Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cláudia Trevisan

INTERNET / CHINA

“Mulher é dona de império on-line chinês”, copyright Folha de S. Paulo, 14/09/03

“Aos 38 anos, a chinesa Peggy Yu pode ser considerada um emblema da conversão de seu país aos padrões do capitalismo norte-americano. Há pouco mais de três anos ela se inspirou na amazon.com para fundar a maior livraria virtual da China, a dangdang.com, cuja lista de best-sellers reflete o desejo dos leitores de trilhar caminho parecido ao seu e assimilar os valores que regem a maior economia do mundo.

Dos 10 títulos mais vendidos, 5 são de norte-americanos que dão conselhos sobre como ganhar dinheiro e ter uma boa performance profissional. O líder é ?Sete Hábitos de Pessoas Muito Eficientes?, de Stephen Convey. Além desses, há um livro sobre os conselhos que os pais norte-americanos dão a seus filhos e outro bilingue para estudantes de inglês.

?Todo mundo quer ganhar dinheiro?, disse Peggy à Folha, em entrevista por telefone na semana passada, de sua casa, em Pequim. Os três livros que completam a lista de best-sellers são de ficção. Um deles, ?Mensagem Para Garcia?, do americano de Elbert Hubbard (1856-1915), é considerado uma lição ?de dever e eficiência? pela Columbia Encyclopedia. No décimo lugar está ?Alice no País das Maravilhas?, do inglês Lewis Carroll (1832-1898).

Consumo

Antes de idealizar a dangdang.com, Peggy passou dez anos em Nova York, onde obteve um MBA e experimentou as delícias do consumo norte-americano, nas livrarias e lojas de discos próximas à sua casa, no Upper East Side, em Manhattan.

Continuar a ter acesso a esses produtos foi uma das coisas que a levaram a escolher uma livraria virtual como área de atuação. ?Em certo sentido, eu queria duplicar na China a experiência de consumo que tive nos Estados Unidos?, afirmou a empresária.

Outra razão foi a atuação de seu marido, Li Guonqing, 39, no mercado editorial. Quando os dois se conheceram, em 1996, Li já era um bem-sucedido editor de livros profissionais na China, com a ?Livros Científicos e Culturais?.

Mas a internet ainda era algo quase inexistente no país, com algumas centenas de usuários. Peggy e Li traçaram uma estratégia de negócios cautelosa, que continha um ?plano B? para a hipótese de os negócios on-line não decolarem na China. Também decidiram que a dangdang.com só teria viabilidade quando o número de computadores conectados à internet atingisse 3 milhões, o que ocorreu no fim de 1999.

O primeiro passo foi criar um banco de dados de todos os livros publicados na China, ferramenta que seria essencial para a livraria virtual. Se o negócio on-line não desse certo, eles abririam uma empresa para vender o banco de dados a bibliotecas, editoras e livrarias de tijolo e cimento.

Quando ficou claro que havia massa crítica de potenciais clientes, a tarefa passou a ser conseguir investidores internacionais dispostos a colocar dinheiro no negócio, o que não foi difícil. O final dos anos 90 presenciou a febre das ?ponto com? e um negócio virtual em um país de 1,2 bilhão de habitantes parecia algo promissor.

Peggy e sua família conseguiram três empresas estrangeiras como sócios: IDG (International Data Group), dos Estados Unidos, Softbank, do Japão, e Luxembourg Cambridge Holding Group, de Luxemburgo.

Por se tratar de uma companhia de capital fechado, Peggy diz que não pode revelar o valor do investimento nem qual o faturamento da empresa. Mas afirma que a dangdang.com começará a dar lucro neste ano e que as vendas vão dobrar entre 2003 e 2004.

A empresa iniciou suas atividades no fim de 1999 com poucas dezenas de encomendas por dia. Hoje, atende a cerca de 4.000 pedidos diários, tem 140 empregados na folha de pagamento e contratos com 30 empresas de entrega em todo o país.

