Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Cobertura arriscada

PROFISSÃO PERIGO

Em 126 anos, a Associated Press perdeu 26 jornalistas cobrindo conflitos. Nove foram mortos nos últimos nove anos, mais do que nas duas guerras mundiais, na Coréia ou no Vietnã. Segundo o Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ), 37 profissionais foram mortos em 2001; na década de 1992-2001, as baixas totalizaram 399. Estes dados, reunidos por Michael Parks em matéria para a Columbia Journalism Review (maio/junho), mostram que os repórteres transformaram-se de observadores neutros em alvos. "A segurança dos jornalistas, portanto, é assunto não apenas para as redações ? e deveria interessar às sociedades que dependem da informação destes jornalistas", defende Ann Cooper, diretora executiva do CPJ.

Trata-se, agora, não apenas de lidar com a segurança dos correspondentes, mas também com uma questão fundamental: quando uma notícia é perigosa demais para ser coberta. Uma história em particular é importante por quê? Vai afetar a segurança nacional, alterar as relações entre países? Os riscos de cobri-la são maiores que sua relevância?

Steve Coll, editor administrativo do Washington Post, acha que a medida de segurança mais eficaz é uma avaliação lúcida, hora a hora, dos perigos que o repórter pode enfrentar. O jornal, como tantas outras organizações, comprou carros blindados, coletes à prova de balas e outros equipamentos de proteção, além de submeter funcionários a treinamento. Coll ressalta: "O primeiro principio deve ser segurança, antes da notícia. É necessária muita consultoria antes, precisamos ouvir nossos correspondentes mais experientes avaliando o ambiente. E acima de tudo, os correspondentes devem se sentir absolutamente livres para dizer ?não, não esta?, sem medo de que o covarde, de perder a matéria para outro ou de ser substituído."

Para administrar riscos, editores, produtores e jornalistas deveriam reavaliar e reduzir a competição, aceitando que em alguns casos é melhor ser "furado" do que morto. Parks também destaca a importância do testemunho da imprensa: muito do material apresentado em tribunais de crimes de guerra vem de reportagens jornalísticas. "Guerras são notícias importantíssimas, não apenas pelo que está em jogo, mas pelo que acontece aos civis", diz Cooper. "Se não vamos lá e reportamos, qualquer general, comandante ou ditador pode fazer o que quiser, e normas internacionais de comportamento entram em colapso."

Em 1994, em Ruanda, o genocídio de 700 mil pessoas não foi coberto em primeira mão porque os correspondentes foram forçados a deixar o país, lembra Coll, o que deu tempo ao coronel local para agir impunemente. "Se a imprensa estivesse lá, a intervenção internacional teria ocorrido antes. Não tínhamos outra opção senão sair. E sim, este é um caso claro do porquê aceitamos riscos para cobrir conflitos."

ATIVISTAS ANTIABORTO

Um tribunal americano decidiu que os comentários publicados em sítios de internet por ativistas antiaborto não são constitucionalmente protegidos pela Primeira Emenda. Quatro médicos e as organizações Planned Parenthood of the Columbia/Willamette e Portland Feminist Women?s Health Center entraram com processo contra militantes da American Coalition of Life Activists e da Advocates for Life Ministries por terem divulgado na rede, em 1997, uma lista de médicos, juízes e políticos que apóiam o aborto sob o nome de "Arquivos Nuremberg".

Para a Justiça, esses cartazes de "procura-se" representam uma ameaça, portanto os acusados não têm direito à proteção da emenda que garante liberdade de expressão. Fundamentada na lei federal que protege funcionários de serviços de saúde, a corte, no entanto, enviou o caso a um tribunal inferior para reconsiderar a indenização de US$ 108 milhões.

Gwendolyn Mariano [Cnet News, 17/5/02] observa que a internet é um meio prezado por ativistas para emitir opiniões, mas especialistas lembram que existe um limite estreito entre liberdade de expressão e ameaças diretas de violência. Owen Seitel, da firma Idell Berman & Seitel: "Se as pessoas continuarem a colocar cartazes de ?procura-se? online e a defender o assassinato de indivíduos específicos, fornecendo seus endereços, acho que este caso pode ser um precedente que indicaria que eles perderam os direitos da Primeira Emenda".