las com meu jeito de Joana. E quero continuar fazendo?, diz ela, que se prepara para estrear um novo programa, em que também deve atuar como repórter."
"SEM TV" NA WEB
"A TV enroscada na rede", copyright Folha de S. Paulo, 30/04/01
"Acabou sábado a ?Semana Mundial sem TV?, campanha de organizações do Canadá, Estados Unidos, França, Inglaterra e Espanha, para que as pessoas ficassem sete dias sem ver televisão. O movimento ganhou adeptos brasileiros e uma versão tupiniquim que pregava 15 minutos com os aparelhos desligados.
O estrago que essas iniciativas causaram na audiência das emissoras do Brasil foi o que todos esperavam: nenhum. Mas as ações serviram para mostrar que a internet retomou o debate sobre a qualidade da programação da televisão brasileira e transformou-se em uma das principais armas para as organizações que brigam por essas idéias.
A internet tornou possível a propagação de protestos anônimos contra o baixo nível da televisão. Há duas semanas, circulou uma corrente anônima de e-mail sugerindo às pessoas que desligassem a TV durante 15 minutos no domingo.
Há um grupo de 12 professores que colocou este ano um site no ar, o Olho na TV, com informações e debates sobre televisão. ?Costumávamos nos reunir em casa ou outro lugar para falar de nossas preocupações com a maneira como a TV interfere na educação das crianças. Com a internet, pudemos tornar nossas idéias públicas e ampliar a discussão. Tudo isso a um custo muito baixo e sem precisar sair do anonimato?, diz um dos coordenadores do grupo, que deu entrevista por telefone com a condição de não ter o nome revelado.
A decisão de ficar no anonimato, segundo esse coordenador, tem duas razões: ?Sabemos que estamos lidando com interesses grandes, com o poder da TV, e temos medo de nos expor. Além disso, não queremos dar ao debate um caráter pessoal. É melhor que a discussão seja aberta e, para isso, basta dizer que somos pais e educadores preocupados com a influência da televisão na formação das crianças?.
Militante
Ao contrário dos anônimos, o estudante Bruno Tozzini, 17, sai por aí difundindo campanhas da internet contra a televisão.
Há cerca de um ano, ele entrou no site da ONG canadense Adbusters (veja endereços em quadro nesta página), que discute comunicação. Passou a se interessar pelo assunto e a tentar levar o debate para a família e os amigos. Domingo retrasado, tomou uma atitude mais radical: tirou da tomada os cinco aparelhos de TV que há em sua casa, em Interlagos (zona sul de SP), e colou neles cartazes da campanha ?Semana Mundial sem TV?.
Antes, havia conversado com os pais e os irmãos, de 11 e 13 anos, sobre a ?relação que as pessoas têm com a televisão? para explicar seu propósito. Ganhou apoio. Mas parcial. ?Minha mãe disse que eu tinha de deixá-la ver o ?Show do Milhão?, diz Bruno.
Na mesma noite, ele saiu e, quando voltou, os aparelhos da casa, exceto o de seu quarto, já haviam voltado à tomada. ?Eu não posso obrigar ninguém a entrar na campanha. Mas pelo menos nós falamos sobre o assunto.?
O objetivo da ?abstinência?, diz Bruno, é ter um ?tempo para refletir sobre nossa relação com a televisão e descobrir quanta coisa mais útil podemos fazer em vez de ver TV. Temos de nos preocupar com a qualidade da TV e de nossa vida também?.
Pelo discurso articulado, Bruno Tozzini já foi tachado de chato por alguns amigos e até brigou com a namorada. Mas conseguiu parceiros, como Edgar Petriccione, 19, que também ficou uma semana sem ver TV e ajudou o colega na propagação do protesto. Além disso, Bruno fala sobre televisão pela internet com pessoas de vários países.
No Rio, o universitário Eduardo Mano de Andrade, 21, reuniu virtualmente um grupo de 200 pessoas para discutir a qualidade da TV brasileira. Todos, segundo ele, se propuseram a desligar os aparelhos na semana passada. Todo dia, cerca de 30 pessoas desse grupo se ?encontra? na web para trocar idéias sobre televisão.
?Temos discussões de todos os níveis. Desde pessoas que entram para xingar um programa, reclamar de um apresentador, até questões mais aprofundadas sobre o mau uso que a maioria das emissoras faz da TV?, diz Eduardo, que estuda publicidade e pretende abrir uma agência que dê espaço a esse tipo de debate.
Da TVer à TFP
Além de facilitar a reunião de interessados em brigar por uma TV de maior qualidade, a internet possibilita a difusão de informações sobre o assunto.
Sites que tratam do tema costumam trazer a transcrição das leis que regulamentam a concessão dos canais, explicar por que o cidadão tem direito de exigir uma TV de qualidade e dar links para órgãos ligados ao assunto, como o Ministério das Comunicações e o da Justiça.
