A questão não é saber se quadrinho é imprensa ou não. Importa observar que quadrinhos, em especial os de bancas, chegam a milhões de leitores e compõem o universo formativo das crianças. (Ignoro inteiramente qual seria o perfil sócio-econômico dos leitores da Turma da Mônica, mas suponho que não deva ser diferente de qualquer outra coisa
neste país ? a classe média, que tem não apenas dinheiro mas banca de jornal nas proximidades. Miserável não tem acesso a banca de jornal e, se tivesse, de nada adiantaria,
pois são mantidos em secular analfabetismo. Mas me desvio.)
Fundamentalmente, os quadrinhos da Mônica são medíocres em sua concepção. O fato de os personagens e algumas de suas interações se inspirarem em outros é, sob esse ponto de
vista, secundário, embora reforçador do problema essencial, a saber, a falta de imaginação do autor.
Como Spacca bem observa, minha intenção não era analisar a produção de quadrinhos, mas exprimir um protesto contra uma certa boçalidade. Você pode perguntar: mas por que esta boçalidade em especial, e não outra? Ora, caso boçalidades específicas não pudessem ser nunca abordadas porque outras não o são, então nenhuma seria jamais apontada, porque não há super-homem no universo capaz de abarcar todas as manifestações de mediocridade e idiotice que aparecem cotidianamente.
Contrariamente ao que, cada vez mais, é a norma brasileira, não concordo com o princípio segundo o qual qualquer produção tenha direito a uma existência insulada contra a crítica. A publicação de alguma coisa não é um ato privado, mas público. Quem se dirige ao público não pode recorrer a um pretenso direito de escrever, desenhar, produzir etc. sem se submeter ao escrutínio de seus semelhantes. (É óbvio que isso se aplica em primeiro lugar a mim próprio.) Isso é o que não percebem os leitores que assinam lista encabeçada por Rubens A. Menezes de Souza Filho. Acreditam eles que o esforço de "bolar" uma tira em quadrinhos, um roteiro cinematográfico, uma peça teatral etc. deva ser suficiente para garantir ao autor direito de passar pela vida sem dar satisfação à comunidade à qual se dirigem. Não importa a eles se a tira, roteiro, peça sejam uma droga inominável.
As vicissitudes pelas quais um autor passa em sua vida não servem como critério de julgamento para o resultado da produção. De forma que toda essa conversinha do esforço de nada vale.
Por fim, gostaria de abordar a questão da censura, que os missivistas abordaram (não o Spacca, que não é bobo). Essas pessoas, a maioria delas ligadas à ECA-USP, caracteristicamente ignoram qual é a principal função de um editor. Um editor necessariamente seleciona o que publica. É óbvio que, se o editor fosse eu, a Turma da Mônica não seria publicada, por falta de qualidade. Ocorre que a publicação da tal da Turma é feita em detrimento da publicação de outras coisas. Ou seja, o ato de seleção de um quadrinho em detrimento de outros é um ato de discriminação, e é inevitável. Censura, no sentido lato. O que esses leitores ecauspianos esperariam? Que jornais, revistas etc. abrigassem espaços ilimitados para a publicação de seja o que for que pinte por lá?