Apesar do crescimento, as operações on-line ainda representam uma fração muito pequena da venda de livros na China. Segundo a revista ?The Economist?, o faturamento de dangdang.com foi de US$ 4,2 milhões no ano passado, cifra que Peggy prefere não comentar. No total, o mercado editorial chinês movimentou US$ 5,2 bilhões no mesmo período.

120 milhões on-line

Mas as perspectivas de crescimento das vendas pela internet são promissoras. Segundo a China Internet Network Centre, o país tem hoje 68 milhões de pessoas plugadas na rede, número inferior apenas ao dos Estados Unidos, onde há uma população ?virtual? de 165 milhões. No Brasil, o número é de 7,5 milhões de usuários. A estimativa oficial é que o universo de internautas suba em 2004 para 120 milhões, o equivalente a cerca de 70% de toda a população brasileira e 100 milhões a mais do que a própria China tinha em 2001.

O comércio on-line ainda enfrenta limitações operacionais (leia entrevista abaixo), mas seu crescimento é expressivo. A empresa de pesquisa e consultoria BDA, especializada em telecomunicações e tecnologia, estima que os negócios na internet movimentarão cerca de US$ 5 bilhões na China no próximo ano, um crescimento de 18.400% em relação aos US$ 27 milhões de 2000.”

 

PIRATARIA & INTERNET

“www.pirataria”, Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 13/09/03

“?Uma menina de apenas 12 anos de idade que vive em Manhattan (Nova York, EUA) é uma das 261 pessoas processadas por gravadoras norte-americanas pela troca de músicas na internet. A mãe de B.L. pretende recorrer. ?Ela é apenas uma criança?, disse à rede de notícias norte-americana CBS?.

A nota acima, que podia ser lida nesta semana no noticiário da rede mundial de computadores, diz respeito a um antigo problema que ganhou novas dimensões com o advento da internet: como zelar pela propriedade intelectual e pelos direitos autorais num mundo em que os avanços tecnológicos propiciam a cópia e a transmissão de arquivos com rapidez e alcance jamais vistos?

A reprodução de bens culturais e de entretenimento vem se tornando nas últimas décadas uma possibilidade cada vez mais acessível. De fotocopiadoras, gravadores e videocassetes chegou-se, mais recentemente, aos arquivos eletrônicos, que podem armazenar programas de computador, textos, imagens ou músicas, tornando-os disponíveis, em instantes, a quem quer que acesse a internet em todos os cantos do planeta.

Com isso, à já conhecida pirataria ?física?, aquela que vende CDs ou fitas irregulares, veio juntar-se uma nova modalidade digital de burla. À diferença da primeira, no entanto, na internet a troca de arquivos musicais -para ficarmos no caso da notícia citada- nem sempre tem como finalidade obter lucro. Muitos dos ?piratas? são adolescentes que simplesmente trocam ou compartilham suas músicas prediletas, deixando de comprar CDs para ouvi-las.

Tal prática, ainda que pareça inocente, constitui uma violação aos direitos do autor e das empresas que investiram na produção dos bens transacionados. Essa nova realidade, que tende a se expandir com a difusão do acesso de alta velocidade à internet, deu lugar nos últimos anos a acaloradas polêmicas.

Mais recentemente, as empresas que se consideram prejudicadas com o uso indevido e a redução das vendas de seus produtos, notadamente as da indústria fonográfica, têm movido processos e feito advertências a usuários domésticos.

As leis de direitos autorais dos EUA prevêem multas entre US$ 750 e US$ 150 mil por arquivos irregulares presentes em um computador pessoal. No Brasil, processos e até mesmo prisões também já passaram a ocorrer com maior frequência.

No caso dos EUA, a pressão da Associação da Indústria Fonográfica Americana teria levado a uma redução dos casos, mas os números são gigantescos. A associação estima que, em junho, computadores de 10,4 milhões de domicílios americanos teriam abrigado arquivos irregulares -contra 14,5 milhões em abril.

Muitas empresas também procuram atuar de forma ?positiva?, colocando arquivos à disposição de usuários e procurando criar laços de simpatia com jovens. Reprimir ou seduzir são as opções atuais para enfrentar uma prática que, se é condenável, ainda parece incontrolável do ponto de vista tecnológico.”