?É interessante perceber que, nos bate-papos que realizamos no site, o nível da discussão vai melhorando à medida que as pessoas ficam mais informadas?, afirma Mônica Alterthum, editora do site da ONG TVer.
Organizações ligadas à religião também usam a internet para combater algumas programações. Pastores de igrejas metodistas do Sul pregam que os fiéis desliguem a TV amanhã. Há também um braço da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, ligada à Igreja Católica) que divulga campanhas contra a TV na web."
***
"Visita a site de ONG cresce 500%", copyright Folha de S. Paulo, 30/04/01
"A ONG TVer já sente o efeito das campanhas pela internet em seu trabalho. O site da organização teria apresentado, nos últimos seis meses, um crescimento que gira em torno de 500% no número de acessos.
Em novembro de 2000, a página da ONG na rede teve 1.395 visitas. Neste mês, sem contar a última semana, o número havia chegado a 5.357, segundo a editora do site, Mônica Alterthum.
O site realizou um bate-papo virtual sobre o protesto que circulou na rede sugerindo desligar a TV por 15 minutos. O número de participantes foi recorde. ?Tínhamos uma média de 250 pessoas em cada bate-papo. No último, houve participação de 534 internautas?, afirma Alterthum.
Elite
O número de pessoas com acesso à web no país é pequeno perto do alcance da TV. Segundo Alexandre Magalhães, diretor do Ibope e-ratings, há pouco mais de 5 milhões de internautas ativos no país. Já a televisão é vista em cerca de 40 milhões de municípios.
Além disso, quem circula pelos debates virtuais sobre TV é, basicamente, a elite. Segundo Alterthum, 90% dos cadastrados no site têm nível superior.
?Seria ideal chegarmos a todas as classes. Mas, enquanto isso não ocorre, comemoramos o fato de estar em contato com profissionais como juízes, advogados, com pessoas que podem ajudar a mudar as coisas.?"
***
"Pastores pregam ?ibope zero?", copyright Folha de S. Paulo, 30/04/01
"Amanhã também é dia de protesto contra a televisão. Pastores da Igreja Metodista no Paraná e em Santa Catarina divulgaram um texto em seu site conclamando os fiéis a deixarem os aparelhos de TV desligados no feriado. A campanha foi batizada de ?Ibope Zero para a TV?.
Segundo o texto, o objetivo é protestar contra a programação ?escandalosa? da televisão. Entre outros alvos dos religiosos, estão as novelas que têm abordado temas ligados ao candomblé e misticismo. Se a campanha tiver adesão dos fiéis, os pastores que organizaram o movimento pretendem ampliá-lo em outubro.
A briga contra a baixa qualidade na televisão também ganhou recentemente um reforço. O jornalista Ethevaldo Siqueira formou o grupo Novacom, que pretende se transformar em organização não-governamental em breve. Uma das propostas, segundo Siqueira, é lutar por uma lei de defesa do telespectador.
Enquanto governo e emissoras seguem em disputas políticas e judiciais, sem conseguir estipular alguma maneira de controlar o conteúdo da programação, é o trabalho das ONGs que vem fiscalizando a TV.
Em São Paulo, há a ONG TVer, fundada em dezembro de 1998 por Marta Suplicy, hoje prefeita (PT). Outra entidade que vem questionando as emissoras é a TV Bem, do vereador de Belo Horizonte Betinho Duarte (PSB)."
NO LIMITE
"Empresas adotam ?No Limite? em convenções", copyright Folha de S. Paulo, 24/04/01
"O programa ?No Limite?, da Globo, está sendo adotado por empresas para integrar equipes de vendas. No último dia 30, a Embratel realizou uma gincana inspirada no programa em uma convenção na Bahia. As competições foram mediadas pelo jornalista Zeca Camargo, apresentador do ?No Limite? na TV.
A própria Globo vai realizar em maio uma convenção de seu departamento comercial. A emissora cogitou realizar um ?No Limite? no evento, mas a idéia já teria sido descartada.
O ?No Limite? da Embratel reuniu 500 profissionais da área de vendas na Costa do Sauípe, complexo hoteleiro na Bahia. A gincana foi organizada por três empresas do Rio de Janeiro, sendo uma delas uma produtora de eventos.
O objetivo da Embratel era integrar equipes de vendas de diferentes cidades do país. Na noite do dia 29, na abertura da convenção, Zeca Camargo anunciou a primeira prova: cada equipe deveria elaborar um hino e uma bandeira que a identificasse.
No dia seguinte, na praia, ocorreram competições como corridas dentro de sacos e cabo-de-guerra. Os melhores vendedores da empresa foram premiados com carros e viagens."
Qualidade na TV ? próximo texto
Qualidade na TV ? texto anterior